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É hora de colocar o setor de combustíveis fósseis sob cuidados paliativos

Para sobreviver à crise climática precisamos abandonar os combustíveis fósseis por meio de uma transição justa e ordenada. Os modelos mais indicados para esse processo são triagem, eutanásia e unidade de cuidados paliativos.

Por Andrew J. Hoffman e Douglas M. Ely

Magnata dos combustíveis fósseis
Ilustração: Keith Negley

O que deveríamos esperar de uma companhia socialmente responsável que explora combustíveis fósseis em um planeta ameaçado por mudanças climáticas? A resposta é simples, porém bastante desafiadora: essas empresas e seus gestores precisam aplicar seus recursos financeiros, técnicos e políticos numa transição justa e ordenada que as afaste dos combustíveis fósseis. Mais que isso, eles devem decretar o fim dessa indústria da forma como ela existe na atualidade.

Como deveríamos proceder? Nossa sugestão é aplicar os modelos adotados na assistência compassiva a pessoas doentes, seus entes queridos, cuidadores e todos os envolvidos, quando o caso é considerado gravíssimo ou até terminal e demanda cuidados extremos. A sociedade e o setor de combustíveis fósseis enfrentam problemas muito graves. Se a humanidade quiser desfrutar de um ambiente estável no final deste século, a indústria de combustíveis fósseis deve acabar. Seu estado apresenta um quadro irreversível. Com esse prognóstico sombrio, só há três possíveis formas de tratamento: triagem, eutanásia e unidade de cuidados paliativos.

Essa reflexão sobre o procedimento é, na verdade, uma provocação para discutir um dilema real da sociedade hoje. Estamos diante de uma crise existencial que exige uma atitude radical se quisermos agir com a abrangência e a escala necessárias. A ideia de um setor industrial que decreta sua própria extinção nos faz pensar em questões complexas e inusitadas, mas extremamente relevantes para a gestão empresarial e para o ensino de administração. A magnitude dessa decisão agrava ainda mais seu grau de dificuldade: não existe outro setor industrial mais complexo e integrado que o segmento de combustíveis fósseis para realizar essa ação, e também não existe problema mais complexo e integrado para motivar essa ação que a crise climática. Se lidarmos com essas questões, será mais fácil avaliar o enorme desafio sistêmico que temos pela frente.

 

O Prognóstico

 

O primeiro passo no tratamento compassivo de uma doença terminal é ajudar o paciente e seus entes queridos a entender o fato de que o estado do paciente é realmente muito grave, que ele está morrendo e que precisa de cuidados especiais. Três conjuntos de reflexões conduzem ao prognóstico do estado terminal da indústria de combustíveis fósseis.

Identificar plenamente o problema | As mudanças climáticas são mais que uma questão ambiental. Elas representam o colapso sistêmico com sérias implicações para a vida no planeta. Não é um exagero – é uma constatação científica global, e essa conclusão mudará para sempre a natureza de nossa economia. A atividade antrópica está contribuindo para aumentar a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e é responsável pelo aumento de, na média,  1ºC na temperatura da superfície do planeta desde a era pré-industrial.1 Estamos lutando para impedir que esse aquecimento continue e chegue a 2ºC até 2050. O planeta mais quente poderá tornar o clima ainda mais instável e provocar mais secas, incêndios florestais, insegurança alimentar, escassez hídrica, inundações em áreas costeiras, proliferação de doenças e distúrbios sociais.

As mudanças climáticas são uma das nove fronteiras planetárias identificadas pelos cientistas que, se ultrapassadas, nos colocam sob risco extremo. Essas fronteiras representam “limiares abaixo dos quais a humanidade pode viver em segurança. Além delas a estabilidade dos sistemas em escala planetária não é mais confiável”. Os “indicadores-chave de desempenho” do planeta, segundo Gail Whiteman, professora da Lancaster University, sinalizam perigos.2 Ao ultrapassar os limites de sustentabilidade para uso da terra, poluentes (incluindo plásticos), nitrogênio e resíduos fosfóricos, e descarte de outros produtos químicos, ou qualquer outra atividade nociva ao ambiente, contribuímos para reduzir os índices de produtividade agrícola, degradar ecossistemas marinhos e, principalmente, aumentar o número de espécies em extinção. Este último impacto, conhecido como a “sexta extinção em massa”, poderá provocar o desaparecimento de metade das espécies atuais do planeta até 2100.3 Assim como ocorreu na catastrófica extinção natural dos dinossauros, espécies viáveis hoje estão sujeitas a uma catástrofe similar devido a ações antrópicas que alteram os ecossistemas da Terra.4 Em resumo, com o crescimento da população mundial e da economia que a sustenta, estamos interferindo na biosfera de forma sistemática sem precedentes e ainda pouco compreendida.

Se não forem contidas, as mudanças climáticas provavelmente causarão prejuízos econômicos globais de até US$ 22,5 trilhões até 21005 em perda de produtividade de mão de obra, redução de safras, falta de alimentos, mortes prematuras, danos materiais, colapso de redes de infraestrutura, escassez hídrica, poluição do ar, enchentes, incêndios e outras catástrofes. Em 2020, o Banco de Compensações Internacionais, uma organização que protege os bancos centrais mundiais, alertou que as mudanças climáticas poderão gerar um dos maiores desastres econômicos da história.6

Se quisermos estabilizar a temperatura global, precisamos reduzir muito as emissões de gases de efeito estufa, eliminá-las ou até mesmo recapturá-las. Segundo o economista Dimitri Zenghelis, da Cambridge University, uma meta tão radical “significa que a forma e a estrutura do capitalismo moderno precisam mudar”,7 já que o setor de combustíveis fósseis sustenta boa parte da economia atual. Além desse diagnóstico realista, enfrentamos o prognóstico moral das consequências desastrosas que a falta de ações efetivas, imposta por uma pequena minoria, causará injustamente à maior parte da humanidade, não só hoje, mas também no futuro. Duane Elgin, ativista do clima, pergunta: “Quando a humanidade manifestará sua indignação moral afirmando que é errado devastar um planeta inteiro de inúmeras gerações futuras, simplesmente para satisfazer o desejo consumista de uma fração da humanidade em uma única geração?”.8

Reconhecer o papel limitado das soluções da política econômica | Para enfrentar as mudanças climáticas, alertam os economistas, é preciso precificar o carbono para criar sinais mercadológicos que forcem a estratégia corporativa e a atividade empresarial a se engajar em atividades descarbonizantes. Embora seja uma ferramenta importante para enfrentar o problema, essa medida não será suficiente para fomentar a mudança de sistemas gigantescos e zerar as emissões de carbono na escala de tempo necessária. Ela estimulará somente pequenas transformações graduais, que não mudarão de forma significativa a causa do problema, mas continuarão a piorá-la.

Para início de conversa, os ajustes do mercado consideram o sistema econômico como completamente isolado do sistema planetário. Essa premissa é falsa. Os dois sistemas estão profundamente interconectados, embora sigam cadências bem diferentes. É o ritmo da mudança do sistema planetário que deve ditar o ritmo do sistema econômico –, e não o contrário. Em 2021, a concentração média global de CO2 na atmosfera era de 413,2 partes por milhão (ppm), batendo um novo recorde ao superar em 3,3 ppm os níveis de 2019 e em 150% o nível pré-industrial. Essa foi a quinta maior marca anual em 63 anos dos registros da National Oceanic and Atmospheric Administration (Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos), apesar da desaceleração da economia mundial devido à pandemia de Covid-19.9 A temperatura média global superou o nível pré-industrial em 1,1ºC, e tanto as emissões quanto a temperatura estão aumentando, independentemente do ritmo da mudança de nossa economia. Para piorar esse cenário, a taxa do aumento da concentração de CO2 agora está mais rápida que as 2 ppm por ano previstas.10

Se não chegarmos a um acordo sobre as mudanças climáticas até 2030, os danos ao clima global serão irreversíveis.11 Modelagens científicas indicam que uma concentração de CO2 de 450 ppm poderá elevar a temperatura média global acima de 2ºC – o limite máximo estabelecido pela comunidade internacional como “perigoso”. Se chegarmos a 3ºC, o risco de ultrapassar valores extremos irreversíveis aumentará de maneira significativa, provocando o colapso das camadas de gelo, elevação do nível do mar e extinção substancial de espécies.12 Se continuarmos nessa trajetória, a temperatura poderá subir mais que 4ºC até o final do século.13 É o tempo que nos resta para mudar o sistema econômico.

