A Open Society sob ameaça
Após mais de três décadas de promoção da democracia liberal, a entidade filantrópica se vê na defensiva. É possível uma reestruturação estratégica e uma nova liderança virarem o jogo?
Por Paul Hockenos
Em 26 de outubro de 2019, o bilionário investidor e filantropo George Soros deu uma entrevista à emissora americana National Public Radio com o intuito de promover o seu novo livro, Em Defesa da Sociedade Aberta [lançado no Brasil pela editora Intrínseca, em 2021]. Então com 89 anos, ele teceu considerações sobre o fato de ter gasto dinheiro e energia demais fomentando uma ideia, para no fim ver o esforço ruir. “Quando eu me envolvi no que chamo de filantropia política, há cerca de 40 anos, a ideia de sociedade aberta estava em ascensão – sociedades fechadas estavam se abrindo”, afirmou Soros. “Agora, as sociedades abertas estão na defensiva, e ditaduras estão em ascensão… O jogo virou contra mim.”
A Open Society Foundations (OSF), organização pioneira criada por Soros nos anos 1980, antecipando a memorável abertura da Europa Central e Oriental (CEE, na sigla em inglês), passa hoje por uma ampla reavaliação e por uma protelada mudança de estratégia. Uma das maiores entidades filantrópicas do mundo, com um patrimônio de US$ 22 bilhões e orçamento anual de cerca de US$ 1,4 bilhão, simplesmente não vinha obtendo os resultados almejados. Desde meados dos anos 2000, líderes autocráticos de todo o mundo vêm pondo na defensiva a comunidade de viés liberal voltada para o desenvolvimento, incluindo organizações como a OSF,
que, ao longo de quatro décadas, conquistou generosa aprovação por sua tenaz promoção da democracia e do trabalho pelos direitos humanos. A sociedade aberta – conceito do filósofo austríaco Karl Popper, que versa sobre uma organização política em que o Estado protege a liberdade individual e é inspiração para a filantropia de Soros – está sob ataque em praticamente todo o mundo. Órgãos que financiam a sociedade aberta estão sendo atacados, nenhum de modo tão feroz quanto a OSF, sediada em Nova York, e isso tanto nos Estados Unidos quanto no exterior. Ainda que se possa compreender essa atenção indesejada como uma prova da eficiência da OSF, ela compromete seus métodos de doação de recursos e, em ampla medida, sua missão geral.
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Talvez não haja melhor exemplo desse embate do que a Hungria natal de Soros – ele imigrou para o Reino Unido em 1947 e lá foi aluno de Popper –, onde a OSF tem injetado centenas de milhões de dólares desde os anos 1980. O partido do populista autoritário Viktor Orbán – eleito em 1998 e mais quatro vezes desde 2010 – transformou a antiga joia da coroa da OSF num pária da União Europeia, reprimindo espaço civil, minorias e mídia independente. Orbán fez com que a OSF saísse do país em 2018, despachando o seu grande escritório regional para Berlim, e forçou a louvável Universidade Centro-Europeia, projeto de Soros, a transferir para Viena o seu principal campus.
Diga-se em sua defesa que a OSF está consciente do dilema, mesmo sem ter uma solução certeira para ele. “Não podemos continuar os mesmos enquanto o mundo e o contexto de nosso trabalho mudam”, declarou o novo presidente da OSF, Mark Malloch-Brown, ao assumir o posto e anunciar uma reformulação, em 2021. Com um currículo radicalmente diferente do de Aryeh Neier, ativista pelos direitos humanos e presidente da OSF de 1993 a 2012, o britânico Malloch-Brown, diplomata de carreira, é membro do Partido Trabalhista e atuou como secretário-geral adjunto das Nações Unidas sob Kofi Annan, entre outros postos internacionais de alto nível.
“Os desafios de hoje, como a pandemia e a crise climática, são interligados e já não é eficaz tratá-los com 40 programas e fundações, separados por nação, região e tema”, reconheceu Malloch-Brown. A governança da OSF também se tornou difícil de manejar, com um conselho global, oito conselhos regionais e 17 conselhos temáticos.
Essa autoanálise da OSF e a reflexão sobre seu aprendizado são saudáveis – e vitais. Mas a remodelação em curso pressiona a fundação rumo a um novo terreno para uma entidade filantrópica. À luz de uma recessão democrática e da ressurgência autoritária em âmbito mundial, a OSF manobra para enfrentar a reação política global contrária às causas progressistas, ou as “ameaças à sociedade aberta global”, como a organização as denomina. A reavaliação da OSF sobre seus meios para implementar mudanças sociais e políticas só será bem-sucedida se a fundação conseguir realmente ajudar a conter essas tendências no longo prazo.
