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Uma visão democrática para a escola pública

Há décadas o neoliberalismo vem pautando a agenda da educação pública nos Estados Unidos, com resultados decepcionantes; em meio à crescente polarização, propomos uma visão que prepare o jovem para exercer melhor a cidadania e que recupere a saúde democrática da nação

Por Kent McGuire e Matt Wilka

Ilustração de Ibrahim Rayintakath

E m textos sobre a educação nos Estados Unidos, é comum encontrarmos essa declaração – seguida de soluções defendidas por seus autores, como fortalecer o currículo escolar, aprimorar testes e pagar mais aos professores. Embora soem sensatas, intervenções do gênero ignoram o fato de que, quando se pensa em mudanças sistêmicas, a finalidade importa. Nossa visão, enquanto país, sobre a finalidade da educação ajuda a determinar se consideramos a escola eficaz e em que quesitos ela precisa melhorar. 

Ao longo de nossas carreiras, trabalhamos em e com instituições de ensino público de diferentes modelos e etapas, da educação básica ao pós-secundário, na condição de acadêmicos, professores e pais, e em entidades do terceiro setor, em fundações e governos. Sabemos o quão difícil é promover mudanças sistêmicas na educação.

Acreditamos, contudo, que uma janela de oportunidade se abre se enxergarmos a transformação da educação sob a ótica de paradigmas. Popularizados pelo filósofo Thomas Kuhn, paradigmas são normas ou premissas implícitas que norteiam perguntas que fazemos ou soluções que propomos em uma determinada área da sociedade.¹ Embora normalmente associados a eras econômicas, paradigmas também exercem forte influência em mudanças no ensino. Na metade do século 20, na chamada era keynesiana, a crença no Estado como solucionador de problemas levou a investimentos consideráveis em sistemas públicos, como o de educação.² Em comparação, a perda de confiança no Estado e a fé no livre mercado durante o período neoliberal abriram espaço para reformas no ensino focadas na liberdade de escolha, no currículo e na competição, que seguem até hoje.

Paradigmas duram décadas e mudam quando o que está vigente deixa de responder a grandes desafios do mundo. A Grande Depressão, por exemplo, derrubou o paradigma do laissez-faire na economia, enquanto o paradigma keynesiano entrou em crise em meio à agitação social e à estagflação das décadas de 1960 e 1970. O período de transição entre um paradigma e outro é conturbado, marcado por conflitos e por ideologias opostas buscando a primazia. A nosso ver, estamos entrando em um período de transição no qual o paradigma neoliberal está ruindo – com o populismo e o autoritarismo competindo para substituí-lo.

Reconhecer esse período de transição é uma oportunidade para propor novos valores, modelos e ideias para o ensino público. O papel da escola pública evoluiu ao longo do tempo, e cada fase trouxe consigo novas premissas sobre o aprimoramento da escola. Nossa tese é que muitos dos desafios educacionais de hoje são fruto não de políticas específicas, mas de um conflito maior sobre a finalidade da educação. Se não abordarmos essa questão, muitas das reformas atuais, por mais bem-intencionadas que sejam, dificilmente darão certo. 

Este artigo tenta redefinir a finalidade da educação, abandonando premissas de mercado do neoliberalismo e adotando um propósito cívico renovado para uma sociedade em transformação. Buscamos mostrar por que a escola pública ainda é fundamental para a formação democrática, que mudanças seriam necessárias para preparar o jovem para participar plenamente da sociedade e como promover esse esforço nos diferentes contextos do país. Essas categorias constituem a base de uma agenda para mudanças positivas em larga escala – a qual, esperamos, inspire mais organizações e indivíduos a se envolver em iniciativas semelhantes. 

Educação pública e economia política

A história mostra uma conexão estreita entre paradigmas econômicos e educacionais, na qual condições e normas sociais vigentes determinam a missão da escola pública. Os fundadores da nação americana – os “Founding Fathers” –, por exemplo, pregavam a necessidade de educar seus cidadãos para sustentar o experimento democrático e defendiam não só o preparo para exercer um ofício, mas também o cultivo da virtude.³ Com certas exceções, esse benefício era dirigido a jovens brancos do sexo masculino e afluentes, que eram os cidadãos plenos pela Constituição americana. Na primeira metade do século 19, o acesso ao ensino público variava enormemente de acordo com a condição social e o estado de residência, refletindo o paradigma do laissez-faire da época. Uma notável exceção era Massachusetts, onde um paladino da educação pública, Horace Mann, promoveu um sistema de escolas laicas cujo currículo acadêmico era organizado por séries e incluía o cultivo de um caráter sólido e valores cívicos e democráticos. 

Durante a era da Reconstrução e a industrialização da economia americana, escolas públicas seguiram segregadas por gênero, raça, classe e grau de habilidade. Nesses dois períodos a ênfase recaía em uma educação que preparasse a força de trabalho para uma economia cada vez mais industrializada. Isso refletia, entre outras coisas, o novo poder da iniciativa privada na conformação da política educacional, além do desejo nacionalista de assimilar imigrantes, pela educação, ao modo de vida americano.4 A era progressista do início do século 20, por sua vez, foi marcada pela reação contra a exploração do trabalhador por empresas – reação cujos efeitos influenciaram a extensão da educação primária até o ensino médio como parte da configuração central do sistema público. Teóricos dessa época, como John Dewey, exerceram um papel fundamental ao conceber a escola como uma instituição democratizadora e motor da reforma social.