Portanto, não tomarmos medidas drásticas imediatas e esperarmos que o mercado apresente soluções enquanto o planeta ultrapassa esses limiares críticos, não conseguiremos mais adaptar ou criar um caminho para sair da crise. Os seres humanos não sobreviverão às temperaturas medidas pelos termômetros de bulbo úmido acima de 35ºC, um limiar já ultrapassado por algumas regiões do planeta. Em maio de 2022, a Índia e o Paquistão enfrentaram uma onda de calor recorde, que, segundo os especialistas, pôs em jogo “os limites da capacidade de sobrevivência humana”.14 Mesmo se zerássemos as emissões de CO2 hoje, a temperatura seguiria aumentando, porque as emissões já liberadas continuariam a superaquecer a atmosfera.15 A ordem final ditada pela realidade científica e pragmática é: parem de queimar combustíveis fósseis. E essa mudança precisa ser muito mais rápida que as soluções das políticas econômicas sozinhas conseguem realizar.

Aceitar que reduzir substancialmente as emissões de gases de efeito estufa é um desafio existencial para a indústria | A lógica econômica para a produção de hidrocarbonetos consiste em explicitar os custos para a vida humana e não humana. Enquanto as empresas de petróleo e gás se esforçam, sem sucesso, em contribuir para a solução dos problemas climáticos, na verdade, o que elas propõem são somente soluções paliativas e insuficientes, que não tocam na raiz do problema.

Primeiro, muitas empresas do setor de combustível fóssil (e outros emissores de carbono, como fábricas de cimento) estão apostando tudo em tecnologias para captura e sequestro de carbono para compensar suas emissões. Mas essas tecnologias ainda não estão prontas para produzir efeito no mercado – na verdade, a maioria emite mais CO2 do que captura. De acordo com um artigo publicado no The Climate Herald, “não é possível para a maioria dos métodos de captura e utilização do carbono reduzir o suficiente as emissões industriais de CO2 dentro dos prazos previstos pelas metas do Acordo de Paris”.16 Seria tolice apostar o futuro em tecnologias não comprovadas.

Segundo, e mais importante, embora 12 das maiores organizações mundiais de combustíveis fósseis planejem cortar 50 milhões de toneladas de emissões de carbono e metano ao ano até 2025, essas metas não precisam necessariamente ser cumpridas e não incluem as emissões do Escopo 3 – emissões produzidas pela queima de petróleo, gasolina e óleo diesel que as empresas vendem.17 Para a ExxonMobil, as emissões do Escopo 3 representam aproximadamente 90% da pegada de carbono da companhia.18 A BP, outra grande empresa petrolífera, também assumiu o compromisso de reduzir algumas emissões do Escopo 3 em 20%. Mas a empresa define essas emissões de forma muito restrita – somente aquelas nas quais a BP tem participação acionária, ou seja, emissões de CO2 da combustão upstream de petróleo bruto, gás natural e gás natural liquefeito.19 Para as empresas petrolíferas, zerar efetivamente suas emissões é um desafio gigantesco, talvez até impossível, e zerar as emissões downstream do Escopo 3 é um desafio existencial, uma vez que essas companhias terão de fechar ou vender seus ativos de combustíveis fósseis (upstream se refere à exploração e produção de petróleo e gás e downstream aos processos aplicados depois da extração até a entrega ao consumidor).

 

Destruição Compassiva 

 

A história é marcada pela extinção recorrente de setores prósperos causada pelas forças competitivas do que Joseph Schumpeter denominou “destruição criativa”,20 na qual o mercado “revoluciona a estrutura econômica internamente, destruindo continuamente a antiga e criando continuamente uma nova”. Com o surgimento dos computadores pessoais, as fábricas de máquinas de escrever desapareceram, e a produção de lâmpadas incandescentes diminuiu à medida que a alternativa a lâmpadas de maior eficiência luminosa, como as lâmpadas fluorescentes compactas e os diodos emissores de luz, se tornou mais competitiva.

A destruição criativa também obrigou as empresas a se reinventarem. Quando a Nokia, multinacional finlandesa, foi fundada em 1865, era uma fábrica de papel, e a partir daí começou a diversificar seus produtos, fabricando cabos elétricos, botas de borracha, pneus e finalmente hardware e software de telecomunicações. A 3M, fundada em 1902 como a Minnesota Mining and Manufacturing Company (Companhia de Manufatura e Mineração de Minnesota), produzia inicialmente lixas e rebolos. Hoje a empresa fabrica uma grande variedade de produtos, como equipamentos de proteção pessoal, películas para vidros, produtos dentários e ortodônticos, equipamentos médicos, produtos para estética automotiva, softwares para assistência médica, e foi a inventora do Post-it. Esses são exemplos de empresas que se adaptaram a um mercado em mudanças, e não de setores inteiros que desapareceram por razões não relacionadas ao mercado.

Alguns setores específicos definharam devido a algumas regulamentações governamentais – como a legislação americana que em 1972 proibiu a utilização de DDT, em 1989 decretou o fim da indústria do amianto e agora está prestes a acabar com a produção de substâncias fluorosurfactantes (PFAs). Mas naquela época a economia global e a sociedade não dependiam tanto desses setores como dependem hoje dos combustíveis fósseis.21

Atualmente, uma vasta rede física, econômica e política tem dependência do petróleo, carvão, gás e do setor de petroquímicos, e essa rede não pode simplesmente ser substituída sem uma disrupção política, social e tecnológica de grande escala. Por isso, nosso desafio agora não é administrar a “destruição criativa”, mas enfrentar a “destruição compassiva” no setor de combustíveis fósseis, na qual todos os elementos complexos e diversificados do setor se transformam de forma justa e ordenada em uma economia sem carbono.

 

Opções de Tratamento

 

Desde o início da Revolução Industrial, quando surgiram as primeiras máquinas a vapor alimentadas a carvão, os combustíveis fósseis fornecem a energia que alimenta a maior parte da atividade econômica mundial. Embora fontes de energia nuclear e renováveis também estejam disponíveis, quase 80% da energia utilizada mundialmente é obtida pela queima de combustíveis à base de carbono. Interromper esse padrão não é fácil. Larry Fink, CEO da empresa de investimentos Black Rock, adverte: “Desinvestir em setores inteiros – ou simplesmente transferir ativos que produzem carbono de mercados públicos para privados – não fará o mundo zerar suas emissões de carbono”. Segundo Fink, focar somente em reduzir o fornecimento e não reduzir a demanda só aumentará o preço da energia e fará crescer ainda mais a reação à produção de energia limpa.22 No entanto, a complexidade, centralidade e interdependência dos combustíveis fósseis na economia cria um paradoxo. A desativação do setor precisa ser cuidadosamente orquestrada e isso leva tempo. Mas a urgência imposta pelas mudanças que já estão ocorrendo no ambiente natural indica que o jogo precisa acabar rapidamente.

O paciente carece de atendimento urgente. Para aplicar o tratamento adequado é preciso reconhecer que as corporações adquiriram certos direitos e responsabilidades que, historicamente, eram convenientes à sociedade. E nos fazer a seguinte pergunta: uma corporação deve receber os mesmos cuidados de uma morte assistida que um ser humano? No caso afirmativo, como fornecer uma assistência compassiva e solidária ao paciente agonizante e a todos os afetados por sua morte? Podemos considerar três modelos diferentes.

