Soluções naturais para a pobreza menstrual
Pobreza menstrual: consórcio global PlantPad tem atuado no financiamento e na busca por soluções sustentáveis para o problema, que atinge 500 milhões no mundo
Por Marianne Dhenin
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E stima-se que 500 milhões de pessoas em todo o mundo vivam na pobreza menstrual, definida como a falta de acesso a produtos seguros e higiênicos, instalações sanitárias básicas e educação sobre higiene menstrual. Não ter acesso a tampões ou absorventes impede que muitas pessoas participem de atividades e contribui para o absenteísmo escolar – estima-se que uma em cada dez pessoas em todo o mundo falte à escola durante o ciclo menstrual.
Em março de 2023, um grupo de empreendedores, acadêmicos e ONGs que já trabalham com a pobreza menstrual na África e na Ásia lançou o consórcio global PlantPad a fim de reunir pesquisas e iniciativas que financiaram por separado e testar soluções locais, sustentáveis e acessíveis, compartilhando seus resultados com empresas locais. A principal equipe de pesquisa do consórcio fica na Universidade Stanford, mas há parceiros na Alemanha, na França, no Quênia, na Nigéria e no Nepal.
Como o custo é um fator de peso, o PlantPad busca baratear a produção usando material vegetal de origem local e acessível. “Em todo o mundo, deve ser possível fabricar esses produtos essenciais localmente”, diz Manu Prakash, professor associado de bioengenharia em Stanford e investigador-chefe da equipe principal de pesquisa.
Matéria-prima vegetal local também reduz o impacto ambiental. A maioria dos absorventes menstruais comerciais é feita de fibras sintéticas e de plásticos misturados com algodão ou fibra derivada da madeira. O fabrico do algodão consome muita água, um desafio para climas áridos, e a madeira é escassa em muitos países e seu processamento emprega produtos químicos nocivos. Além dos núcleos parcialmente sintéticos, bases à prova de vazamentos e tiras extra-absorventes podem fazer com que absorventes contenham até 90% de plástico. Uma pessoa que menstrua usa quase 17 mil tampões ou absorventes durante a vida, e a grande maioria acaba em aterros sanitários, liberando produtos químicos tóxicos e microplásticos durante séculos de decomposição.
Em setembro de 2021, buscando alternativas à base de plantas, pesquisadores que agora fazem parte do consórcio começaram a testar materiais como fibra de bananeira, abundante em partes da Ásia onde há carência de produtos menstruais.
Os pesquisadores compartilham suas descobertas com parceiros do consórcio que têm capacidade de fabricação. Um exemplo é a ONG Nidisi, com sede em Berlim, que planeja produzir absorventes de fibra de bananeira por meio da Sparśa, uma empresa social liderada por mulheres fundada pela Nidisi em Bharatpur, no Nepal. A Sparśa já possui uma planta de processamento da fibra e sua fábrica de absorventes seria inaugurada neste ano.
Assim que os absorventes estiverem no mercado no Nepal, a equipe lançará um programa de defesa e educação sobre higiene e produtos, a fim de desestigmatizar a menstruação. “No momento, apenas 15% das mulheres usam absorventes higiênicos no Nepal”, diz a gerente da Sparśa, Sudha Dhakal. “Parte do problema é a falta de conhecimento”, acrescenta ela, observando que a maioria das mulheres usa outros materiais, como lã, tecido ou folhas.
Em 2022, a equipe de Stanford criou um material absorvente semelhante à penugem da planta de sisal. O sisal é nativo do México, mas também é cultivado em partes da América do Sul e da África Oriental, onde suas fibras são usadas para cordas e barbantes. Os pesquisadores de Stanford compartilharam com parceiros do consórcio a forma de processamento que desenvolveram para transformar o sisal em um material absorvente. Em novembro de 2023, eles publicaram sua pesquisa na revista acadêmica Communications Engineering. Um parceiro, a Olex Techno, está se preparando para fabricar absorventes menstruais à base de sisal em Kisumu, no Quênia, onde há amplo cultivo comercial da planta.
O PlantPad Consortium agora está buscando financiamento em grupo para expandir sua capacidade de pesquisa e construir pequenas fábricas em diferentes lugares, para compreender melhor as necessidades locais, testar seus protocolos e melhorar os processos de fabricação. Eventualmente, diz Prakash, o consórcio planeja lançar um banco de dados de código aberto onde os pesquisadores possam divulgar suas descobertas sobre diferentes fibras e processos de fabricação. Isso permitiria que empreendedores acompanhassem os esforços e descobertas do consórcio e os aplicassem localmente. O compartilhamento adicional de pesquisas também facilitaria novas parcerias como as que estão sendo realizadas no Quênia e do Nepal.
“O consórcio pode atuar como um repositório global de pesquisa”, diz Prakash. Quando os empreendedores locais o usam, “trazem a ação local necessária para que seja valioso”.
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