A ideia da educação como um bem público ganhou força sob o paradigma keynesiano da metade do século 19. Investimentos federais, como a GI Bill de 1944 e o conjunto de programas da chamada Great Society na década de 1960, ampliaram o acesso à educação.5 Essa campanha pela igualdade de acesso teve como corolário a ação da Justiça, com destaque para a decisão da Suprema Corte americana no caso Brown vs. Board of Education, de 1954, que derrubou a segregação racial, ao menos no papel. Essa ação conduziu a um esforço importante para dessegregar escolas do país, na tese de que equiparar o acesso à educação para a população não branca aumentaria taxas de conclusão do ensino médio, o acesso à educação pós-secundária e, em última instância, a mobilidade social dessa população. Embora cada reforma da metade do século tivesse suas peculiaridades, o tema do acesso foi uma constante, ao lado da ideia básica de que a escola deveria preparar todo aluno para a plena participação econômica e cívica na sociedade.

Um ano após Brown, no entanto, foram plantadas as sementes de uma outra visão. Em 1955, o economista Milton Friedman publicou o ensaio “The Role of Government in Education”, no qual propôs substituir o sistema de ensino público para todos por um modelo de “vouchers” no qual os pais teriam a opção de mandar os filhos para a instituição particular de sua escolha. Nele, o papel do governo seria limitado a financiar esses vales e a estabelecer padrões mínimos de qualidade. Não chega a surpreender que segregacionistas logo adotassem modelos de vouchers para contornar a lei da integração racial, canalizando verbas públicas para escolas particulares só para brancos.

O ensaio de Friedman lançou as bases para o moderno movimento da liberdade de escolha na educação, embora suas ideias tenham permanecido à margem de políticas públicas na área nas décadas de 1960 e 1970. À época, reformas na educação seguiam focadas em fatores sociais de impacto na aprendizagem, como a redução da pobreza infantil e o aumento de verbas para a rede de ensino. Nesse processo, no entanto, o consenso keynesiano ia se dissolvendo, pois choques econômicos, inflação e agitação social contribuíam para a sensação de que o país precisava de uma mudança drástica. Em meio a essa insatisfação, a tese central de Friedman – de que o governo era o problema e o livre mercado a solução – surgia como resposta rápida e simples.

Na década de 1980, os princípios libertários de Friedman e colegas da Escola de Chicago se fundiram à agenda pró-empresas e desregulamentadora do governo Ronald Reagan para instituir o paradigma neoliberal que predominaria até as eleições de 2016.6 Na educação, o relatório “A Nation at Risk” (Uma nação em perigo), de 1983, falava de uma “crescente maré de mediocridade” e alertava a sociedade americana para uma crise iminente caso não houvesse um reforço em currículos e em taxas de conclusão do ensino médio e de ingresso no ensino superior. O foco político mudou: do acesso equitativo, passou a ser melhorar o desempenho de alunos com base em uma série de reformas que davam menos ênfase à educação para o bem comum e mais à educação para a competitividade econômica.

De testes à turbulência

A influência neoliberal na educação pública americana chegou ao ápice na década de 2000, na era da lei No Child Left Behind (NCLB, sigla em inglês para “nenhuma criança fica para trás”). Essa legislação, de 2001, revisou e atualizou a lei federal de 1965 que estabeleceu a destinação de recursos para escolas públicas – trazendo consigo novas políticas de apoio federal à escolha da modalidade de escola, a padrões nacionais e a testes decisivos para alunos e escolas. 

Novidades trazidas por essas reformas (algumas ainda vigentes) incorporavam vários princípios da teoria do mercado e da empresa. Para começar, seus autores viam o melhoramento da educação como um problema de gestão de desempenho. O papel do Estado seria estabelecer metas claras para o aprendizado e padronizar a mensuração do progresso. Com uma mescla de penalidades (fechamento de escolas, demissão de professores) e incentivos (remuneração por mérito), dirigentes públicos eliminariam aqueles que produzissem resultados aquém dos desejados e conduziriam o sistema público de ensino rumo à excelência.

Obedecendo a essa lógica, proponentes dessas reformas viam o indivíduo ou a escola – e não as estruturas regulamentares e institucionais nas quais estavam inseridos – como a unidade fundamental de análise. Alunos eram avaliados por meio de testes padronizados, e professores e escolas julgados pelo avanço deles nesses testes. Dava-se menos atenção à discriminação sistêmica e a estruturas de equidade – mais especificamente, às circunstâncias de alunos oriundos de lugares que concentravam a população pobre ou não branca. Logo, a probabilidade de que estudantes, professores e escolas dessas comunidades fossem mal avaliados e alvo de medidas punitivas era naturalmente maior.