Triagem | O primeiro modelo é indicado quando é preciso tomar decisões difíceis diante de prioridades conflitantes e recursos limitados. De acordo como as normas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos para cirurgias emergenciais de guerra, a triagem é “um processo de seleção para identificar e priorizar o tratamento que leva em conta as limitações da situação, da missão e dos recursos disponíveis (prazos, equipamentos, suprimentos, pessoal e capacidade de evacuação)”.23 Ela inclui a decisão sobre tratamentos para diferentes condições do paciente e, em casos mais graves, a decisão de amputar um membro ou extrair um órgão comprometido. Então, como aplicar a triagem corporativa em uma empresa de combustíveis fósseis?

O fundo multimercados Third Point é um exemplo. Em 2021, o fundo exigiu que a Royal Dutch Shell fosse dividida em “várias empresas independentes”, para separar as linhas de negócios sustentáveis das antigas linhas de negócios de combustíveis fósseis. O argumento da Third Point é que “amputar” o negócio de extração, desenvolvido para maximizar a sobrevivência da Shell, forçaria a companhia a acelerar a transição para a descarbonização e ainda manteria a imagem da corporação depois da “cirurgia”.24 Nesse caso, um investidor externo prescreveu o modelo da triagem, mas empresas de outros setores optaram pela automedicação. Depois da invasão russa à Ucrânia, em 2022, a BP se desfez de seus 19,75% de ações da companhia russa de combustíveis fósseis, Rosneft, incorrendo em encargos que atingiram US$ 25 bilhões.25

A triagem também pode promover uma transformação real e criar uma nova organização. Em 2022, um multimilionário e uma empresa gestora de ativos canadenses lançaram uma proposta conjunta inusitada para assumir a companhia de energia australiana AGL Energy e transformá-la numa empresa de energia renovável, encerrando as atividades de suas usinas de carvão antes do previsto.26 Em 2014, a CVS Pharmacy também aplicou a triagem ao passar de uma rede de drogarias para uma operadora de saúde privada, descontinuando a venda de produtos derivados de tabaco. Embora esses produtos constituíssem uma parte lucrativa do negócio na época, Larry Merlo, presidente e CEO da CVS, declarou: “A venda de derivados de tabaco é inconsistente com nosso objetivo”, que era “melhorar a saúde das pessoas”.27

Eutanásia | De acordo com o dicionário Michaelis, eutanásia é a “ação ou prática de provocar ou permitir a morte rápida e sem sofrimento de um ser humano (ou animal doméstico) em caso de moléstia incurável”.28

Esse conceito não é estranho em economia. John Maynard Keynes certa vez referiu-se “à eutanásia da classe rentista” – pessoas que obtêm lucro ou renda, mas não geram riqueza para a economia,29 e que, nas palavras de Joseph Stiglitz, “destroem a riqueza como um subproduto do que retiram de outros”.30 Atualmente, as companhias de combustíveis fósseis produzem petróleo, que é queimado para sustentar a economia, mas emitem gases de efeito estufa que destroem os bens de outros, contribuindo para o aumento de secas, incêndios florestais, insegurança alimentar, escassez hídrica, inundação de regiões costeiras, proliferação de doenças e agitação social. No futuro talvez seja necessário sacrificar um setor inteiro para conter as mudanças climáticas.

A decisão de aplicar a eutanásia corporativa compassiva é um processo deliberativo. No caso de pacientes humanos, os protocolos para a eutanásia incluem diagnóstico terminal, atestado de junta médica, exames psicológicos e exposição de alternativas que incluem cuidados paliativos e opções para controle da dor. No caso de pacientes corporativos, os protocolos podem ser similares, mas devem ser conduzidos preferencialmente pelo governo e incluir o paciente e todos os afetados.

Em 1964, o secretário de Saúde dos EUA recomendou a implantação de um controle rígido sobre o tabagismo com o intuito de proteger a saúde pública. Grandes empresas do setor do tabaco, como R. J. Reynolds e Brown & Williamson, que, certamente, perderiam bilhões de dólares se o cigarro fosse associado ao câncer, criaram variadas campanhas para gerar dúvidas e confusão nas pesquisas que associavam o câncer ao fumo.31 Foram necessárias quatro décadas para que o consumo de cigarros fosse controlado pelo governo, mas durante esse período muitos fumantes adoeceram ou morreram. Em 1998, as quatro maiores empresas americanas do setor aderiram ao Tobacco Master Settlement Agreement (MSA), o maior acordo sobre o tabaco já realizado no país, que obrigava as companhias a pagar uma indenização anual aos 46 estados signatários como reembolso das despesas de assistência médica dispensada aos cidadãos com doenças relacionadas ao tabagismo. O MSA também dissolveu várias associações comerciais do tabaco (como o Instituto do Tabaco) e proibiu a veiculação da maioria dos comerciais de cigarros.32

Um passo importante da eutanásia é aceitar a difícil decisão a ser tomada envolvendo paciente, o médico e outros afetados pelo resultado. Muitos participantes da indústria de combustíveis fósseis negam as previsões climáticas e criam campanhas de desinformação e desorientação, como ocorreu com a indústria do tabaco, para impedir as ações que visavam combater as mudanças climáticas.33 O setor de combustíveis fósseis continua a isentar as corporações de responsabilidade e, para isso, utiliza a narrativa da demanda do consumidor.34 O setor de combustíveis fósseis não está pronto para enfrentar o prognóstico que a indústria do tabaco enfrentou. Ao contrário, continua a focar no que faz melhor: prospectar, extrair, refinar e comercializar combustíveis fósseis.

Na verdade, essas empresas tomaram poucas medidas concretas em relação ao clima. De acordo com um estudo recente de seus relatórios anuais, lucros e despesas, elas continuam a explorar mercados de combustíveis fósseis.35 Diante do declínio desses mercados, causado, entre outros fatores, pela eletrificação da frota de veículos, essas organizações começaram a se interessar por novos mercados, principalmente o de produtos químicos – mais especificamente o de plásticos. O Fórum Econômico Mundial prevê que a produção de plásticos deverá dobrar até 2035 e quadruplicar até 2050, e projeta que até 2050 os oceanos conterão mais plásticos que peixes (por peso).36 Essa transição só muda o problema: nos deixa mais próximos de cruzar uma fronteira planetária (mudanças climáticas) e mais distantes de cruzar outra (uma nova ameaça ou a poluição química).

O paciente nega seu estado terminal e procura negociar. A expectativa permanente da indústria de combustíveis fósseis é que a captura e sequestro de carbono possam salvá-la, assim como um paciente em estado terminal espera que um milagre seja capaz de curá-lo. Os líderes do setor também costumam culpar a demanda para se eximir de responsabilidade.37 Em 24 de fevereiro de 2022, algumas horas depois da invasão russa à Ucrânia, o Instituto Americano do Petróleo começou a exigir que a Casa Branca “garantisse a segurança energética nos EUA e no exterior”, permitindo mais perfurações de petróleo e gás em terras públicas, ampliando a perfuração de poços em águas territoriais americanas e eliminando as normas que limitam as atividades de prospecção.38 O setor de combustíveis fósseis mostra leves sinais de que pode limitar sua capacidade de prospectar, extrair, refinar e comercializar combustíveis fósseis. No entanto, tal como aconteceu com a indústria do tabaco no passado, as empresas respondem a processos judiciais da Procuradoria Geral dos estados por enganar a população sobre as mudanças climáticas e omitir os perigos causados pelo uso de combustíveis fósseis.39

Cuidados paliativos | O terceiro modelo é aplicado quando o paciente aceita sua condição terminal. O US National Institute on Aging (Instituto de Envelhecimento dos Estados Unidos) define cuidados paliativos como um tratamento que “procura melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças graves e apoiar seus familiares, quando … tentativas de curar a doença são suspensas. Cuidados paliativos são indicados a paciente em estado terminal quando os médicos acreditam que ele terá, no máximo, seis meses de vida se a enfermidade progredir naturalmente”.40

Médicos são treinados para preservar a vida de pacientes. Assim Da mesma forma,  líderes são treinados para preservar as empresas. Embora falência e liquidação sejam situações comuns, não é comum optar por essas alternativas quando a saúde financeira da empresa é boa. Assim como os médicos se preocupam com a qualidade de vida do paciente e não só o tempo que lhes resta, os líderes empresariais também precisam saber quando não há mais alternativa viável para equilibrar as necessidades do planeta, da humanidade e da corporação. A morte da organização deve ser planejada e essa é uma decisão que afeta os stakeholders sob vários aspectos e marca emocionalmente os mais próximos. Muitas vezes, os funcionários associam o trabalho à sua própria identidade, e decidir deixar tudo para trás e seguir novos rumos pode ser assustador. Para os clientes, investidores, fornecedores e outros stakeholders essa decisão também pode ser frustrante.

