Imprimir artigo

A vagina em exposição

Museu em Londres educa o público sobre saúde ginecológica e reprodutiva para dissipar mitos sexistas e desafiar políticas normativas do corpo

Por Marianne Dhenin

Uma exposição da exposição temporária “Períodos: Uma Breve História” do Museu da Vagina, em 2022. (Foto cortesia do Museu da Vagina).

Décadas de vieses de pesquisa e subfinanciamentos, a persistente falta de educação ginecológica e crescentes ataques aos direitos de mulheres, pessoas trans e queer impedem que muitas busquem atendimento médico ou mesmo informações sobre como seus corpos funcionam.

Leia também:

Como o fracasso mudou minha maneira de pensar sobre o trabalho sem fins lucrativos

Além dos ensaios clínicos

Para apagar o estigma em torno do corpo e da anatomia ginecológica, a comunicadora científica Florence Schechter lançou, em 2017, o Museu da Vagina, o primeiro do mundo dedicado à anatomia ginecológica e à saúde. É um espaço acessível, feminista e transinclusivo cujas exposições e eventos respondem ao clima político antitrans atual, aumentando a conscientização, desafiando comportamentos normativos e crenças sobre gênero e sexualidade e promovendo fóruns para a organização LGBTQ+ e dos direitos das mulheres.

Schechter criou o Museu da Vagina depois de ficar sabendo da existência do Museu do Pênis em Reykjavik, Islândia. “Começou como uma ideia divertida”, diz ela. “Mas, à medida que conversava com mais pessoas, percebi que poderia fazer muito bem. Muitas se preocupavam com a conscientização e o ativismo em saúde, e isso é muito do que o Museu da Vagina faz hoje.”

O museu já havia feito uma série de exposições temporárias e eventos antes de ter seu primeiro espaço em novembro de 2019. Em poucos meses, no entanto, a pandemia de covid-19 o obrigou a fechar as portas. No início de 2022, reabriu em um novo local temporário e, em abril de 2023, lançou uma campanha de financiamento coletivo para obter 85 mil libras para ter uma sede. O endereço permanente foi aberto ao público em outubro do mesmo ano. “Como as coisas têm sido instáveis, não conseguimos crescer, nos estabelecer ou atender nosso público da melhor maneira possível”, diz Schechter.

Outro desafio é a censura online recorrente, que mina sua missão educacional e limita o alcance a possíveis fãs e financiadores. Postagens que incluam palavras como vagina e clitóris são frequentemente sinalizadas como conteúdo adulto e removidas das redes. Schechter diz que o museu precisa recorrer das remoções e não pode fazer publicidade paga nas plataformas. No entanto, conseguiu aumentar o número global de seguidores por meio de uma estratégia inteligente de mídia social, cartazes e anúncios de outdoor digital em Londres, com atenção significativa da imprensa. Em 2023, ela também publicou um livro inspirado pelo trabalho do museu, V: An Empowering Celebration of the Vulva and Vagina (V: Uma celebração empoderadora da vulva e da vagina).

Os seguidores do museu ajudaram a impulsionar o financiamento da sede, arrecadando quase 90 mil libras por meio de mais de 2.500 doações individuais em apenas dois meses. A empresa The Body Shop também deu seu apoio, patrocinando a exposição Periods: A Brief History (Menstruação: uma breve história), bem como o grupo de investimento filantrópico sueco The Case for Her, cuja missão é abordar questões em torno da menstruação, da saúde feminina e do prazer sexual das mulheres.

“As pessoas querem aprender sobre o corpo”, diz Polly Cohen, pesquisadora clínica acadêmica em saúde sexual e reprodutiva comunitária no University College Hospital e no Mortimer Market Centre, em Londres. Ela, que passou a integrar o conselho de curadores do Museu da Vagina neste ano, diz que as exposições e recursos do museu “ajudam as pessoas a se empoderarem sobre sua saúde”.

Graças ao financiamento coletivo, a instituição conseguiu uma sede no leste de Londres, com três galerias, espaço multiuso e café. A exposição inaugural foi sobre endometriose, e em breve o local ganhará uma edição ampliada de sua exposição permanente, From A to V (De A a V), que aborda anatomia, saúde, diversidade de vulvas e ativismo.

O museu também planeja investir em novas atividades de extensão e parcerias, como a colaboração com a Endometriosis CaRe Oxford e o Wellcome Centre for Human Genetics, da Universidade de Oxford, para uma exposição temporária. “Queremos criar oportunidades para que nossos pesquisadores falem diretamente com o público e ouçam diretamente as pessoas afetadas por qualquer condição que estudem”, diz Brian Mackenwells, responsável pelo engajamento público do Wellcome Centre.

Para Nura Fitnat Topbas Selcuki, pesquisadora do grupo Endometriosis CaRe que está contribuindo com pesquisas sobre adenomiose para a exposição por vir, trabalhar com o Museu da Vagina é empolgante porque fornece “uma zona confortável para falar, aprender ou ver coisas que são estigmatizadas em outros espaços”.

 

A AUTORA

Marianne Dhenin é jornalista e historiadora premiada.



Newsletter

Newsletter

Pular para o conteúdo