Se você vê alguém realizando uma tarefa, deve fornecer ajuda? Talvez essa pessoa possa falhar, na hipótese de você não estender a mão. Mas, se ela obtiver êxito, talvez se sinta melhor se tiver alcançado o objetivo sozinha do que se sentiria caso você a ajudasse.
Uma nova pesquisa examina esse dilema moral tão comum e descobre, surpreendentemente, que o timing da ajuda oferecida desempenha um papel central em determinar como quem a recebe se sente ao obtê-la.
Somos todos criaturas sociáveis, inclinadas a oferecer ajuda a quem dela possa precisar. Mas tais tendências podem exigir custos psicológicos dos que recebem ajuda. Uma pesquisa prévia demonstrou que receber ajuda pode fazer com que quem a recebe se sinta dependente, incompetente, em dívida e menos feliz quanto à conclusão da tarefa que se propôs a executar.
Mas como pode o timing ajudar a diminuir esses efeitos negativos? Uma equipe de pesquisadores conduziu experimentos a fim de verificar como as pessoas se sentiam quando se lhes ofereciam ajuda, para então mirar no timing da ajuda. Eles notaram que os que recebem ajuda mais cedo sentem-se melhores do que os que a recebem perto do fim.
“Nossas descobertas antecipam o entendimento comum sobre como o oferecimento de ajuda pode ferir o bem-estar de quem a recebe, ao passo que oferecer um insight prático quando se ajuda é algo que serve para minimizar esses efeitos nocivos”, escrevem os pesquisadores.
Os autores do artigo são Min Jung Koo, professora da Sungkyunkwan University (SKK), na Coreia do Sul; Suyeon Jung, doutoranda da University of Wisconsin-Madison; Maurício Palmeira, professor da University of South Florida; e Kyeongheui Kim, também professora da SKK.
Os pesquisadores conduziram nove experimentos diferentes, com indivíduos realizando ou ouvindo uma narrativa sobre desempenhar uma tarefa banal, como montar um quebra-cabeça, jogar Campo Minado, montar um cachorro com LEGO, resolver o cubo mágico ou desenhar um arranjo floral. Em algumas versões do experimento, uma pessoa oferecia uma ajuda crucial no início da tarefa, já em outras o auxílio chegava quase ao final.
“Ao longo dos nove estudos, mostramos que as pessoas têm menos contentamento e satisfação quando recebem ajuda num estágio tardio (versus estágio precoce) de uma atividade”, concluíram os pesquisadores. Os experimentos revelaram que o problema é de “propriedade psicológica”: a pessoa que recebe apoio sente-se como se estivesse perdendo a propriedade do projeto, e quanto mais tarde chega a ajuda, mais ela sente seu controle se esvair.
Os experimentos também revelaram que os recebedores ficam descontentes com a ajuda dada mais tarde, quando estão fazendo algo de que intrinsecamente gostam ou em se tratando de algo que se sentem motivados a terminar. Já quando realizam uma tarefa obrigatória, o mesmo efeito não aparece. Além disso, os pesquisadores perceberam que resolver o problema para quem recebe ajuda faz com que se sintam pior, mas oferecer ferramentas de auxílio – ensinando-os a pescar em vez de lhes dar o peixe – não os torna mais descontentes.
Para chegar a esse resultado, “basta dar uma dica ou sugerir um meio pelo qual essa pessoa possa tentar”, em vez de dar a ela a resposta ou assumir a tarefa inteiramente, afirma Koo.
As implicações da pesquisa para o mundo real podem ser vistas no modo como as empresas tratam seus funcionários, diz Koo. Apesar de que as empresas muitas vezes têm prazos importantes para cumprir, os gestores também precisam considerar o impacto da ajuda não solicitada na autoconfiança dos funcionários. “Eles podem ter de dar uma oportunidade para que os funcionários terminem a tarefa, uma vez que a iniciaram”, ela afirma.
“Essa pesquisa traz uma contribuição fascinante a nossa compreensão do desenvolvimento da propriedade psicológica e sobre quando e como indivíduos com propriedade psicológica respondem a ações de outros”, comenta Colleen Kirk, professora associada de marketing da School of Management do New York Institute of Technology. “Ao identificar esse novo e interessante fenômeno, os pesquisadores fizeram avançar a literatura sobre propriedade psicológica e respostas humanas aos sinais de propriedade psicológica, intencionais ou não, de outras pessoas.”
O artigo é relevante para muitos aspectos da vida, em parte porque leva tempo para que a propriedade psicológica se desenvolva, afirma Kirk. “Esse trabalho aprimora a pesquisa em propriedade psicológica e em territorialidade, fazendo ver que o timing de se infringir a ação de um indivíduo pode impactar o modo como os proprietários psicológicos responderão.”
A AUTORA
Chana R. Schoenberger é jornalista sediada em Nova York. Escreve sobre negócios, finanças e pesquisa acadêmica. Pode ser encontrada no Twitter: @cschoenberger.
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