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O hospital dividido

A incivilidade entre médicos e enfermeiros leva a maiores taxas de morte de pacientes e erros médicos em um hospital

Por Chana R. Schoenberger

A dinâmica interpessoal é essencial em todos os locais de trabalho. No ambiente hospitalar, os riscos são maiores: erros médicos são a principal causa de mortes e lesões. O relacionamento entre médicos, enfermeiros e funcionários de hospitais afeta diretamente a saúde dos pacientes. É o que mostra uma pesquisa que examina a conexão entre “incivilidade” – profissionais da saúde grosseiros ou desrespeitosos uns com os outros – e taxas de mortalidade e erros médicos em pacientes internados em hospitais.

Os autores da pesquisa, Ren Li, professor assistente de gestão na Faculdade de Administração da Universidade Politécnica de Hong Kong, Virginia K. Choi, aluna de graduação da Universidade de Maryland, e Michele J. Gelfand, professora de gestão intercultural e comportamento organizacional da Faculdade de Negócios de Stanford, analisaram dados de um grande hospital americano, o Northeastern, entre 2015 e 2016. A amostra teve 1.102 profissionais da saúde organizados em 38 grupos de trabalho e foram avaliados 4.138 prontuários de pacientes para entender como as interações entre os grupos afetavam os resultados clínicos.

Uma dinâmica mais rancorosa entre os profissionais se relacionou diretamente a taxas mais altas de mortalidade e erros médicos em pacientes. “Em uma unidade hospitalar, um aumento de 10% na incivilidade estava correlacionado com um aumento de 8,87% nas taxas de infecção associadas ao tratamento e a um aumento de 10,59% nas taxas de mortalidade.”
O estudo analisou a forma como os funcionários se organizaram em subgrupos homogêneos e se os líderes eram capazes de estimular uma cultura de colaboração para romper barreiras e melhorar o tratamento.

Uma equipe de médicos e enfermeiros que trabalham juntos em uma ala ou especialidade em geral tem homens e mulheres de diferentes origens raciais ou geográficas. Embora a hierarquia seja rígida – os médicos sempre estão no comando, seguidos pela enfermagem, técnicos, e pessoal de apoio – a forma como as equipes se subdividem por gênero, etnia ou posição hierárquica pode afetar a dinâmica de todo o grupo.

Em certos grupos, há uma tendência de pessoas do mesmo gênero e etnia desempenharem as mesmas funções profissionais e confiarem no apoio moral de seus pares quando surgem problemas com um subgrupo diferente. Não é raro que muitos ou a maioria dos enfermeiros de uma unidade sejam mulheres de minorias, enquanto muitos ou a maioria dos médicos são homens brancos.

Quando não há uma boa interação, em geral as pessoas procuram se relacionar com aquelas com pessoas com as quais têm mais afinidade e empatia, em vez de tentar resolver o conflito. Li afirma que o problema pode contaminar toda a força de trabalho, como mostraram estudos observacionais no hospital. Por exemplo, uma enfermeira se queixou para as colegas que as ordens que recebia dos médicos eram conflitantes, mas não queria comentar o assunto para os médicos.

Os níveis de incivilidade variaram, mas, em unidades onde foram encontradas “fortes linhas de ruptura”, com uma divisão clara entre subgrupos de profissionais, os resultados para os pacientes poderiam ter sido melhores se os gestores estimulassem a colaboração em casos de conflito. Contudo, para isso, o hospital precisaria treinar os líderes, principalmente os médicos, para criar um estilo de gestão colaborativa ou contratar novos chefes acostumados a trabalhar nesse padrão. Nos grupos que utilizam essa prática, os funcionários se consideram parte da unidade hospitalar, não só de seu subgrupo específico.

Para Michael Frese, professor da Faculdade de Administração para a Ásia e da Universidade Leuphana, em Luneburgo, Alemanha, “o artigo é conclusivo quanto ao fato de que o conflito cultural dentro de uma equipe pode ser questão de vida ou morte para os pacientes internados”.

De acordo com Frese, o estudo mostra consequências importantes para os profissionais de saúde. Um grupo de trabalho mais diversificado não necessariamente funcionaria melhor. Os gestores hospitalares precisam se antecipar para resolver os conflitos entre as pessoas que trabalham juntas, a fim de que os efeitos positivos da diversidade possam chegar até os pacientes.

Veja o estudo completo: “Ripple Effects of Hospital Team Faultlines on Patient Outcomes”, por Ren Li, Virginia K. Choi, e Michele J. Gelfand, Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 120, no 47, novembro 2023.

A AUTORA

Chana R. Schoenberger é jornalista, escreve sobre negócios, finanças e pesquisas acadêmicas. Mora em Nova York e pode ser encontrada no X como @cschoenberger.



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