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Corrigir o S no ESG

Da neutralidade de carbono para a dimensão social do impacto corporativo.

Por Jason Saul

Corrigir o S em ESG
Foto: iStock/Jirapong Manustrong)

 

O planeta é realmente mais importante do que as pessoas? Segundo o canal de TV focado em negócios CNBC, a maioria dos gestores financeiros que adota fatores ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) em suas análises de investimentos usa a letra E, ou a mudança climática, como principal critério na hora de tomar decisões. Mas e o S, ou a dimensão social do impacto corporativo? Como me disse recentemente um gerente de investimento, “o planeta não necessariamente importa mais do que as pessoas, mas pode ser mensurado com mais facilidade. Investidores gostam de mensurar coisas que podem ser incorporadas em seus modelos, e é fácil quantificar carbono”.

Sem dúvida, dimensionar o impacto social é um desafio. A ESG Global Survey 2021 realizada pelo banco europeu BNP Paribas revelou que 51% dos investidores entrevistados (cobrindo 356 instituições) acham que o S é a parte mais difícil de ser analisada e inserida nas estratégias de investimento. O relatório concluiu: “Dados são mais difíceis de obter e há enorme falta de padronização no que diz respeito às métricas sociais… Investidores mostram-se dispostos a aceitar informações que pouco ajudam na avaliação do desempenho social das empresas nas quais investem”. Para a maioria dos investidores, o S não passa de um campo que deve ser ticado.

Então, o que pode ser feito para melhorar os dados S?

O Significado de S

Primeiro, precisamos entender melhor a definição atual de S para o setor. Especialistas e investidores referem-se ao S de muitas maneiras diferentes: como questões sociais, normas trabalhistas, direitos humanos, diálogo social, igualdade salarial, diversidade no local de trabalho, acesso a sistema de saúde, justiça racial, questões de clientes ou de qualidade do produto, segurança de dados, relações industriais ou temas voltados à cadeia de suprimentos. A S&P, uma das principais agências avaliadoras de ESG, descreve o S com base nos fatores sociais que representam risco para o desempenho financeiro de uma empresa.

Em um texto intitulado “O que é o ‘S’ em ESG?”, a S&P descreve três tipos de questões envolvendo o S:

  • De que maneira as exigências e a composição dos trabalhadores de uma empresa podem apresentar problemas para a organização no futuro? Greves de funcionários ou críticas de consumidores podem afetar diretamente a lucratividade de uma empresa, ao provocar escassez de empregados capacitados ou criar controvérsias que prejudicam a reputação de uma corporação.

  • Quais riscos surgem com as implicações de segurança de um produto ou com as políticas da cadeia de suprimentos de uma empresa? Corporações que garantem produtos e serviços isentos de riscos para a segurança e/ou minimizam a exposição a conflitos geopolíticos em suas cadeias de suprimentos tendem a enfrentar menos volatilidade em seus negócios.

  • Quais mudanças demográficas ou de consumidores podem encolher o mercado para os produtos ou serviços de uma empresa? Dinâmicas sociais complexas, desde manifestações públicas online a protestos e boicotes a empresas promovidos por diferentes grupos, provocam alterações de longo prazo nas preferências dos consumidores. Os responsáveis pelas tomadas de decisão podem considerar essas dinâmicas como importantes indicadores do potencial de uma empresa.

A coisa toda é um pouco bagunçada. O cerne da questão, segundo a S&P, diz respeito “às relações entre uma empresa e as pessoas ou instituições externas a ela”. Essa é uma definição bastante ambígua, que pode envolver uma série de coisas. Pode-se argumentar que essa falta de precisão em definir claramente o S é uma das principais razões pelas quais o social na sigla é tão mal mensurado.

Porém, há uma questão existencial mais profunda aqui. Agências avaliadoras como a Moody’s ou a S&P veem ESG quase exclusivamente pelas lentes da materialidade (ou seja, informações com forte influência no desempenho financeiro da empresa). Isso faz sentido porque as principais atividades dessas agências são avaliações de dívida corporativa e municipal, e a grande preocupação de qualquer investidor quanto a uma dívida é, evidentemente, seu pagamento. As análises de risco se concentram na probabilidade do pagamento. O problema é que a maior parte do interesse por ESG não advém dos credores que avaliam o risco de crédito, mas dos investidores que avaliam o risco patrimonial. E investidores do mercado financeiro procuram maximizar seus retornos, não apenas mitigar seus riscos. De fato, fazer apenas com que ESG reduza sua exposição aos riscos é algo que provavelmente não ajudará os investidores a realizar boas apostas em quais empresas vão superar o desempenho do mercado. Como observou a State Street Global Advisors, “as informações ESG tendem a ser mais efetivas na identificação de empresas ESG ruins, com maior probabilidade de ter um desempenho fraco, do que para indicar empresas com desempenho acima da média no futuro”.