O império OSF
Desde que foi fundada, a OSF se isolou no cume da atividade, em razão da amplitude e profundidade de sua missão. A simples admissão de que uma reformulação é necessária já é notável, uma vez que entidades do tipo não são conhecidas pela capacidade de autocrítica: a exemplo de seus pares, a OSF não costuma contratar avaliadores externos, nem dispõe de colegiados ou órgãos de supervisão independentes que examinem o que se propôs a fazer e o que de fato fez.
A reorganização “radical” e “fundamental” que Malloch-Brown anunciou revela um empenho incomum em digerir as lições de suas labutas. Ao longo de décadas de lutas e expansão institucional, a OSF se inchou e perdeu o foco, com 44 escritórios e projetos em 120 países espalhados mundo afora. Mais de 50% dos financiamentos duraram menos de um ano; os custos operacionais correspondiam a um quarto do orçamento total. “Se os programas da OSF pareciam uma colcha de retalhos amalucada que crescia a cada vez que George Soros tinha uma nova ideia ou encontrava uma pessoa diferente, é porque era assim mesmo”, disse um ex-administrador da OSF, que pediu anonimato – como muitos entrevistados que receberam, recebem ou esperam receber verbas da OSF. Profissionais antes tão lisonjeiros hoje reclamam que a OSF se tornou morosa, excessivamente concentrada nos Estados Unidos e cada vez mais sobrecarregada, com prazos curtos demais – características execráveis para o modelo filantrópico enxuto, descentralizado e com foco no local que o próprio Soros promovia nos anos 1990 e 2000.
Uma fundação que costumava se orgulhar de contornar a burocracia mergulhou nela. “É uma mixórdia”, lamentou o portal Inside Philanthropy em 2021. “Se escolhem você para enviar uma proposta, muitas vezes pode levar um ano ou dois para darem algum retorno – ou nenhum. Se os responsáveis pelo programa são altamente qualificados, nem sempre são dos mais responsivos.”
O orçamento para programas e grantmaking, que em 2022 foi de US$ 877 milhões, tem a ganhar com a simplificação. Nove programas temáticos – entre eles os de migração internacional, saúde pública, política antidrogas e direitos das mulheres – estão sendo incorporados à nova estrutura, enquanto dois outros migrarão para entidades externas. A equipe da OSF foi reduzida em cerca de um quinto de seu porte após o fechamento de 22 fundações de nível nacional e regional. (Entre 2020 e 2021, 1.700 empregados receberam ofertas de indenização trabalhista.) Com essas medidas, a estrutura se restringiu a seis programas regionais – Estados Unidos, América Latina e Caribe, Europa e Eurásia, Ásia-Pacífico, África, Oriente Médio – e a uma equipe de programas globais, que gere os “carros-chefe”, programas de justiça climática e de reforma da dívida pública.
A missão de uma equipe global voltada para advocacy e lobby transnacionais é fazer com que as vozes mais importantes do Sul Global sejam ouvidas onde as questões da região são decididas. Além disso, a justiça interseccional (os modos pelos quais formas múltiplas de discriminação se interseccionam em sistemas definidos pela desigualdade) é um determinante-chave para quase qualquer projeto. A OSF tem o objetivo de combater essas desvantagens – por exemplo, a do Sul Global –, valendo-se de diferentes pontos de acesso, como redução da dívida, tributação, proteção social, justiça climática, política antidrogas e migração. Refletindo as mudanças demográficas, a OSF também tem apoiado movimentos sociais liderados por jovens, nos moldes do Fridays for Future, de Greta Thunberg, como meio de realizar mudanças. Por último, vem cunhando parcerias mais regulares com outras entidades filantrópicas e governos, reservando altos investimentos para grandes desafios, como a crise climática, por extensos cronogramas que se cruzam com outras prioridades.
A audácia e a coragem de se arriscar caracterizam o fundador da OSF, cuja fortuna se deve em grande parte à sua aposta elevada e oportuna na desvalorização da libra esterlina, em 1992, que lhe rendeu o apelido de “o homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. A trajetória de Soros, desde que ele começou a financiar pesquisadores e dissidentes na Europa Oriental comunista e na África do Sul, é impressionante. A longa lista de beneficiários da OSF é um verdadeiro “quem é quem” de ONGs internacionais, projetos de educação cívica e veículos de comunicação independentes de todo o mundo. As diferentes encarnações da OSF disseminaram mais de US$ 19 bilhões por meio de mais de 50 mil subsídios. O pioneirismo e as práticas exemplares estabelecidas pela fundação ao longo de quatro décadas rendem livros inteiros. Ao ser inaugurada, a OSF era uma anomalia no campo filantrópico, já que não agia como instituição beneficente, financiando projetos pontuais voltados a um problema específico. Em vez disso, atuando como uma rede transnacional de fundações regionais, mirou em transformação social e política – mesmo em mudanças de regime, mas sempre com meios pacíficos e base popular.