Por último, a liberdade de escolha e a competição entre escolas eram vistas como fatores capazes de potencializar o avanço da educação. Em vez de fornecer mais recursos ou dar mais atenção ao contexto ou a estruturas, o Estado eliminaria restrições a quem poderia operar escolas e usaria como indicador de qualidade os resultados de diferentes instituições em testes padronizados. Como consumidores, os pais fariam a escolha racional por escolas com notas boas, criando um ciclo virtuoso de competição. Todas as escolas de uma determinada região competiriam para melhorar; as de maior sucesso cresceriam, ao passo que as de baixo rendimento fechariam as portas.

Fomos participantes de primeira hora dessas reformas neoliberais: Wilka trabalhou em uma escola charter [pública com gestão privada], que enfatizava o emprego de testes e a liberdade de escolha dos pais, enquanto McGuire ajudou a arquitetar reformas curriculares tanto no terceiro setor como no governo federal. A maioria dos agentes de reforma da época tinha boas intenções. Poucos educadores despertavam pensando em conceitos amplos como liberdade de escolha ou competição. Isso posto, focados em melhorar escolas, muitos de nós não percebemos que a educação ia se afastando, de forma lenta, mas inexorável, de seu papel democrático.

Duas décadas depois, diríamos também que o NCLB e iniciativas neoliberais semelhantes não corresponderam às expectativas. Isso não significa dizer que deu tudo errado. Vimos avanços importantes: estados utilizaram dados para criar sistemas que identificassem necessidades de aprendizado, estudiosos quantificaram a importância de professores altamente capacitados, e o NCLB expôs disparidades de rendimento entre diferentes grupos raciais. Mas os contrapontos também são reveladores. Os dados mais utilizados vinham de high stakes tests [exames de alto risco; no Brasil, algo semelhante é o Sistema de Avaliação da Educação Básica], que levaram a um currículo mais restrito, focado em tópicos e habilidades básicas, mas que tinham pouca valia para ajudar os professores a melhorar o ensino.7

Embora seja importante ter professores qualificados, tanto a satisfação de educadores como o prestígio da profissão caíram nas últimas décadas.8 E medidas estruturais que ajudaram a reduzir disparidades raciais e econômicas – como o financiamento de escolas e a dessegregação – foram amplamente ignoradas por reformas neoliberais, apesar de uma população estudantil em acelerada diversificação.9 Isso fez a redução de desigualdades estagnar, enquanto o desempenho agregado não registrou avanços significativos nos últimos 15 anos.10

Em resposta a essas tendências, o setor da educação recuou em certos aspectos da reforma neoliberal. Temas como equidade, aprendizagem social e emocional e trajetórias profissionais tomaram o centro do debate, no lugar de questões de padronização e accountability. O setor filantrópico, que no passado se aliou de forma coesa a políticas neoliberais, foi fragmentado, ajudando na difusão de novas ideias, mas também dispersando a influência de doadores por distintas estratégias. Em relação a políticas, o Every Student Succeeds Act, uma lei de 2015, moderou o foco do NCLB na accountability, enquanto tanto republicanos (retirando apoio a padrões nacionais) quanto democratas (retirando apoio a charter schools) recuaram de visões neoliberais de consenso.

O neoliberalismo também recuou na economia política. Aliás, o primeiro grande golpe na estrutura do NCLB não veio da educação, mas da feroz oposição do movimento Tea Party à base comum curricular do início da década de 2010.11 Enquanto conservadores das bases tivessem, até então e em grande parte, mostrado apoio (ou indiferença) à trajetória neoliberal da reforma educacional, o Tea Party marcou um surto de populismo e etnonacionalismo que tragaria a direita. O populismo econômico também ascendeu à esquerda – representado sobretudo pelas campanhas à Presidência do senador Bernie Sanders em 2016 e 2020. Nos últimos anos, vimos alianças partidárias inusitadas em torno de questões ligadas a comércio exterior, trabalho e política industrial.

O paradigma neoliberal rachou – mas não ruiu. Isso posto, a transição atual trouxe ameaças muito mais graves para a democracia americana. A confluência de dificuldades econômicas, mudanças demográficas e novas mídias mostrou-se terreno fértil para líderes autoritários promoverem o individualismo exacerbado e a resistência ao Estado como a volta a um passado idealizado. Essas tendências se aceleraram durante a pandemia de covid-19, quando conceitos como a negação da ciência e a liberdade médica entraram com tudo no ideário conservador, com base na tese de que direitos individuais devem vir antes de tudo. O individualismo, como Alexis de Tocqueville bem observou, é o ideal americano por excelência, mas só serve à democracia se aliado ao compromisso com o bem comum – uma lição esquecida nos últimos anos.

