Embora a organização e a infraestrutura – e também os desafios e as oportunidades – da inovação social variem amplamente entre regiões, ela continua sendo um fenômeno global que precisa ser fortalecido e expandido para responder aos múltiplos desafios sociais da atualidade. A Stanford Social Innovation Review mantém o compromisso de trabalhar com colaboradores de diferentes partes do mundo para compartilhar soluções locais para problemas sociais e promover a troca de ideias e inspirações além das fronteiras. Artigos como “Scaling Across Borders by Cocreating with Government”, de Ashleigh Gillwald Morrel; “Asian Philanthropy Can and Must Lead from Within”, de Naina Subberwal Batra; e “Transformação contínua para apoiar MPMEs na América Latina”, de Tina C. Ambos, Alexander Zimmermann e Sebastian H. Fuchs, são apenas alguns exemplos recentes de conteúdos que contextualizam e enfrentam questões de interesse amplo a partir de perspectivas localmente relevantes.
Os editores das edições internacionais da SSIR também estão comprometidos com o fortalecimento do campo da inovação social por meio da produção e do intercâmbio de conhecimento. Cada edição traduziu e publicou dezenas de artigos relevantes e significativos para as comunidades de inovação social das regiões que atende, incluindo Brasil, China, Japão, Coreia e diversos países de língua espanhola. À medida que 2025 chega ao fim, esses editores refletem sobre alguns dos temas e artigos que mais ecoaram junto a seus leitores e os motivos dessa repercussão.
SSIR Brasil
Este foi o ano em que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas chegou à Amazônia. A COP30 dominou o debate público brasileiro não apenas por ser a primeira cúpula do clima realizada no país, mas também porque sediá-la em território amazônico carregou um peso simbólico e político profundo para os inovadores sociais locais. Somado ao agravamento da crise climática – marcada por ondas de calor, secas e enchentes devastadoras em diversas regiões –, esse contexto sem precedentes trouxe uma nova urgência ao debate sobre soluções climáticas.
Na SSIR Brasil, publicamos diversos artigos originais que apresentam respostas práticas aos desafios relacionados ao clima. “Como financiar a restauração florestal produtiva”, de Isabel Apel Britez, Marcelo Pereti e Valmir Ortega, analisa as dificuldades de financiar a restauração em larga escala em um país com quase 80 milhões de hectares de terras degradadas e descreve inovações financeiras como blended finance, instrumentos de bancos de desenvolvimento e fundos de investimento de impacto. “O esporte como aliado na ação climática”, de Fernanda de Castro e Fernando Trevisan, explora como o setor esportivo pode reduzir sua pegada ambiental, se adaptar aos riscos climáticos e usar sua influência cultural para mobilizar a sociedade. Já “O papel das empresas na adaptação climática”, de João Morais, Caroline Cotta e Antonia Lo Prete, argumenta que as empresas, por meio do investimento social corporativo, precisam ir além de respostas reativas e adotar estratégias preventivas e colaborativas, capazes de fortalecer a resiliência das comunidades.
Em conjunto, esses artigos refletem uma mudança mais ampla em curso no Brasil: o reconhecimento crescente de que lideranças e comunidades não conseguem avançar na ação climática de forma isolada e precisam ancorar seus esforços nas realidades de um país marcado por profundas desigualdades sociais, enorme biodiversidade e territórios desproporcionalmente afetados pelos impactos do clima. Inovadores sociais, empresas e organizações da sociedade civil têm adotado cada vez mais soluções integradas e enraizadas nos contextos locais. Seu trabalho demonstra que, no Brasil, a ação climática é inseparável do desenvolvimento territorial, do fortalecimento da resiliência comunitária e de uma transformação econômica inclusiva. — Carolina de Assis, editora-chefe da SSIR Brasil
SSIR Coreia
A cultura de competição educacional intensa, enraizada há décadas na Coreia do Sul, continua a impor forte pressão emocional sobre os jovens. Em 2023, a taxa de suicídio entre pessoas na faixa dos 20 anos permaneceu em torno de 22 por 100 mil habitantes, um patamar persistentemente elevado nos últimos anos. Embora o número por si só seja alarmante, ele também ampliou as expectativas em relação ao papel das universidades, que passaram a ser vistas não apenas como instituições acadêmicas, mas como estruturas fundamentais para a segurança psicológica e a construção de resiliência. Nesse contexto, o artigo “Promovendo uma cultura de cuidado na educação”, de Alison Badgett, teve forte repercussão entre os leitores. A abordagem preventiva e orientada a sistemas da Jed Foundation apresentou um modelo consistente para as universidades coreanas, estimulando reflexões mais amplas sobre a necessidade de respostas institucionais, e não apenas programas isolados.
