Imprimir artigo

Crescimento inclusivo

Tulsa está pilotando um novo modelo para mensurar seu crescimento, esperando ser seguida por outras cidades.

Por Nicholas Lalla

A economia americana está muito desequilibrada. A maior parte do crescimento do país ocorre em algumas poucas zonas de grandes áreas metropolitanas costeiras, ignorando quase inteiramente o vasto coração do país e seus mercados pequeno e médio. Essa divisão tem criado bolsões de prosperidade e dinamismo que também estão se tornando caros demais para os jovens que neles vivem, enquanto no restante do país grassa uma supressão de oportunidades e um ressentimento se dissemina por toda parte.

Com o reconhecimento de que a desigualdade geográfica é um problema de primeira ordem nos Estados Unidos e que os empregos do futuro radicam numa florescente economia de inovação, em 2020 a George Kaiser Family Foundation lançou o Laboratório de Inovação de Tulsa (TIL, na sigla em inglês) para ajudar a construir um polo tecnológico na cidade de Tulsa, em Oklahoma, que pudesse alavancar as forças locais e expandir oportunidades tecnológicas para todos os residentes. Tendo em vista essa finalidade, nossa equipe procurou identificar novos indicadores econômicos com o intuito de mensurar e monitorar nosso progresso e garantir que Tulsa estava crescendo do modo certo.

Leia também:

Celebrar as Pessoas para Mudar a Cultura do Serviço Público

O Custo de Dizer Pouco

Ocorre que essa atividade nos desafiou mais do que o esperado. Nós lutamos para identificar um arcabouço que refletisse nossa aspiração a um crescimento inclusivo. Concluímos que a métrica tradicional, como os empregos criados ou o salário médio, muitas vezes deixa de captar os reais propulsores de crescimento e pode excluir análises mais nuançadas que dizem respeito à inclusividade, à diversidade e à resiliência dos empregos. A economia do conhecimento está interrompendo rapidamente o legado das indústrias e dos mercados de trabalho e, com isso, a métrica de crescimento do passado perde sua relevância. Dadas as complexas mudanças em curso, buscamos novas ferramentas para mensurar a prontidão, rastrear o progresso e garantir que o crescimento da economia do conhecimento mais reduza a desigualdade do que a exacerbe.

Percebemos que a escassez de métrica e os problemas sistêmicos eram maiores do que Tulsa e que as soluções passíveis de serem idealizadas por nós e por outros poderiam ter uma aplicação mais ampla. Ao se expandir para além do escopo de Tulsa, o TIL entrou em parceria com o Heartland Forward e com o Aspen Institute para estabelecer o Economy Forward Framework – um conjunto de nove métricas de crescimento inclusivo que, quando aplicadas juntas, detectam o modo como a cidade está crescendo e quais áreas precisam ser contempladas para tornar a economia local mais vibrante e equitativa.

Métrica Inclusiva

Nossa pesquisa e análise original têm foco em 38 cidades de tamanho médio cuja população da região metropolitana varia entre 750 mil e 1,5 milhão. Identificamos essas cidades como o ponto de convergência do movimento demográfico que estamos testemunhando desde os polos tecnológicos situados na região costeira até as cidades emergentes da região central, movimento esse que pode tornar os Estados Unidos um país mais equitativo. Nós as examinamos durante um período de dez anos (2010-2020).

Três das métricas utilizadas relacionam a indústria e determinados segmentos da economia do conhecimento que uma cidade está buscando para crescer. A primeira delas diz respeito à participação de empregos na economia do conhecimento, que pagam melhor e são mais raros em muitas cidades do Meio-Oeste. A segunda se refere à participação da contratação em empresas inovadoras com menos de seis anos de idade, mede a capacidade de uma região em produzir e reter empresas com elevado potencial de crescimento. A terceira versa sobre gastos com pesquisa e desenvolvimento acadêmicos, que podem servir, por força de universidades e faculdades locais, para ancorar economias de inovação.

