Educação

A psicologia por trás das conspirações

Por Daniela Blei

Nate Allred teve uma imersão em teorias da conspiração anos atrás, quando seu companheiro de quarto na faculdade assistia a programas de TV de extrema direita na sala de estar que dividiam. Quanto mais o colega insistia que Allred deveria abrir os olhos para tramas secretas orquestradas por atores sinistros, mais Allred se interessava pelos aspectos psicológicos do pensamento conspiratório. Hoje professor assistente de marketing e gestão da cadeia de suprimentos na Escola de Administração Rawls da Universidade de Tecnologia do Texas, Allred publicou recentemente um artigo com Lisa E. Bolton, professora de marketing e administração de empresas na Universidade do Estado da Pensilvânia, demonstrando como o letramento científico reduz a crença em teorias da conspiração, como as que dizem que a mudança climática é uma farsa ou que pessoas poderosas planejaram a pandemia de covid-19.

A pesquisa de Allred começou por tentar identificar se havia um gatilho que levasse as pessoas a acreditar nessas teorias ou uma força que diminuísse sua suscetibilidade a conspirações. Juntos, Allred e Bolton desenvolveram a hipótese de que o letramento científico atenua o pensamento conspiratório. Eles conceberam dez estudos para testar a hipótese, esperando também usar sua pesquisa para atuar em contextos variados. “Muitas das implicações da nossa pesquisa são de caráter sistêmico, como investir no pensamento crítico científico na educação pública”, afirma Allred. “Mas isso não vai ajudar seu vizinho que se recusa a se vacinar agora; também queríamos propor intervenções rápidas.”

O letramento científico se compõe de dois aspectos: conhecimento factual sobre tópicos científicos e habilidades de pensamento crítico que derivam do raciocínio científico, como entender a diferença entre correlação e causalidade. Para os pesquisadores, foi fundamental, desde o início, diferenciar letramento científico e grau de instrução. Embora muito se defenda ampliar a educação contra a disseminação de teorias da conspiração, os pesquisadores descobriram que só mais ensino, sem informações científicas específicas e habilidades de pensamento crítico, não previne a crença em teorias da conspiração.

Em um experimento, avaliaram as diferenças entre estudantes universitários prestes a se formar em cursos da área Stem (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) e de outras áreas. Entre alunos formados na mesma instituição e com o mesmo nível de educação houve claras disparidades. Os da área Stemse mostraram muito menos propensos ao pensamento conspiratório que os demais.

Allred também foi a convenções associadas a teorias da conspiração para coletar dados. “Todos têm vizinhos, pessoas comuns que acreditam em conspirações, mas podemos aprender muito com grupos mais passionais”, diz Allred. Usando pesquisas para medir os níveis de letramento científico nessa “população altamente conspiratória”, ele descobriu que, mesmo entre os mais fervorosos, os que tinham maior letramento científico acreditavam com menos convicção nas teorias conspiratórias. Os pesquisadores também criaram um banco de dados internacional a partir de fontes secundárias, a fim de investigar as diferenças entre países. E, durante a pandemia de covid, criaram outro banco de dados, em nível estadual, para relacionar letramento científico, teorias conspiratórias e taxas de vacinação nos Estados Unidos, demonstrando os efeitos reais dessas crenças.

Os pesquisadores descobriram, ao longo dos dez estudos, que duas categorias de intervenção foram eficazes: primeiro, aprimorar o raciocínio científico para ajudar as pessoas a pensar como cientistas; segundo, fornecer informações científicas precisas sobre um tema relacionado a uma teoria da conspiração. Para os pesquisadores, a primeira categoria de intervenções provou ser muito mais robusta, “inoculando” os participantes do estudo contra futuras crenças conspiratórias.

Um experimento apresentou vídeos de três minutos explicando a diferença entre correlação e causalidade. Após assistir aos vídeos, os participantes mostraram melhora na forma como avaliavam as evidências, o que os ajudou a rejeitar teorias da conspiração também sobre outros tópicos. “O trabalho deles oferece indícios sobre quem é mais suscetível a crenças conspiratórias e como estas ganham força em comunidades específicas”, diz Meg Meloy, professora de marketing da Universidade Estadual da Pensilvânia. “Com o discurso social de hoje repleto de conspirações políticas, esse trabalho é importante para direcionar esforços de remediação.”

 

A AUTORA

Daniela Blei é historiadora, escritora e editora de livros acadêmicos. Sua produção pode ser encontrada em daniela-blei.com/writing. Ela tuíta esporadicamente em @tothelastpage

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