À medida que os líderes do setor de combustíveis fósseis discutem se seu prognóstico é terminal, começam a surgir sinais de que o tratamento é viável. Embora muitos continuem a marcar passo nos quatro primeiros estágios do sofrimento que a psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross associa ao luto – negação, raiva, negociação e depressão –, alguns já começam a aceitar41 que a crise climática é real e que a indústria que lideram é a principal causa da crise. A Agência Internacional de Energia, uma coalizão multilateral cujo objetivo é garantir segurança e estabilidade energética global, lançou em 2021 um manifesto exigindo que os investimentos em novos projetos de petróleo e gás natural cessem imediatamente e que a venda de novos veículos a gasolina e diesel seja interrompida até 2035, para que a indústria de combustíveis fósseis possa zerar suas emissões de carbono até 2050.42

Durante o processo deliberativo é importante manter o controle e a dignidade, o que os cuidados paliativos procuram oferecer ao considerar as complexidades físicas, sociais e emocionais. A essência dessa abordagem está na “crença de que cada um de nós tem o direito de morrer sem sofrimento e com dignidade e que parentes e amigos receberão o conforto, consolo e compaixão necessários”.43 Da mesma forma, os cuidados paliativos corporativos podem ajudar os atores internos ou externos de uma organização ou setor a se organizar para planejar o fim do que consideram inevitável e se preparar para o futuro.

A morte, sob qualquer aspecto, não é simplesmente um fim, mas o início de uma transformação – seja uma transformação espiritual da alma ou uma transição física do corpo. De forma análoga, a complexa rede formada pelo setor de combustíveis fósseis deve morrer ou apenas se transformar? Assim como ocorre com a doação de órgãos, parte do capital econômico e humano do setor pode ser reorganizado em torno de um novo propósito. As pessoas que trabalham nesse setor têm expertise financeira, analítica e geofísica notável e podem (e devem) ser reconhecidas como um potencial ativo para um futuro sustentável. Além disso, os logotipos de marcas tradicionais como Shell, ExxonMobil e BP podem atrair os donos de carros elétricos para seus postos de recarga como símbolos de abastecimento. Outros ativos físicos também poderão ser redirecionados – em 2021, uma refinaria de petróleo ociosa em Newfoundland, no Canadá, foi comprada e será reformada para produzir biocombustíveis a partir de óleo de cozinha descartado, óleo de milho e gordura animal.44 Para chegar a esse resultado, o processo precisa se basear em tratamento compassivo, consentimento deliberado bem informado e consulta a todas as partes afetadas.

 

Administrando o Fim

 

Estimativas do investimento necessário para uma transição energética para abandonar o setor de combustíveis fósseis nas próximas três décadas variam de US$ 100 trilhões a US$ 150 trilhões.45 Esse valor representa tanto oportunidades históricas de empreendedorismo como uma desarticulação massiva cujos efeitos colaterais precisam ser administrados para que a transição seja justa e ordenada.

Para os gestores corporativos, os modelos de triagem, eutanásia e cuidados paliativos são um desafio novo e desconhecido. Ao optar por um processo de atendimento e tratamento compassivo, o líder precisa entender a complexidade do ecossistema corporativo e identificar pontos de alavancagem para a inovação e mudanças em pelo menos quatro níveis: corporativo, econômico, social e a própria liderança. Sugerimos dez reflexões e perguntas específicas importantes. (Veja o quadro “Dez Estratégias para Administrar o Fim dos Combustíveis Fósseis”).

 

Gerenciando a Estratégia da Empresa

 

As consequências da triagem, eutanásia e cuidados paliativos na corporação são profundas e exigem uma cuidadosa reflexão para uma transição ordenada. Ao optar por esses tratamentos, os líderes corporativos assumem a responsabilidade de analisar como essas medidas afetarão seus funcionários e as comunidades onde atuam.

  1. Desativar completamente o setor por meio de colaboração corporativa. Para encerrar as atividades do setor de combustíveis fósseis, é preciso contar com a participação e colaboração de vários atores. Devem participar não só empresas de capital aberto, como a ExxonMobil, a BP, Total SA e Chevron, mas também empresas petrolíferas estatais que sustentam a economia de países como China, Arábia Saudita, Rússia, Brasil, Índia, Irã e Venezuela. Se uma empresa petrolífera simplesmente parar de produzir, qualquer outra a substituirá, talvez uma menos preocupada com padrões ambientais, sociais, políticos e de segurança. Esse nível de cooperação global atingiu uma escala nunca vista antes.

A “colaboração pré-competitiva” é um modelo de negócios para gerenciar ações conjuntas em que os líderes executivos procuram chegar a um consenso sobre os rumos futuros do setor de combustíveis fósseis e da economia em geral.46 Essa colaboração utiliza uma estrutura participativa e interativa que reúne todos os atores relevantes para coordenar seus interesses, prioridades e ações. Dessa forma, o foco pode estar além das soluções incrementais, para atacar a raiz do problema a partir de diferentes pontos de vista. Por isso, esse processo deve envolver não só os CEOs de empresas transnacionais do ramo de combustíveis fósseis, mas também representantes de governos, associações comerciais, centros de pesquisa, ativismo ambiental, grupos indígenas locais e outros interessados.

  1. Proteger os empregados e evitar a fuga de mão de obra durante a transição. Da mesma forma que o atendimento compassivo dispensado a um paciente em estágio terminal ajuda a confortar os membros da família e os amigos, uma transição justa e ordenada não pode deixar ninguém desamparado.47 Quando uma companhia petrolífera anuncia um plano para encerrar suas atividades, os funcionários que tiverem outras oportunidades de trabalho abandonarão a empresa, deixando-a sem seus talentos para realizar a transição? Como será administrada a perda de vagas de trabalho? Algumas habilidades podem ser rapidamente substituídas (por exemplo, contadores e vendedores), enquanto outras são muito específicas do setor (por exemplo, trabalhadores em campos de petróleo). As estimativas sobre o número de empregados no setor de combustíveis fósseis variam muito, de 1 milhão48 a 2,6 milhões de pessoas.49 A Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA estima que 565.000 pessoas trabalham no setor de mineração, pedreiras e extração de petróleo e gás, e 133.300 em subsetores que dependem da extração de petróleo e gás.50 Os economistas calculam que se o consumo de combustíveis fósseis fosse completamente interrompido durante um período de 20 anos (um cenário radical), em média, 53.600 empregos seriam perdidos por ano.51 A Agência Internacional de Energia Renovável estima que aproximadamente 8 milhões de postos de trabalho poderão desaparecer do setor no mundo todo até 2050.52

À medida que as indústrias de combustíveis fósseis reduzem suas atividades, a transição precisa ser administrada com dignidade e oferecer aos funcionários desligados requalificação, formação profissional e benefícios como forma de agradecimento por terem contribuído para criar um mundo moderno. Esse esforço também pode ajudar a identificar oportunidades paralelas em setores que carecem de habilidades similares, como perfuração geotérmica, rastreamento da captura de carbono e novas prioridades conjunturais. Exatamente como no caso de pacientes em estado terminal, é preciso assegurar que seus dependentes recebam a devida atenção. Para garantir esses cuidados, é preciso ter uma perspectiva clara e planejar uma transição que promova a inclusão e incentive uma reforma de longo prazo que estimule os funcionários talentosos a encarar novos desafios.

