Como se posicionar quando seu trabalho está sob ataque
Fale sobre seu trabalho e seu sucesso, converse sobre o que está em jogo e engaje as pessoas para a mudança
Por Felix Schein
As primeiras ações do segundo mandato presidencial de Donald Trump nos Estados Unidos não surpreendem ninguém que trabalha para melhorar as vidas de outras pessoas. O novo governo não escondeu seu desejo de cortar e reduzir os serviços que apoiam pessoas marginalizadas nos EUA e no exterior, e tem sido claro sobre sua ambivalência em relação às leis e ao Estado de Direito.
Em uma eleição voltada para a mudança, venceu o candidato que representava a mudança. Mas, como cidadãos e profissionais, mudar não significa abandonar seus valores ou as questões com as quais você se importa. A oposição popular e a ordem judicial contra o congelamento do financiamento federal são exemplos de como a pressão pública pode funcionar para interromper ou atrasar os movimentos de cortes de direitos. É possível recorrer a valores compartilhados para construir um espaço mais inclusivo que promova progresso a longo prazo.
Mas como, exatamente, o setor social pode agir neste momento?
Assuma seu sucesso
Fale sobre seu trabalho e seu sucesso. A intimidação só funciona se houver um elo fraco, se as pessoas começarem a ceder e se voltar umas contra as outras ou contra suas ideias, ou se você abandonar a praça pública. Em vez disso, trabalhe para pautar a praça – como a Bloomberg Philanthropies fez ao preencher uma lacuna crítica de financiamento e reforçar sua missão, ou como Melinda French Gates e a Fundação Bill & Melinda Gates fizeram ao falar sobre os impactos dos cortes na assistência internacional. Empresas como JP Morgan Chase e Costco também assumiram uma posição pública firme em apoio às suas iniciativas de diversidade, equidade e inclusão, esclarecendo por que a ênfase no respeito e na dignidade de todos os funcionários é benéfica para os negócios. Avançar de maneira neste momento pode abrir caminho para manter posição com firmeza e convicção, preparando-se para os desafios futuros em vez de apenas torcer para que não se concretizem.
Essa é uma oportunidade de destacar suas conquistas e o que você sabe que é eficaz, além de promover esses feitos para novos públicos. Você tem a chance de se apoiar no progresso, conectá-lo aos valores da população e projetar força. Não deve ignorar os vastos estudos que embasam seus programas nem os valores inclusivos que nos tornam mais fortes – como indivíduos, comunidades e empresas. Pelo contrário, deve abraçar esse progresso e traduzir seu impacto para pessoas e comunidades específicas. Isso inspirará outras pessoas e instituições a fazer o mesmo.
Converse sobre o que está em jogo
Uma possível conclusão a ser tirada do resultado da eleição presidencial nos EUA é que uma grande fatia dos eleitores não compreende como programas sociais os afetam e impactam suas comunidades. O foco nos impactos locais, como os prejuízos a programas conhecidos, como aqueles dedicados à primeira infância e à distribuição de alimentos, mobilizou o público e levou à revogação inicial do congelamento do financiamento federal. Isso faz sentido, pois a ciência nos mostra que nossos cérebros priorizam as emoções em relação aos fatos, e a aversão à perda provoca uma resposta emocional mais intensa do que a expectativa de ganhos.
Agora é o momento de ilustrar o que as pessoas podem perder sem essas políticas – como agricultores deixando de receber milhares de dólares em financiamento essencial e centenas de famílias ficando sem acesso a creches. Conecte-se a valores compartilhados, como proteger as crianças, sentir orgulho em sustentar a família e promover a saúde, usando exemplos claros do impacto que a perda de programas sociais terá no retrocesso das comunidades. Preocupe-se menos com os detalhes das políticas e torne as implicações do mundo real tangíveis, em uma linguagem imediata e de fácil compreensão.
Crie um espaço de escuta inclusiva e democrática
Há força quando a comunidade é grande. Crie um espaço que possa alcançar pessoas de todas as identidades sociais. Lembre ao público e à imprensa que há gente trabalhando para elevar outros atores responsáveis pela mudança em ambas as frentes, além de muitas instituições, da religião ao esporte, que lutam por essas causas sem fins lucrativos.
Percebemos eventos e grupos ao nosso redor por meio de nossa identidade social. E grande parte de nossa identidade é moldada pelos lugares em que vivemos, pelas pessoas que conhecemos, por nossa fé e por nossa experiência pragmática e em primeira mão. É por isso que a localização de questões pode oferecer talvez a maior oportunidade de alcançar pessoas de todas as identidades sociais. O público confia mais nas notícias locais do que nas nacionais. As autoridades locais são vistas de forma mais positiva do que suas contrapartes nacionais. Faça um balanço do seu trabalho, quem você pretende alcançar e as ideologias que informam essa abordagem. Como você pode se comunicar sobre sua causa de uma maneira que pessoas de todas as origens possam entender? Pegue esse pensamento e amplifique-o localmente, por meio de vozes da comunidade em que as pessoas confiam.
As coisas não precisam dizer respeito a um ou outro partido. Dê voz ao que tem funcionado e por quê, utilizando uma abordagem que mostre como suas ações estão alinhadas com os anseios da sociedade em geral. Em vez de se perder na política dos processos, concentre-se nos resultados. Em outras palavras, foque nas pessoas fora da esfera política e em como seu trabalho as beneficia. Se sua mensagem ressoar, serão essas mesmas pessoas que vão te apoiar.