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A conexão entre mudança individual e social

O apoio ao bem-estar interior dos agentes de mudança pode aumentar a capacidade de inovação e de colaboração, e, em última análise, levar a soluções mais eficazes para os desafios sociais e ambientais.

Por Linda Bell Grdina, Nora Johnson e Aaron Pereira


“Falta conhecimento a respeito dos primeiros sinais de alerta de esgotamento nas equipes que trabalham na linha de frente. A questão tem sido como conseguimos esses trabalhadores, não como cuidamos deles e os desenvolvemos ao longo do tempo. Se sou uma enfermeira de Ruanda e trabalho com câncer [ou] no cuidado com HIV em um local com recursos muito modestos, quantas mortes posso presenciar antes de não poder cuidar da minha família ou de não conseguir ir trabalhar? Ou se eu for um profissional de saúde de uma comunidade haitiana, a quanta fome posso assistir sem descanso? Não temos bons estudos sobre isso” – Gary Gottlieb, CEO da Partners In Health.

Trabalhadores de ajuda humanitária em desastres, ativistas, empreendedores sociais, profissionais de saúde, professores e outros que tecem ativamente a estrutura saudável, justa e solidária de nossa sociedade vivem e trabalham em meio a grandes desafios. Mas, mesmo que esses agentes de mudança encontrem soluções e consigam avançar, muitos deles sofrem de esgotamento e enfrentam uma série de desafios pessoais, como depressão, divórcio e o surgimento precoce de doenças crônicas. Nos bastidores, boa parte deles – em todos os níveis organizacionais e em regiões de todo o mundo – está fazendo grande esforço. Ao mesmo tempo, estamos longe de atender aos desafios sociais e ambientais de nossos dias; precisamos viabilizar mais colaboração e mais inovação. Encontrar maneiras de lidar com os desafios pessoais que os agentes de mudança enfrentam é, portanto, importante não apenas pelo que isso representa por si só, mas também porque tem o potencial de estimular uma mudança social mais efetiva.

Por um longo tempo, o bem-estar dos agentes de mudança foi um grande tabu, subestimado na corrente dominante da mudança social, em parte devido a uma cultura marcada pelo autossacrifício e pelo martírio. Há uma expectativa subjacente de que pessoas que trabalham com mudança social coloquem os outros acima delas próprias, seja salvando a vida de outros diretamente, seja defendendo a proteção do clima. Mas o interesse no papel que o bem-estar desempenha na condução da mudança social não é novo; tem raízes em muitos movimentos e tradições ao longo do tempo. Na verdade, uma orientação para nutrir nossa vida interior de modo a alimentar nosso trabalho no mundo tem sustentado alguns dos movimentos mais poderosos de gerações passadas, bem como o pensamento de grandes líderes como Gandhi, Ela Bhatt, Rosa Parks e Desmond Tutu. A adoção de princípios como a não violência, por exemplo – a tomada de ações positivas para resistir à opressão ou promover mudanças sociais ao mesmo tempo que se renuncia à violência – requer autoconsciência e envolvimento pessoal profundos e prática contínua.

Como outro exemplo, nas últimas décadas, alguns líderes e grupos do movimento dos direitos das mulheres enfatizaram a importância do bem-estar interior. Em 1988, a escritora e ativista Audre Lorde revelou uma teoria de ativismo cada vez mais adotada que priorizou o autocuidado como vital para o sucesso do movimento, descrevendo-o como “autopreservação, e isso é um ato de luta política”. O reconhecimento de que muitas mulheres envolvidas no movimento haviam passado por momentos traumáticos e, em seus esforços para conseguirem avançar, estavam sofrendo mais traumas, começou a surgir em grandes encontros pelos direitos das mulheres, como a Conferência Internacional da Mulher e da Saúde de 2003.

Enquanto isso, organizações como a Creating Resources for Empowerment in Action (Crea), a Awid e o Urgent Action Fund começaram a reconhecer e a patrocinar iniciativas de apoio ao bem-estar das mulheres. Mais tarde, o movimento pelos direitos das mulheres desenvolveu alguns dos primeiros guias de autocuidado e outros materiais para ativistas, bem como retiros voltados para sua saúde interior.

Em parte devido a esforços como esses, a questão do bem-estar tornou-se mais visível no campo das mudanças sociais na última década, o que levou a um olhar mais atento por parte dos pesquisadores. Um estudo da Unite, de 2018, que pesquisou funcionários de instituições de caridade e organizações sem fins lucrativos no Reino Unido, constatou que 42% dos funcionários do setor de mudança social sentiam que seu trabalho representava um desafio para sua saúde mental.