O segundo conjunto de métricas tem a ver com acessibilidade, que é o grau em que as oportunidades de instrução e de carreira se encontram disponíveis para populações carentes. Uma delas é o índice de participação da força de trabalho segundo raça e sexo, que pode indicar se trabalhadores vulneráveis estão sendo adequadamente preparados para a transição econômica. A segunda versa sobre os diferentes graus de participação em programas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês), nesse que é um desafio de âmbito nacional, em especial entre estudantes americanos pretos ou africanos, americanos indígenas ou nativos do Alasca e hispânicos. A última métrica dá conta da participação de empresas que são de propriedade de minorias e mulheres em indústrias com base em conhecimento. Uma pontuação elevada nesse quesito indica êxito na capacitação de empreendedores de populações carentes, os quais conseguem prosperar à frente de indústrias inovadoras, o que ajuda a cobrir a corrosiva lacuna de riqueza do país.

O último pacote de medidas se relaciona ao que chamamos de vibrância, a vitalidade global de uma comunidade. Uma das medidas diz respeito aos investimentos públicos em qualidade de vida e está relacionada a amenidades culturais e recreativas que são determinantes cada vez mais importantes nas quais os trabalhadores da economia do conhecimento e as empresas que os empregam optam por se situar. Outra foi o percentual de residentes com formação no mínimo universitária que são úteis nas crescentes inovações de startups e de comercialização. A terceira medida avalia a retenção de graduados de instituições educacionais locais, crucial para impedir a fuga de cérebros, que pode obstaculizar os esforços em cultivar forças de trabalho altamente especializadas, necessárias para construir e sustentar uma economia de inovação.

Com base nesses nove indicadores, fomos capazes de criar o que chamamos de pontuações “Economy Forward”, que segmentaram as 38 cidades em quatro grupos, revelando em que ponto uma cidade atualmente se encontra em sua jornada rumo a uma economia de inovação que seja, de fato, inclusiva.

O primeiro nível, cidades-prontas para o futuro, em geral apresenta economias do conhecimento que, num crescimento estável e consistente, estão se movendo na direção correta. Um exemplo desse tipo de metrópole é a área metropolitana de Omaha-Council Bluffs, na divisa de Nebraska com Iowa. Outrora conhecida sobretudo por seus frigoríficos e posicionamento como núcleo de transportes, Omaha-Council Bluffs evoluiu para se transformar em um centro de negócios importante, que sedia empresas ranqueadas no anuário Fortune 500, abarcando uma ampla gama de indústrias: Berkshire Hathaway (holding), Kiewit Corporation (construção civil), Mutual of Omaha (banco) e Union Pacific Corporation (ferrovia e transportes). Com elevada proporção da população com diploma universitário (34,7%) e a segunda maior taxa de participação global da força de trabalho (71,07%) entre as zonas pesquisadas, não surpreende que a cidade também ostente o terceiro maior crescimento na participação de empregos da economia do conhecimento (+4,70% de 2010 a 2020). Omaha-Council Bluff é uma rara combinação entre uma população instruída e trabalhadora, um núcleo de negócios forte e um futuro empresarial jovem e vibrante.

O segundo nível, cidades quase prontas, compreende trajetórias positivas com uma série de indicadores fortes, mas ainda com necessidade de amadurecer. Boise, em Idaho, por exemplo, é uma economia forte e ágil que está produzindo startups, mas necessita estimular suas jovens empresas para a economia do conhecimento. Tem apresentado elevada proporção de contratação por empresas jovens (13,49%) e sua população é relativamente bem instruída, com muitos residentes tendo no mínimo formação universitária (30,44%). Ainda assim, seu crescimento negativo em intensidade de conhecimento por empresas jovens (-1,56%) e na participação de empregos em economia do conhecimento (-0,77%) se encontra em último lugar entre dez cidades de tamanho médio. A chave para o persistente êxito de Boise reside na conexão entre suas já vigorosas forças de trabalho empreendedoras e instruídas, o que se traduz em jovens empresas com aplicação intensiva de novos conhecimentos.