Na educação, o que começou em 2020 como a afirmação do direito de pais contra o fechamento de escolas, uso de máscaras e vacinas rapidamente se alastrou para a controvérsia sobre a teoria crítica da raça.13 Desde então, direitos individuais de pais viraram pretexto para a proibição de livros, a discriminação contra estudantes LGBTQ+ e a eliminação, de currículos de ensino, de qualquer menção a racismo ou a outros dos chamados temas divisivos que dão um panorama abrangente da história dos Estados Unidos. Em muitos estados, candidatos foram eleitos para cargos públicos usando a intolerância como motivo de orgulho, enquanto eleições para postos de menos visibilidade, como as de conselhos escolares, viraram alvo de campanhas nacionais organizadas para promover uma pauta contrária à equidade. O fenômeno, com efeitos nocivos para o aprendizado, não é restrito a estados conservadores: segundo pesquisas, dois terços dos professores dizem ter limitado discussões de questões políticas ou sociais em sala de aula por medo de sanções ou assédio público.

Naturalmente, uma vez desacreditada, uma instituição pública pode ser desmantelada. À medida que cresce a desconfiança da direita etnopopulista na educação, a ideia de ajudar pais a saír do sistema, herdada dos tempos da liberdade de escolha do neoliberalismo, mostrou-se uma solução fácil. Esse precedente estimulou iniciativas para retirar recursos de escolas públicas, além de projetos de lei de incentivo a vouchers em legislativos estaduais. E, embora etnopopulistas e neoliberais tenham divergências ideológicas, em um momento de transição de paradigma, é esperável que concordem em uma questão política polarizante como a liberdade de escolha na educação.

Em suma, a era da reforma neoliberal na educação – primeiro, por redefinir o propósito da educação no sentido do retorno individual e, segundo, por não satisfazer grandes promessas de melhoramento – criou condições de longo prazo para que as pessoas deixassem a escola pública e decretassem sua falência. Assim, dificilmente pode dar certo simplesmente repetir reformas das últimas décadas, apenas com melhoramentos. Em uma democracia como a nossa, multirracial e em transformação, as mudanças necessárias na educação só podem advir de uma finalidade maior e mais ambiciosa para a escola pública.

Uma nova finalidade para a educação

Embora não seja claro o que vai suceder o neoliberalismo, vemos neste momento a oportunidade para semear uma nova finalidade para a educação pública. Esse marco deve sustentar uma democracia mais vibrante, bem como amplas transformações socioculturais: uma sociedade unida por um propósito comum, e não só voltada para metas individuais; uma economia que valorize tanto a cooperação quanto a competição e o desenvolvimento humano ao lado do crescimento econômico; uma política que inspire o pluralismo, e não a polarização; e cidadãos que possam participar plenamente em todas essas esferas, independentemente de onde cada um partiu. 

Essa visão não deve excluir lições do neoliberalismo e de visões anteriores do modelo capitalista. Inovação, dinamismo econômico e igualdade de condições no mercado são aspirações meritórias.

Ilustração de Ibrahim Rayintakath

Uma nova finalidade para a educação deve fluir desses ideais democráticos e, ao mesmo tempo, responder a grandes transformações da sociedade. Sugerimos duas metas fundamentais para a definição desse renovado propósito democrático:

Preparar jovens para prosperar em uma democracia diversa e em transformação. | É difícil imaginar qualquer avanço duradouro e de longo prazo na vida cívica sem que os jovens de hoje sejam preparados para pensar de forma crítica, distinguir o que é fato do que é falso, lidar com questões éticas e trabalhar juntos, respeitando diferenças. Para isso, é preciso reverter décadas de descaso das escolas para com a formação cívica de seus alunos e levar a educação de volta a seu papel de “guardiã da democracia”, como disse o presidente americano Franklin D. Roosevelt.

Renovar a finalidade pública das escolas para o bem da sociedade. | Melhorar a formação cívica dos jovens pode ajudar a fortalecer a sociedade e a democracia. Uma questão importante a considerar, no entanto, é se é possível unir os responsáveis por decisões educacionais e o público em geral em torno dessa finalidade democrática. Afinal, após décadas de ênfase no retorno econômico isolado de cada escola, falar de um propósito comum é como tentar ressuscitar uma língua morta. Qual, então, a finalidade da educação pública em uma democracia diversa e em transformação? Ainda que abstratas, essas questões precisam ser abordadas – não só para fortalecer a educação como um bem público, mas também para incorporar transformações, como a inteligência artificial, que afetarão a escola e seus alunos.

Renovar a finalidade democrática da educação pública exige, sim, uma mudança estrutural. Se o foco continuar a ser só transmitir informações básicas e procedimentos para tarefas que um computador é capaz de executar melhor, a educação pública se tornará irrelevante em décadas. Já se a escola evoluir e puder transmitir conhecimento, habilidades e valores indispensáveis para a sobrevivência futura da economia e da democracia, sua existência continuará a se justificar.

Definir o formato da escola do futuro levará tempo e exigirá o aporte de educadores que descubram o que realmente funciona à medida que testarem coisas novas. Para facilitar esse processo de melhoramento, identificamos cinco princípios para embasar uma experiência educacional mais democrática, que listamos a seguir.