Um estudo conduzido pela Community Care em 2016 constatou que 57% dos respondentes, trabalhadores sociais na Inglaterra, lançavam mão do comer por gatilho emocional, enquanto 35% usavam o álcool como mecanismo para lidar com o estresse do trabalho. Além disso, 63% tinham dificuldades para dormir, 56% afirmaram estar emocionalmente exaustos e 75% disseram estar preocupados com o esgotamento.

Esses resultados foram relatados por indivíduos em trabalho de campo e em posições de liderança. No contexto do trabalho humanitário, 19,4% dos defensores dos direitos humanos que concluíram um estudo de 2015 relacionado com a saúde mental e o bem-estar preencheram os critérios para o diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), 18,8% preencheram os critérios para TEPT subliminar e 14,7% para depressão. Um quadro similar em termos globais emerge de outros subsetores de mudança social, incluindo movimentos importantes como o Black Lives Matter.

A realidade é que o trabalho de mudança social é difícil e muitas vezes traumatizante. Profissionais de saúde que tratam de câncer ou de HIV testemunham constantemente a passagem da vida, enquanto ativistas ambientais que trabalham para desacelerar a perda de espécies e do ecossistema continuam a rastrear sua devastação. Adicione-se a isso o fato de que um número significativo de pessoas que ingressam no setor social já teve experiências pessoais traumáticas e muitas vezes opta por fazer um trabalho conectado à sua própria vivência pessoal difícil. Não é incomum, por exemplo, que alguém que tenha sofrido bullying pessoalmente trabalhe para uma organização que lida com esse assunto. Conexões como essas também são frequentes no combate à corrupção e nas organizações ambientais.

O trabalho pioneiro de ativistas como os que mencionamos acima, ao lado de novas pesquisas, ajudou a estabelecer as bases para a mudança cultural que estamos vendo hoje. No contexto mais amplo da cultura, a discussão e as práticas relacionadas a questões como mindfulness e saúde mental tornaram-se comuns, especialmente no Ocidente. E no âmbito da mudança social, cada vez mais as pessoas estão reconhecendo que o bem-estar é uma questão de fundo que o campo precisa abordar abertamente e entender melhor.

 

DAR UM ROSTO HUMANO AOS NÚMEROS

 

O The Wellbeing Project é uma criação conjunta da Ashoka, da Esalen, do Impact Hub, da Porticus, da Skoll Foundation e da Synergos. Foi formado em 2014 para catalisar uma cultura de bem-estar interior para todos os agentes de mudança. O projeto surgiu de entrevistas honestas com pessoas engajadas com mudanças sociais em todo o mundo, que compartilharam suas lutas pessoais e sua necessidade de apoio.

Essas entrevistas nos deram uma noção profunda de como as pessoas estavam, os desafios que enfrentavam e que tipo de suporte poderia fazer a diferença. Aprendemos que a prática de meditação ou uma terapia resultavam em mudanças tremendamente positivas na vida dessas pessoas. Os praticantes da meditação, por exemplo, descobriram que eram mais capazes de ouvir os outros de forma construtiva, o que levava a relacionamentos mais saudáveis em casa e no trabalho.

Inspirados por essas entrevistas iniciais, começamos a olhar para o problema globalmente, explorando o suporte para o bem-estar interior dos ativistas individualmente e pesquisando a conexão entre o bem-estar e a mudança social. Ao fazer isso, reunimos organizações globais para ajudar a trazer à tona o tema do bem-estar e encontrar maneiras de melhorar o apoio dos membros de suas equipes e de sua coletividade.

Embora os estudos anteriores tenham se concentrado em determinados países, subsetores ou tipos de função, queríamos entender se o problema se mostrava o mesmo globalmente. Para tanto, em 2017 realizamos um estudo on-line abrangente, usando o método Delphi, em várias rodadas e com duração de seis meses. Pesquisamos mais de 250 agentes de mudança recrutados nas comunidades da Ford Foundation e do Impact Hub, em 55 países. A maioria dos participantes expressou uma necessidade comum de apoio para o bem-estar interior e percebeu-o como um ingrediente essencial para um trabalho de mudança social saudável e sustentável. Um segmento significativo relatou sentir-se estressado, preocupado, ansioso, esgotado e isolado.