A própria natureza do impacto social não tem a ver apenas com risco, mas também com comportamento socialmente responsável. Em outras palavras, as ações, políticas e os investimentos de uma empresa podem e devem ter impacto positivo na vida das pessoas. Claro que há outros impactos sociais, como violações de direitos humanos, relações trabalhistas e riscos da cadeia de suprimentos, que podem impactar negativamente a licença para operação de uma empresa, bem como sua estabilidade financeira – e essas coisas são importantes. Porém, há muitos impactos sociais que podem afetar positivamente o desempenho financeiro de uma empresa por meio de vantagem competitiva, crescimento empresarial, relevância de mercado, propósito de marca e assegurando sua licença de operação. Atualmente, os impactos sociais positivos não são contabilizados nos dados ESG. Ainda assim, como ressaltou o CEO da BlackRock Larry Fink em sua carta de 2019 aos CEOs, lucros e impacto social estão “inextricavelmente conectados”.

Em um artigo de 2019 intitulado “Onde o ESG erra”, Michael Porter, George Serafeim e Mark Kramer afirmam que “investidores que [querem superar o mercado], bem como aqueles que realmente se preocupam com questões sociais, claramente perderam uma oportunidade ao ignorar significativos promotores de valor econômico decorrentes do poder do impacto social que, por sua vez, potencializa o retorno dos acionistas”.

Solucionar o S

Para ser relevante, o campo ESG deve modernizar o modo como mensura os fatores S. E, para tanto, é preciso superar diversos desafios conceituais importantes: padronização, quantificação e divulgação.

Padronização. Um dos maiores desafios para mensurar impactos sociais é a ausência de um padrão de medida quantitativa confiável. Como consequência, toda empresa (e ONG) define, mede e divulga cada impacto social de maneira diferente. Para investidores, isso resulta em dados não confiáveis, não comparáveis e com pouco valor para serem usados em modelos financeiros. A maior parte das tentativas de criar estruturas para a divulgação de impactos sociais não teve sucesso.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas estão entre as mais proeminentes dessas supostas estruturas. Contudo, um estudo de 2018 da organização global KPMG intitulado How to report on the SDGs: What good looks like and why it matters (“Como divulgar ODSs: O que é bom e por que é importante”) mostrou que apenas 10% das empresas analisadas definiram metas de desempenho corporativo específicas e mensuráveis (SMART) relacionadas às metas internacionais, e menos de uma em cada dez empresas (8%) relatou um plano de negócios para agir de acordo com os ODSs. Por que isso ocorre? Os ODSs são elaborados, essencialmente, para acompanhar estatísticas nacionais em nível populacional, tais como “taxa de mortalidade devido a envenenamento acidental” ou “reduzir a taxa de mortalidade materna mundial para menos de 70 por cada 100 mil nascidos vivos”. Os ODSs não foram concebidos para serem diretamente associados a qualquer programa ou intervenção específicos. Além disso, as metas dos ODSs foram deliberadamente estabelecidas para promover a agenda de desenvolvimento internacional da ONU, voltando sua atenção para assuntos de extrema urgência como pesca predatória, diminuição da pobreza, turismo sustentável, água pura e saneamento, redução da circulação de armas ilegais, entre outros. Embora essas sejam metas políticas importantes, não são universalmente relevantes para todas as empresas e comunidades.

O campo do investimento ESG precisa de um padrão objetivo para divulgar resultados sociais. Padrões baseados em resultados são elaborados para mensurar a quantidade de mudança social promovida graças ao resultado de um programa, uma estratégia ou uma intervenção. Um padrão S baseado em resultados poderia ser usado voluntariamente por empresas e ONGs para que cada uma selecionasse quais resultados deseja divulgar. Os investidores também poderiam usar os dados dos resultados para promover análises de impacto social mais sólidas. Por exemplo, investidores podem avaliar se os impactos foram na comunidade da sede de uma empresa ou no geral; ou se os impactos são favoráveis para contratação, crescimento corporativo, vantagem competitiva, diversidade, inovação, desenvolvimento de mercado ou saúde dos funcionários. Qual “custo-benefício” ou retorno sobre investimento a empresa gerou para os acionistas? Como esse retorno se compara à média de outras empresas ou de outras indústrias? Quais populações ou comunidades foram mais impactadas? O poder dos dados de impacto social padronizados e comparáveis dá origem a um nível completamente novo de análise S, mais eficaz, preciso e relevante.

