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A dança entre empresas B e incumbentes

Corporações regulares e B Corps continuam a lutar pelo domínio sobre o rótulo de responsabilidade social corporativa.

Por Chana R. Schoenberger

Ilustração: Adam McCauley
Ilustração: Adam McCauley

À medida que empresas, especialmente as de capital aberto, adotam metas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), os mercados começam a precificar a adesão de corporações a valores diferentes dos relacionados com o capitalismo rígido de shareholder.

Um novo artigo científico tem como foco empresas que estão no centro de um movimento que visa criar companhias legalmente comprometidas com a defesa dos valores ESG. Conhecidas como Empresas B, elas alcançam uma certificação formal do B Lab, organização sem fins lucrativos que mostra seu compromisso em promover o bem público para uma gama mais ampla de stakeholders.

Suntae Kim, professor assistente de gestão e organização do Boston College, e Todd Schifeling, professor assistente de gestão da Fox School of Business da Temple University, ambas nos Estados Unidos, – analisaram os efeitos mútuos entre Empresas B e empresas incumbentes. Utilizando bancos de dados de corporações, eles calcularam demissões em massa, desigualdade de renda entre executivos e trabalhadores de salário médio, bem como recompras de ações – todas evidências de um clássico comportamento de capitalismo industrial de shareholders. Ao fazer a comparação com o catálogo de Empresas B do B Lab, eles descobriram que, quanto mais empresas em uma indústria exibem esses comportamentos, maior a prevalência de formação de Empresas B no setor.

Os professores mensuraram também a adesão pública das corporações à responsabilidade social empresarial (RSE), examinando marcas comerciais, reputação pública de RSE e aquisições de empresas com responsabilidade RSE. Os dados mostraram que uma maior atividade de RSE em uma indústria aumenta a formação de Empresas B. Empresas orientadas pelo lucro aparentemente reagiam ao nível de interesse do mercado pela RSE, demonstrando publicamente sua fidelidade à ideia, e durante o mesmo período empresas socialmente atentas se movimentavam para codificar sua própria RSE e buscar a rigorosa certificação de Empresa B.

Os autores constataram que as Empresas B mencionaram duas razões principais para conseguir a certificação. Primeiro, “o desejo de ir contra essa maximização do valor dado ao acionista por corporações hipercapitalistas, insensíveis, e ‘mudar o mundo’”, afirma Kim. Segundo, empresas orientadas pelo lucro usam a sustentabilidade como marketing, as Empresas B sentiram que eram “negócios sustentáveis originais” e queriam ser reconhecidas por seus esforços de longo prazo, diz ele.

Kim se interessou em estudar as Empresas B nos primórdios do movimento, em torno de 2010. “As Empresas B estavam surgindo não só contra corporações que priorizam os shareholders, mas também contra aquelas que abraçavam a sustentabilidade e publicidade, desenvolvendo muitas atividades relacionadas com RSE”, diz ele.

O esforço das Empresas B para se diferenciar foi uma das descobertas mais surpreendentes da pesquisa, afirma Kim. Também inesperada foi a maneira como a onda de Empresas B mudou ao longo do tempo, mantendo “um tênue equilíbrio entre a expansão do movimento e a preservação do seu ethos original”. Movimentos alternativos anteriores, como o do comércio justo ou da agricultura orgânica, focaram na expansão, o que possibilitou a participação de players como Starbucks ou Nestlé. Como resultado, “seus padrões têm sido diluídos e seus movimentos foram cooptados pelas incumbentes”, afirma Kim. Os adeptos das empresas B, por outro lado, tomaram um caminho intermediário, expandindo aos poucos suas fileiras sem enfraquecer suas certificações.

Essas descobertas trazem amplas implicações para a teoria industrial. Os pesquisadores concluem que a “contramobilização das incumbentes não só atenua ameaças ao seu domínio em curto prazo, como estimula a evolução de movimentos desafiadores, semeando desafios revitalizadores em longo prazo. Portanto, a contestação segue, não apesar da resistência das incumbentes, mas exatamente por causa dela”.

Corporações comuns e Empresas B continuam a lutar pela dominância do rótulo ESG, uma batalha que não vai acabar até que os capitalistas de shareholders alterem suas estruturas organizacionais inteiramente – o que os tornaria mais alinhados com o capitalismo de stakeholders, concluem.

“O caso das Empresas B levanta a possibilidade de que a adesão meramente aparente das corporações à crítica pode revigorar a oposição, piorando a crise no longo prazo”, escrevem os pesquisadores. “Para evitar maior perigo, líderes corporativos teriam que acolher as críticas, alterando não apenas a fachada, mas a substância de suas operações.”

A importância do artigo está na constatação de que os esforços das empresas de shareholders para parecerem sustentavelmente atualizadas tornou as empresas de stakeholders ainda mais determinadas em fortalecer seu movimento contra essa forma de governança, afirma Michael Lounsbury, professor da Alberta University.

“O artigo mostra que, se tivermos uma visão mais ampla e institucional do movimento RSE, veremos como os esforços das corporações para responder a esses princípios de maneira meramente simbólica catalisam novos movimentos de reforma (como o movimento de Empresas B), o que pode, em conjunto, levar a uma mudança mais substantiva do sistema em favor do capitalismo de stakeholders”, diz Lounsbury.

Segundo ele, a pesquisa também aponta para uma nova descoberta sobre como as organizações reagem a desafios externos: “O artigo sugere que, quando uma onda origina outra, a trajetória de mudança institucional também pode mudar de evolutiva para mais revolucionária”.

 

Suntae Kim e Todd Schifeling, “Good Corp, Bad Corp, and the Rise of B Corps: How Market Incumbents’ Diverse Responses Reinvigorate Challengers”, Administrative Science Quarterly, 2022.

 

A AUTORA

Chana R. Schoenberger é jornalista e vive na cidade de Nova York. Escreve sobre negócios, finanças e pesquisa acadêmica. Ela pode ser encontrada no Twitter: @cschoenberger.



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