  1. Superar a resistência social e política à mudança. O declínio e o fim do setor de combustíveis fósseis precipitarão reações políticas, econômicas e sociais. Todos os que sofrerem alguma perda na transição procurarão defender seus interesses. Em vários estados, a organização conservadora sem fins lucrativos Conselho de Intercâmbio do Legislativo dos EUA (American Legislative Exchange Council) propôs leis para colocar na lista negra empresas que boicotarem o setor de combustíveis fósseis, como uma forma de proteger as empresas do setor de uma disparada na venda de títulos e outras medidas para enfrentar a crise climática.53 Em janeiro de 2022, em carta aberta à Controladoria do Estado do Texas, o vice-governador Dan Patrick acusou Fink, CEO da BlackRock, de “discriminar sem justificativa a indústria de petróleo e gás” e enfatizou: “Se Wall Street virar as costas para o Texas e a nossa pujante indústria de petróleo e gás, o Texas não negociará mais com Wall Street”.54 A indústria de combustíveis fósseis é essencial econômica e culturalmente para estados como o Texas e é a base da prosperidade e do poder geopolítico de países como a Arábia Saudita, Venezuela e Rússia. A liderança corporativa terá de identificar os stakeholders e envolvê-los na transição e suas consequências. Da mesma forma que o planejamento do fim da vida inclui elaborar um testamento, uma transição justa e ordenada inclui um plano para ajudar os excluídos.

Gerenciando os Impactos Econômicos Gerais

 

Os efeitos da triagem, eutanásia e cuidados paliativos não se restringem às companhias de combustíveis fósseis que se submetem a esses processos. Toda a economia também é afetada e os impactos precisam ser administrados, da mesma forma como é preciso administrar os impactos sofridos pelos membros da família, amigos e colegas de um paciente em estado terminal.

  1. Analisar a extensão do impacto financeiro da transição. O rápido crescimento do setor de energia limpa se deve, em grande parte, à inovação tecnológica e às escolhas políticas. Algumas estimativas contabilizam uma empregabilidade de 3,3 milhões de pessoas, o que supera o número de empregados no setor de combustíveis fósseis em mais de 3 para 1.55 O custo médio de energia eólica instalada diminuiu de US$ 0,07 por kWh em 2009, para menos de US$ 0,02 por kWh em 2019.56 O preço da energia solar fotovoltaica teve uma redução de 99% entre 1980 e 2012.57 Em 2020, o faturamento global do setor de energia renovável foi de US$ 692,8 bilhões,58 enquanto as empresas de petróleo e gás faturaram globalmente cerca de US$ 2,1 trilhões.59 Analistas de mercado estimam uma taxa de crescimento anual de combustíveis renováveis de mais de 8% entre 2021 e 203060, mas menos de 2% para o petróleo no mesmo período.61 Da mesma forma que as transições do mercado, o setor de combustíveis fósseis, no seu papel de base energética da economia moderna, precisa desempenhar um papel relevante tanto no processo como no resultado da transição de energia em curso, incluindo uma redistribuição dos ativos financeiros.

As dez maiores empresas globais de combustíveis fósseis acumulam uma capitalização de mercado de US$ 3,3 trilhões.62 De 2016 a 2020, 60 dos maiores bancos comerciais e de investimento aplicaram juntos US$ 3,8 trilhões em combustíveis fósseis.63 Nos primeiros nove meses de 2021, 24 das maiores companhias de petróleo e gás tiveram um lucro líquido de US$ 174 bilhões, e 11 delas juntas distribuíram aos acionistas US$ 36,5 bilhões.64 Como esses investimentos serão mantidos e transicionados? Se uma empresa anunciar um plano para encerrar suas atividades, os investidores debandarão, deixando-a sem capital para executar seus planos? E os investidores que continuarem na empresa verão seu capital diminuir? E, finalmente, as companhias de combustíveis fósseis e seus investidores serão indenizados pelos combustíveis fósseis que permanecerem inexplorados – combustível contabilizado na avaliação dessas empresas e que atraiu os investidores logo no início?

  1. Controlar as reservas dos produtos explorados ou não. A reserva mundial de petróleo é de 1,65 trilhão de barris, o que corresponde a 46,6 vezes o consumo anual mundial, portanto, suficiente para nos abastecer por, pelo menos, mais 50 anos.65 A Agência Internacional de Energia prevê um pico de demanda entre 2020 e 2040. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) prevê um aumento na demanda e uma estagnação a partir de 2035. Na hipótese de todo esse petróleo ser consumido, as modelagens científicas preveem que as temperaturas globais não poderão mais ser mantidas em níveis seguros para a vida humana. Mas como administrar esse “ativo encalhado”, construindo uma solução equitativa, sem recorrer ao mercado negro? Como impedir que os desertores continuem extraindo o líquido precioso?

Para responder a essas perguntas precisamos incluir restrição de fornecimento (isto é, fiscalização da proibição de extração), restrição de demanda (isto é, redução do preço do petróleo pela oferta de fontes alternativas) e, pelo bem da igualdade, incluir várias normas mundiais que permitam a países em desenvolvimento utilizarem o petróleo por um determinado período da transição para satisfazer suas necessidades básicas. Podemos reduzir os prejuízos econômicos localmente se tentarmos unir necessidades e expertise (por exemplo, usinas geotérmicas contratam especialistas em perfuração, enquanto novas empresas de energia precisam de expertise em comunicações e sistemas energéticos).

  1. Proteger os empregos indiretos da cadeia de produção. Para cada trabalhador da indústria petrolífera diretamente afetado pelo fim das atividades do setor, existem vários outros empregados que dependem do setor. Na Índia, cada mineiro assalariado que trabalha nas minas de carvão gera, ao menos, mais dez empregos indiretos locais graças a seu poder de compra. Se o trabalho do mineiro desaparecer, esses outros empregos locais também desaparecerão.66 Nos Estados Unidos a indústria de combustíveis fósseis gera aproximadamente 7,2 milhões de empregos indiretos. Os bens de capital do setor de petróleo e gás natural adquiridos de fornecedores americanos representam uma movimentação da economia de US$ 177 bilhões em novos equipamentos e estruturas.67 Até mesmo empresas que repudiam publicamente os combustíveis fósseis (por exemplo, confecção de roupas) dependem de produtos químicos derivados de petróleo e gás natural. O alcance desses impactos pode ser apenas regional, mas a transição de energia precisa se empenhar em proteger também a economia regional.

 

Gerenciando Questões Políticas e Sociais

 

A decisão sobre triagem, eutanásia e cuidados paliativos de corporações é um processo difícil, porque, além dos motivos já apontados, é preciso considerar os complexos impactos sociais e como eles se distribuem para avaliar equitativamente quem arcará com os custos.

