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Para os investidores, o protesto supera o desinvestimento

Por Daniela Blei

(Ilustração de Adam McCauley)

Luigi Zingales, professor de finanças na Booth School of Business da University of Chicago, estuda governança corporativa. A pesquisa que desenvolve questiona como os investidores e outros grupos, como clientes e colaboradores, transmitem seus valores e preferências aos executivos.

Para a maioria das empresas, atender às diferentes prioridades de muitos grupos pode parecer impossível. Milton Friedman, economista vencedor do Prêmio Nobel e defensor da teoria do livre mercado, argumentou que as empresas deveriam simplesmente se concentrar em seus resultados, maximizando os lucros a serem distribuídos como dividendos e usados da maneira que os acionistas quisessem. Mas Zingales vê as coisas de forma diferente.

Em um novo artigo com seu ex-assessor Oliver Hart, professor de economia da Harvard University e Prêmio Nobel, e Eleonora Broccardo, professora de economia da Università di Trento, na Itália, Zingales avalia a eficácia de duas estratégias que os grupos costumam empregar para induzir executivos a fazer mais do que apenas maximizar os lucros. Os pesquisadores verificaram que os investidores social e ambientalmente responsáveis podem influenciar a gestão e mudar a política corporativa para beneficiar o bem maior – ao mesmo tempo que contribuem para os resultados da empresa.

Com um modelo teórico para comparar duas estratégias, os pesquisadores testaram a saída e a voz, termos criados para os tipos de pressão que os stakeholders podem exercer em uma empresa. Enquanto a saída significa “votar com os pés”, por meio de desinvestimentos ou boicotes a clientes e colaboradores, a voz se refere ao engajamento com a administração corporativa, em geral por meio do voto de acionistas, para comunicar suas preferências. As crescentes preocupações sociais e ambientais no ativismo acionista intensificaram a pressão para que os investidores efetuem mudanças. Mas qual estratégia os investidores devem seguir para impactar os resultados corporativos só recentemente passou a ser considerada.

Os pesquisadores construíram um modelo que assume que a maioria dos investidores é, ao menos, ligeiramente “pró-social” ou socialmente responsável e mantém carteiras “bem diversificadas” que incluem uma variedade de investimentos, e que os acionistas votarão de acordo com suas preferências. Com base nessas e em outras suposições básicas, Zingales e seus colegas estabeleceram que a estratégia de voz é muito mais provável do que a de saída para alcançar resultados socialmente desejáveis.

Os pesquisadores citam como exemplo o dano ambiental causado pela poluição para melhor detalhar os incentivos e os custos de campanhas de desinvestimento e boicotes. Ao investigar um caso conhecido de 1984, quando a empresa química DuPont (atual Dow Chemical) confrontou uma decisão entre poluir o rio Ohio com uma substância tóxica e investir em incineração, os pesquisadores encontraram evidências de que a estratégia de saída não obteve bons resultados para o ambiente. A saída não apenas falhou em convencer a empresa a pagar pela limpeza, mas também atores que não estavam interessados no bem-estar social puderam minar a estratégia de saída. Investidores com mentalidade social que procuram punir uma empresa podem vender ações, baixar seus preços e atrair a atenção do público, mas uma consequência não intencional é que esses atores egoístas terão novas oportunidades de investimento para comprar ações e aumentar seus preços, esmagando assim os incentivos para os executivos agirem.

Para os pesquisadores, o resultado surpreendente foi que a voz provou ser altamente vantajosa para promover mudanças corporativas. “O mundo de Friedman é conveniente, no qual você não precisa saber muito. Só que mais é melhor do que menos”, diz Zingales. “Tentamos maximizar os lucros e é isso. Mas e se os investidores não gostarem da maneira como a empresa está maximizando os lucros?”

Ao demonstrar que a maioria dos investidores estava disposta a aceitar ações com um preço ligeiramente mais baixo, desde que o impacto social de suas decisões superasse os custos, os pesquisadores derrubaram a visão convencional. “Este artigo fornece uma estrutura única por meio da qual o debate sobre a maximização do acionista versus a maximização do stakeholder pode ser resolvido”, diz Amit Seru, professor de finanças da Stanford Graduate School of Business. Os investidores alcançaram o resultado socialmente ideal ao se comunicar e se envolver com os executivos.

“A melhor maneira de fazer a diferença é engajar, não desinvestir”, afirma Zingales. “O desafio é que hoje a maioria das ações pertence a investidores institucionais, como a BlackRock, o que dificulta comunicar as preferências a uma empresa. Precisamos implementar mecanismos para transmitir essas preferências dos investidores às empresas.”

 

A AUTORA

Daniela Blei é historiadora, escritora e editora de livros acadêmicos. Seus artigos podem ser lidos em daniela-blei.com/writing. Ela tuíta esporadicamente: @tothelastpage



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