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Conectando jovens à sociedade

A Life Project 4 Youth Alliance promove o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens carentes

Por Andra Maria Valette

Os participantes do programa Life Project 4 Youth Alliance PTE se mobilizam para recrutar novos jovens para o programa em Howrah, Bengala Ocidental, Índia, em 2021. (Foto cortesia de Laetitia Lebeau)

Segundo um relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre empregabilidade no mundo, em 2022, a taxa global de desemprego para jovens de 15 a 24 anos foi três vezes superior à de adultos. Mais de 23% dos jovens, indica o mesmo relatório, não trabalham, não estudam e não recebem capacitação – o que significa que não estão desenvolvendo as competências necessárias para um emprego digno, definido pela OIT como “trabalho produtivo […] em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana”. E, mesmo que estejam empregados, esses jovens têm maior probabilidade que os adultos de viver em pobreza extrema, ganhando menos de US$ 2,15 ao dia, e de trabalhar no setor informal, no qual não contam com proteções trabalhistas e benefícios.

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Os empresários e especialistas em marketing John e Laure Delaporte testemunharam a pobreza juvenil durante um ano de viagens internacionais com os filhos, entre 2008 e 2009. Assim que o giro pelo mundo terminou, eles lançaram um projeto-piloto de 18 meses em Manila, nas Filipinas, para capacitar 15 jovens em competências empreendedoras e de negócios voltadas para a conquista de um emprego digno. Os Delaportes escolheram as Filipinas, que haviam visitado, pelo baixo custo de vida e porque o inglês era uma das línguas oficiais. A posição geográfica do país também o tornava atraente para uma potencial expansão por toda a Ásia, onde a maioria dos jovens vive abaixo do limiar da pobreza.

A experiência foi “muito gratificante porque, em pouco tempo, pudemos ver os jovens mudarem a vida deles e das famílias para sempre”, diz John Delaporte. O piloto resultou no lançamento da Life Project 4 Youth Alliance (LP4Y), uma federação internacional de 17 organizações em 14 países com a missão de ajudar a inserção social e profissional dos jovens. A LP4Y defende o empoderamento e a conexão entre os jovens e a sociedade como alavancas que podem tirá-los da pobreza extrema. Fundada em 2009, a LP4Y já apoiou mais de 6.700 adolescentes em 57 programas de educação e capacitação no mundo todo.

 

Ecossistema de Integração

 

As relações sociais e profissionais são conexões que os jovens cultivam à medida que percorrem o “ecossistema de integração” da LP4Y. Os centros servem como hubs de engajamento. O ecossistema tem três camadas: relacionamentos locais, participação profissional e parcerias globais.

Voluntários da LP4Y vão a favelas e zonas rurais para encontrar e engajar jovens que, dependendo do interesse manifestado, são encorajados a se candidatarem ao programa de formação profissional para empreendedores (professional training for entrepreneurs – PTE, na sigla em inglês) daquele centro. Cerca de 1.500 pessoas ingressam anualmente no programa PTE, que tem duas modalidades: um programa de formação e desenvolvimento de seis meses, para jovens em pobreza urbana, e um de “aldeia verde”, de três meses para os de zona rural. Em ambas, os participantes elaboram um plano para suas aspirações de carreira profissional e objetivos de vida. A LP4Y paga aos participantes um subsídio para cobrir as necessidades básicas e garantir que eles possam dedicar toda a atenção ao programa.

Três pilares compõem a metodologia PTE: orientação, experiência de trabalho e exposição profissional. Os orientadores da LP4Y, chamados de “catalisadores”, conduzem os jovens ao longo do programa. “Os catalisadores estão sempre disponíveis para ajudar”, diz Colline Pusta, formada pela LP4Y Filipinas. Pusta se interessou por contabilidade ainda no PTE e agora está estagiando na área. “Eles realmente querem nos guiar para entendermos o que queremos ser, quais são nossos empregos dos sonhos, nossos objetivos e nossas aspirações para o futuro”, diz ela.

No PTE, os jovens trabalham em equipes para construir e administrar um pequeno negócio – chamado de iniciativa microeconômica (micro-economic initiative – MEI, na sigla em inglês) – que atenda às necessidades da comunidade local, como oferecer aos moradores oficinas e treinamento para preservação de árvores, reciclagem e sustentabilidade ambiental. As MEIs funcionam como verdadeiros negócios “para familiarizar os jovens com a organização de uma empresa”, explica John Delaporte. Os participantes do PTE têm um horário de trabalho e assumem funções em departamentos como os das corporações, desde compras e vendas até comunicações. “Tentamos fazer com que os jovens sejam atores da mudança – o que significa que não somos nós, os catalisadores, que identificamos a necessidade, encontramos uma solução e fazemos o [trabalho]”, diz Lorène Tonati, coordenadora nacional da LP4Y Nepal.

