Para suprir um mercado com baixa oferta, Paris está transformando propriedades vazias em casas
Por Chloé Rouveyrolles
Para a maioria dos parisienses, comprar um apartamento é quase impossível. Uma pessoa que queira comprar seu primeiro apartamento na Cidade Luz tem de ganhar ao menos US$ 106 mil por ano – mais que o dobro do salário médio anual de um funcionário de escritório – e dar 10% de entrada para obter financiamento.
Não causa surpresa, portanto, que cerca de 10 mil pessoas deixem Paris todo ano. Quarta cidade mais densa da União Europeia, a capital francesa tem pouco espaço para erguer novos lares.
Diante dessa carência habitacional, a conversão de edifícios não residenciais em moradia vem se tornando cada vez mais comum na capital francesa, ganhando apoio das construtoras públicas e dos políticos locais, inclusive da prefeita, Anne Hidalgo.
O Institut Paris Région começou a acompanhar a tendência em 2013. Passada uma década, ela se tornou uma verdadeira revolução. “Estamos vivendo uma espécie de idade de ouro da moradia social”, diz Stéphanie Jankel, urbanista da Apur, entidade parisiense de planejamento urbano sem fins lucrativos.
Porém, como é comum em revoluções, há desafios. Aqui, o maior é o das plantas. “Não podemos desenhá-las livremente; há muito trabalho técnico preliminar para definir quantas unidades podemos produzir”, diz Hélène Schwoerer, vice-diretora-geral de gerenciamento de projetos na Paris Habitat, empresa de habitação social encarregada da conversão de prédios locais há mais de dez anos.
O processo varia segundo a natureza da propriedade original e as leis de zoneamento, mas sempre exige a colaboração entre o o governo e entidades privadas. Por exemplo, se a cidade destina um prédio público para conversão, contrata uma empresa como a Paris Habitat para supervisionar o processo. Caso o bem não seja público, entregará o trabalho a empresas privadas mediante licitação.
Outro desafio vem do fato de que proprietários preferem alugar seus imóveis para escritórios do que para fins residenciais. A administração não pode forçá-los a vendê-los ou alugá-los para conversão. Somente o governo federal tem autoridade para regulamentar bens imóveis, embora tampouco possa obrigar um proprietário a vender um prédio vazio. Em 2020, a Apur estimou que 128 mil unidades habitacionais parisienses estavam desocupadas havia mais de dois anos.
Outro problema é o dispêndio de tempo e dinheiro. Segundo algumas empresas do ramo, é mais caro converter do que construir do zero. Para atingir sua meta de ter 40% das moradias acessíveis para baixa renda, Paris tem de dar subsídios às empresas de construção. No nordeste da cidade, a Caserna de Reuilly – um acampamento militar de 1847 – foi transformada em complexo multiuso, com unidades de aluguel para famílias de classe média ou baixa renda, um jardim de infância e um posto de saúde.
“Você não constrói uma cidade pensando em 5, 10 ou 15 anos. O custo e o retorno exigem décadas”, diz Jankel.
Após anos de experimentação, as autoridades públicas locais aperfeiçoaram o processo e agora buscam diminuir o tempo entre projeto, construção e conversão, a fim de recuperar o investimento mais depressa. Sua experiência deu forma aos edifícios erguidos para os Jogos Olímpicos de 2024 nos arredores de Paris. Eles foram concebidos não só para acomodar atletas e jornalistas, mas também para se tornarem casas, escritórios e dormitórios universitários no fim do ano.
A AUTORA
Chloé Rouveyrolles é uma jornalista nascida e criada em Paris. Atualmente vivendo em Jerusalém, aborda questões como planejamento urbano na França, na Índia e no Oriente Médio.
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