E enquanto 75% consideraram que cuidar de seu bem-estar era “muito importante” para enfrentar essas questões, apenas 25% relataram estar cuidando de seu bem-estar “em grande medida”. Entre as principais razões para não fazê-lo estão a falta de recursos, uma gama de questões relacionadas à saúde, incluindo a automedicação, e o sentimento de que seu trabalho nunca era realizado ou que o autocuidado era autoindulgente.

Aprendemos que era universalmente difícil para os respondentes se distanciarem de seu trabalho por se identificarem intimamente com suas funções e por sentirem que trabalhar demais era ainda considerado um distintivo de honra dentro do setor. Também ficou claro que as organizações e o setor em geral desempenhavam um papel significativo ao possibilitar uma cultura que apoiava ou rejeitava seu bem-estar interior.

A PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR INTERIOR

 

O conjunto inicial de entrevistas nos mostrou que o “trabalho interior” fez uma diferença significativa na vida dos agentes de mudança. Também conhecido como trabalho pessoal, autocuidado ou autoindagação, esse trabalho interior pode incluir práticas pessoais como meditação ou registros em um diário, práticas espirituais, terapia e vivência em retiros e reuniões de grupo em andamento. Inclui o aumento da autoconsciência, cura de traumas passados e uma mudança em direção a padrões de vida mais saudáveis.

Para examinar o desenvolvimento do bem-estar por meio do trabalho interior, bem como seus efeitos, lançamos um Programa de Desenvolvimento Interior (PDI) de 18 meses. O primeiro coorte começou em 2015 e incluiu três grupos de 20 líderes de mudança social de 45 países diferentes. Embora nosso estudo Delphi tenha demonstrado que todos os agentes de mudança compartilham desafios semelhantes, optamos por trabalhar, em nosso estudo de pesquisa, com aqueles em papel de liderança, uma vez que isso tornou mais fácil o monitoramento de inflexões nos níveis individual, organizacional, setorial e social. Os participantes se inscreveram em quatro diferentes redes – a Ashoka, a Schwab Foundation, a Skoll Foundation e a Synergos – e incluíam empreendedores sociais, ativistas sociais e líderes de organizações sem fins lucrativos. De maneira semelhante aos respondentes do estudo Delphi, os participantes do PDI indicaram que trabalhar pela mudança social teve um impacto significativo em sua saúde física, emocional, espiritual e/ou mental, bem como em suas relações consigo mesmos e com suas famílias, amigos e/ou colegas.

O programa ofereceu suporte para cada participante, incluindo retiros com uma variedade de modalidades de trabalho interior, abordagens personalizadas com profissionais com experiência em bem-estar, engajamento com outros participantes e módulos de aprendizagem de quatro a oito semanas sobre tópicos como mindfulness e relacionamentos. Também incluiu encontros e orientação do diretor do programa. À medida que suas experiências se desenrolavam, uma equipe de sete pesquisadores conduzia uma pesquisa qualitativa longitudinal – incluindo levantamentos, observação e entrevistas com colegas dos participantes – por mais de três anos para compreender o que aconteceu quando os agentes de mudanças buscaram ativamente o bem-estar e como esses esforços afetaram o engajamento deles próprios e de suas organizações com a mudança social.

No início, os participantes do PDI manifestaram culpa por cuidar de si mesmos, mas acabaram por ver esse cuidado como essencial para a saúde e o trabalho deles e dos outros no longo prazo. Eles aprenderam a compreender e a aceitar aspectos de si mesmos, de suas relações pessoais ou profissionais, de seu trabalho e de sua vida que haviam ignorado ou negado. Relataram estar vivenciando maior consciência, presença e alívio do autojulgamento severo, o que resultou em diferentes formas de se portar e de se engajar em ambientes pessoais e de trabalho. Isso incluiu obter uma maior conscientização sobre a diferença entre seu eu verdadeiro e sua identidade no mundo, abandonarem uma imagem projetada de força e se tornarem mais abertos e “desarmados” com os outros, reconhecerem a autocrítica severa, e serem mais gentis consigo mesmos e com os outros, além de terem maior clareza sobre o que queriam e de que precisavam em comparação com o que achavam que os colegas, pares e financiadores esperavam deles.

MUDANÇA SOCIAL DE DENTRO PARA FORA

 

Como descrevemos, no cerne de nossa pesquisa – que é a primeira investigação em grande escala desse tópico, e que esperamos possa incentivar outras mais – estava a questão de como o bem-estar interior dos ativistas influencia a maneira pela qual a mudança social acontece. Nossos resultados foram empolgantes: embora tendo em mente que o processo de bem-estar interior é contínuo, complexo e evolutivo, os participantes em geral demonstraram que as mudanças individuais em direção ao bem-estar influenciam de maneira positiva suas organizações e seu engajamento com a área. Também começamos a observar transformações no nível da sociedade. Em outras palavras, nossa pesquisa mostra uma conexão clara entre o bem-estar interior dos agentes de mudança e a forma como a mudança social acontece.

