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Recuperando verde e confiança na Escócia

Uma iniciativa ambiental adotou a tática incomum de estabelecer uma parceria com habitantes para proteger não só paisagem, mas também o custo da habitação e os empregos

Por Emma Woollacott

Em Tayvallich, uma península na costa oeste da Escócia, os moradores e a Highlands Rewilding estão trabalhando juntos para restaurar o meio ambiente. (Foto cortesia de Highlands Rewilding)

Tayvallich, uma península remota na costa oeste da Escócia, já foi um vasto mostruário ambiental, que incluía uma hoje rara floresta pluvial temperada rica em líquens, musgos, hepáticas, samambaias e diversas espécies de árvores, como a bétula, a aveleira, o carvalho e o junípero.

Mas décadas de desmatamento e pastagem excessiva dizimaram a paisagem, hoje restando apenas uma pequena porção de seus habitats pantanosos de água doce e salgada e das pradarias repletas de diferentes espécies.

Diante da intenção da Aliança Escocesa pela Restauração do Ecossistema de recuperar 30% das terras e mares do país até 2030, os apelos se uniram em torno do ecossistema de Tayvallich.
Projetos assim nem sempre são bem-vistos. Os donos dos “latifúndios verdes” que os realizam já foram acusados de ignorar as necessidades dos moradores em seus esforços de recuperação. Em Tayvallich, a tentativa é de fazer algo diferente: restaurar a paisagem e, ao mesmo tempo, criar novas oportunidades para a comunidade local.

A propriedade de 1.420 hectares onde se localiza a península foi vendida para a Highlands Rewilding, empresa cuja missão é restaurar paisagens e gerar renda por meio da diversidade e de projetos de compensação de carbono.

Seu fundador, o empreendedor social Jeremy Leggett, foi diretor científico da campanha pelo clima do Greenpeace e fundador da empresa de painéis solares Solarcentury. A ecologia variada e a floresta pluvial temperada chamaram sua atenção para Tayvallich.

Ao saberem que os proprietários venderiam as terras, que pertenciam à mesma família havia três gerações, os moradores buscaram proteger seus interesses fundando, em setembro de 2022, a Iniciativa Tayvallich. Um mês depois, ela se converteu em uma companhia limitada de caráter beneficente.

A Highlands Rewilding se comprometeu a trabalhar com essa nova empresa para garantir e melhorar o modo de vida local. Em parceria com a Iniciativa Tayvallich, a organização formalizou um memorando de entendimento (MOU) que delineia 24 objetivos em prol de benefícios mútuos de prosperidade comunitária e rentabilidade ética.

“O MOU é bastante inovador”, afirma o presidente da Iniciativa Tayvallich, Martin Mellor. “É uma estrutura embrionária que estabelece um bom ponto de partida e que será desenvolvida nos próximos meses e anos.”

O acordo prevê que a Highlands Rewilding venderá partes da propriedade à comunidade e inclui cláusulas que determinam a construção de imóveis para aluguel a preços baixos, sem possibilidade de despejo e que garantem a manutenção de todos os empregos na propriedade. O memorando se ampara na política escocesa de Restrição à Venda de Habitação Rural. Essa legislação determina que qualquer terreno ou propriedade comercializada deva servir de residência primária ao proprietário, evitando seu uso para locação de veraneio, o que torna as terras financeiramente inviáveis para os habitantes locais.

“Muita gente sai daqui para trabalhar, passar por treinamentos ou frequentar a universidade e depois tem dificuldade em voltar”, diz Mellor. “Por isso, é animador pensar que, nos próximos anos, faremos a diferença, disponibilizando mais propriedades onde as pessoas poderão morar.”
Mellor e Leggett também esperam que os habitantes possam abrir pequenos negócios para tirar proveito do ambiente restaurado, oferecendo, por exemplo, excursões na natureza e passeios de caiaque.

O trabalho da iniciativa será financiado por diversas entidades, entre elas o governo escocês, que forneceu uma bolsa para o desenvolvimento de empreendimentos ecológicos, e o Fundo Imobiliário Escocês, com recursos para que a iniciativa possa adquirir terras e imóveis para habitações populares. Segundo Leggett, os fundos também vieram de “indivíduos com elevado patrimônio líquido e de uma campanha de arrecadação que obteve mais de 1 milhão de libras [US$ 1,23 milhão].”

Neste ano, a Highlands Rewilding pretende avaliar a ecologia local para monitorar o progresso dos esforços de restauração, ao passo que a Iniciativa Tayvallich desenvolverá projetos de empresas ecológicas. Caso seja bem-sucedida, a parceria poderá servir de modelo para projetos de restauração de ecossistemas no futuro.

A AUTORA

Emma Woollacott é jornalista no Reino Unido e escreve para a BBC, a revista Forbes e diversas outras publicações sobre tecnologia.



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