Advocacy

Como as empresas sociais defendem causas

De acordo com pesquisas, essas empresas são atores políticos que buscam influenciar políticas públicas e normas socioculturais

Por Chana R. Schoenberger

Desenho de diversas mãos segurando cartazes para ilustrar o tema Como empresas sociais fazem advocacy
Ilustração por Shutterstock / Julia Anisimova

Empresas sociais – organizações que usam atividades empresariais para buscar o bem social – geralmente não são reconhecidas como agentes políticos. Mas uma nova pesquisa pretende mudar isso, analisando como e por que elas se envolvem com advocacy.

“Esta pesquisa demonstra a importância de se reconhecer as atividades políticas das empresas sociais e apresenta novas ideias em relação ao estudo de organizações híbridas e que lidam com desafios sociais complexos”, escrevem os pesquisadores. “Ao destacar o papel integral do advocacy, nosso estudo contribui para uma compreensão mais abrangente de como as empresas sociais geram mudanças sociais, não só prestando serviços de forma direta, mas também moldando o ambiente sociopolítico.”

Pesquisadores que estudam empresas sociais geralmente analisam como elas atendem à comunidade e operam do ponto de vista empresarial. Os autores do artigo – Johanna Mair, professora de organização, estratégia e liderança da Hertie School em Berlim e editora acadêmica da Stanford Social Innovation Review; e Nikolas Rathert, professor assistente de estudos organizacionais na Tilburg University, na Holanda – adotaram uma estratégia diferente.

“Pesquiso empresas sociais e empreendedorismo há 25 anos”, diz Mair. “Uma pergunta que persiste é: por que não olhamos explicitamente para o aspecto político?” Já que a maneira mais eficaz de se solucionar problemas sociais é influenciar aqueles que detêm o poder oficial, faz sentido as empresas sociais se envolverem com política, portanto era importante que a pesquisa olhasse para essa rota de ativismo. “As empresas sociais não operam num vácuo”, afirma ela.

Para descobrir se, como e até que ponto empresas sociais fazem advocacy, os pesquisadores se debruçaram sobre dados de uma pesquisa de 2015 com 718 empresas sociais em sete países – Alemanha, Hungria, Portugal, Romênia, Espanha, Suécia e Reino Unido. Cada organização tinha uma missão social declarada, um ou mais funcionários em tempo integral e pelo menos 5% de sua receita gerada por meio de atividades empresariais.

Analistas falantes da língua local entrevistaram cada empresa. Elas lidavam com problemas em uma de seis áreas: cultura, educação, saúde, serviços sociais, meio ambiente e desenvolvimento humano. Os pesquisadores perguntaram especificamente se elas faziam alguma dessas duas formas de advocacy: político, direcionado a governo e legisladores, e sociocultural, direcionado à sociedade como um todo para influenciar crenças, atitudes e normas.

Embora dados de cada país tenham revelado diferentes distribuições entre advocacy sociocultural e político, a maioria das empresas sociais entrevistadas realizava advocacy: 76% afirmaram trabalhar com questões socioculturais, 62% disseram trabalhar com política, e 8% declararam não fazer advocacy.

O estudo mostrou que o ativismo delas estava relacionado à pressão orçamentária governamental. Se os gastos públicos na área de atuação de uma empresa social diminuíam, havia maior probabilidade de a organização se envolver em advocacy, atuando para chamar a atenção para o problema.

A forma organizacional também é um fator: empreendimentos sociais que competem com empresas tradicionais, bem como aqueles com fins lucrativos, têm menor probabilidade de se engajar em advocacy. Neste caso, “as empresas se afastam desta forma de promoção de mudança social”, diz Mair.

Uma descoberta interessante do estudo é “a ideia de que as empresas sociais podem ajudar a ‘substituir’ organizações sem fins lucrativos que não têm capacidade de defender causas, porque empresas sociais podem usar fundos provenientes de suas atividades comerciais para essa finalidade, enquanto as organizações sem fins lucrativos mais tradicionais enfrentam restrições financeiras maiores”, afirma Jennifer Mosley, professora da Escola Crown de Trabalho Social, Políticas e Práticas da Universidade de Chicago.

Mosley elogia o modo como Mair e Rathert utilizam o conceito de “mercados para fins públicos” para criar novas variáveis que preveem o envolvimento de empresas sociais na política, demonstrando como elas são diferentes de empresas comuns e de organizações sem fins lucrativos: “Essa é uma abordagem muito específica e inteligente que torna o modelo deles mais confiável.”

O estudo também mostra que empresas sociais se veem situadas entre as organizações sem fins lucrativos e as empresas tradicionais. “Em suma, quanto mais elas se veem como empresas propriamente ditas, menos se concentram em trabalhar por mudanças sociais estruturais”, afirma Mosley.

Veja o estudo completo: “The Political Side of Social Enterprises: A Phenomenon-Based Study of Sociocultural and Policy Advocacy”, por Johanna Mair e Nikolas Rathert, Journal of Management Studies.

A AUTORA

Chana R. Schoenberger é jornalista em Nova York. Ela escreve sobre negócios, finanças e pesquisa acadêmica. Você pode segui-la no X (antigo Twitter): @cschoenberger.

*Artigo publicado originalmente na edição 11 da SSIR Brasilleia aqui a edição completa

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