Ao mesmo tempo, o setor público e o terceiro setor na Coreia demonstraram maior interesse no futuro dos dados públicos e em seu papel na geração de valor compartilhado. À medida que a inteligência artificial (IA) se integra cada vez mais aos sistemas de tomada de decisão, tornam-se centrais as questões sobre como as organizações projetam, armazenam e usam dados. No artigo “Promoting a Culture of Caring in Education”, Jason Saul e Kriss Deiglmeier convidam os leitores a enxergar os dados não apenas como infraestrutura técnica, mas como base para a responsabilidade democrática, a equidade e a confiança.
Esses textos refletem os temas que mais mobilizaram os leitores coreanos em 2025: como proteger melhor o bem-estar dos jovens e como construir sistemas de dados responsáveis, capazes de sustentar a justiça e o interesse público em um contexto de uso crescente da IA. — Seo Hyunsun, editora-chefe da SSIR Coreia

SSIR China
O artigo “Como parcerias podem ajudar ONGs a trabalhar com IA”, de Michelle Flores Vryn e Meena Das, destacou-se como um dos conteúdos mais compartilhados e comentados entre os leitores chineses durante o ano. Em nossos canais no WeChat, muitos leitores trataram o artigo quase como um livreto digital – salvando trechos e marcando reflexões sobre um futuro da IA centrado nas pessoas, sobre o conhecimento contextual insubstituível das organizações comunitárias e sobre o papel das artes e da narrativa na humanização dos dados e na ampliação de seu acesso. Esse engajamento reflete uma preocupação amplamente compartilhada: como a IA pode promover o bem social sem comprometer a experiência vivida, a compreensão relacional e a consciência ética que caracterizam o trabalho das organizações da sociedade civil?
A IA vem atraindo intensa atenção global, e o setor social chinês faz parte dessa conversa. Ao longo do último ano, nossa equipe experimentou o uso de ferramentas de IA, incluindo testes com o DeepSeek durante a tradução do artigo de Vryn e Das. O processo refletiu o que muitos profissionais ao redor do mundo têm observado: a IA pode acelerar tarefas, mas não substitui a sensibilidade contextual, o conhecimento das comunidades, ou a tomada de decisão orientada por valores, que são essenciais para o trabalho de impacto social.
O texto convida os leitores a refletirem sobre como o terceiro setor deve moldar, adaptar e situar a IA em suas práticas. Destaca ainda como parcerias com universidades, organizações de base comunitária, artistas, grupos de tecnologia ética e financiadores filantrópicos podem ajudar a garantir que a IA se torne uma ferramenta centrada na comunidade, e não apenas uma solução técnica. Para os profissionais chineses, essa abordagem oferece caminhos iniciais e aponta que tipos de colaboração podem apoiar uma adoção responsável da tecnologia, ao mesmo tempo em que contribui para o debate global sobre como a inovação tecnológica pode fortalecer a autonomia comunitária, a equidade e as conexões humanas – e não apenas a eficiência. – Guijuan Shi, editora digital, e Shuijing Liu, editora-executiva da SSIR China
SSIR Japão
Em 2025, o Japão chegou a um ponto em que seus limites e suas possibilidades se tornaram claramente visíveis. O número de nascimentos caiu a um recorde histórico, enquanto o declínio populacional e o rápido envelhecimento continuaram a remodelar comunidades, sistemas públicos e mercados de trabalho. Ao mesmo tempo, ondas de calor severas, chuvas intensas e desastres relacionados ao clima, somados ao aumento do isolamento social e da pobreza infantil, evidenciaram que esses são desafios estruturais que nenhum país, organização ou projeto consegue enfrentar sozinho.