Quantificação. Uma vez padronizados e classificados, os impactos devem ser corretamente quantificados. No mundo E, órgãos independentes como o Verra definem padrões para mensurar “unidades” de impacto ambiental tais como emissão de gases de efeito estufa. O Verra se refere a elas como Unidades de Carbono Verificadas (VCU, na sigla em inglês). Regras e metodologias rigorosas são estabelecidas para assegurar que os dados de projetos heterogêneos sejam consistentes e confiáveis. Por exemplo, uma usina de cogeração de energia à base de casca de arroz na Índia é mensurada de acordo com os mesmos resultados de VCUs de um projeto de compensação de carbono na floresta Afognak, no Alasca.

Resultados sociais podem ser quantificados de modo semelhante. Os padrões devem estipular limites para o que constitui uma “unidade” de impacto para resultados como fome, educação e emprego. De maneira semelhante ao que ocorre com crédito de carbono, um “desenvolvedor de impacto” (ou seja, uma empresa, ONG ou iniciativa social) pode divulgar dados e ter seus resultados verificados com base nesse padrão. Por exemplo, uma empresa pode alegar ter ajudado mil famílias a terem “segurança alimentar”, oferecendo comprovações de que cada família atingiu determinado critério para esse resultado (isto é, acesso contínuo a alimentos saudáveis e nutritivos em um local razoavelmente próximo a sua casa, de maneira gratuita ou acessível).

O uso desse padrão possibilita aos analistas ESG classificar e determinar facilmente o impacto total da empresa na sociedade. Investidores e outros stakeholders podem, na verdade, avaliar o nível de contribuição de um negócio para um problema social importante e também comparar empresas e indústrias ou comparar várias indústrias. Além disso, a quantificação pode ser usada para precificar e definir uma referência do impacto social. Imagine ser capaz de colocar valor em uma unidade de impacto social e, mais tarde, negociar créditos de impacto social como no caso do carbono. Como Scott Kirby, CEO da United Airlines, observou recentemente em uma entrevista à CNBC: “Se você precificar o carbono, o mercado financeiro vai dar um jeito”. É hora de estabelecer um preço para o S e deixar o mercado se ajeitar.

Divulgação. No paradigma ESG tradicional, a divulgação tem tudo a ver com expor riscos “materiais”. Porém, como muitos pesquisadores observaram, há aspectos positivos e negativos da materialidade. Algumas atividades criam riscos materiais que podem ter impacto negativo no desempenho corporativo e merecem ser divulgadas. Ao mesmo tempo, certas atividades corporativas criam benefícios materiais que podem ter impacto positivo no desempenho corporativo. Na verdade, a visão de que materialidade significa apenas risco material é incompatível com a forma como os mercados financeiros tradicionais definem o conceito. Com base em um longo histórico de precedentes legais, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) define informação como “material” sob suas Regras de Informações Privilegiadas e Divulgação Seletiva se há “a probabilidade substancial de um acionista sensato a considerar importante” ao tomar uma decisão sobre investimentos. Não há indicação de que apenas riscos ou fatores negativos merecem ser divulgados. De fato, muitos processos relacionados a informações privilegiadas recebidos pela SEC baseiam-se em informações de materialidade positiva que contribuem para ganhos financeiros substanciais.

