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Mineração de dados contra minas terrestres

A inteligência artificial está ajudando a localizar minas para acelerar sua remoção

Por Emma Woollacott

(Foto por iStock/FOTOGRAFIA INC.)

Mesmo décadas após o fim de um conflito, o perigo representado pelas minas terrestres permanece. Restos explosivos de guerra mataram mais de 2.000 pessoas e feriram milhares de outras em 2021, de acordo com o Monitoramento de Minas e Agrupamento de Munições. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) estima que existam mais de 100 milhões de minas terrestres não detonadas enterradas em todo o mundo. O fato de que esses artefatos sejam comumente lançados de aviões torna impossível determinar sua localização precisa.

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Equipes de governos e de ONGs em terra podem detectar e remover minas terrestres, mas só se souberem onde verificar. De acordo com o consultor em contaminação de armas do CICV, Martin Jebens, enviar pessoal para locais que, no fim, se constata estarem livres de minas terrestres é, em última análise, um desperdício de recursos. “É desejável que sejamos o mais precisos possível na localização dessas áreas, porque então as minas são eliminadas mais rapidamente, de modo mais eficaz.”

Num evento do CICV em 2019, Jebens conheceu Benjamin Butcher, gestor de relações globais da empresa japonesa de TI e eletrônica NEC Corporation, e os dois discutiram a dificuldade de identificar essas áreas. Butcher acreditava que a experiência da NEC com IA poderia ajudar as equipes trabalhadoras em terra a realizar sua difícil e perigosa tarefa.

Atualmente, áreas com probabilidade de conter minas terrestres são identificadas por equipes de peritos que avaliam uma série de dados, desde registros de campos de batalha e relatórios policiais de vítimas até imagens de crateras e a localização de posições estratégicas, como rios e povoados.

Butcher percebeu que esse demorado processo de coleta de informação poderia ser simplificado com IA por meio do método de “harmonização de dados”, que agrega “toda essa informação e a transforma em dados utilizáveis” e em formato acessível.

A NEC e o CICV iniciaram esse trabalho em junho de 2021, em parceria com cientistas da Universidade Waseda, em Tóquio, que já trabalhavam na desminagem com drones usando tecnologia de reconhecimento de imagem baseada em IA. Cada sócio fornece pessoal e tecnologia à sua própria custa, com a equipe da NEC em Tóquio e as equipes do CICV em Genebra e na Dinamarca.

Entre abril e outubro de 2022, os sócios lançaram um projeto-piloto em uma região onde a presença de minas terrestres era conhecida. A IA recebeu informações geográficas e geológicas, e a localização de infraestruturas e edifícios importantes, assim como a indicação dos locais onde minas terrestres foram encontradas anteriormente.

A IA analisou os dados para prever a localização dos explosivos, e as equipes agiram em terra para confirmar os apontamentos colhidos por essa pesquisa prévia. Ernö Kovacs, gerente sênior do Grupo IoT da NEC Laboratories Europe, afirma que a IA alcançou uma taxa de precisão de 90% tanto para possíveis áreas de minas terrestres como para áreas provavelmente livres delas.

A equipe espera agora complementar os dados estáticos, que caracterizam o ambiente, com dados dinâmicos, como inteligência humana e relatórios. A NEC também está começando a incorporar mais dados de detecção remota fornecidos por satélites e drones, bem como informações de fotografias e vídeos das redes sociais, no processo de harmonização de dados.

Eles também pretendem testar o sistema em outras regiões e estabelecer padrões para o compartilhamento seguro de dados sensíveis. A NEC está considerando uma variedade de modelos de negócio para oferecer o sistema amplamente a ONGs e governos até março de 2024, após a conclusão dos testes.

“O método tem potencial para ser usado em nível nacional e assim determinar áreas contaminadas”, diz Jebens. “No futuro, não teremos de esperar que alguém pise em uma mina para encontrar essas áreas e torná-las novamente seguras para as pessoas.”

A AUTORA

Emma Woollacott, jornalista britânica, também escreve para a BBC, para a Forbes e para vários veículos de tecnologia.



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