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Política, valores e a transição verde

A mudança dos valores dos consumidores pode juntar-se às forças do mercado para tornar a economia mais ecológica

Por Daniela Blei

(Foto de iStock/Petmal)

Trabalhando na intersecção entre economia e ciência política, Torsten Persson pesquisa* os efeitos da elaboração de políticas econômicas, mas também os aspectos essencialmente políticos por trás dessa elaboração. Em um novo artigo que traz uma abordagem interdisciplinar para lidar com a questão da mudança climática, Persson, professor de economia na Universidade de Estocolmo e centennial professor da Escola de Economia de Londres, questiona como padrões de produção e consumo podem passar por uma “transição verde” para chegar a uma economia baseada em tecnologias sustentáveis.

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Ao lado de Sir Timothy Besley, professor de economia e ciência política na mesma escola, Persson inspira-se na literatura da sociologia e da antropologia para levar em conta valores e estilos de vida que estão além do escopo da análise econômica convencional. Os dois formularam um modelo novo e mais sofisticado de como uma transição verde pode ou não acontecer.

“Muitos parecem concordar que o que precisamos agora é de uma transição verde, ou seja, que tanto a produção quanto o consumo sejam feitos de maneira mais ecológica”, diz Persson. “Mas, se você perguntar a um cientista e a um profissional de ciências sociais, eles têm opiniões diferentes sobre como isso deveria acontecer.”

Os pesquisadores decidiram estabelecer o que acontece quando os valores do consumidor são integrados a instrumentos econômicos adotados por criadores de políticas: impostos sobre o carbono e subsídios a bens marrons (poluentes) ou verdes (não poluentes). Eles chegaram a duas conclusões importantes. Primeiro, há uma dupla realimentação entre consumidores e produtores que muda ao longo do tempo. Considerando que consumidores vivem ao longo de distintas gerações e como os jovens formam valores – tomando emprestado de antropólogos, para quem os pais não são apenas agentes biológicos, mas também culturais –, os pesquisadores teorizaram que, quanto mais pessoas houver com valores verdes, mais os produtores escolherão uma tecnologia verde. E, quanto mais verdes são os produtores, mais convém ser um consumidor verde.

A maioria dos economistas vê consumidores-padrão como sendo todos iguais, mas os pesquisadores concluem que mudar os valores do consumidor a par das forças de mercado pode resultar em um “equilíbrio verde duradouro” que acelera uma transição verde, diz Persson. Ou, de maneira inversa, um “equilíbrio marrom duradouro”, que a impede.

“De início, se não houver muitas ‘pessoas verdes’ entre os consumidores, não haverá muitas empresas verdes. Então, quando as pessoas forem escolher, não acharão a opção verde conveniente”, explica Persson. “Menos pessoas se tornarão verdes e, portanto, menos empresas também.” Logo, atingir um equilíbrio verde requer uma grande parcela de consumidores verdes para começar. Isso significa que educação e outros fatores, como empresas que incentivem escolhas verdes, influenciam a possibilidade de uma transição verde impulsionada pelo mercado.

A segunda percepção dos pesquisadores é que políticas econômicas tradicionais, como impostos que ajudem indivíduos a internalizar os custos de consumo nocivo ao meio ambiente, podem encorajar a mudança, mas não garantem a transição. Mesmo quando políticos em campanha defendem impostos verdes para conquistar eleitores verdes, o consumo verde e os padrões de produção podem não vir em decorrência disso. Os pesquisadores mostraram que as políticas servem mais como um facilitador do que como condutor da mudança e que o fracasso político pode compor a falha de mercado.

Em um esforço para compreender a relação entre política e o que as pessoas querem, os pesquisadores introduziram um componente moral à sua análise. Quando há mais consumidores com preocupações morais pelo meio ambiente, e não apenas um gosto pelo consumo verde, políticos motivados a ganhar eleições são pressionados a adotar políticas verdes. Mas, em contextos mais ricos, empresas de lobby tentarão moldar a política por meio de contribuições de campanhas. Se empresas marrons são mais ricas e mais bem organizadas, um equilíbrio verde de longo prazo é menos provável, e a transição verde, se ocorrer, torna-se mais lenta.

Outra extensão de sua análise é a “política privada”, ou ativismo feito por indivíduos e famílias. Os pesquisadores descobriram que indivíduos e grupos podem pressionar empresas agindo no mercado, não só nas urnas, aumentando assim a probabilidade de um equilíbrio verde a longo prazo.

“O artigo acrescenta muito ao nosso entendimento das restrições à implementação de uma transição verde”, diz Stefanie Stancheva, professora de economia política na Universidade Harvard. “Ele leva a sério o fato de que não só considerações tecnológicas, mas também valores podem mudar com tecnologias e políticas.”

*Timothy Besley e Torsten Persson, “The Political Economics of Green Transitions”, The Quarterly Journal of Economics, ago.23

A AUTORA

Daniela Blei é historiadora, escritora e editora de livros acadêmicos. Suas produções podem ser encontradas em daniela-blei.com/writing. Twitter: @tothelastpage



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