Para as empresas africanas que procuram expandir, a falta de competências em recursos humanos pode ser um desafio. Para lidar com esse obstáculo ao crescimento, um programa feito sob medida para profissionais africanos em meio de carreira foi lançado online em fevereiro de 2022. O RIKA HR Leadership Programme ajuda os participantes a irem além da liderança funcional – supervisionando o recrutamento ou a administração da folha de pagamento – para se tornarem líderes estratégicos capazes de promover talentos e desenvolver culturas organizacionais produtivas nos negócios.
“O trabalho mudou”, diz Susan Githuku, especialista queniana em recursos humanos. “Quando isso acontece, você precisa de novas habilidades. E quem é o responsável por se antecipar a tudo isso? São os líderes de gestão de capital humano.” Sua empresa, a Human Performance Dynamics Africa (HPD Africa), é uma das desenvolvedoras do programa.
O curso, cujo grupo inicial contou com 23 participantes do Quênia, Nigéria, Ruanda, África do Sul e Uganda, tem cinco módulos – técnico, negócios, digital, liderança e mudança – para treinar os participantes em como analisar as tendências do local de trabalho, implementar programas de gerenciamento de transições e criar estratégias para formar futuros líderes. O programa foi desenvolvido para fornecer habilidades essenciais para o crescimento profissional, diz Githuku, de forma que os diretores de recursos humanos e aqueles em cargos semelhantes possam fazer parte das equipes sêniores de liderança das empresas, junto ao CEO e CFO.
O formato do programa atraiu Diana Gombe. Como chefe de pessoas e cultura na World Wildlife Fund Africa, organização internacional sem fins lucrativos de conservação da biodiversidade, ela estava procurando ser mais estratégica em sua abordagem da gestão de recursos humanos.
Alex Obuhatsa, chefe de desenvolvimento de talentos e organizações do SBM Bank Kenya, também ficou entusiasmado para se inscrever. “Havia uma enorme agenda de transformação”, diz ele. “Eu imediatamente soube que queria fazer parte disso.”
Tal entusiasmo não surpreendeu Liesel Pritzker Simmons, cofundadora da Blue Haven Initiative, que trabalhou com a HPD Africa no desenvolvimento do programa. Escritório familiar focado em investimentos de impacto, a Blue Haven investe em empresas em toda a África Subsaariana.
“Muitas das empresas de nosso portfólio estavam enfrentando dificuldades para encontrar bons treinamentos em gestão de pessoas e desenvolvimento de capital humano”, diz Pritzker Simmons. “Temos visto repetidamente como é grande a quantidade de talentos na África, mas muitas pessoas estão sendo treinadas no ambiente de trabalho.”
Pritzker Simmons e Githuku esperam que a RIKA possa preencher essa lacuna. A Blue Haven financiou o desenho da grade curricular, o recrutamento (postagens nas redes sociais, headhunting e apresentações a empresas e a associações de RH), execução do programa e algumas bolsas de estudo para o primeiro grupo de alunos.
Uma taxa de US$ 6.500 cobre quatro meses de treinamento, kits de ferramentas, estudos de caso, mentoria e avaliações 360 graus – tudo disponível online por meio de um sistema de gerenciamento de aprendizado. Também está incluído o acesso aos cursos online da Josh Bersin Academy, uma academia global de desenvolvimento profissional para profissionais de recursos humanos.
O formato virtual permite que a RIKA traga professores e líderes do mundo todo para conduzir os encontros, como a CEO da Exell Intelligence do Reino Unido, Deborah Exell, o chefe do grupo de talentos e aprendizagem da Heineken, Arnold Dhanesar, e o professor de administração de empresas da Universidade de Michigan, Dave Ulrich.
Para Gombe e Obuhatsa, o programa os levou a encarar suas funções de uma nova maneira. “Uma transformação aconteceu no primeiro dia”, diz Obuhatsa. “Foi uma mudança de mentalidade para toda a classe, que passou a se ver como líderes de negócios e não como líderes funcionais.”
Gombe diz que o curso a ajudou a ir além dos aspectos técnicos de RH: “Trata-se de garantir que temos as pessoas certas no lugar certo e desenvolvendo uma cultura que possibilita o crescimento”.
Um desafio para o programa é seu custo alto. Enquanto algumas pessoas podem assegurar financiamento para seus colaboradores, explica Githuku, outras querem se patrocinar para evitar serem vinculadas a uma organização.
A filantropia poderia oferecer uma solução, e a Blue Haven sugere que pode continuar a financiar duas ou três bolsas de estudos anualmente. Nos próximos anos, será importante para a RIKA encontrar maneiras de expandir o acesso ao programa, se o objetivo é ajudar os países da África a gerar empresas de rápido crescimento e atrair o financiamento necessário para atingir as metas de desenvolvimento sustentável.
“No momento, investir em mercados emergentes é visto como algo arriscado porque as pessoas não acham que haja um número relevante de talentos”, diz Pritzker Simmons. “Acreditamos firmemente que este não é o caso.”
O talento e o capital humano são fundamentais para o desenvolvimento. “A capacidade humana – talento, organização, liderança e RH – costuma ser a chave para o sucesso”, observa Ulrich. “Em mercados emergentes e economias em crescimento, as organizações que investem na capacidade humana serão mais bem-sucedidas.”
A RIKA pode ajudar a liberar o vasto potencial inexplorado da África. “Falamos sobre tecnologias digitais, infraestrutura e energia”, diz Githuku. “Mas raramente falamos sobre o capital humano necessário para transformar todos esses investimentos. Se vamos fazer a diferença no desenvolvimento do continente, precisamos desenvolver ativos de capital humano.”
A AUTORA
Sarah Murray é jornalista, autora e palestrante especializada em negócios, sociedade e ambiente. Escreve para o Financial Times e outras publicações.
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