Em tempos de crise cívica, a educação deve transmitir conhecimentos, habilidades e atitude democrática. | Uma boa formação democrática tem vários aspectos. O estudante precisa de um conhecimento básico sobre a história e o funcionamento de processos e instituições, o que pode incluir desde direitos e deveres do cidadão até a compreensão da separação de poderes do Estado e como requerer ao governo local, por exemplo, a criação de uma área verde. Conhecimento é o elemento mais básico da educação cívica, mas por si só não basta para promover condutas pró-cívicas, como votar.14 Habilidades democráticas, no entanto, complementam esse conhecimento básico, ensinando o jovem a interagir de forma produtiva com outros indivíduos e com forças que atuam sobre a sociedade. Atitude democrática significa participar positivamente da vida cívica, respeitando pontos de vista diversos, reconhecendo a dignidade do outro e cultivando um ambiente político amistoso.

Iniciativas promissoras já orientam educadores sobre a melhor maneira de aplicar esse modelo. Várias metodologias já em uso também podem ser empregadas no aprendizado democrático. Um modelo popular nos Estados Unidos, o dos “4 Cs” (colaboração, criatividade, pensamento crítico e comunicação) foi adaptado por distritos escolares para incluir a educação cívica. O método Deeper Learning, que incentiva o pensamento crítico e a aplicação do conhecimento a novos contextos, foi inicialmente criado para a formação profissional, mas é compatível com o cultivo de competências e atitudes cívicas. E um modelo mais recente, o Durable Skills, criado pela ONG America Achieves, se centra na convergência entre competências que garantem empregabilidade e habilidades necessárias para o sucesso de modo geral. Esses modelos demonstram que uma boa formação democrática contribui para a qualificação de que os jovens precisarão para vencer no mercado de trabalho.

A educação deve transmitir fatos confiáveis e ajudar o aluno a compreendê-los em meio a um contexto de contestação. | Ter uma base de fatos confiáveis, que todos reconheçam, é o mínimo necessário para uma boa educação e para que a democracia funcione bem. Isso posto, no cenário atual de desinformação, de uso da IA para manipulação digital e de bolhas ideológicas, nossa base comum de fatos é frágil. Estudos indicam que a maioria dos jovens (e adultos) ainda tem dificuldade para identificar o que é desinformação; vários estados vêm aprovando leis para instituir a chamada alfabetização midiática e preparar estudantes para avaliar de forma crítica informação online.15 Para intensificar e ampliar esse esforço, a escola pode ajudar alunos de todas as idades a entender o que faz da informação um fato, como determinar se uma fonte é confiável e como fatos podem ajudar a resolver problemas em várias áreas.

A educação deve dar ao estudante novas maneiras de pensar sobre problemas da sociedade. | Mudanças climáticas, desigualdade e polarização são algumas das consequências involuntárias do neoliberalismo – e não serão corrigidas dentro das mesmas estruturas que as criaram. Precisamos urgentemente de um novo paradigma, mais apto a lidar com desafios de proporções devastadoras. Embora a história sugira que o próximo modelo incluirá alguma forma de capitalismo, ainda não está claro como isso será.16 O capitalismo americano, por exemplo, poderia seguir os passos autocráticos da Hungria ou da China, combinando controle autoritário e liberdades de mercado moderadas. Ou rumar para a social-democracia aos moldes do norte da Europa, mesclando economia de mercado com uma forte rede de proteção social. 

Paradigmas anteriores ilustram as diferentes formas como o capitalismo pode se manifestar. Isso posto, como sociedade normalmente tomamos o neoliberalismo como a única possível e rotulamos de socialismo tudo o que fuja disso.17 Embora essa tendência seja em parte política, não surpreende que hoje os mais jovens, que foram especialmente prejudicados pelo neoliberalismo, não vejam o potencial no capitalismo para melhorar sua vida. A educação pública pode contribuir para mudar essa percepção – não pela doutrinação, mas por incentivar o jovem a pensar concepções mais criativas para a sociedade, que extrapolem as vislumbradas por gerações anteriores. Esse exercício pode envolver o aluno em aprendizados relevantes. Afinal, as consequências do neoliberalismo têm enorme peso em sua visão de futuro. Esse modelo de aprendizado pode se valer de outros princípios, como um maior preparo dos professores para conduzir debates sobre temas polêmicos, a valorização do papel da informação factual na tomada de decisões e currículos que ajudem os jovens a refletir desde cedo e de modo mais amplo sobre poder, riqueza, moralidade, escolhas e liberdade.

A educação deve incutir valores cívicos comuns. | Ensinar valores pode causar desconforto, seja qual for a ideologia da pessoa; há riscos de que o discurso se incline para a religiosidade ou que evite qualquer menção a valores. No entanto, o cultivo de valores democráticos é um dos traços históricos mais marcantes da educação pública e vale a pena insistir nisso. A tradição democrática americana oferece um vasto repertório de valores: liberdade, igualdade, justiça, pluralismo e respeito pelas diferenças. O desafio da educação é renovar o significado desses valores para o corpo estudantil diversificado de hoje. A sociedade esqueceu como discordar de modo construtivo e resolver conflitos, então precisamos que o jovem aprenda a reconhecer e expressar seus próprios valores, sabendo que outros podem pensar diferente. A escola ainda é um dos raros espaços públicos a reunir pessoas de diferentes origens; ver essa meta como um bem público a preservar parece fundamental para promover a tolerância e reduzir a polarização.18 

Reinserir valores democráticos no centro do currículo escolar exigirá mudanças consideráveis, tanto práticas quanto culturais – além da capacitação de educadores. Teremos, também, de lidar com obstáculos estruturais a valores como tolerância e pertencimento. Embora estudos mostrem os benefícios da integração para o aprendizado, a segregação escolar aumentou de forma constante nas décadas de reformas neoliberais.