Entre os louros de Soros estão a ajuda para derrubar o comunismo soviético e o auxílio à população sitiada de Sarajevo na guerra bósnia dos anos 1990; também alimentou as revoluções na Eurásia pós-soviética nos anos 2000 e promoveu a primeira candidata mulher e anticorrupção à presidência da Eslováquia em 2019. Nos Estados Unidos, têm o dedo dele o estímulo a uma nova geração de políticos – a lista inclui Barack Obama e a ex-deputada estadual pela Geórgia e candidata ao governo daquele estado, Stacey Abrams – e o apoio a promotores progressistas por todo o país. A OSF também deu suporte ao movimento Black Lives Matter desde o seu início. Entre 1998 e 2021, a rede OSF investiu em torno de US$ 50 milhões para estimular o setor de cuidados paliativos em todo o mundo, o que, segundo especialistas, inseriu a entidade na agenda global de saúde pública. E ele jamais se esquivou de novas causas, como as da reforma prisional ou do flagelo dos extremamente marginalizados – grupos étnicos como os romanis, por exemplo –, dos portadores de HIV e dos refugiados.
Seu trabalho também atraiu inimigos poderosos. O ex-presidente Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin vilanizam a OSF e Soros por sua enorme influência. A considerar o que dizem seus detratores nos veículos da extrema direita, Soros, além de tudo, manda na economia global e instiga o esquerdismo radical. A eficácia das atividades da OSF na Hungria e na Rússia foi vista como tão abrangente a ponto de seus respectivos líderes forçarem o banimento da entidade, acusando-a de atentar contra o Estado.
O que acontecerá quando Soros passar o bastão? A OSF, com seu caos criativo, sua celebrada agilidade e suas controvérsias, sobreviverá a seu nonagenário fundador, que tem se afastado, deixando cada vez mais a tomada de decisões para outros? Alexander, 37 anos, filho de Soros, doutor em história pela Universidade da Califórnia em Berkeley, foi recentemente nomeado presidente do conselho de diretores da OSF, composto de sete pessoas. Dois outros membros da família – a mulher de George Soros, Tamiko Bolton Soros, e a filha dele, Andrea Soros Colombel – também fazem parte do conselho. Quase todos os 26 membros do conselho consultivo foram ou estão sendo descartados, transferindo o poder da entidade para as mãos do conselho diretivo. Que seja o filho, e não um profissional de fora da família, a assumir o lugar de Soros sublinha o fato de que a OSF, como a maior parte das entidades filantrópicas, continuará a ser um negócio familiar cujos rumos continuarão a ser afetados pelos caprichos e peculiaridades do clã – para o bem e para o mal.
Abrindo a Europa
A atual transição não é a primeira da OSF. A entidade passou por diversas mudanças ao longo do tempo e colheu seus aprendizados. A primeira fase da fundação estendeu-se pela década de 1980 e início da de 1990, quando a Fundação Soros de Budapeste e o Open Society Institute, precursores do que se tornaria, em 2010, a Open Society Foundations, operavam em contextos autoritários, como os dos Estados unipartidários da Europa Oriental e da União Soviética, e na África do Sul sob o apartheid. Sua atuação, anômala nessas regiões, fez com que as corporações Soros angariassem legitimidade no bloco soviético, amparando um misto de pesquisadores dissidentes, estudantes de mente aberta, proto-ONGs e clubes que medravam nas fendas e fissuras dos abatidos Estados autocráticos.
Como entidade privada, a fundação procedeu com uma destreza à qual nenhum Estado-nação ou agência de desenvolvimento poderia ambicionar. Em seus esforços, apadrinhou não só muitos indivíduos, mas também movimentos dissidentes, como o Solidariedade, na Polônia – sindicato independente e antiautoritário que usou da resistência civil para promover direitos dos trabalhadores e mudanças sociais. O próprio Soros não teria escrito um script mais favorável do que o que se desenrolou no bloco oriental de 1989 a 1991, com ditaduras caindo uma após a outra, tendo agentes da sociedade civil à frente.
A primeira fase da OSF foi até o começo dos anos 1990, quando, nas democracias recém-conquistadas, as sementes da sociedade aberta se fortaleceram como atores independentes. “O trabalho da OSF à época foi muito original e relevante”, opina Mary Kaldor, especialista em governança global e sociedade civil da Escola de Economia e Ciência Política de Londres. “Foi uma contribuição importante para a democratização.” George Soros estabeleceu fundações independentes em toda a CEE e na antiga União Soviética, as quais recebiam montantes fixos e irrestritos de seu dinheiro, os quais eram distribuídos, a critério dessas fundações, a centenas de grupos e causas vistos como promissores. O investimento ousado era uma demonstração de confiança jamais dada por qualquer agência de desenvolvimento.
