Acessibilidade nos esportes de aventura
A organização sem fins lucrativos Fundação Aventuras sem Barreiras programa excursões para deficientes físicos.
Por Priti Salian
Tony Kurian passou toda a juventude quase sem praticar esportes ao ar livre. Ele não tinha permissão para brincar com os colegas nos intervalos das aulas na escola. Na adolescência, não acompanhava os amigos nas trilhas porque achava que podia atrasá-los.
Em 2015, Kurian conheceu Divyanshu Ganatra, fundador da organização sem fins lucrativos Fundação Aventuras sem Barreiras (ABBF, na sigla em inglês). Criada em 2014 na cidade de Pune, na Índia, a ABBF oferece opções acessíveis e inclusivas de esportes de aventura para todas as pessoas, com e sem deficiência.
Ganatra, que também tem deficiência visual, encorajou-o a correr a maratona organizada pela ABBF. “Eu sempre pensei que o corpo de pessoas com deficiência física como eu fosse fraco, por isso jamais me vi fazendo esportes e turismo de aventura”, revela Kurian, que hoje faz doutorado no Instituto Indiano de Tecnologia de Bombaim. Mas sua experiência com a ABBF mudou totalmente essa percepção. Logo que começou a participar de atividades da ABBF, Kurian fez sua primeira corrida de cinco quilômetros, guiado por um companheiro sem deficiência. Atualmente ele pratica maratonas, escalada e ciclismo tandem.
A ABBF introduziu os esportes de aventura na vida de Kurian e de mais de 10 mil pessoas com deficiência (PCD), e esse número continua aumentando. As atividades — mergulho, ciclismo individual ou tandem, alpinismo, escalada em rochas, caminhada, maratonas, rocódromo, rapel e parapente — são organizadas para atender a todos. Como a primeira organização sem fins lucrativos na Índia a organizar esportes de aventura orientados para pessoas com deficiência física, a ABBF já promoveu mais de 150 eventos em 15 cidades do país, ajudando a criar um clima de compreensão e empatia entre pessoas com e sem deficiência.
Tradicionalmente, as agências de esportes de aventura na Índia relutam em aceitar PCDs e não estão preparadas para atender esse público, o que acaba levando à exclusão e rejeição. “Você tem deficiência visual, então não podemos ajudá-lo”, foi o que Kurian ouviu certa vez de um instrutor de parapente. Rahul Ramugade, cadeirante que joga críquete e é paranadador de nível nacional, foi impedido de praticar mergulho subaquático. “Se você se machucar, seremos questionados por ter permitido que uma PCD mergulhasse”, lhe disse um instrutor.
Em um mundo que duvida da capacidade de pessoas com deficiência, a ABBF reconhece seu potencial e lhes oferece oportunidades.
O censo mais recente da Índia, de 2011, revelou que existem no país 26,8 milhões de pessoas com alguma deficiência. No mundo todo, são mais de um bilhão. Ideias preconcebidas de que PCDs não podem viajar, não se interessam por esportes de aventura, ou não têm recursos financeiros, deixaram essa comunidade sem opções para viagens, esportes de aventura e turismo.
Permitir que PCDs possam viajar e participar de atividades físicas não é apenas uma responsabilidade social — é também um nicho de negócios. Um estudo de 2017 do provedor global de tecnologia de viagem Amadeus mostrou que eliminar as barreiras de acessibilidade pode aumentar em até 34% os gastos de viagens de pessoas com deficiência.
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