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Aprofundar as relações para mudar os sistemas

As relações são fundamentais para a mudança coletiva e para desenvolver laços profundos de empatia que ajudem a encontrar soluções sistêmicas para os problemas sociais.

Por Juanita Zerda, Katherine Milligan e John Kania

Ilustração por Samara Romão

Às vezes perdemos de vista uma verdade simples sobre os sistemas: eles são formados por pessoas. Apesar de todas as estruturas e ferramentas à nossa disposição e de todo o nosso aprendizado  prático, as abordagens puramente técnicas e racionais não conseguem incidir sobre as dinâmicas de poder ou alterar crenças enraizadas em nossos sistemas. Se a maioria dos esforços de mudança  coletiva não leva as pessoas a mudar fundamentalmente sua consciência e seus modelos mentais, então o sistema do qual fazem parte também não mudará de maneira significativa.

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No  entanto, nas últimas duas décadas, a opinião predominante entre muitos financiadores, diretores de conselho de administração e líderes institucionais tem sido a de que só se pode gerar impacto social por meio de resultados predeterminados e quantificáveis. Porém, se os últimos três anos e suas divisões e crises inter-relacionadas, devastadoras e cada vez mais profundas nos ensinaram  alguma coisa, é que os problemas complexos e adaptativos desafiam modelos lógicos e soluções exclusivamente técnicas e redutoras. Para transformar nossos sistemas, é hora de investir nossa  energia coletiva em abordagens mais emergentes e relacionais.

 

Admitir o Desenvolvimento e Priorizar as Relações

 

As relações são a essência e a trama da mudança coletiva. Como consequência,  aqueles que facilitam esforços de mudança coletiva devem apoiar o desenvolvimento de relações que gerem verdadeira empatia e compaixão, de forma que possam produzir conexões autênticas,  em especial entre participantes de diversas origens. Essas conexões mais profundas podem gerar novos caminhos de inovação para enfrentar nossos profundos problemas sociais.

Um exemplo é o  trabalho da organização Dunna, na Colômbia, criada em 2010 para conceber, implementar e avaliar estratégias alternativas de construção da paz. Em seu primeiro projeto, a Dunna  desenvolveu um modelo para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) de ex-combatentes de um grupo armado ilegal que lutou na guerrilha. A desmobilização do grupo teve início  em 2006 e desde então havia uma alta prevalência de TEPT entre seus membros. A Dunna começou a trabalhar com eles para responder aos enormes desafios de romper ciclos profundos de  violência e alcançar uma paz real e sustentável.

Desde então, a organização aplica abordagens holísticas e emergentes com múltiplos atores do sistema, enfrentando e curando traumas individuais  e coletivos e gerando a empatia e a capacidade de agência necessárias para reconstruir e transformar o tecido social. Tais abordagens – que foram avaliadas por entidades  independentes como a Universidad de los Andes, de Bogotá, na Colômbia – incluem ferramentas como práticas restaurativas e técnicas psicofísicas. São estratégias universais que em muitos  casos foram esquecidas ou eram praticadas apenas por comunidades indígenas.

Os espaços seguros estabelecidos pela Dunna por meio de círculos restaurativos que propiciam a construção de  uma nova trama social são um exemplo. Essa prática parte de uma configuração circular em que todos os participantes – incluídos os facilitadores – se comunicam horizontalmente, o que  possibilita a cada pessoa ser vista e ouvida e que sua experiência de vida seja validada sem julgamento pelos demais membros da comunidade. Nesses círculos restaurativos, o facilitador promove  a escuta ativa e o compartilhamento a partir do coração em um espaço confidencial, investido do ritual e da sacralidade da cura coletiva. À medida que as experiências são compartilhadas no  círculo, os facilitadores acompanham os participantes no trânsito das emoções que surgem no espaço com o uso de métodos para conectar mente e corpo.

Como demonstra o trabalho da Dunna,  progredir de forma significativa nos complexos desafios de nosso tempo requer formas totalmente diferentes de trabalhar em conjunto e que priorizem as práticas relacionais. De acordo com  pesquisas e conversas com profissionais envolvidos nessas práticas de mudança transformadora, especialmente aquelas que provêm de culturas não dominantes, as formas de trabalho mais  radicais e relacionais em geral apresentam cinco qualidades em comum: 1) engajam-se em um trabalho relacional profundo; 2) cultivam um espaço para a cura; 3) convidam à serendipidade e ao  sagrado; 4) atendem à mudança interna e externa; e 5) transformam as dinâmicas de poder. Na prática, essas qualidades nunca estão sozinhas, mas funcionam de maneira íntima e inter- relacionada e, assim, apoiam a transformação dos sistemas.