Para melhorar a divulgação S, o campo ESG deve ampliar sua visão sobre materialidade. O Conselho de Padrões Contábeis de Sustentabilidade (SASB, na sigla em inglês) criou, inicialmente, seu “Mapa de Materialidade”, em 2014, para ajudar investidores a identificar questões ESG que pudessem afetar negativamente o desempenho financeiro de uma empresa. Atualmente, o mercado ESG também precisa de um “Mapa de Materialidade de Impacto” para ajudar investidores a identificar impactos ESG que afetam positivamente o desempenho financeiro de uma empresa. Um Mapa de Materialidade de Impacto daria suporte aos investidores para determinar quais impactos sociais são mais estratégicos e benéficos para empresas por setor. Por exemplo, melhorar o processo de desenvolvimento educacional voltado para as STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) pode impactar materialmente a inovação e o crescimento de empresas de tecnologia. Para varejistas do setor alimentício, segurança alimentar e agricultura sustentável influenciam materialmente a receita bruta das vendas. Para empresas de serviços financeiros, a inclusão financeira pode ampliar materialmente sua base de clientes e seu alcance de mercado. Para empresas que oferecem assistência médica, determinantes sociais sobre saúde podem influenciar materialmente seus gastos estruturais e o bem-estar dos pacientes. E assim por diante. Esses impactos sociais exercem influência “material” no desempenho corporativo tanto quanto questões sociais de risco, e impactos sociais positivos também podem servir como mitigadores de risco para essas questões. Vejam os impactos DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), por exemplo. O investimento afirmativo de uma empresa em resultados DEI (não apenas por formalidade no que se refere ao número de empregados) pode ter um impacto considerável na mitigação da perda de talentos, diminuindo os riscos para a reputação da empresa. Esses impactos são potencialmente mais concretos do que a redução dos efeitos da mudança climática para empresas que oferecem serviços financeiros, que já correm riscos significativos no tocante a sua reputação junto a comunidades negras.

Alguns impactos sociais estão aparecendo como universalmente materiais para todas as empresas. Isso pode e vai mudar com o passar do tempo segundo as dinâmicas sociais e políticas. Entre esses “fatores macros de impacto social” encontram-se:

  1. Saúde pública e seus determinantes sociais. Se a pandemia da Covid-19 nos ensinou alguma coisa foi como uma enorme crise de saúde pública pode afetar todos os negócios, todas as indústrias e todas as regiões. O modo como as empresas reagem diante das necessidades de saúde pública pode ter grande influência no sucesso e na sobrevivência de um negócio. Uma questão interligada a isso é a igualdade nos assuntos de saúde, ou os determinantes sociais de saúde. O impacto de fatores como moradia, saúde financeira e capital social, entre outros, em doenças crônicas, na produtividade dos funcionários e na saúde dos consumidores é claramente relevante para todas as empresas.

  2. Igualdade racial. Isso é mais do que uma questão de risco e reputação. Para competir e crescer, as empresas devem focar na inclusão em força de trabalho, reagir ao racismo na sociedade como um todo e fazer com que seus produtos e serviços estejam acessíveis de forma equitativa para todas as comunidades. Isso afeta as vendas, as parcerias comerciais, a regulação estatal, o desempenho dos empregados e o posicionamento competitivo.

  3. Desigualdade de renda e inclusão financeira. De todas as famílias americanas, aproximadamente 44%, ou 50 milhões de pessoas, são consideradas de baixa renda, segundo o Brookings Institute. Esse é um segmento de mercado enorme. Globalmente, esse número é ainda mais significativo: 71% da população do mundo segue sendo de baixa renda ou pobre, vivendo com no máximo US$ 10 por dia, de acordo com o Pew Research Center. Para crescer e prosperar, as empresas devem ser capazes de encontrar formas de incluir essas populações marginalizadas na economia e ampliar o alcance de seus produtos e serviços.

  4. Desenvolvimento da força de trabalho. Desenvolver o processo de diversificação de talento é fundamental para toda indústria e toda empresa. Não é apenas um impacto social positivo, é uma barreira crucial para o crescimento do negócio. A Cummins, um dos maiores fabricantes de motores a diesel, não consegue atender seus clientes na África sem técnicos treinados. Já a Boeing depende de estudantes formados em STEM saídos de escolas públicas para poder construir mais aviões. E, segundo a Generation T (iniciativa da Lowe’s Companies), mais de 3 milhões de vagas que necessitam de habilidades comerciais vão permanecer desocupadas até 2028, o que afetará significativamente o crescimento de seus negócios. Aumentar a força de trabalho de um país, especialmente incluindo populações carentes, tem influência direta no crescimento de quase todos os negócios.

Impactos sociais também podem ser mais ou menos “materiais” de acordo com diferentes stakeholders: empregados, clientes, fornecedores ou membros das comunidades. Mais análises acerca da materialidade do impacto social surgirão à medida que esses dados estiverem prontamente disponíveis para a comunidade de analistas de investimento.