Também houve sinais de renovação. Organizações da sociedade civil e do terceiro setor – apesar de lideranças envelhecidas, recursos escassos e lentidão na transformação digital – passaram a repensar como transformar os fluxos de financiamento e fortalecer relações, testando iniciativas como investimento de impacto, novos fundos e abordagens baseadas em confiança. Encontros como a AVPN Northeast Asia Conference e o Asia Philanthropy Congress, realizados em Tóquio, criaram espaços para que o Japão compartilhasse experiências e aprendesse com pares de toda a Ásia.
Os artigos mais lidos da SSIR Japão em 2025 refletiram esse contexto. O texto mais acessado, “Tirando jovens do isolamento social na Coreia do Sul”, mostrou como o isolamento social extremo, há muito tempo visível no Japão, tornou-se também um problema relevante na Coreia do Sul – ilustrando como, em contextos asiáticos, muitas questões não dizem respeito a se vão surgir, mas a quando e de que forma. O segundo artigo mais lido, “Revitalizando o setor sem fins lucrativos do Japão por meio de spinoffs” (em tradução livre / versão em japonês), apresentou os spinoffs como uma alternativa para renovar um setor marcado por lideranças envelhecidas e sucessões interrompidas. Já o terceiro, “The Strategic Value of Trust-Based Philanthropy”, conectou os debates da SSIR à criação da organização Trust-Based Philanthropy Japan, inspirada em movimentos sociais, contribuindo para ampliar o capital ancorado na confiança.
Em conjunto, esses movimentos indicam que o interesse por fluxos transfronteiriços de conhecimento, por capital de melhor qualidade e por um terceiro setor mais forte começa a se refletir na prática. Um exemplo marcante foi o evento participativo Social Innovation Morning da SSIR Japão, realizado em outubro, quando mais de 100 participantes exploraram coletivamente artigos da SSIR e usaram esse repertório compartilhado como ponto de partida para ações contextualizadas no Japão e em outros países da Ásia. – Masataka Uo, editor-chefe; Sadakazu Ikawa, editor-chefe adjunto; e Kei Eriksen, facilitador de comunidade da SSIR Japão

SSIR em Espanhol
Não sou muito boa em dar más notícias. Talvez esteja um pouco enferrujada. A SSIR em Espanhol tem como objetivo publicar histórias inspiradoras sobre inovadores sociais na América Latina e em outras partes do mundo. Mas, neste ano, pela primeira vez em quase quatro anos como editora-chefe, os artigos mais lidos falaram menos sobre inovadores sociais e mais sobre grandes crises financeiras e de recursos humanos no setor social.
2025 não foi um ano fácil para a América Latina. O crescimento econômico permaneceu estagnado e importantes canais de ajuda internacional foram interrompidos. Nossos artigos mais acessados – “A diferença entre querer e precisar”, “Hora de pensar em modelos de financiamento” e “La cultura organizacional como una herramienta de cambio” — refletem essa realidade: diante da necessidade de fazer mais com orçamentos muito menores, equipes de organizações da sociedade civil e de outros setores sociais buscaram na SSIR em Espanhol novas ideias de financiamento e estratégias para promover mudanças.
Curiosamente, os dois últimos artigos fazem parte do primeiro conjunto de textos que traduzimos em 2020 e publicamos na série “Fundamentos da inovação social” [traduzidos pela SSIR Brasil como Biblioteca Essencial]. Talvez isso apenas evidencie o quanto o setor precisa, mais uma vez, voltar ao básico. – Andrea González, editora-chefe da SSIR em Espanhol
*Artigo publicado originalmente pela Stanford Social Innovation Review com o título “A World of Innovation”.