1. Engajar em um Trabalho Relacional Profundo

 

Tudo aquilo que sabemos sobre sistemas nos diz que as relações ocupam lugar  central. A maioria dos líderes da mudança coletiva adere a este mantra: se você quer mudar o sistema, traga o sistema para a sala. Como disse Brenda Zimmerman, a teórica de sistemas falecida  em 2014: “A unidade de análise mais importante em um sistema não é a parte (por exemplo, o indivíduo, a organização ou a instituição), mas a relação entre as partes”. Quando falamos em  trabalho relacional profundo, nos referimos a uma forma fundamentalmente diferente de estar em relação. Isso começa com a criação de ambientes seguros em que os participantes, em especial aqueles sem poder institucional, podem se expressar livremente e ser vulneráveis, conectar-se uns com os outros e sentir sua humanidade comum.

Com atuação em territórios de violência  complexa na América Latina e em outras partes do mundo, a fundação colombiana TAAP, utiliza as artes e a comunicação para o desenvolvimento e o aprendizado. Por meio delas, cria  oportunidades de expressão e desenvolve potencial criativo para que as comunidades possam viver em paz e alcançar o bem-estar. Um exemplo é o Pazificarte, um programa que capacita jovens  na remota região de Chocó para que se tornem líderes de suas comunidades e resolvam conflitos por meio de técnicas criativas de comunicação e mediação.

Inicialmente, a fundação implementou  programas destinados a promover a educação e o desenvolvimento profissional de comunidades vulneráveis da Colômbia. No entanto, com o passar do tempo, começou a perceber  que os avanços retrocediam quando as pessoas voltavam para seu bairro, sua casa ou sua escola, onde continuavam sofrendo alta discriminação e violência. “O progresso não pode ser separado  em caixinhas. Se não houver harmonia entre as pessoas de uma comunidade, não pode haver progresso e paz. Tudo está interligado”, explica Gaby Arenas de Meneses, diretora e fundadora da  TAAP.

A organização decidiu então começar a oferecer métodos para mudar completamente as relações entre diversos atores ao apoiar formas de expressão criativa e de desenvolvimento pessoal  que possibilitam pessoas de origens muito diferentes descobrirem sua humanidade comum. A arte cria espaços para que as pessoas se relacionem de forma radicalmente diferente, tenham acesso  a sentimentos reprimidos pelo medo e consigam criar um senso de história e de realidade do qual todos se sintam parte. Os programas da TAAP promovem a tolerância e a empatia, capacitam as  comunidades a expressar conflitos de maneira saudável e mudam os padrões de comunicação – antes baseados na ausência e na agressão. Esses programas foram criados para que diferentes  atores sociais possam abordar questões como respeito, diversidade e tolerância, para que consigam expressar suas ideias sem constrangimentos e para que sejam capazes de construir relações  mais profundas ao destacar as histórias que têm em comum.

Para Gaby Arenas, “só pode haver mudança sistêmica quando você muda as pessoas que fazem parte do sistema. Pode-se mudar tudo  o que for estrutural, mas se as pessoas continuarem a se comportar da mesma maneira, vão encontrar a forma de levar esses velhos padrões à nova estrutura”.

 

2. Cultivar um Espaço para Curar

 

O  trauma resolvido é uma força que devemos levar em conta na maioria dos problemas sistêmicos atuais – se não em todos. Além disso, o trauma é muito mais comum do que nós que estamos  envolvidos no trabalho de mudança coletiva somos capazes de reconhecer, especialmente quando trabalhamos em comunidades atormentadas por histórias de desigualdade e violência que  parecem não ter fim.

Em países como a Colômbia, inundados pelo conflito e pela guerra, foram criados padrões de relações baseados na hipervigilância e na hiperagressão, que permeiam o  sentido de ser de todos os indivíduos. “Há uma impossibilidade de tornar visível o invisível. Não há formas, não há canais para fazer essa transição. Há muito silêncio e estamos muito  acostumados a reprimir”, explica María Adelaida López, cofundadora da Dunna. Ela acrescenta: “Se não tornarmos o invisível visível, se não começarmos a tratar do nosso trauma coletivo e os  sintomas da violência visando a cura, não haverá sustentabilidade nem possibilidade de progresso econômico ou político”.

