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A filantropia corporativa da Índia

Como as empresas podem direcionar seus gastos para caridade quando são obrigadas a doar?

Por Chana R. Schoenberger

(Ilustração de Paul Wearing)

Em um novo artigo, duas estudiosas de negócios* examinam o que aconteceu na Índia, quando uma lei de 2013 determinou que empresas acima de certo porte ou limite gastassem pelo menos 2% de seus lucros líquidos em iniciativas sociais. Elas descobriram que despesas filantrópicas de empresas indianas foram, em geral, influenciadas pelo desejo de apaziguar importantes grupos de investidores.

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As autoras – Aline Gatignon, professora assistente de gestão na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia, e Christiane Bode, professora assistente de estratégia na Escola de Negócios do Imperial College de Londres – analisaram uma imensa coleção de dados para determinar quantas e quais causas elas priorizavam, para onde as empresas direcionavam fundos em termos geográficos e se elas trabalhavam diretamente nessas causas ou em parceria com ONGs.

Gatignon e Bode usaram dados do Ministério Indiano de Assuntos Corporativos relativos a 12.086 empresas e 86.755 projetos de caridade no período de 2014 a 2017. Os dados revelam que a maioria dos projetos financiados sob a lei (55,7%) tinha como objetivo resolver problemas de educação e saúde, com 6,1% destinados ao desenvolvimento rural; 5,6% para o combate à pobreza e trabalho contra a fome; e 5,1% para sustentabilidade ambiental. Metade das empresas optou por gerir seus próprios projetos, enquanto 39% delas trabalharam com organizações sem fins lucrativos para pôr seu financiamento em ação.

Olhando os dados sob quatro diferentes óticas de análise, Gatignon e Bode descobriram que as escolhas das empresas indianas por gastos de responsabilidade social corporativa (CSR, na sigla em inglês) foram consistentes com uma abordagem de “investidor instrumental”: elas selecionaram locais, projetos, parceiros e causas que acharam que as fariam parecer melhor diante de importantes grupos de interessados, como investidores, clientes e governo. Por exemplo, empresas priorizaram educação e saúde mesmo em regiões onde a educação e os recursos para saúde eram abundantes.

As autoras também viram uma oportunidade perdida: as empresas estavam doando dinheiro, mas não acompanhavam suas doações com contribuições de conhecimento ou escolhendo setores em que tivessem especial qualificação para ajudar.

“As empresas adotam duas principais estratégias de CSR: a primeira e mais comum tem foco restrito, enquanto a segunda, seguida por poucos (normalmente empresas líderes e estatais), é mais ampla”, escrevem. “Embora a segunda gere uma diferenciação mais forte e maior potencial de impacto social, nenhuma estratégia alavanca a eficiência comparativa das empresas sobre os atores sem fins lucrativos.”

As autoras tiveram a ideia do questionamento da pesquisa porque a lei de CSR da Índia – um encargo “pioneiro” incomum no mundo – gerou uma série única de arquivos corporativos. O banco de dados continha perspectivas potencialmente reveladoras sobre filantropia corporativa no mundo em desenvolvimento, uma área em que estudiosos “realmente sofrem” para encontrar dados, diz Gatignon.

A lei de CSR foi um importante passo para a Índia, “um país enorme com uma grande população, mas diversas questões sociais a encarar”, diz Gatignon. “É o tipo de inovação regulatória que outros países podem estar procurando.” Uma legislação semelhante em todo o mundo poderia ajudar a movimentar dinheiro corporativo e conhecimento para o terceiro setor.

“A pesquisa oferece uma das mais abrangentes análises dos padrões de gastos sociais dos milhares de empresas afetadas pela lei de CSR”, diz Ramakrishna Nidumolu, professor de comportamento organizacional na Escola Indiana de Negócios. “As descobertas são importantes porque sugerem que gastos com CSR geralmente são mais voltados para satisfazer investidores do que para alavancar as eficiências comparativas das empresas ou visar as causas mais carentes.”

*Aline Gatignon e Christiane Bode, “When Few Give to Many and Many Give to Few: Corporate Social Responsibility Strategies Under India’s Legal Mandate”, Strategic Management Journal.

 

A AUTORA

Chana R. Schoenberger é jornalista, escreve sobre negócios, finanças e pesquisas acadêmicas. Mora em Nova York e pode ser encontrada no Twitter: @cschoenberger



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