  1. Tratar todas as comunidades com justiça e equidade. Até 2050, milhões de empregos da indústria de combustíveis fósseis poderão desaparecer, mas a distribuição da falta de desemprego não será uniforme – alguns setores serão mais afetados que outros. No estado de Wyoming, aproximadamente 8.400 pessoas trabalham nas minas de carvão,68 e cerca de 68.000 na exploração de petróleo e gás.69 Juntas, essas indústrias são responsáveis por cerca de 16,6% dos empregos do estado.70 Além disso, o setor de combustíveis fósseis gera mais da metade da receita arrecadada pelos impostos municipais e estaduais.71 Outros estados como Oklahoma, Dakota do Norte, Texas, Louisiana, Alasca, Novo México e Virgínia Ocidental também dependem fortemente do setor. A economia desses estados poderá ser devastada se o setor desaparecer e nenhuma medida for tomada para compensar o impacto econômico. Poderemos assistir à repetição do desastre similar provocado pelo desemprego no setor de manufatura que transformou o Meio-Oeste dos EUA no cinturão de ferrugem da década de 1980. A produção de combustíveis ainda é uma fonte de empregos extremamente importante no mundo todo, e nesse setor os empregos geralmente oferecem salários mais altos e melhores benefícios.72

Como proteger a economia de países em desenvolvimento conforme o setor de combustíveis não renováveis diminui ou desaparece? Esses países conseguirão fazer os investimentos necessários em infraestrutura e gerar empregos suficientes durante a transição para a descarbonização? Conseguirão se proteger da pressão dos interesses da indústria petrolífera para receber os royalties de receitas perdidas? Em 2021, os produtores de combustíveis fósseis acionaram judicialmente governos do mundo todo buscando uma indenização de mais de US$ 18 bilhões pelas medidas tomadas contra as mudanças climáticas que ameaçavam seus lucros. Os processos foram instaurados com base no Tratado da Carta de Energia, cujos protocolos estão disponíveis no International Centre for Settlement of Investment Disputes (Centro Internacional para Resolução de Disputas sobre Investimentos) do Banco Mundial e se aplicam aos sistemas jurídicos internos dos países.73

  1. Desativar, recuperar e reaproveitar a infraestrutura específica. É preciso considerar também a enorme infraestrutura do setor de combustíveis fósseis. Como exemplo, os Estados Unidos possuem mais de 4 milhões de quilômetros de oleodutos,74 129 refinarias em funcionamento,75 milhares de vagões e caminhões-tanque, aproximadamente 542.000 tanques subterrâneos de armazenamento76 e um número equivalente de tanques na superfície,77 e mais de 150.000 postos de abastecimento (95% deles pertencentes a operadores independentes)78 para abastecer 287 milhões de carros registrados e 38 milhões de caminhões. No mundo todo há mais de 600 refinarias em operação79 e 810 grandes navios petroleiros (cada um com capacidade para transportar mais de 2 milhões de barris de petróleo bruto). Como esses ativos serão redistribuídos ou desativados? Além disso, há um enorme legado de resíduos perigosos acumulados pela mineração do carvão, exploração, refino e transporte do petróleo e produção do gás de xisto, que exige contínua manutenção. Quem pagará essa conta?

  2. Alavancar o poder do governo. A transição de energia em curso só poderá avançar se houver envolvimento e cooperação sem precedentes de todos os governos. O papel dos governos é decisivo na determinação do nível de inovação tecnológica sem carbono por meio de políticas tributárias, subsídios, garantias fiduciárias, aprovisionamento e apoio à pesquisa e desenvolvimento.80 Os governos devem, e precisam, continuar comprometidos, pelo menos, com as metas de redução de carbono estabelecidas pelo Acordo de Paris em 2015, para que as empresas possam confiar nos sinais do mercado. A Equinor, companhia petrolífera norueguesa, afirmou claramente que, para atingir as metas de destinar mais da metade de sua receita bruta anual aos combustíveis renováveis ou alternativas de baixo carbono até 2030, é preciso que os líderes europeus e globais cumpram seus compromissos com o clima.81 Os governos precisam reduzir, eliminar ou remanejar os US$ 423 bilhões de subsídios anuais da indústria dos combustíveis fósseis,82 ajudar financeiramente na requalificação dos empregados em risco, apoiar os empreendedores locais e investir na infraestrutura necessária.83 O poder do governo precisa ser fortalecido diante da pressão dos operadores históricos de combustíveis fósseis e seu poder lobista, que investem aproximadamente US$ 200 milhões por ano para atrasar, controlar ou impedir políticas de enfrentamento às mudanças climáticas.84

 

Gerenciando o Papel da Liderança Corporativa

Para tomar uma decisão sobre triagem, eutanásia e cuidados paliativos corporativos é preciso criar uma nova forma de liderança corporativa. É preciso rever a formação dos gestores para incluir todas as facetas das mudanças sistêmicas que essas decisões acarretam: transformações corporativas, econômicas e sociais.

  1. Rever os currículos dos cursos de gestão de modo que priorizem pessoas e o planeta.85 Como mostram claramente as sombrias formas de tratamento – triagem, eutanásia e cuidados paliativos – e a lista de questões relevantes levantadas, fazer a transição do setor de combustíveis fósseis é um desafio sistêmico gigantesco. Para enfrentá-lo precisaremos de uma liderança setorial robusta e meticulosa, além do apoio de líderes de negócios, governos e sociedade civil. Também será necessário reavaliar a formação dos futuros líderes. O ensino de administração precisa ser reformulado levando em conta essas premissas.

Nos Estados Unidos,86 na União Europeia87 e em outros países, várias faculdades de administração começam a perceber a crescente necessidade de reduzir os efeitos climáticos e já propuseram a incorporação do tema na grade curricular. O que motivou essa percepção foi a escala com que as mudanças climáticas interferem no mercado, que pode chegar a US$ 26 trilhões até 2030 e criar 65 milhões de novos empregos de baixo carbono. Essas faculdades acreditam que mais de 700.000 mortes prematuras causadas pela poluição do ar poderão ser evitadas.88 Para transformar essa realidade e, elas estão redirecionando seus currículos para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e práticas e analisando formas de transformar os modelos de negócios, a tecnologia e a inovação.89

Essas medidas, embora importantes, são insuficientes, pois contemplam somente um lado da equação: a oportunidade financeira ou o ganha-ganha. As faculdades, em geral, não se preocupam muito com o outro lado da equação: a possibilidade do ganha-perde em alguns setores.90 Essa falha as impede de preparar bem os alunos para administrar uma transição justa e ordenada, quando decisões difíceis precisarão ser tomadas para resolver a crise climática em todas as suas dimensões. Normalmente, as faculdades ensinam os alunos a lançar, desenvolver e manter as corporações, mas não a planejar seu fim. Os futuros líderes precisam aprender a fazer o que as gerações passadas raramente fizeram: pensar criticamente no papel das empresas na sociedade, em seu próprio papel como gestores à frente dessas empresas e em todo o sistema corporativo no qual atuarão.91 Lembrando das palavras de Donald David, reitor da Harvard Business School, em seu ensaio de 1949, “Business Responsibilities in an Uncertain World” (“Responsabilidades Empresariais em um Mundo Incerto”), as empresas precisam de líderes que tornem seus empreendimentos parte de uma “boa sociedade” e que contribuam construtivamente para o bem maior da população e do país.92

As discussões apresentadas abrem novas portas para uma reflexão sobre o papel das empresas na sociedade e como elas funcionarão no século 21. Se os alunos aprenderem a desenvolver as habilidades necessárias para desmontar uma indústria tão complexa e integrada como o setor de combustíveis fósseis, poderão ter uma visão mais completa da intrincada rede de sistemas que forma uma corporação multinacional moderna. É mais simples adotar essas medidas quando a empresa já enfrenta uma situação falimentar ou de liquidação, mas quando a situação financeira da empresa é boa, o nível de complexidade é muito maior. Assim como o mecânico é capaz de entender a complexidade de um motor de combustão interna desmontando-o, o gestor que aprender a desmontar uma companhia e seu setor estará mais bem preparado e será mais bem-sucedido ao construir outro negócio ou setor. A crise climática atual é uma oportunidade perfeita para repensar o ensino da gestão e a forma como ela enfoca setores inteiros, a economia e a natureza do próprio capitalismo.

 

É Hora de Agir

 

Planejar o fim do setor de combustíveis fósseis significa resolver questões tão complexas e interconectadas quanto as próprias mudanças climáticas e sua principal causa: os combustíveis fósseis. Se conseguirmos solucionar essas questões, veremos com mais clareza a dimensão do desafio sistêmico a ser enfrentado e poderemos começar a implementar passos proporcionais ao tamanho do desafio. Se não as solucionarmos, teremos de nos resignar a continuar dependentes dos combustíveis fósseis e nos submeter à calamidade ambiental e econômica.

