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A arte no deserto

Por Kristi Eaton

arte burning man no deserto
Foto: cortesia de Candace Locklear

“A arte pode mudar a vida das pessoas.” Quem diz isso é Yomi Ayeni, artista visual e fundador da organização sem fins lucrativos We Are From Dust (WAFD) ou Viemos do Pó.

Por acreditar no poder transformador da arte, Yomi foi estimulado a encontrar uma forma de ressignificar o trabalho artístico do Burning Man, o festival anual de arte que atrai todos os anos milhares de pessoas ao deserto de Black Rock no estado americano de Nevada, e a criar a Black Rock City, uma área enorme cheia de instalações artísticas. Frequentador assíduo do festival, Ayeni foi também voluntário do evento com sua equipe de mídia por mais de duas décadas. O festival acontece em local remoto e os ingressos custam entre centenas e milhares de dólares. Ele viu essa dificuldade de acesso como uma oportunidade de beneficiar tanto os artistas quanto o público que não pode comparecer ao festival.

A WAFD foi criada em 2015 para colocar obras de arte inspiradoras em espaços públicos e disponibilizá-las para todos. A universalidade da missão social da organização sem fins lucrativos se reflete em seu nome, que remete à ideia de que todos os seres humanos são feitos da mesma substância mais simples: o pó.

Antes da criação da WAFD, no final do festival que durava uma semana, as obras de arte expostas em Burning Man eram queimadas ou armazenadas. “Você não faz ideia do que significa ver todo esse material ser colocado dentro de contêineres e ter de guardá-lo em algum lugar”, observa Ayeni. Agora, com a WAFD, no final do festival o acervo ganha vida ao ser exposto em exibições públicas com o objetivo de mudar a forma como as pessoas veem a arte e que importância ela tem em suas vidas.

“Estamos transformando os espaços públicos em parques com esculturas”, diz Candace Locklear, membro da WAFD. “Pessoas que provavelmente nunca irão ao Burning Man, principalmente crianças, agora poderão apreciar essas obras de arte.”

No momento, a WAFD está organizando instalações públicas pelo mundo. Duas nos Estados Unidos (na Califórnia e em Utah) e outra na Inglaterra. A instalação na Califórnia, em Point San Pablo Harbor — duas grandes esculturas em aço de gatos que ronronam quando você os acaricia —, criada por Paige Tashner, ganha iluminação à noite. Segundo Tashner, “os dois gatos (Purr Pods) fazem parte de um projeto mais amplo da WAFD de permitir que as pessoas interajam com a arte em espaços públicos”. A WAFD também organiza excursões para que o público possa conhecer sua missão, o local, a arte e os artistas.

Além de Purr Pods, outra instalação é Bee or Not to Bee (Abelha ou não Abelha, em tradução literal, mas também uma alusão ao Ser ou Não Ser), criada por Robert e Lisa Ferguson para o festival de 2019.

“O objetivo do projeto é destacar a importância das abelhas”, explica Lisa Ferguson. “Esta é uma abelha imensa, com mais de 4,2 metros de comprimento por 2,6 metros de altura. Impressionante, mas inofensiva. Ela pode ser tocada e examinada. Ela não pica.”

O esforço para criar essa organização sem fins lucrativos surgiu quando o apoio e o financiamento para a arte pública começou a diminuir. A WAFD paga aos artistas até US$ 10 mil pelo empréstimo das obras para as instalações públicas. Ela utiliza captadores de recursos e também aceita doações de apoiadores e visitantes. De acordo com Locklear, cerca de US$ 250 mil foram arrecadados desde a fundação. A maior parte dos recursos vai para o pagamento de honorários dos artistas e custeio da instalação. A WAFD conta com a comunidade de Burning Man — atualmente uma equipe de cinco voluntários — para garantir que todos os fundos captados sejam entregues diretamente aos artistas.

A pandemia de Covid-19 não desviou a organização de sua missão ou impediu que o público apreciasse suas instalações. Ao contrário, a WAFD está trabalhando ativamente para mudar e ampliar seus produtos. Locklear observa que a equipe está apoiando a fotógrafa documentarista Erin Douglas no Projeto Black Burner, que mostra imagens e histórias de participantes de Burning Man, para uma instalação pública. “Vamos ajudar suas obras de arte a (…) encontrar um bom lar. Isso faz parte da missão da WAFD”, explica Locklear.

A WAFD também pretende buscar novos locais para montar suas instalações públicas e a ideia é continuar expandindo as atividades em outras cidades nos Estados Unidos e no exterior com o intuito de valorizar a arte como um bem público.

 

A AUTORA

Kristi Eaton é escritora freelance em Tulsa e cobre cidades, áreas rurais e organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos.

 



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