O impacto de renda para a primeira infância
As transferências de dinheiro para pais de baixa renda podem fazer uma enorme diferença para o bem-estar de seus filhos no longo prazo.
Por Daniela Blei
Nos últimos anos, um conjunto crescente de pesquisas comportamentais e das ciências sociais tem enfatizado a importância de cuidados e de educação com a primeira infância para o bem-estar da sociedade e da família. Um estudo extenso, “Os Primeiros Anos do Bebê”, é uma colaboração interdisciplinar em curso entre pesquisadores de seis instituições, concebido para “avaliar o impacto da redução da pobreza na vida familiar e no desenvolvimento cognitivo, emocional e cerebral de bebês e crianças pequenas”. Descobertas iniciais já confirmaram que algumas políticas voltadas para crianças pequenas podem apresentar profundos efeitos positivos de longo prazo.
Um novo artigo de Andrew Barr, professor de economia da Texas A&M University, Jonathan Eggleston, economista no US Census Bureau, e Alexander A. Smith, professor de economia na West Point US Military Academy, se soma a esse conjunto de pesquisas. O estudo revela que o primeiro ano de vida de uma criança é um momento crítico no qual liquidez financeira adicional, mesmo uma pequena transferência de dinheiro, para pais de primeira viagem e de baixa renda pode fazer uma enorme diferença para o bem-estar de seus filhos em longo prazo.
Os pesquisadores examinaram os critérios de qualificação para um programa de crédito fiscal para trabalhadores com rendas baixas a médias, com base em uma amostra de famílias de baixa renda cujos filhos nasceram em um recorte temporal até 1º de janeiro. Com foco no período 1993 a 1998 e rastreando dois grupos – aqueles elegíveis para receber benefícios em dinheiro no primeiro ano de vida da criança e aqueles com filhos nascidos depois de 1º de janeiro (tornando-os elegíveis só depois de seu primeiro aniversário) –, o estudo constatou aumentos nos rendimentos dos pais e evidências sugestivas de maior estabilidade conjugal, o que provavelmente contribuiu para melhores resultados para as crianças do primeiro grupo. Com base em dados fiscais, foi possível acompanhá-las até a idade adulta e estimar os efeitos de recursos extras no primeiro ano. Os dados mostraram um aumento de 1% a 2% nos rendimentos das crianças cujas famílias contaram com transferência de renda no primeiro ano de vida, mais do que compensando o gasto governamental.
“O volume da transferência em termos de valores não é enorme, mas em relação aos ganhos médios das famílias que estudamos é significativo”, afirma Andrew Barr. “E vem em um momento de estresse elevado, após o nascimento de uma criança, quando os ganhos podem ser menores.”
O benefício recebido pelas famílias equivaleu a cerca de US$ 1.300,00 ou 10% de sua renda. Quando famílias de menor renda têm contratempos, como despesas médicas ou desemprego repentino, até mesmo um pequeno benefício reduz o estresse financeiro e fornece apoio adicional que pode melhorar os resultados das crianças mais tarde na vida, segundo Barr e seus colegas.
“Embora um número crescente de estudos causais tenha vinculado aumentos de renda a melhorias na saúde, no comportamento e no sucesso escolar infantil, este é um dos primeiros a investigar o efeito dos aumentos de renda familiar no primeiro ano de vida”, diz Greg J. Duncan, economista e professor emérito da School of Education da California University, em Irvine. “Sabemos que o desenvolvimento é particularmente sensível a adversidades no início da vida. Este estudo mostra que atenuar as adversidades econômicas nos primeiros anos parece acarretar vantagens mais tarde.”
Em paralelo aos dados do Censo dos Estados Unidos, os pesquisadores examinaram dados administrativos de escolaridade da Carolina do Norte para entender os efeitos de transferência de renda em médio prazo. Essa fonte independente de dados constatou que as notas, suspensões e índices de conclusão de escolaridade eram melhores para alunos cujas famílias receberam o benefício. Essas informações ajudaram a explicar a magnitude dos efeitos de aumento de renda constatados mais tarde na vida.
A investigação sugere que os benefícios fiscais para famílias com filhos devem estar disponíveis de maneira imediata, em vez de estruturados de acordo com o ano fiscal. “Há evidência convincente de que esse período inicial – a transição para a paternidade – de fato importa”, afirma Barr. “Nós ainda poderíamos fazer outras pesquisas para estudar os efeitos de benefícios potenciais para o segundo ou o terceiro filho, ou se é na transição para a paternidade que ocorre maior impacto.” Famílias de maior renda também recebem benefícios fiscais, explica Barr, geralmente através de isenção tributária de dependentes, mas muitas vezes elas apresentam menos restrições por liquidez financeira, o que significa que mudanças semelhantes em longo prazo não são tão perceptíveis, se é que ocorrem.
Os pesquisadores também descobriram que o impacto do benefício no primeiro ano de vida foi ainda mais evidente para bebês do sexo masculino. Alguns estudos indicaram que o ambiente de primeira infância exerce maior influência sobre os meninos, eles comentam, mas outros fatores, como idade com que se casam e como declaram imposto de renda, podem explicar as diferenças de gênero. Para fornecer evidências conclusivas, futuras pesquisas serão necessárias, conclui Barr.
Andrew Barr, Jonathan Eggleston e Alexander A. Smith, “Investing in Infants: The Lasting Effects of Cash Transfers to New Families”, The Quarterly Journal of Economics, 2022.