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Lares seguros para pessoas em situação vulnerável

Uma instituição filantrópica e um banco estão unindo forças para facilitar o processo de locação para pessoas de baixa renda e população sem-teto no Reino Unido

Por Emma Woollacott

(Foto de iStock/marchmeena29)

A inflação desenfreada e a alta nas taxas de juros no Reino Unido levaram os proprietários de imóveis a aumentarem o preço dos aluguéis, chegando aos valores mais altos dos últimos 16 anos. Esse obstáculo financeiro à habitação popular agravou-se ainda mais quando o governo do país congelou o auxílio financeiro para pessoas de baixa renda, nos últimos três anos. De acordo com uma pesquisa realizada em 2023 pela instituição filantrópica Crisis, especializada em pessoas em situação de rua, e pela consultoria em serviços financeiros Lloyds Banking Group, apenas 4% dos imóveis no mercado são viáveis para pessoas que recebem benefício habitacional. Além disso, 1,8 milhão de inquilinos de baixa renda vivem em condições de insegurança.

Motivados pelas conclusões, Crisis e Lloyds desenharam uma iniciativa para tornar o processo de locação mais fácil, seguro e barato. Em parceria com a Homes for Good, pioneira na locação social na Escócia, criaram uma agência para combater a falta de moradia aumentando a oferta de habitação popular de qualidade. A agência não pedirá aos inquilinos em potencial que cumpram as rigorosas exigências habituais – como pagamento adiantado de vários meses de aluguel, referências ou fiadores. Além disso, promete não despejar os inquilinos caso não consigam pagar o aluguel.

“Nossa nova imobiliária nos permitirá colocar pessoas em situação de rua diretamente em lares seguros e estáveis, base essencial para reconstruir suas vidas”, diz Matt Downie, executivo-chefe da Crisis.

A agência foi criada como uma empresa de interesse comunitário (CIC, na sigla em inglês), o que significa que ela atuará como uma companhia rentável, porém todo o lucro dos aluguéis será reinvestido numa entidade com ativos bloqueados que apoia uma comunidade específica — neste caso, pessoas que estão ou que corram risco de ficar em situação de rua.

Começando por Londres, a nova agência, ainda sem nome, expandirá suas atividades a outras cidades do Reino Unido. O Lloyds pretende angariar mais de 2 milhões de libras (US$ 2,48 milhões) para o lançamento da empresa. O grupo também custeará uma bolsa da Crisis que concede subsídio para que pessoas em situação de rua estudem ou abram pequenos negócios.

“Na condição de líderes financeiros do mercado de habitação popular, é nossa responsabilidade usar nossas capacidades, escala e relacionamento para ajudar a realizar mudanças positivas”, afirma o executivo-chefe do Lloyds Banking Group, Charlie Nunn.

O plano das parceiras é comprar e alugar imóveis com base no modelo de negócios da Homes for Good e, assim, manter uma oferta constante de habitação popular. A entidade aluga quase 60% de seus imóveis a preços populares, e os 40% restantes são alugados a preços de mercado.

A parceria é positiva para a Homes for Good, que ainda não tem capacidade suficiente para atender ao público. “É muito difícil administrar a demanda e as expectativas dos inquilinos”, explica sua fundadora e diretora-executiva, Susan Aktemel. “Recebemos até 300 consultas por imóvel disponível nos últimos 12 meses, portanto temos um grande volume de pessoas frustradas que estamos tentando ajudar.”

O mercado habitacional londrino, altamente competitivo, será “o maior desafio da agência”, afirma a diretora de estratégia de oferta habitacional da Crisis, Kate Farrell. Diante da disponibilidade limitada do mercado, Nunn ecoa suas palavras. Mas, diz ele, “a solução pode estar na inovação financeira, nas parcerias e no pensamento inovador”.

 

A AUTORA

Emma Woollacott é jornalista no Reino Unido e escreve para a BBC, a Forbes e diversos veículos especializados em tecnologia.



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