“É difícil imaginar como seria a sociedade civil na CEE sem a atuação de Soros e da OSF”, observa Emily Tamkin, na biografia do investidor que lançou em 2020, The Influence of Soros: Politics, Power and the Struggle for an Open Society [A influência de Soros: Política, poder e luta por uma sociedade aberta]. “A maioria das pessoas que trabalham em espaços da ‘sociedade civil’ em países dessa região, pelo menos até onde pude ver, de algum modo, em algum ponto, teve envolvimento com a OSF.”
Reação
A segunda fase, na qual o orçamento da OSF disparou para centenas de milhões de dólares, foi paralela à estabilização dessas democracias. A entidade funcionou como parceira em reformas de transição – politicamente fundamentadas, com flexibilidade operacional e atentas a novas informações ou tendências. Por meio de suas fundações locais, a OSF apoiava esforços, por exemplo, para garantir mais transparência parlamentar, eleições livres e justas, Judiciários modernos e mídia independente. Nas palavras de Daniel Bessner, historiador da Universidade de Washington, Soros se dedicou então “a construir instituições permanentes que sustentariam as ideias motrizes das revoluções anticomunistas, ao mesmo tempo que moldava as práticas de sociedades abertas para os povos libertos da Europa Oriental”. As comunidades de Soros, observa Tamkin, falavam a linguagem da democracia inclusiva: liberal, secular, racional.
Essa visão era em tudo distante do que expressavam os populistas de direita vicejantes na CEE. Entre esses figurava o húngaro Viktor Orbán, que, como bolsista da OSF, estudou na Universidade de Oxford às expensas de Soros. Foi Orbán, e não os defensores da OSF, quem logo compreendeu que as ideias das “elites” merecedoras da generosidade de Soros – bem formadas, de língua inglesa e liberais – não repercutiam junto à média do cidadão húngaro. Este encarava com grandes doses de dor e sofrimento a reestruturação da economia com base no livre mercado.
Essa crítica ilustra a avaliação de Bessner de que as primeiras ações das instituições de Soros acolhiam a filosofia do livre mercado – na medida em que uma sociedade livre depende de mercados livres, ainda que regulados. Esta, tal como foi aplicada em toda a CEE e na Rússia na década de 1990, empobreceu milhões de cidadãos comuns, que com isso foram jogadas diretamente em mãos populistas. Desde então, Soros muitas vezes apontou o dedo para o laissez-faire capitalista. Mas, de acordo com Bessner, se por um lado ele “reconhecia, antes da maioria, os limites do hipercapitalismo, por outro sua posição de classe tornava-o incapaz de advogar de maneira plena pelas reformas – anti ou pós-capitalistas – necessárias para moldar o mundo como ele desejava”. O vice-presidente da OSF, Leonard Benardo, denuncia o “enorme, gigante fracasso de parte do Ocidente” em compreender os direitos humanos sobretudo como construtos políticos e cívicos, e não em termos sociais e econômicos. Na verdade, essas deficiências, entre outras, têm causado o efeito – contrário às alegações de Putin, Orbán e dos republicanos dos Estados Unidos – de neutralizar grande parte da energia positiva e do trabalho duro registrados ao longo dos anos em países beneficiados por concessões da OSF. “O grande erro foi dar como líquido e certo o neoliberalismo”, segundo Mary Kaldor. “Isso não foi nem sequer debatido.”
Outros críticos apontaram que o maior erro da OSF foi financiar uma elite liberal que, embora parecesse refinada aos olhos dos doadores ocidentais, tinha pouco a ver com as pessoas comuns. “Quando organizações sem fins lucrativos, digamos, na Hungria, são financiadas por um filantropo americano, elas deixam de ter base popular”, observa Dániel Mikecz, cientista político do Instituto de Ciência Política da Academia Húngara de Ciências.
Timothy Garton Ash, historiador da Universidade de Oxford, tem visão semelhante. “As figuras em torno das quais Soros gravitava e às quais confiou suas fundações tendiam a ser intelectuais que viviam nas cidades grandes, o que significa, também, que em geral provinham de camadas privilegiadas”, disse ele à biógrafa de Soros. “Como poderia uma sociedade ser aberta e como as chances para fazer parte dela poderiam ser mais equitativas, se os encarregados da abertura vinham todos de estratos sociais parecidos?” Essa imagem, aliada à ideia de antissemitismo e outras fobias, foi habilmente explorada pelos aliados de Orbán para consolidar sua base e ganhar as eleições.
A marca da OSF tornou-se tão tóxica, que alguns beneficiários por fim se mostraram dispostos a distanciar-se dela. Um deles, que pediu anonimato, afirma estar mais forte agora, sem a afiliação à OSF. “Hoje, nossos financiadores são diversos; com isso, não ficamos dependentes de nenhum deles. Neste país, a associação com George Soros e com a OSF tornou-se uma desvantagem”, diz o representante de uma dessas organizações, manifestando um sentimento também expressado por outros beneficiários na CEE e na Ásia Central.