Abaixo, examinamos mais de perto o efeito do bem-estar em quatro níveis diferentes, do nível do indivíduo até o da sociedade, e algumas das formas como eles se interconectam.

 

1. Resultados Individuais: o Eu, a Identidade, o Papel

 

Os participantes vivenciaram mudanças notáveis de perspectiva como resultado de seu trabalho interior, o que incluiu:

 

  • Descobrir uma identidade mais completa.

    Mesmo quando ao lado de familiares e de amigos, muitas vezes os participantes estavam preocupados com tarefas e questões relacionadas à vida profissional Portanto, mental e emocionalmente, estavam indisponíveis: o trabalho tendia a consumir sua vida. Ao se concentrarem no bem-estar e se engajarem com questões subjacentes que criaram essa dinâmica, eles foram capazes de “desligar”, de se sentirem menos definidos por seu trabalho e de reivindicarem uma identidade mais completa de uma forma que os enriqueceu pessoal e profissionalmente.

     

  • Libertar-se do medo do fracasso.

    Todos nós ocasionalmente ouvimos uma voz interna de autocrítica. Os participantes compartilharam que o ato de examinar essa autocrítica, por meio de um diário ou de outros recursos, e de olhar para sua origem os ajudou a reformular seu medo do fracasso. A compreensão acerca dos padrões severos que tinham imposto a si mesmos de fato diminuiu sua necessidade de preservar identidades de herói. Embora o medo não tenha sido eliminado, esse processo conseguiu reduzir o desconforto e a dor do fracasso. Os participantes se sentiram aliviados à medida que se afastaram da percepção do fracasso como algo pelo qual tinham de se punir e admitiram ter encontrado mais coragem e ímpeto, apesar da possibilidade de falha.

     

  • Ter maior resiliência e manter o equilíbrio.

    O trabalho interior tende a promover a consciência e a inteligência emocional. Como resultado, os participantes descobriram que eram capazes de responder a situações difíceis de uma perspectiva mais equilibrada e positiva.

Outros benefícios individuais incluíram ouvir colegas e pares, e se conectar com eles mais profundamente, sentindo-se mais alegres e reconhecendo e incentivando as capacidades dos outros de resolver problemas em vez de presumir que eles eram os únicos que poderiam executar certas tarefas.

2.Resultados da Organização: Confiança, Integração, Conexão

 

 À medida que o programa avançava, os participantes começaram a mudar a forma como se relacionavam com os colegas e pares; queriam estar totalmente presentes, ouvir ativamente e criar conjuntamente. Nossa pesquisa revelou que apoiar o trabalho interior dos agentes de mudança deu origem a qualidades organizacionais importantes e capacidades além das tradicionalmente relevantes, tais como geração de ideias, arrecadação de fundos e multiplicação de resultados.

Empatia, compaixão e gratidão promoveram maior interconexão e relacionamentos nutridos de maneiras valiosas.

  • Mudar para confiança, “entrega” e uma orientação que prioriza o ser humano.

     

    Os participantes mudaram suas perspectivas de liderança no sentido de construir confiança nos colegas, reconhecendo o valor que cada um traz para o trabalho e empoderando as pessoas para fazerem coisas a partir de seu próprio lugar de conhecimento e experiência. O trabalho deles passou a ser mais de colaboração e apoio que de controle e fiscalização. Eles ficaram mais à vontade para se expressar quando não tinham uma resposta, precisavam de algo ou não estavam se sentindo confiantes. Isso teve efeitos em cascata em toda a equipe e encorajou outros a fazerem o mesmo, criando conexões mais profundas em toda a cadeia. Mesmo em momentos desafiadores, os participantes mudaram de uma mentalidade de “só eu posso solucionar” para um entendimento que considerava a construção de relacionamentos o primeiro passo para resolver um problema.

     

  • Integrar o bem-estar em toda a organização.