O trabalho da Dunna consiste justamente em trazer à tona esse trauma  de diversos atores envolvidos no conflito por meio de métodos profundos e muitas vezes pouco convencionais. Trata-se de ajudar as pessoas a avançar, a realmente se engajar na reconciliação e a começar a curar dentro de sua comunidade. Por exemplo, no remoto município de Viotá, localizado a três horas da capital Bogotá, a Dunna trabalha com um grupo que inclui comparecientes  (pessoas acusadas de terem cometido um delito ou crime de guerra durante o conflito armado coberto pela Jurisdição Especial para a Paz, órgão governamental criado pelo Acordo de Paz para  administrar a justiça transna-cional). O grupo também inclui combatentes desmobilizados, policiais e militares, e implementa entre eles estratégias de comunicação, como totens de palavras e  habilidades de escuta ativa. Essa abordagem foi concebida para ajudar os participantes a administrar os efeitos somáticos do trauma que se manifestam pelos seus corpos, criando assim as  condições necessárias para estabelecer relações saudáveis com os demais e poder reparar o tecido social. “Para criar uma verdadeira cura, você precisa encontrar algo em comum com identidades  diferentes da sua”, diz Natalia Quiñones, também cofundadora da Dunna. “Você precisa fazer um trabalho minucioso, e durante muito tempo, para que todas essas pessoas que viveram tanta  crueldade e medo aceitem que podem existir novas maneiras de reconstruir sua comunidade.” Nesses espaços, é fundamental o uso de práticas destinadas a fazer com que todos os participantes  se sintam seguros e protegidos. “Depois de chegar a uma sensação de segurança, as práticas descem ao âmbito da mente, das emoções e do corpo para estabelecer uma cura profunda, em que é  possível começar a ouvir os outros e curar os sintomas da violência em nossos sistemas, incluídos o silêncio e a falta de reconhecimento”, aprofunda Natalia.

 

O impacto desse trabalho foi tal que a  Jurisdição Especial para a Paz recorreu à Dunna para desenvolver um modelo de ações restaurativas com vários atores do conflito. Essa decisão é consequência do reconhecimento de que o êxito  do Acordo de Paz não depende apenas do estabelecimento de recursos e estruturas de reintegração e convivência, mas que também é necessário estabelecer novos padrões nas relações que  permitam curar coletivamente e que deem espaço para transformar os modelos mentais enraizados depois de décadas de violência e guerra.

 

3. Convidar à Serendipidade e ao Sagrado

 

Das cinco qualidades, convidar ao sagrado e dar boas-vindas ao acaso é talvez a mais difícil de explicar. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que as pessoas muitas vezes equiparam a palavra “sagrado” à  religião ou pensam que se refere a iniciativas baseadas na fé. Ao contrário, trazer sacralidade aos processos não exige ou pressupõe que todos os envolvidos tenham uma orientação espiritual.

No contexto do impacto coletivo, essa qualidade significa estabelecer um sentido que incentive todos os envolvidos no trabalho relacional a abrir seus corações a uma fonte universal ou à graça. O  uso de rituais, histórias pessoais e narrativas comunitárias pode ajudar os grupos a estabelecer um tom sagrado para seu trabalho conjunto, assim como a encontrar inspiração na arte, no silêncio ou em práticas contemplativas como a meditação. Embora os métodos específicos possam variar em função do contexto local, o que caracteriza essa qualidade entre múltiplas culturas é a intenção  de ajudar os participantes a estar totalmente presentes em seu trabalho e uns com os outros. Além disso, trata-se de fundamentar o trabalho, individual e coletivo, no amor.

 

Os problemas complexos e adaptativos desafiam modelos lógicos e soluções exclusivamente técnicas e redutoras. (…) É hora de investir nossa energia coletiva em abordagens mais emergentes e  relacionais.

Lauren Díaz  é diretora-executiva da Fundación Nueva Oportunidad, da Costa Rica, dedicada a processos de reinserção social de pessoas privadas de liberdade por meio de capacitação profissional, apoio à  criação de microempresas e desenvolvimento pessoal ligado a atividades artísticas e de saúde mental. Um exemplo desse trabalho é o modelo de negócio desenvolvido com um grupo de detentos  do Centro Reynaldo Villalobos, que consiste na concepção, produção e comercialização de artigos confeccionados com materiais recicláveis doados por empresas privadas.