A educação deve desenvolver habilidades essenciais para que as pessoas vivam bem e prosperem. | A inteligência artificial está nos obrigando a repensar o que significa estar preparado para a vida econômica e cívica. Educadores estão, com toda razão, atentos aos desafios e oportunidades imediatos relacionados à IA. À medida que ela afetar mais empregos, teremos de identificar e desenvolver as competências de que os jovens precisarão para trabalhar com ela. Essas competências – como saber colaborar, resolver divergências e determinar a veracidade de informações – estão diretamente relacionadas a modelos de habilidades citados anteriormente.

A questão de longo prazo, no entanto, é como ajustar a finalidade da educação quando muitas formas de trabalho hoje prestigiosas, sobretudo as que têm a ver com atividade intelectual ou o processamento de informações, ficarem obsoletas. O formato do capitalismo também pode mudar se a IA autônoma evoluir a ponto de criar valor econômico sem a intervenção humana ou se uma renda básica universal substituir a remuneração pelo trabalho. Precisamos começar a pensar em diferentes dimensões do desenvolvimento humano em um mundo cada vez mais dependente da IA e a imaginar novos modelos de educação para esse contexto. Esse trabalho ainda é essencialmente conceitual, mas duas coisas parecem certas: primeiro, que se deve partir das qualidades humanas mais essenciais, como o cuidado e a criatividade; e, segundo, que equipar os jovens eticamente para decidir não só o que a tecnologia pode fazer, mas o que deveria fazer, pode ajudar a preservar a autonomia humana sem a qual não poderemos prosperar.

 

Primeiros passos e práticas

A finalidade da educação já mudou antes, mudará de novo. Mesmo o neoliberalismo não surgiu da noite para o dia, mas de décadas de esforço estratégico de acadêmicos e filantropos para cultivar indivíduos, instituições e ideias.19 Embora tenhamos documentado muitas das falhas do neoliberalismo, admiramos a paciência e a coordenação de seus primeiros proponentes. Vemos no esforço para renovar a educação pública hoje uma tarefa análoga. 

Primeiro, renovar a finalidade democrática da educação exigirá uma base conceitual sólida. Isso significa criar ou reformular ideias sobre como o propósito da escola pública pode contribuir para uma democracia em transformação. Nosso artigo é uma das iniciativas nesse sentido, mas é preciso que surjam outras propostas educacionais, até mesmo divergentes, vindas do mundo acadêmico, de centros de estudo e de educadores que atuam na interseção entre escolas públicas, democracia e mudanças tecnológicas no mercado de trabalho. Esperamos que o público inicial desse movimento de ideias seja composto por influenciadores e responsáveis por políticas públicas. Para envolver professores, pais e a sociedade em geral, será preciso um conjunto de estratégias mais voltadas à mobilização popular.

Isso posto, ideias não se espalham por conta própria, e a fragmentação do mundo acadêmico dificulta a formação de uma massa crítica de conhecimento. Para superar isso, será necessário apoiar instituições, criar redes profissionais ou até fundar novos centros de estudo ou organizações. O papel desempenhado nos Estados Unidos pelo American Enterprise Institute e pela Heritage Foundation na gênese do neoliberalismo serve como um exemplo importante.20

Como complemento ao trabalho teórico, serão necessários estudos sobre problemas concretos – sobre como construir identidade cívica e pertencimento em ambientes diversos, como alinhar habilidades cívicas com competências exigidas pelo mercado ou como aplicar a ética da inteligência artificial a currículos do ensino secundário, por exemplo. Cursos de pós-graduação em educação são os mais indicados para esse trabalho, pois têm especialização no tema e capacidade de aplicar a pesquisa à formação de educadores.21 

Embora a construção da base conceitual vá levar tempo para amadurecer, também é necessário investir em inovações e experimentos de caráter prático. Parte desse trabalho envolve fortalecer diretamente a formação democrática de jovens. Outros casos dizem respeito a novas possibilidades para repensar o papel da escola na sociedade. Vejamos os exemplos a seguir:

Escolas comunitárias | Escolas comunitárias integram a educação tradicional com serviços sociais e de saúde, apoio às famílias e participação na comunidade. Elas ganharam novo impulso após a pandemia, devido à atenção dada a necessidades de saúde física e mental; o governo federal americano e estados como Califórnia agora apoiam sua expansão. Esperamos ver um reconhecimento renovado da interdependência entre a educação e outros fatores sociais que influenciam a aprendizagem, além de soluções políticas e práticas que congreguem esses diferentes setores.

