Negócios

Engajamento cívico no trabalho

Um estudo comparando cooperativas de trabalhadores e empresas tradicionais demonstrou uma forte relação entre as dinâmicas de trabalho e o engajamento cívico das pessoas fora do ambiente profissional

Por Chana R. Schoenberger

engajamento cívico no trabalho

Pessoas com inclinações para o ativismo e que acreditam que o mundo deveria ser mais justo às vezes ajudam a organizar seus locais de trabalho de uma forma que pareça mais equitativa. 

A partir de uma pesquisa com trabalhadores de cooperativas, um novo artigo propõe uma teoria, que os autores chamam de “trabalho cívico”, para explicar como a atitude voluntária e o ativismo dos profissionais podem influenciar a estrutura organizacional de locais de trabalho.

A ideia de trabalho cívico expande o conceito de “transbordamento cívico”, segundo o qual as experiências das pessoas no ambiente de trabalho têm um efeito sobre o que fazem na comunidade durante seu tempo livre. 

A noção de trabalho cívico, porém, “propõe que as experiências cívicas podem ter impacto no trabalho porque as pessoas optam por – ou criam – locais de trabalho que incorporam mais de perto seus ideais cívicos e políticos”, escrevem Laura Hanson Schlachter, analista de pesquisa na AmeriCorps, e Kristinn Már Ársælsson, professor-assistente de ciências comportamentais na Universidade Duke Kunshan em Suzhou, China.

Para examinar essa ideia, o estudo observa cooperativas de trabalhadores, onde os funcionários compartilham a propriedade e a governança. Esses locais de trabalho tentam operar de forma democrática, com os trabalhadores decidindo juntos sobre a estratégia empresarial e a execução ou elegendo representantes para tomar decisões.

O estudo analisou dados de uma pesquisa de 2017 com 82 cooperativas de trabalhadores nos Estados Unidos, incluindo 1.147 de seus trabalhadores. Além disso, os autores entrevistaram 15 trabalhadores que participaram da pesquisa.  Schlachter e Ársælsson também criaram um índice para medir a participação na governança, incorporando com que frequência cada trabalhador votou para o conselho da cooperativa e participou de reuniões de gestão ao longo de cinco anos.

O estudo comparou esses dados com informações da Pesquisa da População Atual (CPS, sigla de “current population survey”) realizada pela AmeriCorps, um programa do Censo dos Estados Unidos que tem em Schlachter sua líder técnica. Os dados da CPS revelaram como os trabalhadores em empresas tradicionais, não cooperativas, pensam sobre voluntariado e engajamento cívico.

Os dados mostraram que as pessoas que trabalham em cooperativas costumam ter mais envolvimento em ativismo, voluntariado e outras formas de ajudar suas comunidades que seus pares demograficamente semelhantes que trabalham em empresas organizadas de maneira mais tradicional.

Os autores também encontraram uma associação positiva com o engajamento cívico no caso dos trabalhadores que se envolvem na governança dentro de uma cooperativa – sendo eleitos para um comitê de gestão, por exemplo.

“Descobrimos que funciona nos dois sentidos”, disse Schlachter. “Pessoas com experiência cívica optam por trabalhar em uma cooperativa”, enquanto funcionários de cooperativas fazem voluntariado, votam e são ativos civicamente fora do local de trabalho.

Um achado do estudo é que pessoas que escolhem trabalhar em uma cooperativa por causa de sua estrutura de governança coletiva são mais engajadas civicamente, tanto no trabalho quanto na comunidade em geral, que seus colegas que escolheram trabalhar lá apenas pela oportunidade de emprego. 

Os entusiastas do trabalho em cooperativa diminuem seu envolvimento em voluntariado ou em ativismo fora do trabalho conforme aumenta seu tempo de trabalho na cooperativa. Já aqueles que trabalham em uma cooperativa apenas por ser um emprego mostram níveis um pouco mais altos de engajamento cívico quanto maior for seu tempo de permanência na cooperativa.

Além disso, as entrevistas sugerem que trabalhadores de cooperativas com frequência consideram suas atividades no local de trabalho e seu ativismo como uma só coisa, seja no trabalho, seja na esfera mais ampla da casa e da comunidade. Como desempenham suas funções profissionais em um ambiente de trabalho democrático, alguns sentem que estão contribuindo para uma sociedade mais justa simplesmente por cumprirem suas tarefas, enquanto outros acreditam que o produto de seu trabalho esteja ajudando o mundo de alguma forma.

É um avanço significativo para o campo “haver alguém que esteja estudando sistematicamente essa questão importante”, disse Nina Eliasoph, professora de sociologia da Universidade do Sul da Califórnia, que chamou a pesquisa de “fantástica”. Enquanto escrevia seu livro The Politics of Volunteering, ela descobriu que os cientistas políticos Carole Pateman e Edward Greenberg haviam sido os únicos a “se preocuparem em colocar, como pergunta inicial e definidora, o questionamento sobre se trabalhar em coletivos/cooperativas pode ser, em si, ‘ativismo político’”.

Outra questão que os pesquisadores podem explorar, sugeriu Eliasoph, é se “a sensação de que trabalhar na cooperativa/coletivo é uma forma de ativismo pode possivelmente desaparecer ao longo do tempo”. 

Veja o estudo completo: “Civic Work: Making a Difference On and Off the Clock”, por Laura Hanson Schlachter e Kristinn Már Ársælsson, American Journal of Sociology, v. 130, no 1, 2024.

 

A AUTORA

Chana R. Schoenberger é jornalista e escreve sobre negócios, finanças e pesquisas acadêmicas. Mora em Nova York e pode ser encontrada no X como @cschoenberger

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