Imprimir artigo

Na Índia, mulheres alçam voo

Programa do governo treina camponesas para pilotar drones, aumentando sua segurança financeira e modernizando as lavouras

Por Neha Bhatt

Participantes do Drone Didi participam do processo de calibração da bússola para garantir uma navegação precisa do drone como parte do curso de treinamento no IIT Mandi, Índia. (Foto cortesia da equipe do IIT Mandi iHub)

Quando, pouco tempo atrás, o marido de Banita Sharma contraiu uma doença que o incapacitou para o trabalho, o pequeno negócio de conservas dela mostrou-se insuficiente para atender às necessidades da família. São raras as oportunidades de trabalho em sua aldeia, Bado Brahmanan, no estado de Haryana, no norte da Índia – sobretudo para mulheres.

“Foi quando ouvi falar de um novo programa que treinaria mulheres como pilotas de drones”, conta ela. “Teríamos autorização para alugar nossos drones, conseguindo assim uma nova fonte de renda.”

Em novembro de 2023, o governo indiano lançou o programa Namo Drone Didi (didi em hindi significa “irmã mais velha”). As mulheres constituem 65% da força de trabalho no campo, atividade extenuante e mal remunerada. Poucas são donas de terras. O programa Drone Didi pretende integrá-las à economia rural desenvolvendo habilidades, ao mesmo tempo que moderniza a agricultura por meio da tecnologia, aumento da produtividade e cultivo de precisão. O objetivo é treinar 15 mil mulheres para operar drones com finalidades agrícolas, principalmente na aplicação de fertilizantes e pesticidas. Centenas de mulheres já completaram as duas semanas de treinamento, tornando-se aptas a comprar um drone com subsídios de 50% a 80% do valor, mediante um empréstimo a juros baixos oferecido pela financiadora nacional de agricultura – bancos estatais cobrem o restante.

Ministérios estão em contato com organizações educativas, empresas de fertilizantes, coletivos de camponesas, fabricantes de drones e agências de treinamento para implementar o programa no país inteiro. O governo também dotou os próximos dois anos do projeto com 1.261 crores – 1 crore são 10 milhões de rupias, e o total investido equivale a mais de US$ 150 milhões. O custo do treinamento vem sendo amplamente coberto por empresas de fertilizantes, que o bancam porque o projeto utiliza seus produtos nas lavouras.

As aulas de capacitação acontecem em centros especializados em todo o país. Sharma viajava três horas quando fez o curso presencial de duas semanas em Manesar, cidade perto de Nova Déli. O curso era ministrado pela Indian Farmers Fertiliser Cooperative (Cooperativa de Fertilizantes dos Agricultores Indianos – IFFCO), em parceria com a Drone Destination, empresa de treinamento de veículos por controle remoto sediada em Nova Déli.

“Aprendemos regulamento de tráfego aéreo, emprego dos drones, montagem dos aparelhos, carregamento de fertilizantes, simulação de voo e aplicação”, explica Sharma. “Deu para ver quanto a tecnologia reduz o uso de água, o trabalho manual e o custo dos fertilizantes.” Com um drone, cobre-se em menos de dez minutos uma área cuja fertilização manual exigiria de meio dia a um dia inteiro de trabalho.

Aspectos sociais e de gênero trouxeram desafios. “Muitas das mulheres não tinham uma experiência de aprendizagem organizada, nem haviam trabalhado fora”, diz Chirag Sharma, CEO da Drone Destination. “Foi um choque cultural para elas.”

Para Somjit Amrit, o Drone Didi tem uma “finalidade superior”. CEO do iHub, centro de inovação do Instituto Indiano de Tecnologia (IIT) em Mandi, no estado de Himachal Pradesh, Amrit acredita que o projeto se presta a “democratizar a tecnologia e banir preconceitos de gênero, capacitando as mulheres a se aventurar para além de suas casas a fim de ter oportunidades educacionais e de emprego”. O IIT Mandi está lançando um programa Drone Didi mais amplo, de dez semanas, em parceria com a National Skill Development Corporation. A ideia é abranger um leque mais vasto de mulheres, tanto da cidade quanto do campo. Para isso, tem aulas em hindi e em inglês e inclui módulos de empreendedorismo, comunicação e liderança.

Shashi Bala, 22, integra o treinamento no IIT Mandi. Ela é a primeira mulher de sua família a estudar e procurar emprego fora de sua cidade, Kangra. “Com a indústria dos drones crescendo rapidamente, estou otimista quanto à possibilidade de iniciar uma carreira nesse setor, ganhar experiência profissional e fundar minha própria empresa”, diz.

Um ecossistema de parcerias vem sendo aos poucos construído em torno do Drone Didi para facilitar o acesso a financiamento e a oportunidades de emprego. As agências do governo e as organizações de treinamento têm elaborado planos com fabricantes de drones e bancos para ajudar na aquisição dos aparelhos. Já a Drone Destination está desenvolvendo um aplicativo para ajudar as mais de 650 mulheres treinadas em 13 estados a se empregarem. Estruturas físicas para manutenção dos drones estão em construção.

Para muitas mulheres como Sharma, o programa ensejou uma significativa mudança social e alimentou sonhos ainda mais ambiciosos. “Sou a primeira de minha aldeia a pilotar drones. Acredito que o programa vai criar uma tendência de mais vagas para mulheres e mudará o modo como somos vistas”, diz ela.

A AUTORA

Neha Bhatt é uma jornalista premiada e escritora, residente em Nova Déli. Aborda temas como política de gênero, saúde pública, direitos humanos, educação, problemas ambientais e cultura.



Newsletter

Newsletter

Pular para o conteúdo