     

    Os participantes afirmaram que tinham inserido o bem-estar em suas organizações, demonstrando cuidado e fazendo conexões pessoais além da interação estritamente no nível de trabalho. Eles começaram a priorizar a conexão humana, mesmo em ambientes de ritmo acelerado, por meio de ações simples como perguntar: “Como vai você?”. Isso possibilitou aos funcionários serem mais abertos e honestos sobre suas necessidades, por se sentirem valorizados além de sua capacidade de trabalho. Como resultado, em vez de as equipes se sentirem pressionadas a trabalhar demais e drenar energia até próximo de zero, houve uma abordagem mais positiva, solidária e eficiente para trabalhar, o que apoiava os indivíduos e a missão.

     

O processo de integração do bem-estar em suas organizações assumiu muitas formas, o que incluiu:

 

  • Buscar o alinhamento entre a maneira como a organização trabalha internamente e o trabalho que realiza no mundo.

  • Avaliar o impacto de um novo trabalho no bem-estar do eu interior e da equipe.

  • Conscientizar e desenvolver outras práticas de bem-estar em reuniões, workshops e apresentações.

  • Colocar um tipo diferente de ênfase no crescimento ou mais intencionalidade no processo.

  • Buscar ativamente oportunidades de bem-estar para funcionários, colegas e pares.

 

Outras maneiras adotadas para normalizar ou priorizar o bem-estar em suas organizações incluíram enfrentar a importância de criar uma cultura de bem-estar no nível do conselho; encontrar oportunidades para compartilhar a consciência e as práticas de bem-estar; criar projetos ou organizações com valores e práticas de bem-estar em sua essência; e equiparar eficácia com a manutenção de uma sensação de bem-estar, apesar das exigências do trabalho.

 

3. Resultados do Setor: Abertura, Colaboração, Criatividade

 

Reconceitualizar o significado do que seja um líder orientou e inspirou o engajamento dos participantes e o funcionamento de suas próprias organizações. Também inspirou como eles e suas organizações se engajaram com o setor de mudança social como um todo e com outros setores. Ocorreram duas mudanças comuns:

 

  • Cultivar a abertura.

     

    Ao contrário de um pensamento rígido e estático para implementar mudanças por meio de um determinado curso de ação, os participantes emergiram da experiência mais abertos para apreciar ou até mesmo adotar abordagens que outros pudessem empregar. Também relataram perceber como era importante não apenas aprender e descobrir novas ideias por si próprios, mas igualmente compartilhar essas aprendizagens com outros indivíduos – em um nível organizacional, ou dentro e fora do setor de mudança social. Eles se descobriram cultivando a alegria de aprender e confiar em um processo de aprendizagem conjunta, coworking e compartilhamento.

     

  • Trabalhar mais colaborativamente.

     

    O impulso na direção da colaboração se beneficia da conscientização e da intencionalidade. Os participantes expressaram que o trabalho interior os ajudou a reconhecerem seus próprios egos e, por meio dessa consciência, desenvolverem maior capacidade de cooperação e colaboração. Eles adquiriram uma melhor compreensão e apreço maior pelas opiniões e pensamentos de outros, vendo os parceiros como pessoas com percepções complexas e valiosas a serem consideradas. Apesar de experimentarem um grande sentimento de posse e centralidade para com a missão de seu trabalho, esses participantes descobriram como a colaboração pode apoiar e ampliar seus próprios esforços, e levar seu trabalho mais longe do que eles poderiam fazer sozinhos, ao mesmo tempo que lhes permite manter uma identidade “mais completa” e buscar uma vida plena independente de seu trabalho.

Esses insights criaram uma oportunidade para que os líderes vislumbrassem trabalhar de forma diferente no campo da mudança social. Para muitos, a colaboração – como o bem-estar – é algo que eles defendiam retoricamente no passado, mas em relação a que adotaram uma postura negligente, o que fez com que não a valorizassem adequadamente ou que não se envolvessem com ela de forma significativa. Para alguns, a epifania foi em torno da colaboração dentro das organizações. Para outros, foi entre pares ou entre organizações, ou com doadores. E para muitos foi uma combinação dessas possibilidades.

 

4.Resultados Sociais: Multiplicação Profunda, Novas Pontes, Impacto Coletivo

 

Nos próximos três anos, o The Wellbeing Project pretende obter um retrato mais completo do impacto do bem-estar na sociedade. Até agora, vimos os participantes se envolverem mais profundamente com comunidades e membros da comunidade, trabalharem de forma mais colaborativa para além dos silos organizacionais e restaurarem ou construírem pontes que levam a resultados mais eficazes e holísticos. Esperamos construir esse retrato por meio do aprofundamento deste estudo e da ampliação do escopo da pesquisa.