Expandindo a cobertura
No ano 2000, a OSF já estava em sua terceira fase: indo além da Europa e da Ásia Central, rumo ao Sudeste Asiático, África, América do Sul, Oriente Médio e Estados Unidos. A ideia era replicar o método bem-sucedido da OSF em outros lugares. A OSF adotou uma agenda ampla e ocidental de causas progressistas, que abarcavam desde direitos de minorias e interesses dos LGBTQ até a reforma educacional. Em Baltimore, nos EUA, Soros injetou US$ 60 milhões em obras destinadas ao tratamento de dependentes químicos, à reforma escolar e prisional, e à delinquência juvenil. Na eleição presidencial americana de 2004, mergulhou na política abertamente partidária pela primeira vez, colocando US$ 28 milhões na candidatura do democrata John Kerry contra a reeleição de George W. Bush.
Embora a campanha de Kerry tenha terminado em derrota, em Baltimore o empenho prosperou; o duradouro programa antidrogas foi convertido em política pública, o que duplicou o número de dependentes de drogas em tratamento. Mas também aqui a OSF se deparou com questões difíceis, que em última instância se aplicam a qualquer entidade filantrópica: indivíduos abastados devem intervir e oferecer serviços da alçada de governos? Agir assim tira a responsabilidade que deveria ser do Estado? A filantropia seria capaz de reformular polícias ou fazer frente ao viés racista dos sistemas de Justiça?
Nessa época, Estados da Europa Central miravam a adesão à UE (em 2004, Hungria, Eslováquia, República Tcheca e Polônia passaram a fazer parte dela), e a OSF avisou seus beneficiários nesses países que ela logo passaria à rica UE. Em termos de democracia, a CEE era considerada assunto encerrado – estava entregue, ainda que imperfeita. A adesão à UE haveria de aparar as eventuais arestas, como fizera nos casos de Alemanha, Itália, Grécia e Espanha, que abandonaram legados fascistas no pós-Guerra. “O fim da história”, expressão cunhada pelo cientista político Francis Fukuyama para a ascensão da democracia liberal ocidental, estava próximo.
Braços da OSF na CEE, como a Fundação Stefan Batory, da Polônia, e o Comitê Húngaro de Helsinque (HHC, na sigla em inglês), receberam abundantes avisos (e, na sequência, verbas “derivadas”) de que deveriam estabelecer dotações individuais ou se tornarem entidades independentes – organizações que poderiam receber financiamentos periódicos da OSF, mas contando também com outras fontes de recurso. Muitas, como essas duas, conseguiram dar o salto; outras, não. As fundações lituanas e letonas tiveram de encolher, mas se restabeleceram e trabalham com projetos subsidiados.
Uma teoria imperfeita da mudança
A OSF entrou numa nova fase há cerca de uma década, quando sua influência parecia diminuir no nível macro, apesar dos orçamentos crescentes (US$ 873 milhões em 2013) e das equipes e do alcance global. Em 2010, ano em que começou a sair da Hungria, Orbán chegou ao poder pela segunda vez, após oito anos na oposição, surfando numa onda de populismo nacional que isolou grupos liberais como inimigos do povo. Hoje Orbán continua no poder, mais solidamente do que nunca.
“Soros e a OSF partiram do princípio de que a democracia se desenvolveria de forma linear nesses lugares, que geraria a prosperidade e as liberdades desejadas por seus povos e que estas nunca retrocederiam”, afirma Ivan Vejvoda, especialista em Bálcãs e reitor interino do Instituto de Ciências Humanas, em Viena. “Foi uma ilusão.”
A partir do fim da década, o próprio Soros reconheceria o equívoco. Líderes eleitos no mundo todo haviam “falhado em satisfazer as expectativas e aspirações legítimas dos eleitores”, disse em 2016, e “esse fracasso fez com que eleitorados se desencantassem com as versões dominantes de democracia e do capitalismo”. O jogo tinha virado após o crash financeiro global de 2008, argumentou. “Isso levou à ascensão do nacionalismo, o grande inimigo da sociedade aberta.” Mesmo assim, em vez de jogar a toalha, ele deu à entidade boa parte de sua fortuna: US$ 18 bilhões, somados aos US$ 5 bilhões que já estavam na conta da fundação. Um dado que Soros havia subestimado no passado passaria a guiar o trabalho da OSF: “A falta de políticas redistributivas é a principal fonte de insatisfação explorada pelos inimigos da democracia”, concluiu.
A retumbante lição extraída pela OSF de suas décadas nas trincheiras – e hoje intrínseca à maior parte de sua programação – é a de que a desigualdade econômica corrói a confiança nas instituições democráticas e instiga a ascensão do autoritarismo. Uma divisão desigual da riqueza, por si só, não provoca um aumento do extremismo, mas prepara o terreno para ele. “Quando as políticas econômicas beneficiam de modo desproporcional os que estão no topo, os demais se tornam mais propensos a achar que a democracia não os contempla”, explica a economista brasileira Laura Carvalho, atual diretora global de equidade da OSF. Disso decorrem, afirma ela, instabilidade social, frustração com a democracia e ambientes prontos para receber líderes autoritários.