A exposição profissional é um dos componentes principais do programa porque a maioria dos jovens nunca experimentou a vida fora de sua vizinhança. Para ser mais assimilável, esse segundo pilar se divide em diferentes etapas. Primeiro, eles aprendem habilidades como liderança, trabalho em equipe e gerenciamento de tempo por meio das MEIs. Também fazem cursos virtuais de informática básica (tecnologia da informação), inglês e comunicação profissional. Em seguida, visitam empresas para conhecer a cultura organizacional e ver como os funcionários se vestem e interagem. Eles também participam de workshops para aprender sobre as operações. Durante as visitas, praticam suas competências profissionais em entrevistas simuladas.

No fim do PTE, os participantes candidatam-se a empregos que tenham a ver com seu projeto de vida; mais de 70% tiveram sucesso. Os graduados também se tornam membros do Stars Club, a rede de ex-alunos, pela qual podem orientar outros jovens da LP4Y.

 

Expandir para incluir

 

Desde o início do projeto-piloto, o casal de fundadores acreditou que a proximidade com os jovens era crucial para construir relações de confiança. Todos os voluntários e eles próprios vivem modestamente entre as comunidades às quais servem. O regime de trabalho dos voluntários não segue o padrão habitual – cada um tem um contrato que cobre as necessidades básicas, incluindo seguro de saúde, previdência, vistos, transporte e um subsídio mensal.

“Ser voluntário, tendo apenas uma pequena mesada, faz com que você se concentre no que é essencial”, diz Tonati. Ela acrescenta que está “aprendendo muito estando no Nepal, trabalhando com pessoas diferentes, estando com os jovens e conhecendo a comunidade”.

Não é por falta de financiamento que a estrutura da LP4Y se baseia no voluntariado. Os Delaportes financiaram a federação por meio de doações privadas entre 2009 e 2012. Depois disso, estabeleceram parcerias com antigos clientes empresariais e lentamente incluíram instituições governamentais, como o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Europeus de Luxemburgo, e fundações como a BIC Corporate e a GKPM. Agora, a LP4Y tem mais de 450 parceiros que financiam suas operações e fornecem apoio de integração profissional aos jovens participantes sob a forma de estágios, capacitação e empregos.

A estratégia da LP4Y para a expansão baseia-se em parcerias – a característica definitiva do terceiro e último passo do ecossistema integrativo.

A LP4Y começa esse trabalho criando alianças com organizações com missão semelhante e dispostas a compartilhar conhecimentos sobre inclusão juvenil. Os fundadores têm a convicção de que a pedagogia da LP4Y é universal e, portanto, o ecossistema é replicável, independentemente da localização.

As parcerias da LP4Y produziram quatro iniciativas que têm favorecido a expansão global e garantido apoio para o sucesso profissional dos jovens.

A primeira, batizada de Youth 4 Change Network, foi criada em 2012 e é uma rede internacional de 91 organizações localizadas em 37 países, que partilham as melhores práticas sobre a integração social e profissional de jovens excluídos.

Fundada em 2016, a Youth Inclusion Network (YIN) é uma coalizão de empresas que oferecem oportunidades profissionais aos jovens.

O YouthLAB, que surgiu em 2019, consiste de dois centros de inovação: um no Bronx, Nova York, com foco na defesa de direitos, oferece aos jovens uma plataforma para partilharem suas experiências de desafios ambientais e sociais; o outro está localizado no subúrbio parisiense de Seine-Saint-Denis, onde os jovens são treinados para se tornarem catalisadores e voluntários da LP4Y.

A quarta iniciativa é a The Catalysts’ Co., lançada em 2020. A equipe de consultores internacionais com experiência na LP4Y oferece apoio a empresas, organizações sociais e instituições governamentais que estejam desenvolvendo programas de sustentabilidade.

A LP4Y tem planos para construir centros no Egito e no Sri Lanka e, atualmente, aguarda a aprovação governamental final antes de começarem as obras. A federação também está explorando novos canais – incluindo suas redes sociais – que sirvam de plataforma para que os jovens falem sobre questões relacionadas à exclusão social e profissional. A julgar pela história da LP4y até aqui, seu ecossistema continuará a se expandir para o mundo todo.

A AUTORA

Andra Maria Valette é escritora especializada em desenvolvimento sustentável e inovação social.



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