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Debate: Giorgos Demetriou, Claire Hammon e Valentina Ort

A colaboração é um fator essencial para a descoberta e a expansão de abordagens inovadoras que podem levar a indústria da moda à circularidade.

Por Giorgos Demetriou, Claire Hammon e Valentina Ort

Aplaudimos Ken Pucker por recordar os líderes da indústria de seu papel fundamental na adoção de práticas mais sustentáveis para o fomento da economia circular e concordamos com seu apelo para que aceleremos a colaboração intersetorial na produção, a fim de que essas práticas prosperem. Se a indústria da moda está genuinamente comprometida com a transição para uma economia circular, deve abandonar o pensamento isolado e adotar uma mentalidade colaborativa para estabelecer padrões de produção responsáveis com o intuito de reduzir resíduos.

A colaboração é um incentivo essencial para a descoberta e a ampliação de abordagens inovadoras capazes de conduzir a indústria da moda rumo à circularidade, e vemos na simbiose industrial uma abordagem bastante promissora. Criada pela professora de gestão ambiental industrial Marian R. Chertow, a simbiose industrial é um método que diversas indústrias adotaram para se juntarem e obterem vantagem competitiva graças ao intercâmbio de materiais, energia, água e subprodutos. A abordagem enfrenta o problema dos resíduos têxteis transformando as sobras de um setor no recurso de outro. Tanto a União Europeia quanto a Comissão Europeia adotaram essa estratégia para promover circularidade.

Reduzir o consumo de recurso e reutilizar o que já se possui – duas das estratégias 3Rs para mitigar o desperdício (reduzir, reutilizar e reciclar) – são fatores fundamentais para a simbiose industrial. Levando em conta o papel fundamental que pode desempenhar na promoção de padrões responsáveis de produção, surpreende o fato de Pucker aludir ao método somente ao mencionar o desafio de conectar fluxos de resíduos à produção de reciclagem. De modo específico, ele postula que o consumo excessivo, maior produtor de resíduo têxtil, continua sendo não só “a fonte mais poderosa” para que a moda alcance a circularidade, mas também a “mais difícil de alterar”. Como Pucker observa, a economia linear, predominante na indústria da moda, gera produtos baratos e descartáveis que incentivam altos níveis de consumo essenciais para a lucratividade e o sucesso das empresas do setor – por isso sua principal crítica às empresas recai sobre a Sustentabilidade S.A., cujos esforços coletivos de circularidade se resumem a pequenos ajustes em seus antigos modelos de negócio lineares.

Romper a dependência desses modelos de negócios profundamente arraigados exige investimento substancial em recursos financeiros e técnicos. No entanto, o risco e a incerteza associados ao custo inicial de mudar para modelos circulares, bem como preocupações com a lucratividade, fazem com que essas grandes empresas sejam menos ágeis na identificação de oportunidades para práticas circulares e colaborações intersetoriais do que empresas de médio porte da indústria da moda.

Empresas relutantes em adotar a circularidade podem se valer de estudos minuciosos que mostram casos bem-sucedidos de simbiose industrial e usá-los para orientar sua transição rumo a um modelo de negócio circular. Nossas pesquisas no Centro de Pesquisa de Economia Circular (Cerc, na sigla em inglês) revelam que a economia circular altera fundamentalmente a manufatura e o consumo de produtos e serviços. O desafio premente, do ponto de vista das empresas, é alcançar crescimento econômico sustentável e proteger o ambiente natural. No Cerc, temos visto evidências crescentes de que modelos de negócio, simbiose industrial e empreendedorismo são fundamentais para o sucesso da circularidade, uma vez que esses elementos facilitam a criação de soluções inovadoras, sustentáveis e economicamente viáveis que ressaltam a eficácia de recursos e a proteção ambiental. Empresas de pequeno e médio portes, ao lado de corporações multinacionais, podem transformar suas operações investindo na simbiose industrial e reconhecendo a importância estratégica de colaborações intersetoriais e parcerias de economia circular.

No entanto, a simbiose industrial não oferece, por si só, uma solução abrangente para o problema do consumo global ou para os efeitos que o excesso dele provoca no clima, embora tenha um tremendo potencial para promover iniciativas em direção à neutralidade de carbono e gerar benefícios micro e macroeconômicos. Grandes corporações com cadeias de valores globais extensas podem utilizar a simbiose industrial para enfrentar as inúmeras barreiras à circularidade apresentadas por Pucker. Além disso, podem impulsionar estratégias de redução e reutilização – o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU de número 12 de consumo e produção responsáveis –, comprometendo-se com novos modelos de negócios que gerem receita com base na otimização de fluxos de recursos dissociados da produção de matéria-prima.

Em última análise, especialistas como Ken Pucker devem ratificar a simbiose industrial como a solução viável para os inúmeros desafios de sustentabilidade enfrentados pela indústria da moda, a fim de que essa abordagem possa conquistar uma aceitação ampla.

OS AUTORES

Giorgos Demetriou é diretor do Centro de Pesquisa de Economia Circular da École des Ponts Business School.

Claire Hammon é doutoranda dedicada a inovação centrada nas pessoas e em inovação social, na École des Ponts Business School.

Valentina Ort é pesquisadora do Centro de Pesquisa de Economia Circular da École des Ponts Business School.



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