Fechando a lacuna de diversidade racial na medicina
Diversidade racial na medicina: iniciativa de Financiamento dos Futuros Médicos (FFP) visa diversificar a profissão preparando estudantes sub-representados para entrar na faculdade
Por Allison Torres Burtka
Um crescente corpo de pesquisas mostra uma correlação positiva entre a diversidade racial dos médicos e os resultados de saúde para comunidades carentes. No entanto, dados de 2022 da Associação Americana de Faculdades de Medicina revelam uma disparidade significativa de representatividade demográfica racial: enquanto 13,6% da população dos EUA é negra ou afro-americana, apenas 5,2% dos médicos são; 6,3% dos médicos se identificam como hispânicos, latinos ou de origem espanhola, em comparação com 19,1% da população; e 0,3% dos médicos são indígenas ou nativos do Alasca, em comparação com 1,3% da população.
“Temos que diversificar a medicina de forma a torná-la mais parecida com nossa população de pacientes, mas ninguém nos diz como fazer isso”, diz Sydney Labat.
Em 2019, Labat, Russell Ledet e Rachel Turner, então colegas de faculdade e agora médicos, ao lado de Brian Washington (que hoje estuda medicina), decidiram agir contra essa lacuna racial. Eles fundaram a organização sem fins lucrativos The 15 White Coats (The 15WC) para apoiar e incentivar estudantes racialmente marginalizados de todos os níveis de ensino que queiram ser médicos.
A ideia da ONG nasceu com uma foto que Washington tirou dos outros três e de 12 de seus colegas negros da Escola de Medicina da Universidade Tulane vestindo seus jalecos brancos em frente às cabanas de escravos na Whitney Plantation em Edgard, Louisiana. A foto foi transformada em um pôster e distribuída para mais de 100 mil salas de aula em todo o país para mostrar o avanço afro-americano no campo profissional da saúde, apesar de séculos de opressão sistêmica.
Em novembro de 2023, The 15WC lançou a Iniciativa de Financiamento dos Futuros Médicos (FFP) para ajudar 50 estudantes de faculdades e universidades historicamente negras (HBCUs) e de instituições que atendem hispânicos e indígenas a entrar em cursos de medicina. A iniciativa é um programa de seis meses que fornece preparação para o MCAT [o exame de admissão em medicina dos EUA], com tutoria, orientação, assistência de redação e ajuda financeira para estudantes universitários. Os participantes também se reúnem com reitores e professores para discutir aspectos do curso e da carreira.
Labat ressalta que, embora bolsas de estudo costumem ser vistas como a solução para melhorar a diversidade racial nas faculdades de medicina, o primeiro desafio é ter bom desempenho no MCAT. O custo total das inscrições pode alcançar milhares de dólares, sem falar nas despesas para visitar as escolas e as dificuldades do próprio processo.
O único financiador do FFP é a Genentech, corporação de biotecnologia com sede em São Francisco. “O apoio se casa ao nosso objetivo de construir uma força de trabalho médica diversa, inclusiva e próspera, que seja responsável por todos os pacientes”, diz Emily Lepner, gerente sênior de doações e impacto social da Genentech. “Organizações lideradas por pessoas não brancas historicamente têm pouco acesso a recursos filantrópicos. Por isso, priorizamos o apoio a líderes como o dr. Ledet, cujos programas inovadores estão enfrentando políticas e práticas muito arraigadas no sistema de saúde.”
Ledet e Labat testemunharam como é importante para seus pacientes terem médicos negros. Ledet conta que, recentemente, entrou em um quarto de hospital para atender uma criança e a primeira coisa que a mãe disse ao filho foi: “Uau, seu médico tem dreads que nem você!”. “O garoto estava, tipo, ‘cara, eu quero ser médico também, sempre pensei nisso, mas nunca tinha visto um médico parecido comigo’.”
O objetivo maior do FFP, ao trabalhar para aumentar a diversidade racial na medicina, é melhorar os resultados de saúde em comunidades sub-representadas.
“Está provado que, quando você compartilha identidades com seus profissionais de saúde, há mais adesão ao tratamento, mais confiança – mais tudo”, diz Bennetta Horne, reitora assistente de equidade, diversidade e inclusão da Escola de Medicina da Universidade Tulane, que ajuda os alunos do FFP a elaborar suas declarações pessoais para ingresso em faculdades.
Labat vê um efeito cascata. “Quantas pessoas podemos tocar com um médico que represente uma minoria?”, ela indaga. “Eu só posso imaginar a quantidade de pessoas que alcançaremos com esse grupo de crianças.”
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