Lauren e sua equipe  trabalham a maior parte do tempo dentro de prisões e penitenciárias, lugares frequentemente desumanizadores e repletos de traumas. Ela acredita, porém, que é possível gerar espaços cheios de  amor, segurança e humildade. Lauren diz que, para criar tais espaços, “devemos deixar de lado nossos preconceitos e nos sincronizar com a magia do momento, tratando cada interação como um  momento sagrado, no qual, às vezes, podemos testemunhar a essência de cada ser”. Quando planeja uma visita a uma pessoa privada de liberdade, por exemplo, Lauren diz que procura descansar bem e estabelecer a intenção de abrir sua alma. Uma vez lá, participa de rituais para agradecer o privilégio de estar em comunidade.

A Nueva Oportunidad também trabalha para melhorar as  relações e as condições de vida nas prisões, criando espaços para o entendimento e a aproximação entre os vários atores do sistema penitenciário. Lauren pede às instituições e àqueles que  exercem o poder que se afastem das soluções herdadas e pouco questionadas e deem espaço a essa magia. Ela nos convida a “nos desviar um pouco da norma para poder construir soluções com as pessoas tendo como base o amor: amor pelo que estamos fazendo e pelo que devemos à vida, e dar espaço ao espírito e à magia do que é possível”.

 

4. Atender à Mudança Interna e Externa

 

As  pessoas que trabalham com esforços de mudança coletiva são atores que tentam mudar os sistemas, e essa mudança deve começar de dentro de cada um. O processo parte do exame de visões  parciais, suposições e pontos cegos, acertando as contas com os privilégios e nosso papel na perpetuação das desigualdades e criando a capacidade de deixar de lado a necessidade de controle. A  mudança interna também é um processo relacional e reiterativo: o indivíduo muda o coletivo, o coletivo muda o indivíduo e assim sucessivamente. Essa interação é o que nos permite gerar  conhecimento, criar oportunidades e enxergar o potencial de transformação.

Nicola Gryczka Kirsch é cofundadora do Social Gastronomy Movement (SGM), que tem filiais em mais de 60 países  (muitas delas na América Latina). O SGM se dedica a levantar as vozes de lideranças comunitárias e dar visibilidade global às iniciativas locais, cocriando espaços de aprendizado e intercâmbio de melhores práticas. Além disso, fornece suporte para esforços coletivos de mudança. Um exemplo é o SGM Fund, um programa que apoia sua rede de membros e financia organizações que se  dedicam a garantir a segurança alimentar e a examinar as causas fundamentais da fome em comunidades locais.

 

O SGM se fundamenta no poder dos alimentos como ferramenta para unir as  pessoas e transformar realidades locais, enfrentar a desigualdade social e restaurar coletivamente o planeta. Como explica Nicola, a comida é um conector, um veículo que leva as pessoas a se relacionarem consigo mesmas e com as demais no espaço que compartilham. A comida não apenas nutre nosso corpo, mas também nossas lembranças mais profundas. Quando nos sentamos à  mesa ou no chão para compartilhar uma refeição em comunidade, nivelamos nossa consciência com aqueles que nos rodeiam, nos libertamos e nos regozijamos. Nesses momentos emerge uma parte autêntica de nós mesmos.

O SGM guia os participantes em meditações que abordam o significado e os sentimentos associados à comida, levando-os a recordar as primeiras vezes que  colheram frutas ou jantaram com momentos em que os alimentos não eram de fácil acesso. O SGM emprega essas práticas antes de iniciar reuniões colaborativas para ajudar as pessoas a se  apresentarem de forma mais autêntica e a se abrirem para conexões cheias de afeto e vulnerabilidade. Além disso, para ajudar os participantes a colaborar com todo o seu ser, em vez de se  concentrarem nos títulos e na bagagem profissional que costumam trazer consigo, o SGM utiliza técnicas simples, como pedir que as pessoas sejam chamadas apenas pelo primeiro nome, iniciar  sessões preparando e apreciando um jantar juntos ou fazer reuniões em e com comunidades tradicionalmente marginalizadas. Tais métodos levam os participantes dos encontros nacionais do SGM a ver o lado humano de cada um, até mesmo entre pessoas que trabalham para organizações tradicionalmente opostas, como o slow food (comida lenta) e o fast food (comida rápida).

