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O custo de dizer pouco

Dois estudiosos investigam as dimensões quantitativas da comunicação em avaliações de liderança e suas descobertas são muito interessantes.

Por Daniela Blei

Ilustração de Adam McCauley

Frank Flynn, professor de comportamento organizacional da Graduate School of Business da Stanford University (Stanford GSB, na sigla em inglês), leciona no programa de educação executiva. Ao conduzir avaliações de liderança, Flynn notou que as pessoas tendiam a receber críticas mais severas por sua comunicação do que por quaisquer outras habilidades que apresentavam na condição de líderes. Também reparou que, enquanto a qualidade da comunicação havia gerado discussão e debate acadêmicos, a quantidade – o que empregados entendem como sendo excessiva ou insuficiente – não havia recebido o mesmo cuidado.

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Flynn formou uma parceria com Chelsea Lide, doutoranda da Stanford GSB, a fim de investigar as dimensões quantitativas da comunicação – sua profundidade, seus detalhes e frequência – em avaliações de liderança. Agora, em um artigo recente, a dupla expõe evidências de quatro estudos mostrando que a quantidade de comunicação importa. E que, aos olhos dos empregados,  a maior parte dos gestores falha em se comunicar de modo satisfatório, o que traz consequências danosas para as avaliações de seu desempenho.

Nos primeiros dois estudos, Flynn e Lide debruçaram-se sobre relatos diretos que discutiam os pontos fracos de seus líderes. Os empregados citaram a comunicação insuficiente dos gestores e fizeram fortes críticas quando estes comunicavam pouco, em vez de fazê-lo em demasia. Em um terceiro estudo, eles puderam replicar suas descobertas e mostrar que empregados penalizavam gestores em grau muito maior por falta de comunicação. “Em teoria, a falta de comunicação é ruim, mas o excesso também o é”, afirma Lide. “Ocorre que as penalizações são assimétricas. Nós queríamos entender por quê.”

Outra pesquisa sugere que gestores não raro comunicam menos do que deveriam por temerem reações negativas, ou porque presumem, de maneira equivocada, que sua comunicação é eficaz. Com o uso de evidência experimental, os dois pesquisadores constataram que a falta de comunicação era interpretada como um sinal de que os líderes careciam de empatia ou de cuidado e preocupação para com os empregados. Além disso, quando eles viam seus gestores como pouco comunicativos, e por isso carentes de empatia, Flynn e Lide notaram que a confiança em suas habilidades de liderança diminuía.

Em um quarto estudo, os pesquisadores empenharam-se em avaliar contextos do mundo real. Ao trabalhar com uma amostragem de graduados em MBA, Flynn e Lide perguntaram-lhes sobre o quanto esperavam que seus gestores se comunicassem com eles e de que modo caracterizavam a quantidade de comunicação que recebiam.

“O que chamou minha atenção é o sentido do efeito reportado por Flynn e Lide”, afirma Gianpiero Petriglieri, professor de comportamento organizacional do Insead (Institut Européen d’Administration des Affaires) em Fontainebleau, na França. “Líderes vistos como se comunicando de modo insuficiente foram considerados menos empáticos e, portanto, menos capazes de liderar. A comunicação era um veículo para a conexão.”

O desafio de estudar comunicação é sua subjetividade – sua suficiência e eficácia estão nos olhos do observador. Desse modo, os pesquisadores reconheceram a necessidade de mensurar quanto os empregados preferiam que seus gestores comunicassem assim como a percepção do modo como os gestores se comunicavam com eles. “Acabamos por verificar que, quando essas duas coisas se combinam – a percepção e a preferência –, os empregados veem seus líderes como mais empáticos e eficazes”, diz Lide. “Quanto mais longe você pode ir com essa combinação, mais duramente penalizados são os líderes, mas isso especificamente quando se tem uma carência de comunicação.”

Cientes dos muitos modos pelos quais o gênero contribui para as expectativas de comunicação bem-sucedida, Flynn e Lide usaram verificações de robustez em seus dados para avaliar se a empatia percebida foi afetada pelo fato de o gestor ser do sexo feminino ou masculino. Eles descobriram que o papel da empatia percebida, ou até que ponto um líder deixa a desejar na comunicação de acordo com o empregado, transcendia os efeitos de gênero. O mesmo se mostrou verdadeiro para idade e identidade étnico-racial. Os pesquisadores reconheceram, contudo, que seus estudos cobriam indivíduos dos Estados Unidos e poderiam não se aplicar a contextos culturais não americanos.

Apesar das preferências idiossincráticas dos empregados pela comunicação, o artigo mostra que a maior parte dos gestores compartilha pouco. Uma vez que os pesquisadores constroem a comunicação de maneira ampla, sem especificar um mercado ou uma função em particular, suas descobertas sugerem que todos os líderes deveriam se beneficiar da solicitação de feedbacks relacionados a sua comunicação e do quão eficaz ela é.

“Como em todas as relações, não importa o quanto nós esperamos ouvir, o silêncio excessivo machuca muito mais do que o excesso de palavras”, diz Petriglieri. “O silêncio sinaliza falta de atenção, falta de interesse e, em última instância, falta de cuidado – e é isso que, eu acredito, mais se espera dos líderes.”

A AUTORA

Daniela Blei é historiadora, escritora e editora. Seus textos podem ser conferidos em daniela-blei.com/writing. Ela tuíta esporadicamente: @tothelastpage.



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