Todas as questões levantadas se inserem perfeitamente no amplo debate atual sobre o papel das corporações no mercado e no ambiente político e o futuro do capitalismo. Empregados, investidores, seguradoras e outros stakeholders esperam ansiosamente que as companhias ajam com mais vigor no enfrentamento dos atuais desafios sociais e ambientais. Em 2018, em sua carta anual aos CEOs de empresas de capital aberto, Fink, da BlackRock, escreveu  que é responsabilidade deles não só entregar lucros, mas também “contribuir positivamente para a sociedade”.93 A organização sem fins lucrativos Business Roundtable,94 o Fórum Econômico Mundial95 e outros grupos endossaram as palavras de Fink. Diante desse cenário, como as companhias de combustíveis fósseis podem pôr em prática essas pretensões?

Elas precisam agir. Empresas de combustíveis fósseis responsáveis enfrentam a realidade pragmática de que o setor, como o conhecemos, precisa acabar. Precisamos olhar para o mercado e trabalhar com ele para cumprir essa decisão. O mercado – formado por corporações, governo, organizações não governamentais e vários stakeholders que atuam no mercado, como consumidores, fornecedores, compradores, companhias de seguros, bancos e outros – é a força organizadora mais poderosa do planeta, e as empresas são as entidades mais poderosas dessa força. Embora o governo seja um árbitro importante e até vital para o mercado, as corporações transcendem as fronteiras do país e gerenciam recursos que superam os de muitos países. Na verdade, se o mercado não propuser soluções, elas não existirão.96 O mercado está causando as mudanças climáticas, e precisamos impedir que continue.

Notas

1   Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), “Summary for Policymakers”, Climate Change 2014: Impacts, Adaptation, and Vulnerability, 2014.

2   Andrew J. Hoffman, “The Next Phase of Business Sustainability”, Stanford Social Innovation Review, Primavera de 2018.

3   Stockholm Resilience Center, “The Nine Planetary Boundaries”.

4   Elizabeth Kolbert, The Sixth Extinction: An Unnatural History, New York: Henry Holt & Co., 2014.

5   Stephen Fidler, “Environmental Risks Loom Large Among World Economic Forum Members”, The Wall Street Journal, 15 jan. 2020.

6   Jack Ewing, “Climate Change Could Blow Up the Economy. Banks Aren’t Ready”, The New York Times, 23 jan. 2020.

7   Dimitri Zenghelis, “Decarbonization: Innovation and the Economics of Climate Change”, The Political Quarterly, vol. 86, n. S1, 2015.

8   Andrew J. Hoffman, “Climate Change and Our Emerging Cultural Shift”, Behavioral Scientist, 30 set. 2019.

9   World Meteorological Organization, “Four Key Climate Change Indicators Break Records in 2021”, 18 maio 2022.

10 Angela Fritz e Rachel Ramirez, “Earth Is Warming Faster Than Previously Thought, Scientists Say, and the Window Is Closing to Avoid Catastrophic Outcomes”, CNN, 9 ago. 2021.

11 Jonathan Watts, “We Have 12 Years to Limit Climate Change Catastrophe, Warns UN”, The Guardian, 8 out. 2018.

12 Myles R. Allen et al., “Summary for Policymakers”, IPCC, 2018.

13 Ibidem.

14 Rhea Mogul et al., “India and Pakistan Heatwave Is ‘Testing the Limits of Human Survivability’, Expert Says”, CNN, 2 maio 2022.

15 Richard B. Rood, “If We Stopped Emitting Greenhouse Gases Right Now, Would We Stop Climate Change?”, The Conversation, 7 jul. 2017.

16 Petya Trendafilova, “Study Says Carbon Capture Does Not Reduce Emissions Sufficiently”, Carbon Herald, 23 fev. 2022.

17 Karin Rives e Allison Good, “Oil Group’s Net-Zero Goal Shuns Emissions Cuts That Would Threaten Core Assets”, S&P Global Market Intelligence, 29 set. 2021.

18 Hannah Seo, “ExxonMobil’s ‘Net-Zero’ Goals Don’t Address Its Biggest Source of Carbon Emissions”, Popular Science, 19 jan. 2022.

19 BP, BP Net Zero, 2022.

20 Joseph Schumpeter, Capitalism, Socialism, and Democracy, London: Routledge, 1942.

21 Há também exemplos de organizações públicas que provocam o seu próprio desaparecimento. Por exemplo, o Exército Continental desmantelou-se em grande parte após a Guerra Revolucionária; as primeiras formas de estatutos corporativos foram desmanteladas por desígnio após cumprirem o seu objetivo; as pequenas cidades com populações em declínio votam frequentemente para se desintegrar; novos governos formados após a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) desmantelaram empresas públicas, eutanizando o Estado a fim de vender os seus bens; grupos de defesa votaram a favor do desmantelamento quando receavam que as suas organizações fossem capturadas e utilizadas para fins antitéticos à sua causa; os governos podem apelar a uma convenção constitucional para redesenhar o seu propósito.

22 Larry Fink, “Larry Fink’s 2022 letter to CEOS”, BlackRock, 2022.

23 Miguel Cubano e Martha Lenhart, eds., Emergency War Surgery, Departamento de Defesa dos Estados Unidos, 2014.

24 Stanley Reed, “Third Point, an Activist Investor, Is Calling for a Breakup of Royal Dutch Shell”, The New York Times, 28 out. 2021.

25 Ron Bousso and Dmitry Zhdannikov, “BP Quits Russia in up to $25 Billion Hit After Ukraine Invasion”, Reuters, 28 fev. 2022.

26 Adam Morton e Peter Hannam, “Mike Cannon-Brookes and Brookfield in Bid to Take Over AGL and Shut Down Coal Plants Earlier”, The Guardian, 20 fev. 2022.

27 CVS Health, “CVS Caremark to Stop Selling Tobacco at All CVS/Pharmacy Locations”, 5 fev. 2014.

28 Dicionário Michaelis, www.michaelis.uol.br.

29 John M. Keynes, “The General Theory of Employment”, The Quarterly Journal of Economics, vol. 51, n. 2, 1937.

30 Joseph E. Stiglitz, “Inequality and Economic Growth”, The Political Quarterly, vol. 86, n. S1, 2015.

31 Naomi Oreskes e Erick M. Conway, Merchants of Doubt: How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues From Tobacco Smoke to Global Warming, New York: Bloomsbury Press, 2010.

32 Jonathan Cohn, “Winning the War on Tobacco—and Public Cynicism, Too”, The Milbank Quarterly, vol. 94, n. 4, 2016.

33 Geoffrey Supran e Naomi Oreskes, “Rhetoric and Frame Analysis of ExxonMobil’s Climate Change Communications”, One Earth, vol. 4, n. 5, 2021.

34 Ibidem

35 Mei Li, Gregory Trencher e Jusen Asuka, “The Clean Energy Claims of BP, Chevron, ExxonMobil, and Shell: A Mismatch Between Discourse, Actions, and Investments”, PLOS One, 16 fev. 2022.

36 Fórum Econômico Mundial, The New Plastics Economy: Rethinking the Future of Plastics, jan. 2016.

37 Supran e Oreskes, “Rhetoric and Frame Analysis”.

38 Oliver Milman, “US Fossil Fuel Industry Leaps on Russia’s Invasion of Ukraine to Argue for More Drilling”, The Guardian, 26 fev. 2022.

39 Nate Raymond, “Exxon Must Face Massachusetts Climate Change Lawsuit, Court Rules”, Reuters, 24 maio 2022.

40 US Department of Health and Human Services, National Institutes of Health, National Institute on Aging, “What Are Palliative Care and Hospice Care?”.