Educação cívica | Movidos pelas mesmas ameaças à democracia que mencionamos, alguns estados e distritos americanos responderam não com a proibição de livros, mas com a ampliação da educação cívica.22 Em 2022, o Congresso aumentou a dotação federal para o ensino cívico, embora essa verba ainda seja minúscula em comparação com outras prioridades.23 Para manter esse avanço, recomendamos que a preparação cívica não se limite a disciplinas de história e estudos sociais. Além disso, o jovem precisa de escolas e comunidades que promovam sua autonomia e autoeficácia, com currículos que incentivem a investigação de questões relevantes para sua vida e educadores preparados para desenvolver habilidades cívicas e políticas que destinem recursos adequados a esse trabalho. 

Currículo afirmativo | Com o crescimento recente da atenção dada à questão racial, editoras de livros didáticos, distritos escolares e estados vêm adotando mais currículos e recursos pedagógicos que reflitam a diversidade social e cultural dos alunos. Embora a reação contra a equidade na educação tenha levado certas editoras a eliminar referências a raça e gênero de seu catálogo, a maioria está buscando orientação para manter presente a diversidade cultural. Dados comprovam a eficácia de materiais mais afirmativos, e vemos a melhoria curricular como um passo importante para aumentar o pertencimento e a autoeficácia dos alunos na escola e fora dela.

Voz do estudante | Esse termo diz respeito à capacidade do aluno de compartilhar suas perspectivas e vivências sobre temas que considera importantes, tanto na escola como fora dela. Estudos indicam que estimular a voz do estudante pode aumentar a participação e o desempenho na escola, e jovens que desenvolvem essa habilidade no ensino médio têm maior probabilidade de votar, fazer voluntariado, protestar e até se candidatar a cargos públicos na vida adulta.24 Ampliar essa manifestação tem sido um foco recente no setor educacional; iniciativas incluem desde pesquisas com alunos sobre suas experiências escolares até atividades que os capacitam a enfrentar desafios na comunidade e a participar em organizações e movimentos juvenis. Ao apoiar a voz do estudante, a escola pode prepará-lo para expressar suas opiniões cívicas e se envolver mais profundamente na vida democrática.

Apoiar a formação democrática de jovens em comunidades diversas é um complemento necessário ao trabalho nacional de desenvolvimento de ideias e práticas. Além disso, reflete o poder considerável que estados e distritos escolares detêm no descentralizado sistema educacional americano. Trabalhando país afora, vimos que a preparação de jovens para a vida democrática varia de acordo com o estado. Illinois tem uma sólida rede de Democracy Schools. A Califórnia investe pesado em escolas comunitárias. Tanto Alabama quanto Massachusetts foram considerados “exemplares” em um ranking recente de padrões de educação cívica em estados. Certos estados têm políticas de apoio à educação cívica, enquanto outros estão partindo do zero. Essas diferenças podem motivar o compartilhamento de melhores práticas entre autoridades estaduais, superintendentes, diretores e professores.

Pesquisas mostram que o americano confia mais na escola pública local do que em escolas públicas em absoluto – refletindo o dado mais geral de que as pessoas confiam mais em instituições locais. Embora a polarização seja um impedimento em certas comunidades, esses dados sugerem que as oportunidades para um convívio harmônico na sociedade são mais fortes no plano local. Nos próximos anos, filantropos, governos e cidadãos podem se esforçar ainda mais para ajudar pais e membros da comunidade a travar um diálogo que transponha diferenças sobre o que desejam para os filhos na escola e fora dela. Já há ferramentas para esse diálogo. O processo de criação do “perfil do formando”, por exemplo, envolve uma ampla gama de membros da comunidade para determinar que atributos querem ver em quem está concluindo o ensino médio (bons cidadãos, pensadores críticos etc.). Embora mais pesquisas sejam necessárias, resultados iniciais sugerem que processos deliberativos como esse podem reduzir a animosidade e criar uma base para a colaboração.

Escolas com propósito cívico

Reafirmar a finalidade da educação pública americana é uma tarefa que envolve a todos. E, embora nem todo mundo que trabalha na educação ensine educação cívica, qualquer pessoa pode fazer seu trabalho com jovens ser relevante para a vida cívica. Se o leitor é professor, por exemplo, o que faria para cultivar nos alunos a capacidade de discordar sem desrespeitar? Se trabalha com aprendizado social e emocional, o que significaria fomentar o sentimento de pertencimento e autoeficácia, não só na escola, mas também no sistema democrático?

Ver a educação sob uma ótica democrática também traz novas possibilidades. Em vez de responder a controvérsias sobre conteúdos, a escola pode se concentrar em transmitir ideias e temas complexos de maneira apropriada para cada faixa etária, envolvendo mais o aluno no aprendizado, ajudando-o a pesar diferentes pontos de vista e preparando-o para lidar com questões que enfrentará mais adiante como cidadão.

Em vez de instrumentalizar a educação para aprofundar divisões políticas, precisamos recordar os benefícios reais do ensino público. Na fundação do país, um dos principais objetivos da educação era formar cidadãos e mitigar o perigo do surgimento de facções em uma democracia dividida. Esse propósito cívico oscilou ao longo da história, mas precisa urgentemente ser renovado em tempos de crescente polarização. Escolas públicas que promovam a valorização da história e o desenvolvimento de habilidades e atitudes de cidadania devem fazer parte da solução de longo prazo para os desafios democráticos que enfrentamos hoje. 

