Ambiciosa, iniciativa da UPENN alia inovação nos negócios a pesquisa sobre saúde para lidar com as desigualdades na saúde desse grupo
Por Abigail Lynn
Por muito tempo, a saúde da comunidade LGBTQ+ sofreu disparidades na comparação com o público em geral. Pesquisas mostraram que as pessoas LGBTQ+ têm saúde física e mental piores que a das populações heterossexual e cisgênero. Historicamente, perguntas sobre gênero e sexualidade ficaram de fora de formulários médicos; por conseguinte fornecer às pessoas LGBTQ+ os cuidados de que necessitam era um desafio. Além disso, a homofobia e a transfobia constituem barreiras adicionais para os cuidados com a saúde. Um relatório de 2022 do Center for American Progress constatou que mais de 20% dos indivíduos LGBTQ+ adiavam tratamentos devido à discriminação por parte dos fornecedores de cuidados nessa área.
Apresentado como um “inédito laboratório acadêmico, social e de empreendedorismo”, a Eidos LGBTQ+ Health Initiative é um projeto multidisciplinar da Escola de Enfermagem da Universidade da Pensilvânia (UPenn) que busca soluções para essas desigualdades. Lançada em janeiro de 2022, a Eidos foi concebida por José Bauermeister, professor e chefe do Departamento de Saúde Familiar e Comunitária da escola. Ele vê a Eidos como um eixo para parcerias entre acadêmicos, empresários, encarregados por políticas e prestadores da saúde.
A iniciativa convoca colaborações intersetoriais para ajudar projetos a sair do campo das ideias e ir para o mercado. Muitas escolas dispõem de núcleos de transferência de tecnologia que apoiam empreendimentos de negócios na faculdade, mas aqueles que trabalham com saúde LGBTQ+ requerem um apoio mais institucional. Da mesma forma, negócios que precisam de serviços de pesquisa e desenvolvimento podem fazer parcerias com a Eidos para ter acesso às mais recentes pesquisas sobre a saúde da população LGBTQ+ e à expertise na universidade. A UPenn forneceu o financiamento inicial da Eidos no âmbito de seus investimentos voltados a terapias inovadoras, iniciativas relacionadas à saúde, engenharia de dados e ciência, uma linha de crédito que destina US$ 750 milhões para toda a universidade. O financiamento permitiu fazer parcerias e contratar 21 pessoas. Dezenas de faculdades nas 12 escolas da UPenn também estão filiadas ao laboratório.
Jessica Halem tornou-se diretora sênior da Eidos em junho de 2022, depois de ter sido a primeira diretora LGBTQ+ na Escola de Medicina de Harvard. Ela destaca o Slip, projeto de preservativos da Eidos, como um bom exemplo do potencial da iniciativa para ajudar uma ideia a se tornar comercial. O projeto começou no laboratório de Bauermeister em 2018, depois que ele e alguns colegas discutiram a queda no uso de camisinhas na comunidade LGBTQ+. Bauermeister convocou especialistas – Robert Carpick, expert em tribologia, campo que estuda a interação de superfícies em movimento; Shu Yang, cientista de materiais na Escola de Engenharia e Ciência Aplicada da UPenn; e a equipe do Centro de Pesquisa de Aids da universidade – para criar um preservativo lubrificado aperfeiçoado. O coletivo concluiu que o hidrogel deveria ser o material básico. “É muito biocompatível com o corpo”, diz Willey Lin, gerente do projeto na Escola de Enfermagem da UPenn. “Atualmente, é usado para tratar ferimentos e injetado no corpo como veículo para fármacos.”
Um aspecto importante é que o hidrogel pode receber carga de medicamentos como tenofovir, que previne e trata o HIV. A equipe criou e patenteou um protótipo com hidrogel.
Halem ambiciona estabelecer parcerias com qualquer um que tenha uma ideia para melhorar a vida das pessoas LGBTQ+.
Entre as atuais parcerias da Eidos está o trabalho com o Trace, um aplicativo construído por e para membros da comunidade transgênero para conectar usuários durante sua transição. A equipe do Trace planeja utilizar dados relacionados à saúde trans disponíveis por meio da Eidos para atrair investidores.
Bauermeister tem a esperança de que a Eidos “possa servir como um projeto para centros em outras universidades”, dedicados a questões sociais prementes. Dentro da própria UPenn, acrescenta, “o foco poderia estar na transformação da justiça racial, na instabilidade de moradia e na desigualdade de gênero”.
A AUTORA
Abigail Lynn é uma autora freelance de textos médicos. Mora na Filadélfia.
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