A Celebração dos 20 Anos
Por Paul Brest
É comum, no aniversário importante de uma organização, relembrar seu nascimento – neste caso, o surgimento da Stanford Social Innovation Review como publicação do Center for Social Innovation da Graduate School of Business, na Stanford University. Contudo, há outra data relevante na juventude da SSIR: o ano de 2010. Foi quando a Business School definiu que uma publicação voltada para a inovação social não se encaixava mais em seu plano estratégico e, na prática, a colocou para adoção “na porta da igreja” – no caso, na porta do escritório do reitor da universidade.
A SSIR já havia se destacado nacionalmente e a ideia de vê-la se tornar, digamos, Harvard Social Innovation Review ou Yale Social Innovation Review não empolgava nem um pouco o reitor. Mas onde realocar a publicação? O Stanford Center on Philanthropy and Civil Society (PACS) havia sido fundado alguns anos antes e mostrava-se promissor na divulgação de pesquisas e atividades docentes nessas áreas. Com o apoio da William and Flora Hewlett Foundation, a SSIR foi adquirida pelo PACS, passando a ser parte integrante do centro e, desde então, motivo de orgulho para Stanford.
Quem lê a SSIR? Funcionários e membros de conselhos de organizações sem fins lucrativos representam cerca de metade dos leitores, com o restante se dividindo entre entidades filantrópicas, empresas, firmas de consultoria, universidades e governos. A tiragem da SSIR é de aproximadamente 11 mil exemplares; online, quase 250 mil pessoas visitam seu site todos os meses, e suas newsletters semanais contam com mais de 90 mil inscritos.
Em seus primeiros anos, a grande maioria dos leitores era dos Estados Unidos. Atualmente, a publicação é uma das poucas no campo da inovação social verdadeiramente global: quase metade das pessoas que leem a SSIR online encontra-se fora dos Estados Unidos. Além disso, hoje são seis edições em outros idiomas, produzidas por parceiros no Japão, na Coreia do Sul, na China, no México (para falantes de espanhol das Américas Central e Latina), no Brasil e nos Emirados Árabes Unidos (para o mundo de língua árabe).
A SSIR é uma das poucas publicações no campo da inovação social verdadeiramente global: quase metade das pessoas que leem a SSIR online encontra-se fora dos Estados Unidos – nos últimos anos, a publicação lançou seis edições em outros idiomas.
Além da revista impressa e dos conteúdos online, a SSIR promove três conferências anuais que recebem mais de três mil pessoas. No último ano, seu Nonprofit Management Institute, evento de três dias de duração, abordou uma questão fundamental: “Como promover maior cooperação e colaboração em um mundo cada vez mais divergente?”, voltando-se em particular para o papel das instituições da sociedade civil na busca por interesses comuns; a conferência Frontiers of Social Innovation, em março, tratou do papel da inovação social na sustentação da democracia em um momento em que as instituições políticas democráticas estão sob ameaça em muitas partes do mundo, incluindo os Estados Unidos; e Data on Purpose, no ano passado, focou na tecnologia de interesse público, emergente campo que defende a tecnologia como algo a ser projetado, empregado e regulamentado de maneira responsável e justa.
Permitam-me passar para o conteúdo da publicação, que é, no fim, o mais importante. A SSIR procura ser um fórum global de ideias, práticas e soluções novas em inovação social em todos os setores, além de buscar unir teoria, pesquisa e prática. Um sinal do sucesso nessa missão é o número de ideias e práticas importantes e duradouras que a publicação gerou. Deixem-me mencionar três.
O desafio de romper o círculo, de 2009, explica que a propensão de doadores filantropos a financiar projetos específicos levando em conta despesas gerais mínimas, em vez de oferecer apoio irrestrito, cria um círculo vicioso que priva organizações sem fins lucrativos da infraestrutura necessária para sobreviver e servir a seus beneficiários. O artigo gerou uma análise mais profunda do problema e teve um efeito perceptível nas práticas filantrópicas.
Impacto Coletivo, de 2011, aponta que a mudança social em larga escala exige uma ampla coordenação intersetorial, em vez de uma intervenção isolada de organizações individuais. O artigo destaca um esforço coordenado de fundações privadas e corporativas, funcionários de governos municipais, representantes escolares distritais, universidades, além de grupos de defesa e membros de organizações sem fins lucrativos ligados à educação que advogam pela melhoria do ensino em Cincinnati. Collective Impact, 10 Years Later (Impacto coletivo, 10 anos depois), uma série de artigos publicados em 2021, descreve o sucesso do movimento gerado graças àquele texto.
Listening to Those Who Matter Most, the Beneficiaries (Ouvindo quem mais importa: os beneficiários), de 2013, ressalta a importância de escutar as experiências das pessoas que se beneficiam de programas sociais. Embora o valor das perspectivas desses “especialistas práticos” possa parecer, em retrospectiva, óbvio, muitas organizações sem fins lucrativos e instituições filantrópicas dedicam-lhes pouca atenção. O artigo catalisou um movimento, dando sustentação para as atuais práticas emergentes de filantropia participativa baseada na confiança.
A SSIR não apenas apresenta ideias e práticas novas, mas também lança um olhar crítico àquelas consolidadas. O artigo Microfinance Misses its Mark (O microcrédito fracassa), que examina os problemas que envolvem microcréditos, foi publicado em 2007, apenas um ano depois do Grameen Bank e de seu fundador, Muhammad Yunus, terem recebido o Prêmio Nobel da Paz por ajudar a popularizar o microcrédito. Mais recentemente, a SSIR publicou artigos que lançam um olhar crítico às práticas socialmente responsáveis presentes no mundo dos negócios, tais como “Do discurso sustentável à prática de Greenwashing”, na edição 3 da SSIR Brasil.
Eu poderia acrescentar muitos outros exemplos de artigos que tiveram impacto no campo da inovação social, mas vou concluir com uma história pessoal. Como um acadêmico orgulhoso de sua escrita, sempre que submeti artigos para a SSIR, o fiz ciente de que estavam o mais pronto possível; ainda assim, eles voltavam, inevitavelmente, com sugestões editoriais que os tornavam não só muito melhores, mas, principalmente, mais acessíveis aos diversos leitores da revista.
O cuidado e a habilidade incomuns que os editores da SSIR dedicam a cada artigo são apenas uma das razões para a preeminência da revista. E, como leitor, aguardo com entusiasmo cada novo número, sabendo que aprofundarei meu conhecimento em áreas que estudei e que descobrirei ideias e até campos que me eram totalmente desconhecidos. Ao longo dos próximos 20 anos, a SSIR vai continuar a crescer e a expandir de maneira que não sou capaz de prever. Tenho certeza, porém, de que, à medida que isso acontecer, a publicação seguirá fiel a sua missão de ser um lugar no qual pessoas engajadas na inovação social em todo o mundo e em todas as partes da sociedade podem compartilhar as novas ideias, práticas e lições por elas aprendidas.