O Futuro do S

Os mercados se tornaram obcecados por ESG e a demanda por mais e melhores dados ESG apenas crescerá nos próximos anos. O sucesso de dados E criou a base de um mercado de carbono próspero – principalmente o mercado de carbono voluntário. Além disso, mostrou que commodities intangíveis podem ser padronizadas, precificadas e comercializadas. Isso pode e vai causar impactos maiores no ambiente do que meros esforços de proteção e filantropia. De fato, mais dinheiro é negociado nos mercados todos os dias do que é gasto por todos os governos do mundo todos os anos. Para funcionar de maneira eficaz, os mercados devem contar com dados simples, consistentes e confiáveis. Contudo, esses dados precisam indicar alguma coisa. Estatísticas desprovidas de significado não exercem influência. Está na hora de os mercados darem valor ao S como dão ao E e ao G. O único obstáculo para isso é a falta de dados melhores.

Há três ações práticas que investidores, agências avaliadoras e empresas ESG podem fazer para aumentar a importância do S para os mercados:

Primeiro, e mais importante, as empresas devem começar a divulgar dados de impacto S de maneira consistente. Padrões precisam ser estabelecidos do zero. Não é preciso esperar que agências avaliadoras se atualizem ou que reguladores se adaptem. Independentemente desses atores, as empresas têm seu próprio, e independente, dever de mensurar e divulgar informações materiais acerca do S a seus acionistas. As empresas devem começar a mensurar e reportar os impactos S voluntariamente e a obter comprovação de forma independente. Esses dados podem, então, ser incluídos nos próprios relatórios de sustentabilidade de uma empresa e nos formulários anuais específicos (10-K, por exemplo). Além disso, essas informações podem ser divulgadas de maneira proativa para agências avaliadoras como MSCI, DJSI, Sustainalytics, Moody’s, entre outras. O setor corporativo terá muito mais influência sobre quais padrões são estabelecidos se começar a produzir dados subjacentes agora em vez de esperar que o mundo concorde com isso.

Em segundo lugar, investidores ESG devem começar a pedir dados de impacto S e a fazer disso um requisito. Investidores de impacto como Forthlane Partners, em Toronto (Canadá), Baillie Gifford, em Edimburgo (Escócia), e Planet First Partner, em Londres (Inglaterra), já pedem esses dados. Porém, o processo ainda é manual, os dados solicitados são inconsistentes e a análise S não está diretamente ligada ao desempenho corporativo. Ao serem estruturados em torno de um padrão para S, os dados vão circular mais prontamente e com menos ônus para as empresas do portfólio. Com o tempo e liderança, outros investidores se juntarão ao grupo e pedirão os mesmos dados padronizados a respeito de S. Os fundos que começarem a usar esses dados mais cedo obterão uma vantagem significativa sobre seus concorrentes. E, provavelmente, ainda atrairão novos capitais mais rapidamente do que fundos ESG comuns que têm dificuldade para responder a uma pergunta fundamental feita por muitos investidores atualmente: “Qual impacto o meu dinheiro está gerando?”.

Por fim, agências avaliadoras, órgãos normativos e fornecedores de dados devem se alinhar a um provedor de dados S especializado para elevar o valor de seus dados. Dados de impacto S são complexos e não podem ser capturados apenas por pesquisas simplistas de múltipla escolha. Dados S confiáveis e de alta qualidade exigem taxonomias especializadas, questionários e comprovação independentes. Isso criará ainda um nível completamente novo de análise ESG – algo que defensores de valor compartilhado e pesquisadores acadêmicos defendem há muito tempo. Ao usar esses dados de impacto S, agências avaliadoras e outras organizações podem começar a avaliar a vantagem competitiva de uma empresa, seu potencial de crescimento, resiliência dos funcionários, acesso a novos mercados, valorização da cadeia de produtividade e melhoria do ambiente operacional.

Atualmente, cerca de um quinto (21%) das 2 mil maiores empresas de capital aberto do mundo se comprometeram a atingir metas de neutralidade de carbono. Reduzir emissões de carbono e mitigar os riscos da mudança climática para os investidores é uma enorme conquista. Porém, para atingir a sustentabilidade de fato, devemos também melhorar a qualidade de vida das pessoas que habitam este planeta. Não podemos administrar aquilo que não somos capazes de mensurar. Está na hora de elevarmos o nível da avaliação do impacto social, produzir melhores dados S e oferecer ao mercado algo que possa ser precificado em seus modelos. Está na hora de ir da neutralidade de carbono para o impacto líquido.

 

O AUTOR

Jason Saul é diretor executivo do Centro de Ciências de Impacto da University of Chicago e fundador e CEO do The Impact Genome Project.



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