Entre suas novas estratégias para África e para o Sul Global como um todo, a OSF está testando novos modelos de desenvolvimento econômico: “Reconhecemos quão violenta pode ser uma visão irrestritamente neoliberal e financeirizada de desenvolvimento, que não enfatize o bem-estar de pessoas e comunidades”, enuncia a estratégia One Africa. Essa ideologia se fincou nas instituições de governança e na consciência popular, muitas vezes em detrimento dos africanos comuns. “Vamos apoiar espaços e processos para pensadores, ativistas e formuladores de políticas africanos, com o intuito de desafiar ortodoxias econômicas, a fim de refletir contextos e prioridades locais, que vão além da crítica a novas concepções.”
Essa revisão estratégica desenha um novo modelo econômico de impulsionamento africano, mas permite que seus detalhes sejam debatidos nos fóruns do continente. A estratégia deverá priorizar investimentos em saúde e educação, garantir poder de negociação para os trabalhadores, apoiar justiça fiscal para combater desigualdades e frear a corrupção. A África também não deve hesitar em se libertar de acordos comerciais vigentes e negociar novos, que beneficiem os investimentos locais. Isso pode não ser socialismo, mas é uma espécie de capitalismo bem diferente daquele que agências internacionais de desenvolvimento vêm promovendo há décadas.
Além de explorar a injustiça econômica, os autocratas populistas têm se valido amplamente de sofisticadas tecnologias da informação, com as quais aumentam sua tática repressiva e narrativas iliberais, tanto no âmbito de suas próprias sociedades quanto fora delas – a exemplo do que fazem Rússia, Irã e China. Quando se pretende vencer os inimigos da sociedade aberta, observa Malloch-Brown, responder à desinformação tem mais impacto do que, por exemplo, monitorar eleições ou apoiar partidos políticos.
No bojo desse esforço, a OSF foi além do patrocínio ao jornalismo independente e apoiou contribuições da sociedade civil para a Nova Lei dos Serviços Digitais (DSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Essa legislação pioneira almeja limpar os maiores fóruns online do mundo, fazendo com que as plataformas de mídia social sejam responsabilizadas pelos riscos que representam para as sociedades – por exemplo, minimizando a propagação de desinformação mediante ajuste de algoritmos e fechando contas fakes. A OSF financiou desde o início o Observatório da DSA, projeto gerido pela Universidade de Amsterdã que atua como polo de expertise nessa lei. Além disso, apoiou muitos associados da European Digital Rights, reunião de dezenas de organizações de direitos civis de todo o continente em prol da defesa de direitos e liberdades digitais.
A nova OSF
Sucessivas lideranças da OSF haviam tentado modernizar a organização, fazer com que alcançasse o enorme impacto pretendido para seus investimentos e torná-la uma verdadeira fundação global. Na melhor das hipóteses, tiveram êxito parcial. Segundo David Callahan, editor do Inside Philantropy, anos de expansão desordenada transformaram a OSF num “polvo”, que, com escritórios, equipes e projetos em quase todos os continentes, se envolveu em um amplo espectro de questões progressistas. Os elos entre elas ou delas com o contexto se esgarçavam, e a colaboração entre tópicos e fronteiras era difícil. Iniciativas se avolumavam tão rápido que nem o conselho acompanhava, observou um ex-membro da equipe.
“A OSF se voltara para dentro de si mesma, com procedimentos morosos, e isso estava exaurindo muitos funcionários que ainda tentavam proporcionar os programas e subsídios da fundação”, observa Merrill Sovner, ex-membro da OSF e diretor-assistente do Centro de Estudos sobre a União Europeia da Cuny (Universidade da Cidade de Nova York, na sigla em inglês). Talvez ainda mais grave, a OSF havia se tornado macrocéfala e burocrática, o oposto do que originalmente a distinguia das demais. Além disso, as tensões entre as fundações espalhadas pelo globo e a expertise e os serviços orçamentários centralizados em Nova York se intensificaram, segundo ex-membros da equipe. Cada vez mais, as decisões eram tomadas ali, ignorando os membros locais, que trabalhavam em campo.
Sob Malloch-Brown, promoveu-se uma abrangente reorganização, a fim de criar uma OSF mais enxuta, em que o trabalho regional fosse supervisionado mais de perto, no próprio local em que se realizava, e estivesse calcado em conhecimento local. Hoje, os seis centros regionais controlam mais de US$ 527 milhões em financiamentos – 25% a mais do que em 2020 – e têm mais autoridade sobre sua própria programação.
