Evento debateu a desconcentração de poder, conhecimento e riquezas, um desafio complexo da filantropia
Por Patrícia Kunrath e Sara Costa

A desigualdade social e as injustiças socioambientais vêm impactando populações ao redor do mundo, de forma sem precedentes. No Brasil não é diferente: um dos países mais desiguais também sofre com estas questões, que atingem com maior intensidade as comunidades mais vulneráveis nos territórios e ameaçam formas de vida e grupos étnicos inteiros.
A concentração de poder, conhecimento e riquezas é um desafio complexo, que a filantropia institucionalizada se propõe a endereçar migrando de práticas mais tradicionais – feitas de formas mais verticais, com a imposição da lógica dos financiadores – para uma ação dedicada a efetivamente mexer em estruturas que sustentam estas desigualdades.
Alguns pesquisadores, a exemplo da antropóloga inglesa Jessica Sklair, vêm chamando esse avanço de “virada crítica” na filantropia. Tal mudança pode se concretizar em práticas de maior justiça social ou servir como apropriação da crítica feita por atores que se beneficiam das desigualdades para manter o status quo. O tempo e a ação irão dizer qual caminho foi tomado.
A tarefa não é simples e a filantropia não tem a pretensão de esgotar respostas. No entanto, pode se apresentar como um meio importante na redistribuição de recursos para os territórios e grupos mais afetados.
O setor filantrópico ainda se encontra bastante concentrado em termos de regionalidade, temas de atuação, estratégia de investimento e perfil de conselhos. Temos 63% das 137 organizações respondentes do Censo Gife 2022-2023 com sede em São Paulo, e 71% atuando em educação. Esta área concentra cerca de 41% dos R$ 4,8 bilhões totais mobilizados em investimento social privado (ISP) em 2022.
Além disso, 55% das organizações são mais executoras de projetos próprios, 92% dos conselheiros são pessoas brancas e 66% são homens. Ainda assim, os ponteiros vêm se mexendo progressivamente, com tendência de aumento de recursos repassados para terceiros, especialmente para organizações da sociedade civil (OSCs). Observa-se, ainda, gradual crescimento de organizações mais financiadoras e maior atenção das lideranças a questões de pluralidade nos espaços de conselhos e tomadas de decisão.
O Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), por meio da articulação de redes e da qualificação do campo e de suas práticas, vem ajudando a pautar estes caminhos para um fazer filantrópico mais transformador e plural. Foi nesse tom que a organização recebeu cerca de 1,2 mil pessoas no 13º Congresso Gife, realizado entre os dias 7 e 9 deste mês de maio, em Fortaleza.
