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ESG não é investimento de impacto e investimento de impacto não é ESG

Compreender estas seis diferenças importantes vai ajudar tanto a melhorar as discussões quanto a canalizar fundos com mais eficácia.

Por Jaclyn Foroughi

(Foto de iStock/Simone_Capozzi)

Você já se deparou com o uso dos termos “ESG” e “investimento de impacto” como se fossem a mesma coisa? Isso é mais comum do que parece. Alguns dos educadores e investidores mais inteligentes e sofisticados no mundo têm dificuldade em distinguir os dois, mesmo sendo pessoas que cuidam de bilhões ou até trilhões de dólares coletivamente.

Criado em 2004, o termo ESG [em inglês, environmental, social, and governance; ASG: ambiental, social e governança, em português] surgiu como um esforço conjunto da Organização das Nações Unidas (ONU), da Corporação de Finanças Internacional [IFC, na sigla em inglês] e do governo da Suíça para apoiar iniciativas do setor financeiro relacionadas às questões ESG (embora tenha raízes no movimento socialmente responsável – SRI, na sigla em inglês). Não é surpresa, dado que grande parte do progresso fundamental em investimentos concentrados no aspecto social e ambiental nos últimos 15 anos foi liderado por governos, particularmente os da União Europeia e do Reino Unido (Sinto muito, mas os Estados Unidos só embarcaram nessa em 2011.).

O “investimento de impacto”, por outro lado, não havia sido criado até 2007, quando a Fundação Rockefeller, junto com outros filantropos, investidores e empresários, deu nome aos investimentos feitos com a intenção de gerar impacto social junto a um retorno financeiro. Esse grupo fundou a Rede Global de Investimento de Impacto (GIIN, na sigla em inglês), a principal organização de profissionais que produz infraestrutura, pesquisa e educação sobre investimento de impacto.

Portanto, enquanto o ESG foi introduzido pelo setor público, o investimento de impacto evoluiu graças aos esforços do setor privado. Como resultado, o ESG visa ser uma diretriz de compreensão pública dos fatores ambientais, sociais e de governança, enquanto a natureza do impacto com fins lucrativos serve como incentivo para agir em favor do capital e levá-lo em direção a tais interesses.

Três princípios definem o investimento de impacto: primeiro, é preciso haver uma expectativa de retorno financeiro paralelamente ao impacto social e/ou ambiental (ou ao menos um retorno de capital); segundo, a mudança almejada – normalmente social ou ambiental – deve ser intencional; e terceiro, uma tentativa de medir a mudança é necessária.

Com esse contexto, consideremos seis outras diferenças entre ESG e investimento de impacto:

 

1. O ESG é uma estrutura. O investimento de impacto, uma estratégia.

 

O ESG é um mecanismo para ajudar investidores a compreender como uma organização lida com riscos e oportunidades em questões de sustentabilidade. Contudo, ele tende a se basear em medidas retrospectivas resultantes do curso normal dos negócios. Isso não significa dizer que as medidas não possam ser usadas para embasar futuras decisões de negócios, mas, geralmente, elas funcionam mais como uma avaliação ou consideração das atividades passadas.

O impacto, por sua vez, é prospectivo. É uma estratégia usada para definir os tipos de investimento que um investidor está pretendendo fazer. De fato, um dos princípios fundamentais do investimento de impacto é a intencionalidade ou um objetivo explícito de gerar benefícios sociais ou ambientais mensuráveis. Em geral, isso se traduz como um alinhamento a um ou mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como um dos pilares da estratégia de investimento. Os resultados são métricas de performance direcionadas que são relacionadas a objetivos declarados, que, por fim, tornam os investidores responsáveis. De fato, intencionalidade é a primeira linha de defesa contra a apropriação indevida dessas virtudes ou falsas alegações sobre o impacto de um investimento.

 

2. O ESG passa por análise fiduciária. O investimento de impacto, não.

 

Como uma lente para abordar questões sociais e ambientais, o ESG necessita de discrição em sua aplicação por parte dos gestores de ativos. Por exemplo, um fundo de pensão multibilionário sofre pressão para investir por meio da ótica do ESG. Contudo, não há uma interpretação única dos fatores ESG ou um resultado último para essa aplicação. Isso se torna um problema, porque a lei fiduciária exige que o agente atue unicamente de acordo com os interesses do beneficiário. Como resultado, conforme Max Schanzenbach e Robert Sitkoff escreveram para a Stanford Law Review, o dever de lealdade é violado se a aplicação de fatores ESG for baseada no “senso pessoal de ética do gestor ou para obter benefícios colaterais para terceiros”, em vez de se basear nos interesses dos beneficiários.

Como uma estratégia de investimento, o impacto não passa pela mesma análise porque os fundos que empregam essa abordagem são independentes. Em outras palavras, os investidores optam por eles conhecendo as intenções do administrador fiduciário de antemão.

 

3. O ESG pode ser um mitigador de risco ou uma oportunidade. O impacto é ambos.

 

Por ser uma abordagem sistemática de avaliação do nível de eficácia na performance ambiental, social e de governança de uma organização, o ESG pode ser usado para mitigar riscos ajudando investidores a excluir ou filtrar investimentos em empresas que não aderem a padrões preexistentes. Isso inclui determinados países, setores e empresas ou, até mesmo, métricas de performance ou de impacto. Por exemplo, uma empresa ou país com padrões trabalhistas baixos ou inexistentes provavelmente seria excluída dos investimentos de um fundo focado em ESG. Por outro lado, uma empresa com altíssimos níveis trabalhistas dentro de um país tipicamente pobre em condições de trabalho seria visto como uma oportunidade de apoiar o progresso ambiental e social na região. Nesse caso, aquela empresa seria um excelente investimento ESG baseado em padrões previamente estabelecidos e já reportados.