“Temos mais autonomia regional do que antes, mas também dispomos de um sistema de financiamento central mais flexível e responsivo”, afirma Binaifer Nowrojee, vice-presidente da OSF para regiões e chefe de operações da transformação. Ela observa que a OSF terá uma atuação muito mais eficaz no além-fronteiras, em escala maior, com custos operacionais menores e sem duplicação. Na África Subsaariana, por exemplo, oito escritórios espalhados foram reunidos em três, atuando como um só programa.
Entre outras mudanças, o programa da OSF para o povo romani foi transferido para uma entidade nova e independente em Bruxelas. O programa de ensino superior da OSF foi transferido para a Open Society University Network, rede global de instituições de ensino superior. O programa para a Europa e Ásia Central – bem como o dos Estados Unidos, na sequência – terá menos financiamento, enquanto os do Sul Global estão sendo reforçados. Desde 2019, os dispêndios na América Latina e Caribe aumentaram em 50%. Não obstante, a maior concentração de dispêndios ainda está nos Estados Unidos, com um orçamento de US$ 234 milhões em 2022, em razão das doações feitas a candidatos e causas democratas durante as eleições de meio de mandato para o Congresso. Com o intuito de estar próxima das populações de base e seus problemas, toda a equipe do programa tem de residir nas regiões em que trabalha – um retorno ao estilo da organização na década de 1990. Quanto à duração das apostas, a partir deste ano um quarto de todas as subvenções será de no mínimo três anos. O processo de concessão foi simplificado, o que supostamente torna muito mais fácil o acesso a essas verbas, vantagem certamente bem recebida por legiões de solicitantes frustrados.
A transformação não se restringe à estrutura. A OSF já se lançou numa nova programação, com campos novos, como a crise climática. Esta, à primeira vista, não seria uma escolha natural. Ainda que se possa discordar, não se trata de uma área negligenciada, pois existem milhares de grupos voltados ao problema. Por outro lado, em 2021, só 2% dos US$ 801 bilhões dispensados ao ano por entidades filantrópicas globais foram destinados a esforços para reduzir emissões de gases de efeito estufa. A OSF tem se concentrado especificamente em justiça climática – a divisão justa, partilha equitativa e distribuição igualitária das responsabilidades pelas mudanças climáticas e sua mitigação. O Sul Global está vivenciando o ônus mais pesado do colapso climático, embora tenha sido o que menos contribuiu para ele. Opondo-se ao foco massivamente técnico que predominou no campo do clima até agora, a OSF afirma que seu interesse é “uma abordagem socioeconômica mais centrada nas pessoas, holística”.
A encarregada dessa missão, assumindo em 2021 o cargo recém-criado de diretora para justiça climática, é Yamide Dagnet. A escolha da ex-diplomata nativa do arquipélago caribenho de Guadalupe reflete outro objetivo da transição da OSF: ter uma equipe globalmente mais diversa. Dagnet tem experiência em negociações internacionais sobre o clima, e sua atribuição na OSF é a de vislumbrar uma estratégia para acelerar “transformações políticas e econômicas, com vistas a uma justiça climática e social em países estratégicos de renda baixa e média”. Ela foi à COP27, no Egito, em novembro de 2022, quando a OSF se juntou a representantes do Sul Global a fim de obter a aprovação do Norte Global para a criação de um instrumento de combate às “perdas e danos” de países mais pobres em razão do colapso climático. A vitória demorou a chegar – afinal de contas o lado do Sul Global tem trabalhado nesse tema desde a COP1, em 1995. Os Estados Unidos e a maior parte das nações mais ricas durante muito tempo se opuseram a isso, pela simples razão de que os pedidos de indenização poderiam se tornar estratosféricos conforme piora a crise climática.
Na COP27, a OSF juntou-se também aos defensores de outro projeto representativo dos novos rumos da entidade, que vincula ações para o clima e para o desenvolvimento, envolvendo um impulso mais amplo e condução do Sul Global. A Bridgetwon Initiative é uma campanha voltada à transformação das finanças do mundo em desenvolvimento – em especial no tocante ao modo como países ricos ajudam países pobres a fazer frente às mudanças climáticas e a se adaptar a elas. Por trás da iniciativa, está a aliança de Estados e organizações sem fins lucrativos fundada e conduzida por Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados. Sua prioridade máxima é persuadir o Fundo Monetário Internacional a dirigir para esses países em necessidade um mínimo de US$ 100 milhões em ativos de reservas cambiais suplementares não utilizadas.
A campanha da Bridgetown vai mais longe. A iniciativa requereu alívio automático da dívida para países afetados pela pandemia ou por desastres naturais; um montante extra de US$ 1 trilhão em financiamento dos bancos de desenvolvimento para a resiliência climática; e um mecanismo para dirigir investimentos do setor privado para a mitigação das alterações climáticas. Dívidas exorbitantes são só uma das características da arquitetura financeira internacional, defasada e inadequada às necessidades do Sul Global, diz Mottley.