41 Elizabeth Kübler-Ross, Living With Death and Dying, New York: Scribner, 1997.

42 IEA, Net Zero by 2050, maio 2021.

43 National Hospice and Palliative Care Organization, “Hospice Care Overview for Professionals”, 2019.

44 CBC News, “Come by Chance Refinery Sold, Will Become Biofuel Operation by Mid-2022”, 30 nov. 2021.

45 Saijel Kishan e Alastair Marsh, “Brookfield Sees ‘Massive’ Opportunities in Energy Shift”, Bloomberg, 9 dez. 2019.

46 Naomi Barker et al., Enacting Systems Change: Precompetitive Collaboration to Address Persistent Global Problems, University of Michigan and IMAGINE, 2021.

47 Adam Mayer, “A Just Transition for Coal Miners? Community Identity and Support from Local Policy Actors”, Environmental Innovation and Societal Transitions, vol. 28, n. 9, 2018.

48 Dean Baker e Aiden Lee, The Employment Impact of Curtailing Fossil Fuel Use, Washington, D.C.: Center for Economic and Policy Research, 2021.

49 PWC, Economic Impacts of the Oil and Natural Gas Industry in the US Economy in 2011, jul. 2013.

50 Andrew Winston e Hunter Lovins, “Fossil Fuel Jobs Will Disappear, So Now What?”, MIT Sloan Management Review, 13 maio 2021.

51 Baker e Lee, The Employment Impact.

52 Xavier Garcia Casals, Bishal Parajuli e Rabia Ferroukhi, Measuring the Socio-Economics of Transition: Focus on Jobs, Abu Dhabi: Agência Internacional de Energia Renovável, 2020.

53 Chris McGreal, “Rightwing Lobby Group ALEC Driving Laws to Blacklist Companies That Boycott the Oil Industry”, The Guardian, 8 fev. 2022.

54 Dan Patrick, “Lt. Gov. Dan Patrick: Letter to Comptroller Hegar to Place BlackRock at the Top of the List of Financial Companies That Boycott the Texas Oil & Gas Industry”, 19 jan. 2022.

55 Silvio Marcacci, “Renewable Energy Job Boom Creates Economic Opportunity as Coal Industry Slumps”, Forbes, 10 dez. 2021.

56 Betsy Lillian, “DOE Report Confirms Wind Energy Costs at All-Time Lows”, North American Windpower, 15 ago. 2019.

57 Goksin Kavlak, James McNerney e Jessika Trancik, “Evaluating the Causes of Cost Reduction in Photovoltaic Modules”, Energy Policy, vol. 123, n. 12, 2018.

58 Business Wire, “Global Renewable Energy Industry Guide 2021: Value and Volume 2016-2020 and Forecast to 2025”, 2 set. 2021.

59 Investopedia, “What Percentage of the Global Economy is the Oil and Gas Drilling Sector?”, 9 jul. 2021.

60 Cision PR Newswire, “Renewable Energy Market to Garner $1,977.6 Bn, Globally, by 2030 at 8.4% CAGR”, 24 jan. 2022.

61 GlobeNewswire, “Base Oil Market Size to Reach $41.7 Billion by 2030”, 22 mar. 2022.

62 Govind Bhutada, “Ranked: The Largest Oil and Gas Companies in the World”, Visual Capitalist, 25 out. 2021.

63 Catherine Clifford, “60 Largest Banks in the World Have Invested $3.8 Trillion in Fossil Fuels Since the Paris Agreement,” CNBC, 24 mar. 2021.

64 Oliver Milman, “Exclusive: Oil Companies’ Profits Soared to $174bn This Year as US Gas Prices Rose”, The Guardian, 6 dez. 2021.

65 Worldometer, “Oil Left in the World”.

66 Johannes Urpelainen, “Fossil Fuels: Save the Workers, Kill the Industry”, The Hill, 30 abr. 2020.

67 PWC, Economic Impacts.

68 ScottMadden, “Fossil Has More Than 50% of Energy Industry Jobs Yet Renewables Drive Future”, 21 jun. 2017.

69 API, “New Analysis: Wyoming-Made Natural Gas and Oil Drives US Economic Recovery, Strengthens All Industries”, 20 jul. 2021.

70 PWC, Economic Impacts.

71 Brad Plumer, “Quitting Oil Income Is Hard, Even for States That Want Climate Action”, The New York Times, 7 jul. 2022.

72 Urpelainen, “Fossil Fuels”.

73 Hannah Thomas-Peter, “Fossil Fuel Firms Sue Governments Across the World for £13bn as Climate Policies Threaten Profits”, Sky News, 16 set. 2021.

74 US Department of Transportation Pipeline and Hazardous Materials Safety Administration, “General Pipeline FAQs”.

75 US Energy Information Administration, “Frequently Asked Questions (FAQs)”.

76 US Environmental Protection Agency, “Underground Storage Tanks (USTs)”.

77 US Government Accounting Office, Aboveground Oil Storage Tanks: Status of EPA’s Efforts to Improve Regulation and Inspections, 18 jul. 1995.

78 API, “Service Station FAQs”.

79 McKinsey Energy Insights, “Refinery Reference Desk”.

80 Mariana Mazzucato, “Innovation, the State, and Patient Capital”, The Political Quarterly, vol. 86, n. S1, 2015.

81 Ole K. Helgesen, “Equinor’s Energy Transition Plan Promises Resilience … Within Limits”, Upstream, 27 abr. 2022.

82 Tania Bryer, “World Spends $423 Billion a Year to Subsidize Fossil Fuels, UN Research Says”, CNBC, 29 out. 2021.

83 Tomer, Kane e George, How Renewable Energy.

84 Sandra Laville, “Top Oil Firms Spending Millions Lobbying to Block Climate Change Policies, Says Report”, The Guardian, 21 mar. 2019.

85 Andrew J. Hoffman, “Business Education as If People and the Planet Really Matter”, Strategic Organization, vol. 19, n. 3, 2021.

86 John A. Byrne, “Columbia Business School’s Big Bet on Climate Change”, Poets and Quants, 13 dez. 2021; Claire Stowe, “Georgetown to Launch New Masters Program for Environment, Sustainability Management”, The Hoya, 1º set. 2021; NYU Stern Center for Sustainable Business, “A Better World Through Better Business”.

87 Riley Webster, “The Business School Putting Sustainability at the Center of Its MBA”, Poets and Quants, 17 dez. 2021; HEC Paris, “Leading European Business Schools Unite to Accelerate Business Response to Climate Crisis”, 10 dez.2021.

88 Organização das Nações Unidas, “Financing Climate Action”.

89 Concepción Galdón et al., “Business Schools Must Do More to Address the Climate Crisis”, Harvard Business Review, 1º fev. 2022.

90 Anand Giridharadas, Winners Take All: The Elite Charade of Changing the World, New York: Alfred A. Knopf, 2018.

91 Andrew J. Hoffman, Management as a Calling: Leading Business, Serving Society, Palo Alto, California: Stanford University Press, 2021.

92 Donald Kirk David, “Business Responsibilities in an Uncertain World”, Harvard Business Review, maio 1949.

93 Fink, “Larry Fink’s 2022 Letter”.

94 David Gelles e David Yaffe-Bellany, “Shareholder Value Is No Longer Everything, Top CEOs Say”, The New York Times, 19 ago. 2019.

95 Klaus Schwab, “Davos Manifesto 2020: The Universal Purpose of a Company in the Fourth Industrial Revolution”, Fórum Econômico Mundial, 2020.

96 Andrew J. Hoffman, Management as a Calling: Leading Business, Serving Society, Redwood City, California: Stanford University Press, 2021

OS AUTORES

Andrew J. Hoffman é professor de Empreendimentos Sustentáveis na University of Michigan, Ross School of Business e na School for Environment and Sustainability.

Douglas M. Ely é aluno de pós-graduação da Ross School of Business e da School for Environment and Sustainability, da University of Michigan.

Os autores gostariam de agradecer a Henry Lee, Dan Schrag, e aos participantes no 2021 BP/Harvard/Tufts Symposium on Climate and Energy Policy e na série 2022 Harvard Kennedy School Energy Policy Seminar pela opinião e discussão das versões anteriores deste artigo.



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