Entretanto, um investidor de impacto olharia para o futuro – para as oportunidades à frente. Uma empresa privada buscando estabelecer melhores condições de trabalho em um país com baixos padrões trabalhistas, por exemplo. Nesse caso, um investidor de impacto tem poucos dados – ou até mesmo nenhum – com os quais trabalhar. Como resultado, deve confiar em pesquisas existentes ou emergentes para ajudar a direcionar suas considerações sociais e ambientais. Além disso, estudos sugerem que decisões de investimentos tomadas incorporando fatores sociais e ambientais se traduzem em maior valor e desempenho para a empresa, tanto por meio de riscos sistemáticos que afetam o mercado como um todo quanto riscos peculiares endêmicos a um ativo particular. Portanto, empresas que falham em gerenciar esses fatores podem ter maiores custos de capital, maior volatilidade e irregularidades contábeis.

 

4. O ESG é primordialmente uma estrutura financeira. O investimento de impacto, em geral, pesa igualmente impactos financeiros, sociais e ambientais.

 

Dada a natureza baseada em resultados das medidas ESG, a fonte primária de valor para investidores focados no tema é o retorno financeiro (como deveria ser, baseada em deveres fiduciários). Isso porque benefícios ambientais e sociais são avaliados depois que um investimento é feito, apesar de essas medidas poderem ser usadas para informar investimentos futuros.

Investimentos de impacto, por outro lado, levam os três benefícios (financeiro, social e ambiental) em consideração, e podem até mesmo priorizar benefícios sociais e ambientais no começo de um investimento, contanto que os retornos financeiros sejam positivos. Além disso, investidores de impacto reconhecem que performances financeiras e socioambientais costumam ser interconectadas e se reforçam mutuamente – um princípio conhecido como colinearidade. Por essa ótica, investimento de impacto não é concessionário; ao contrário, é um estimulador de performance financeira.

 

5. Investimentos focados em ESG são primariamente entidades de mercado público. Investimentos de impacto são, em primeiro lugar, entidades de mercado privado. Isso poderia mudar?

 

Como as medidas ESG se baseiam em dados públicos, investimentos focados no assunto tendem a existir dentro de mercados públicos. Qualquer empresa pode receber uma avaliação ESG – mesmo negativa – contanto que haja dados disponíveis para examiná-la.

Historicamente, investimentos de impacto têm acontecido em mercados privados, onde abordagens inovadoras para alguns dos maiores problemas mundiais geralmente requerem capital sofisticado e paciente, bem como engajamento ativo na promoção de negócios responsáveis e valores sustentáveis. Contudo, a progressão natural do ciclo financeiro das startups resultou em mais investimentos de impacto tornando-se públicos (por exemplo, Oak Street Health, Acciona Energia e PowerSchool), e, enquanto pesquisas percebem a dificuldade em alcançar a adicionalidade – um resultado que não teria ocorrido sem aquele capital – nos mercados públicos, por conta das eficiências do mercado, o Projeto de Gestão de Impacto sugere que a perspectiva de mudança no sistema poderia acelerar o crescimento no número de investidores estrategicamente, “sinalizando que impacto importa”.

 

6. Todos os fundos de impacto estão de acordo com o ESG, mas nem todos os fundos ESG são de impacto.

 

É impossível incorporar o futuro ao passado, mas é essencial usar o passado para informar o futuro. Como o investimento de impacto olha inerentemente para a frente, é possível – ou é até mesmo uma boa prática – incorporar descobertas focadas em ESG em investimentos futuros. O mesmo não se pode dizer de fundos desse tipo, já que são focados em atividades passadas.

Por exemplo, uma estrutura ESG em geral pode não investir em empresas que produzem quantidades significativas de emissões de gás de efeito estufa. Um fundo de impacto, contudo, pode investir somente em empresas que estejam ativamente ajudando a reduzi-las. Como resultado, todos os investidores de impacto integram fatores ESG ao seu processo de investimento.

Apesar de esforços contínuos de participantes do mercado em definir o propósito e os objetivos do investimento de impacto, muitas definições de impacto continuam a existir. Por exemplo, empresas sem impacto lideradas por diversidade são definidas por ele? Apoiar instituições diversas parece ser um objetivo do investimento de impacto, mas onde esse limite é ultrapassado e, mais importante, como é possível medir os objetivos de impacto dos investidores em relação ao impacto dos negócios atrelados? Antes de mergulharmos mais a fundo no que é o investimento de impacto, é importante compreender o que o ele não é.

Com muita frequência, o ESG é confundido com investimento de impacto, o que obscurece os enormes esforços de agentes do segundo. Compreender a diferença não só propicia conversas mais bem informadas, mas ajuda a canalizar fundos apropriadamente e amplia ainda mais o progresso do setor em direção a alcançar os audaciosos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030.

Não restam dúvidas de que o futuro tanto dos negócios quanto das finanças incorpora considerações sociais e ambientais. Ao mesmo tempo, a relação simbiótica entre esses benefícios e a performance financeira garantem a sustentabilidade das organizações dirigidas por propósito. Ter conhecimento para diferenciar entre o que está no passado e o que é parte do nosso futuro é essencial para garantir o sucesso do nosso povo e do planeta.

 

A AUTORA

 

Jaclyn Foroughi, CFA, CAIA, é cofundadora e sócia-gerente do fundo de investimento de impacto Brazen Impact, LLC, e fundadora e CEO da organização sem fins lucrativos de educação financeira Brazen Finlit. Ela também é palestrante na Stanford Graduate School of Business, onde ministra um curso de aprendizado experiencial focado na análise e mensuração do investimento de impacto.



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