 

A CONSTRUÇÃO COLETIVA DE UMA CULTURA DE BEM-ESTAR

 

Quando iniciamos nossa pesquisa, líderes de 85 organizações globais e regionais bem conhecidas entraram em contato conosco para expressar seu interesse em compreender e abordar melhor o bem-estar. Em resposta, em 2016 criamos duas comunidades de aprendizagem para explorar maneiras de essas instituições implementarem mecanismos de suporte de bem-estar interior. Essas comunidades se encontraram várias vezes pessoalmente e muitas vezes virtualmente, e tomaram medidas significativas para apoiar sua equipe e coletividade mais ampla. Por exemplo:

  • Fundações importantes, como a Skoll Foundation, o Build Program da Ford Foundation e membros do grupo colaborativo Big Bang Philanthropy, começaram a apoiar o bem-estar de seus funcionários e beneficiários. Por exemplo, a Peery Foundation criou protocolos de saúde mental, bem como um pool de recursos para os beneficiários existentes para investir especificamente no bem-estar de sua equipe.

  • Importantes organizações intermediárias globais e regionais, como a Ashoka, a Echoing Green e a Schwab Foundation começaram a incorporar práticas de bem-estar interior. Por exemplo, a Schwab Foundation dedicou o primeiro dia de um evento de empreendedorismo social de dois dias para estudar o bem-estar interior. A Ashoka designou o bem-estar uma de suas 10 prioridades globais, e entre novas iniciativas está fornecer uma programação de bem-estar em países como Índia, México e Canadá.

  • Entre outras redes regionais e locais, o Impact Hub Vienna integrou o bem-estar a seu principal programa de aceleração. O programa fornece às organizações das quais é incubadora o acesso a instrutores sobre bem-estar pessoal ou organizacional, workshops de conscientização sobre bem-estar e métricas para monitorar os esforços institucionais de criação de uma cultura de bem-estar.

As organizações nessas comunidades de aprendizagem ofereceram programas de bem-estar para dezenas de milhares de agentes de mudança e organizações em todo o mundo, e o feedback que estão recebendo reforça o valor dos programas. A Schwab Foundation, por exemplo, recebeu um feedback de seus membros de que suas sessões de bem-estar foram mais profundas e significativas que qualquer outra nos 20 anos de existência da organização. Ela também observou que o foco no bem-estar pessoal criou um senso de entrega e de mente aberta que permitiu o surgimento de uma colaboração real. Juntos, os esforços dessas organizações representam o início de uma emocionante transformação substancial.

Os pioneiros do bem-estar no setor de mudança social costumam ser vistos com grande ceticismo. Ainda assim, perseveraram para criar espaços de experimentação e aprendizagem, e abrir caminho para transformar o bem-estar de um tópico tabu apenas sussurrado em corredores de conferências em um aspecto abertamente discutido e seriamente considerado da mudança social. Hoje, vemos um número crescente de financiadores atentos, uma cultura que reconhece cada vez mais o valor abrangente do bem-estar, e um setor de mudança social que está se tornando mais humano. Essa mudança cultural está acontecendo enquanto vivemos alguns dos maiores desafios que nosso mundo já viu, e isso nos enche de grande esperança – esperança de que possamos enfrentar esses desafios alimentando o extraordinário dentro de cada um de nós e usando essas qualidades para fortalecer, aprofundar e inspirar a prática de criar mudanças.

*Este artigo marca o lançamento de uma série de um ano de duração produzida em parceria com o The Wellbeing Project, a India Development Review e a Skoll Foundation. A série explora, de maneira particular, o bem-estar organizacional, setorial e social, e reúne perspectivas e aprendizado provenientes de todo o campo e de todo o mundo. Tem como objetivo ampliar o diálogo e dinamizar uma mudança cultural muito emocionante.

 

OS AUTORES

 

Linda Bell Grdina é pesquisadora sênior do The Wellbeing Project. Em seu trabalho anterior no Instituto Fetzer, desenvolveu e coordenou projetos que examinaram como o bem-estar interior apoia indivíduos e comunidades, e canaliza a ação coletiva para o bem comum.

Nora F. Murphy Johnson (@nora_m_johnson) é cofundadora e presidente da Inspire to Change (@inspiretochang8) e cofundadora da empresa de pesquisas TerraLuna Collaborative. Seu trabalho se concentra na aprendizagem, avaliação e estratégia focadas em princípios.

Aaron Pereira é o líder do The Wellbeing Project, iniciativa que está semeando uma cultura de bem-estar interior para todos os agentes de mudança. Ele adora morar entre a França e a Índia.



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