Imprimir artigo

Um selante sustentável

Engenheiro aeronáutico filipino inventa material orgânico à base de resina de árvore local para substituir selante tóxico

Por Anne Lagamayo

O inventor e engenheiro Mark Kennedy Bantugon posa com sua invenção, Pili Seal, o primeiro selante sustentável para aeronaves. (Foto cortesia de Mark Kennedy Bantugon)

Em 2018, Mark Kennedy Bantugon, estudante de engenharia aeronáutica e estagiário nos departamentos de manutenção de aviação das companhias Philippine Airlines e da Lufthansa, notou o odor desagradável dos selantes usados para reparar aviões, evitar vazamento de combustível e proteger áreas expostas à água ou intempéries. Selantes comerciais são feitos de polissulfeto, composto químico sintético amplamente utilizado há mais de 50 anos e que, embora eficaz, é tóxico para seres humanos e causa sérias irritações dermatológicas, respiratórias e oculares. Bantugon e seus colegas de trabalho precisavam usar equipamentos de proteção individual (EPIs) completos para manuseá-los.

Em 2019, Bantugon decidiu que inventaria, para sua tese de conclusão de curso no Philippine State College of Aeronautics, um selante de aviação sustentável e não tóxico. Ele batizou este que é o primeiro selante sustentável de aeronaves a existir de Pili Seal.

Bantugon se inspirou em sua infância como filho de agricultor para inventar o material orgânico feito com a resina gasta da árvore de pili, nativa das Filipinas. A resina costuma ser usada como adesivo e é como uma cola secretada pelas árvores, que se solidifica quando exposta ao ar.

Da resina bruta da árvore se destila um óleo essencial usado em perfumes. A resina gasta é considerada um subproduto desse processo de destilação.

O Pili Seal é engenhoso em sua simplicidade: é 90% resina de pili e 10% endurecedor químico, usado para fortalecer a resina à medida que se solidifica. A invenção de Bantugon passou por 20 testes de padrões diferentes, como inflamabilidade e resistência, conduzidos pelo Departamento de Energia das Filipinas e por outras agências governamentais locais. Como o selante passou no teste de toxicidade, os trabalhadores de manutenção da aviação não precisam mais de EPIs para trabalhar com ele e, diferentemente dos selantes comerciais, tem um aroma de “erva-doce com notas cítricas e amadeiradas”.

A invenção de Bantugon atraiu a atenção internacional pela primeira vez em 2021, quando venceu a categoria internacional do James Dyson Award.

Craig Douglas, gerente sênior de design e desenvolvimento da Dyson, explica que um dos principais destaques, para os jurados, foi do ponto de vista da sustentabilidade. “O projeto não apenas causa impactos ambientais diretos, mas também sociais, de saúde e econômicos, pois vimos seu potencial para beneficiar positivamente vários setores.”

Bantugon espera que seu selante crie um fluxo de renda estável para a comunidade agrícola filipina, incluindo seu pai, que cultiva árvores de pili e o inspirou. “Seu tipo de trabalho me permitiu estabelecer uma base boa e forte na educação, particularmente na pesquisa de base experimental alinhada com a agricultura e a sustentabilidade”, diz ele. Seu objetivo final é tornar as Filipinas independentes da importação de selantes de aviação.

O projeto foi patenteado em abril de 2023, e Bantugon o tem apresentado a investidores de seu país e dos Estados Unidos. Ele espera levantar capital suficiente para construir sua própria empresa de fabricação de selantes de aviação. No entanto, a captação de recursos tem se mostrado um desafio para ele. “É a minha primeira vez e não conheço os potenciais investidores. Ainda não construímos uma relação.”

Bantugon prevê a aplicação do selante em outros usos, como carros, eletrônicos, montagem industrial e até telhados. Essa última seria a mais urgente, visto que os filipinos enfrentam tufões crescentes, fortes e destrutivos devido às mudanças climáticas que danificam suas moradias. Para Bantugon, progresso e inovação caminham de mãos dadas com sustentabilidade e resolução de problemas, e ele espera que haja mais invenções como a dele.

“Precisamos de pessoas dispostas a contribuir para resolver um problema e ser parte da solução”, diz ele. “Precisamos plantar a semente certa, não apenas para nossas vidas, mas também para as próximas gerações.”

A AUTORA

Anne Lagamayo é produtora e roteirista. Já escreveu para a CNN, The New York Times e The Atlantic. Cresceu em Manila e atualmente vive em Nova York.



Newsletter

Newsletter

Pular para o conteúdo