Kirsch  recorda momentos em que importantes chefs ou empresários participaram de uma refeição comunitária com os moradores de locais que visitaram, compartilhando receitas e histórias sobre os  alimentos e suas famílias. Depois dessas experiências, os chefs muitas vezes modificam seus cardápios, comprometendo-se a buscar maior sustentabilidade, os empresários aumentam seu apoio ao desenvolvimento alimentar do ponto de vista da solidariedade, e não da caridade, e os membros da comunidade aumentam seu senso de dignidade e poder. “Experimentar a realidade de outra pessoa cria uma empatia que transforma”, afirma Nicola. “Há uma grande diferença entre analisar um problema no papel e ver como a fome é sentida por quem passa por ela. Quando você entra  nas favelas do Brasil, ouve e vê a realidade e as circunstâncias das pessoas, isso toca seu coração. Se toca seu coração, você não pensa, mas sente e, assim, você se transforma.”

 

5. Transformar as  Dinâmicas de Poder

 

Os esforços de mudança coletiva devem ser intencionais para não replicar os desequilíbrios de poder dos sistemas em que atuam. Para Gaby Arenas de Meneses, da TAAP, a  chave da mudança sistêmica é penetrar e transformar as dinâmicas de poder profundamente enraizadas que privilegiam a individualidade e promovem a concentração da tomada de decisões nas  mãos de poucas pessoas.

Para cumprir seu papel de ponte, a TAAP inicia cada colaboração com a premissa de que nenhuma organização pode resolver um problema social por si só. A partir disso,  os líderes de cada organização se comprometem com a intenção de, em primeiro lugar, servir para a colaboração em vez de tentar extrair valor para sua própria organização. Gaby comenta:  “Nós, que trabalhamos pela mudança social, levamos anos para deixar de dizer ‘minha organização e meu projeto’. E, em algumas ocasiões, tivemos de dizer não a financiamentos que  priorizam narrativas de heroísmo individual e que estimulam a competição entre organizações do setor social”.

 

As formas atuais de colaboração não estão à altura da tarefa [de transformar sistemas], dada a complexidade dos problemas sociais e ambientais. (…) Precisamos de formas mais radicais de trabalhar juntos.

Portanto, esses processos de weaving (tecido colaborativo), como Gaby os  denomina, abriram espaços para que causas que antes concorriam unissem forças e obtivessem financiamento conjunto não com base na “melhor ideia”, mas no processo coletivo. Uma dessas  colaborações resultou na criação do Colombia Cuida a Colombia, movimento do qual a fundação é cofundadora. Trata-se de uma iniciativa de mudança coletiva que tem mais de 400 parceiros dos setores público e privado cujo objetivo primordial é mitigar os piores efeitos da Covid-19 em mais de três milhões de famílias vulneráveis. A TAAP também participou da cocriação de outros exemplos de colaboração relacional: Juntos por Chocó, Juntos por Cúcuta e a Red de Educación Transformadora de América Latina.

 

Ter Acesso à Sabedoria Profunda

 

Quando pedimos ao nosso  setor que invista sua energia coletiva em abordagens mais relacionais e emergentes para transformar os sistemas, simplesmente mencionamos o que muitos de nós já sabemos: as formas atuais  de colaboração não estão à altura da tarefa, dada a complexidade dos problemas sociais e ambientais que estamos tentando resolver. Para chegar a resultados mais radicais, precisamos de formas  mais radicais de trabalhar juntos, algo tão simples quanto difícil.

Essas formas exigem muito de nós como líderes e rapidamente nos tiram de nossa zona de conforto. Devemos nos lembrar  constantemente  de que o processo é a solução e devemos permanecer abertos para explorar perguntas novas e difíceis. O que cada um de nós pode fazer para levar as pessoas a se relacionarem  profunda e autenticamente e criar espaços seguros para a vulnerabilidade? Como concebemos experiências profundas para curar coletivamente e nos conectarmos com nossa humanidade  compartilhada? Como podemos admitir o desenvolvimento e cultivar nossas capacidades como líderes para seguir a nova energia, criatividade e inovações que vemos surgir? Acreditamos que  essa é a próxima fronteira da mudança de sistemas. Somente quando começarmos a explorar as respostas a essas difíceis questões começaremos a promover mudanças na consciência individual e  coletiva poderosas o suficiente para transformar os sistemas.

For the original article in English, refer to this link.

 

OS AUTORES

Juanita Zerda, colombiana de nascimento, é diretora do Collective Change Lab. Trabalhou em várias organizações de justiça social.

Katherine Milligan é diretora do Collective Change Lab. Foi diretora-executiva da Schwab Foundation for Social Entrepreneurship.

John Kania é fundador e diretor-executivo do Collective Change Lab. Foi diretor-geral global da FSG, onde continua sendo membro do Conselho de Administração.



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