Vendedores ambulantes de hortaliças na Índia compram produtos frescos em mercados atacadistas ou de agricultores para vender em um carrinho ou na calçada. Infelizmente, muitos dos produtos – até 18%, em especial no verão e em épocas de monções – estragam devido à falta de refrigeração. Além disso, autoridades desencorajam métodos improvisados de proteção aos carrinhos, como a fixação de lonas plásticas em hastes de bambu.
“Os vendedores e as mercadorias ficam desprotegidos, e eles sofrem de problemas de saúde, bem como perda de renda”, diz Arbind Singh, coordenador da Associação Nacional de Vendedores Ambulantes da Índia.
O armazenamento refrigerado prolongaria a vida útil dos produtos, reduzindo o desperdício de alimentos e a perda de estoque. No entanto, como a maioria dos vendedores ambulantes de vegetais ganha menos de US$ 5 por dia, não podem pagar por dispositivos convencionais, como geladeiras e resfriadores.
O resfriamento radiativo passivo apresenta uma solução para esse problema, pois dispensa energia elétrica. Esse tipo de resfriamento ocorre quando uma superfície reflete mais calor solar do que recebe – ou seja, o processo acontece à noite, quando a radiação infravermelha recebida é menor (devido à falta de luz solar) do que a radiação emitida para o espaço. Como o universo está abaixo de -275° C, não há limite possível para o resfriamento radiativo.
A empresa de soluções climáticas Trane Technologies usou esse método para desenvolver um carrinho para vendedores de produtos perecíveis. “Trata-se de um carrinho de 1,8 metro de comprimento e 1,2 metro de largura com uma cobertura de alumínio revestida por uma película refletiva e emissiva de calor que pode reduzir a temperatura em 10° C”, diz Zubin Varghese, diretor sênior de inovação da Trane Technologies.
A preocupação de Varghese com o desperdício de alimentos e a fome levou-o a propor o carrinho resfriador em setembro de 2021. A cobertura do carrinho foi projetada com uma inclinação para drenar a água da chuva e minimizar o ganho de calor solar. Também foi planejada para ser dobrável e se tornar uma caixa que armazena os produtos à noite. “Queríamos que a solução fosse fácil de usar e pudesse ser encaixada em um novo carrinho ou adaptada a um existente”, acrescenta Varghese.
Em 2022, a Trane Technologies testou o protótipo em Kolar, no sul da Índia. Anuradha, uma beneficiária, costumava vender hortaliças na calçada. Com o carrinho refrigerado, ela agora perde apenas um quilo de 60 quilos de produtos por dia, em comparação com a perda anterior de dez quilos por dia. Ela também usa seu carrinho como plataforma para vender seus vegetais – antes, costumava oferecer os produtos sobre uma lona de plástico na calçada.
A película de resfriamento é o componente mais caro do carrinho. Desenvolvida pela Universidade Stanford e pela SkyCool Systems, custa de US$ 50 a US$ 80 por metro quadrado; cada cobertura de resfriamento requer 2,2 metros quadrados de película. A Trane Technologies está agora no processo de identificação de parceiros para ajudar a levar a ideia para o mercado. “Queremos compartilhar nossa propriedade intelectual com parceiros que entendam a necessidade de manter a solução acessível para vendedores ambulantes”, diz Varghese.
Com milhões de vendedores ambulantes, muitos dos quais vendem produtos perecíveis, o mercado na Índia para o carrinho resfriador tem grande potencial, “desde que seja disponibilizado a baixo custo […] e possa ser adaptado nos carrinhos existentes”, diz Anil Gupta, professor visitante do Instituto Indiano de Administração de Ahmedabad.
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