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Os protestos estão no radar das empresas

Os protestos da Marcha das Mulheres convenceram as empresas a selecionar mais mulheres para seus conselhos

Por Chana R. Schoenberger

Ilustração por Brian Stauffer

Como as companhias se informam sobre as questões prioritárias para as comunidades onde atuam e o que fazem com essa informação? Uma nova pesquisa examina o nexo entre protestos de rua próximos a empresas e como estas reagem em relação aos temas das manifestações.

De 2017 a 2020, as ruas de várias cidades americanas foram tomadas por Marchas das Mulheres. Elas ganharam atenção conforme a multidão se unia em apoio às causas feministas e contra a misoginia do presidente Donald Trump.

Pesquisadores de três faculdades de administração – Muhan Zhang, doutorando do Smeal College, da Universidade Penn State; Forrest Briscoe, professor de gestão na mesma faculdade; e Mark DesJardine, professor associado da Tuck School, da Universidade Dartmouth – resolveram analisar como as empresas reagiam quando os protestos ocorriam perto de suas sedes. Que medidas tomavam? Isso as motivava a ter mais mulheres em seus conselhos?

Os pesquisadores calcularam o número de participantes dos protestos e analisaram a composição dos conselhos de cada empresa de capital aberto listadas no índice S&P 1500 para entender como elas passaram a incluir diretoras nos meses subsequentes a protestos perto delas. Eles não tinham natureza anticorporativa e não visavam empresas em particular, por isso não causavam efeito direto na tomada de decisão das companhias.

A pesquisa mostrou que a Marcha das Mulheres favoreceu a nomeação de novas diretoras em conselhos. Com a crescente preocupação nacional sobre diversidade de gênero na liderança corporativa e, em especial, em conselhos. Em 2017, 30,5% dos novos diretores nomeados nas empresas da S&P 1500 eram mulheres, em 2020, essa proporção aumentou para 44,1%. Essa tendência foi verificada principalmente em locais onde as marchas ocorreram, mostrando uma correlação positiva entre a escala dos protestos e a localização da sede das empresas que nomearam mulheres depois deles.

Para descobrir como as empresas usavam os protestos para definir melhor a opinião da comunidade local sobre determinada questão, os pesquisadores analisaram também a orientação política da região. Eles partiram da hipótese de que, em áreas conservadoras, seria menos provável que um protesto feminista atraísse manifestantes para as ruas. Portanto, os atos serviriam para alertar os executivos de que precisavam tomar alguma medida sobre a diversidade de gênero em seus conselho. Os resultados mostraram que a probabilidade de as empresas nomearem mulheres era maior se a presença e a escala da marcha divergisse da inclinação social da comunidade ou da diretriz anterior da própria empresa.

A pesquisa foi muito oportuna para a governança corporativa. Em alguns estados, como o Texas, empresas consideradas “politicamente corretas demais” estão proibidas de trabalhar com o governo. Os gestores de empresas nessa situação precisam repensar sua interação com os stakeholders, desde clientes e funcionários até os membros da comunidade. Se a população pensa que a empresa não defende as causas da comunidade, a companhia pode ter dificuldade para contratar e reter funcionários ou para atrair clientes.

“É isso que as empresas estão fazendo ao responderem aos protestos”, observa Zhang. “Nosso estudo não mostra evidências de que as empresas estejam indo além dessa lógica básica de negócios para tirar recursos corporativos dos acionistas e pôr no bolso dos stakeholders.”

Um resultado interessante da pesquisa foi mostrar que conselheiros se preocupam com a localização da sede da empresa a fim de saber o que as pessoas comunidade pensam sobre os movimentos sociais e suas causas – mesmo quando a empresa opera em locais graficamente mais dispersos, segundo observa James Westphal, professor de administração de empresas na Universidade do Michigan.

“Uma contribuição importante deste estudo é mostrar que, surpreendentemente, as empresas – mesmo as grandes – respondem a protestos em suas comunidades”, diz Westphal. “Lembrando que os stakeholders de muitas das empresas da amostra pesquisada se distribuem por uma área muito maior que a da sede (regiões maiores e até países diferentes), a pesquisa sugere que existe certa miopia na forma como as empresas fazem inferências sobre as questões sociais que preocupam seus stakeholders.”

Veja o estudo completo: “Corporate Boards with Street Smarts? How Diffuse Street Protests Indirectly Shape Corporate Governance”, por Muhan Zhang, Forrest Briscoe e Mark R. DesJardine, Administrative Science Quarterly, vol. 68, no 4, 2023.

 

A AUTORA

Chana R. Schoenberger é jornalista, escreve sobre negócios, finanças e pesquisas acadêmicas. Mora em Nova York e pode ser encontrada no X como @cschoenberger.



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