O nível mais baixo, cidades em situação de risco, compreende municipalidades que têm vivenciado economias em contração e enfrentam sérios problemas de equidade, o que faz com que provavelmente venham a enfrentar dificuldades na nova economia. El Paso, no Texas, por exemplo, está na pior posição entre cidades de porte médio: apresenta a pior intensidade de conhecimento nas empresas jovens (12,75%), crescimento bastante lento na participação de empregos na economia de conhecimento (-0,2%), e além disso o percentual de residentes com formação no mínimo universitária (+3,66%) revela uma carência de força de trabalho instruída. Ao mesmo tempo, a cidade ostenta a primeira posição quanto ao crescimento dos índices de participação da força de trabalho global (+3,4%) e é a quarta melhor cidade em se tratando da melhoria dos índices de participação da força de trabalho feminina (+3,8% em relação à população masculina). Também ocupa o oitavo melhor índice de emprego em empresas jovens (13,93%), o que indica forte impulso de pessoal novo, que, ao entrar para a força de trabalho, é empregado em empresas jovens. Nenhuma cidade em nosso estudo apresenta uma disparidade tão grande entre sua situação atual e seu potencial para o futuro. Se El Paso pode migrar para a economia do conhecimento, seu rápido crescimento econômico pode torná-la uma cidade altamente competitiva. Com base em seu crescimento acima da média em intensidade de conhecimento por empresas jovens (+0,46%), essa tendência pode já ter se iniciado.

E quanto à própria cidade de Tulsa? Ela não se saiu especialmente bem na pesquisa, mas apresenta um movimento à frente suficiente para ser classificada como cidade de oportunidade, o terceiro nível. Tais cidades têm ativos ou forças locais para alavancá-las, mas demandam investimento sustentado para se converter em economias de crescimento inclusivo e reconhecidamente tecnológicas.

Outrora conhecida como “Capital Mundial do Petróleo”, Tulsa teve de se esforçar para se adequar ao século 21. Apresenta bons índices de participação média da força de trabalho (64,2%), mas tem baixo percentual de residentes com formação no mínimo universitária (26,78%) e baixa intensidade de conhecimento por parte das empresas jovens (21,82%). Com isso, o principal desafio enfrentado por Tulsa não está na crescente participação das contratações, e sim em requalificar e atrair trabalhadores com elevado grau de instrução e em fomentar indústrias resilientes na economia do conhecimento.

Aplicando a Estrutura

Essa metodologia para estimar a situação e as perspectivas de uma cidade, aplicada de maneira consistente nos Estados Unidos e pelo mundo afora, é passível de impulsionar o desenvolvimento econômico. Para aplicar a estrutura à sua cidade, recomendamos os passos a seguir:

  1. Identifique um líder. Identifique uma organização local para liderar o processo de coleta e análise de dados da cidade, para garantir capacidade e acesso a fontes de dados.
  2. Alinhe a objetivos. Compartilhe dados com seus parceiros locais e incentive a coalizão de desenvolvimento econômico de sua cidade a adotar um conjunto comum de objetivos, com métricas quantificáveis.
  3. Desenvolva um painel de controle. Após refinar a métrica de conhecimento inclusivo para sua cidade, traduza-a num painel de controle fácil de usar para monitorar e rastrear o progresso da cidade.
  4. Analise os dados. Periodicamente, revise e analise os dados, o que pode aflorar insights sobre quaisquer refinamentos que se façam necessários para a estratégia de um desenvolvimento econômico local.
  5. Envolva o público. Mantenha fóruns públicos e emita atualizações de recomendações para a região.
  6. Aja com intenção. Integre a métrica do conhecimento inclusivo em seus investimentos para o desenvolvimento econômico de modo que gere intervenções providas de um olhar aguçado à métrica mais importante para o crescimento inclusivo.
  7. Se os Estados Unidos se tornarem mais inclusivos e equitativos e se o desenvolvimento for distribuído pelo país afora em vez de ficar concentrado em bolsões já prósperos, o resultado será crescimento maior e melhor para todos.

O AUTOR

Nicholas Lalla é fundador e diretor-executivo do Laboratório de Inovação de Tulsa. Lançou o projeto Cyber NYC na Companhia de Desenvolvimento Econômico da Cidade de Nova York.



Newsletter

Newsletter

Pular para o conteúdo