Ao olhar para um futuro repleto de possibilidades, precisamos vislumbrar qualidades humanas que favoreçam o florescimento e reflitam a renovação democrática, como autonomia, empatia, curiosidade, cooperação, pensamento crítico e expressão criativa. Todas essas qualidades são essenciais para relações saudáveis e para uma sociedade saudável. Cultivar essas qualidades no jovem ajudará a criar experiências de aprendizado ricas e relevantes, que todos os alunos merecem e das quais a continuidade da nossa democracia depende.

 

OS AUTORES

KENT MCGUIRE é o diretor de programas de educação da Fundação William and Flora Hewlett.

MATT WILKA é consultor da mesma fundação. 

Notas

Thomas Samuel Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, São Paulo: Perspectiva, 2020.

2 Gordon Fletcher, The Keynesian Revolution and Its Critics: Issues of Theory and Policy for the Monetary Production Economy, Londres: Palgrave Macmillan UK, 1989. 

3 Thomas E. Ricks, First Principles: What America’s Founders Learned from the Greeks and Romans and How That Shaped Our Country, Nova York: Harper Collins Publishers, 2021.

4 Patricia Graham, Schooling America: How the Public Schools Meet the Nation’s Changing Needs, Nova York: Oxford University Press, 2005.

5 Ibid.

6 Gary Gerstle, The Rise and Fall of the Neoliberal Order, Nova York: Oxford University Press, 2022.

7 Charles Ablemann et al., “When Accountability Knocks, Will Anyone Answer?”, em Richard F. Elmore, ed., School Reform from the Inside Out, Cambridge, Massachusetts: Harvard Education Press, 2004.

8 Matthew A. Kraft e Melissa Arnold Lyon, “The Rise and Fall of the Teaching Profession: Prestige, Interest, Preparation, and Satisfaction over the Last Half Century”, EdWorkingPapers, 2024.

9 Linda Darling Hammond, “Transforming the System”, discurso na American Educational Research Association, 2024. 

10 NAEP Long-Term Trend Assessment Results: Reading and Mathematics, Departamento de Educação dos EUA, Institute of Education Sciences, National Center for Education Statistics, 2023. 

11 John O’Conner, “Tea Party Leader Says Common Core Can Revitalize Movement”, State Impact, 31 maio 2013.

12 Robert Putnam, The Upswing, Nova York: Simon & Schuster, 2020. Ver também Alexis de Tocqueville, Democracy in America, 2a ed., vol. 2, Sever & Francis, 1863.

13 A teoria crítica da raça (CRT, na sigla em inglês) é uma área de estudo que investiga como construções sociais de raça e etnia se relacionam com leis, políticas e a mídia nos Estados Unidos. Esse campo ganhou destaque na era dos direitos civis, especialmente à medida que proteções legais conquistadas na década de 1960 começaram a perder força e escolas passaram por um processo de ressegregação. Ver Gloria Ladson-Billings, Critical Race Theory in Education: A Scholar’s Journey, Nova York: Teachers College Press, 2021.

14 Stephanie Coons, “Civics Test Policy Fails to Increase Youth Voter Turnout, Researchers Find,” Penn State University. 6.out.2023. 

15 Joel Breakstone et al., “Students’ Civic Online Reasoning: A National Portrait”, Educational Researcher, vol. 50, edição 8, 2021. 

16 Para uma discussão mais aprofundada sobre diferentes formas de capitalismo e razões para sua provável permanência como uma estrutura fundamental, ver Martin Wolf, The Crisis of Democratic Capitalism, Nova York: Penguin Random House, 2023.

17 O capitalismo prevê apenas o controle privado do comércio e da indústria; regulamentação, tributação, redistribuição, lucro de investidores, entre outros, são acréscimos a essa estrutura básica, que os Estados Unidos e outras nações foram ajustando ao longo do tempo.

18 Isso reflete o princípio da “diferença sem dominação” explorado por Danielle Allen e Rohini Somanathan em Difference without Domination: Pursuing Justice in Diverse Democracies, Chicago: University of Chicago Press, 2020. 

19 David Leonhardt, Ours Was the Shining Future, Nova York: Random House, 2023.

20 Ibid.

21 Para detalhes, ver Michael Feuer, Can Schools Save Democracy? Baltimore, Maryland: Johns Hopkins University Press, 2023.

22 Linda Darling-Hammond e Kent McGuire, “Policy for Civic Reasoning”, The Annals of the American Academy of Political and Social Science, vol. 705, no 1, 2023. 

23 O Departamento de Educação americano gasta cerca de US$ 0,15 ao ano por aluno com educação cívica, enquanto gasta US$ 54 ao ano por aluno em programas de Stem. Com isso, não queremos diminuir o valor das áreas de Stem, mas destacar que ambas as disciplinas são fundamentais para o funcionamento de uma sociedade.

24 Kelly Siegel-Stechler et al., “Youth Who Develop their Voice in High School Are More Likely to Vote”, Circle, 12.mar.2024.



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