Em um movimento menos representativo do novo espírito implantado por Malloch-Brown, a OSF participou de novo do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, no início de 2023. Por muito tempo, o WEF (sigla em inglês para o fórum) foi o símbolo da parte abastada do mundo em globalização, onde os ricos reiteravam seu discurso de que mais comércio trará mais liberdade para o mundo. Pela primeira vez em muitos anos, George Soros não estava entre os participantes. Porém Malloch-Brown, sim, e a OSF firmou co-operações com 45 outras entidades – entre elas o Bezos Earth Fund, as fundações Rockefeller e Ikea, várias corporações de renome e grupos do setor público. O intuito é estabelecer uma iniciativa para financiar e fazer crescer “parcerias públicas, privadas e filantrópicas”, desbloqueando os US$ 3 trilhões anuais em financiamentos que, se estima, sejam requeridos para alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Apesar das boas intenções, a maior parte dos especialistas em clima observa que o cerne da questão reside nos Estados pesos-pesados, como os Estados Unidos, e nas organizações transnacionais, como a União Europeia e as Nações Unidas. Eles argumentam que a criação de sistemas de precificação de carbono, investimento em tecnologias limpas e muitas centenas de bilhões em auxílio estatal para impulsionar o setor da tecnologia verde é que serão decisivos para transformar a economia global – e não as doações de caridade daqueles que, em sua busca por riqueza, foram os primeiros a exacerbar a crise climática.
Guerra em múltiplos fronts
No início de 2022, as forças militares russas invadiram a Ucrânia, iniciando uma guerra que continua. Essa guerra representa a mais grave ameaça à sociedade aberta na Europa desde a queda do comunismo – e põe em xeque a própria missão da OSF. Afinal, ainda em 2012 George Soros estava confiante em que a Rússia – e a presença de 25 anos da OSF no país – estaria no caminho certo. Dois anos depois, a Rússia invadiu a Crimeia, e dali a um ano expulsaria a OSF de seu território. Soros ainda acredita que o fascínio pela democracia é a maior ameaça às sociedades fechadas, e é a explicação que ele dá para a determinação de Putin de subjugar a Ucrânia.
O novo fundo discricionário de US$ 100 milhões da OSF, destinado a proporcionar respostas rápidas à irrupção de crises, mostrou-se útil de cara. A OSF, que havia apoiado a democracia cívica na Ucrânia desde 1990, abriu seus cofres ainda mais para lançar o Fundo pela Democracia da Ucrânia, iniciado com US$ 25 milhões. A missão da OSF é criar uma “linha de frente cívica” de ONGs para defender a Ucrânia e assentar as bases para uma democracia pós-guerra por meio da proteção da sociedade civil, da distribuição de suprimentos médicos e da manutenção de uma mídia livre no país, entre outras atribuições. Muito rapidamente, o fundo recebeu doações das fundações Schmidt Family, Oak e Ford, entre outras, angariando um total de US$ 45 milhões.
Os novos capitães da OSF são sinceros quanto ao desafio único de enfrentar as forças da direita global neste momento, e os novos Soros em posições de diretoria parecem ávidos por consolidar o legado de George, e não por revertê-lo. Infelizmente, toda a sua seriedade reunida não se compara à do patriarca da OSF; não obstante, a fundação hoje se encontra em grande parte nas mãos deles, numa conjuntura crítica e precária. A pessoa de George Soros foi de tal modo determinante na OSF, desde suas primeiras encarnações, que é impossível imaginá-la sem ele. O mais provável é que ela se torne menos idiossincrática, menos pautada pelo improviso e menos tentacular – Malloch-Brown, com sua experiência na ONU, tem certeza disso.
A situação de tanques russos contra uma exasperada população da Europa Oriental lutando por liberdade é familiar a Soros: a OSF encarna uma instituição conhecedora das complexidades da sociedade aberta, que nesse aprendizado conferiu toda uma riqueza de detalhes ao conceito original de Popper. Mas, ainda que a visão do magnata sobre a sociedade aberta na Ucrânia hoje seja muito similar às que ele enunciou 35 anos atrás, a economia global e as consequências políticas da guerra na Ucrânia – interrupções de suprimentos, crise energética, fluxos de milhões de refugiados, inflação, China ao lado de Putin, metas climáticas não cumpridas, escassez de alimentos – exacerbaram a desigualdade, o extremismo e o ódio aos imigrantes, fatores que alimentam movimentos autoritários e fascistas. Assim, ao lutar por uma sociedade aberta, a OSF se vê confrontada com todas essas questões críticas. Por mais que a organização tenha aprendido sobre a promoção da democracia, sua missão parece se expandir sempre que ela acredita estar prestes a mirar num antídoto.