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Mentoria para queers

O QUEERSPACE Collective, uma organização sem fins lucrativos, está criando um porto seguro para jovens queers com base na mentoria.

Por Noor Noman

Jovens LGBTQ+ em área de canoagem da Floresta Superior Nacional, em Minnesota, em agosto de 2022.

Os LGBTQ+ dos Estados Unidos estão sob uma saraivada de ataques legislativos. Somente nos primeiros três meses de 2023, quase 400 leis anti-LGBTQ+ foram propostas em assembleias estaduais por todo o país, muitas delas tendo por alvo a juventude trans.

As estatísticas referentes à segurança e ao bem-estar da juventude LGBTQ+ refletem essa realidade sombria. A pesquisa nacional da The Trevor Project para 2022 sobre a saúde mental dessa parcela da sociedade registrou que quase metade dela “considerou seriamente” a ideia de tirar a própria vida. E, de acordo com a Aliança Nacional de Saúde Mental, os jovens LGBTQ+ “correm um risco 120% mais alto de passarem a integrar a população de rua – com frequência, como resultado da discriminação ou da rejeição na própria família com base na identidade de gênero ou na orientação sexual”.

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O QUEERSPACE Collective se esforça para reverter essas estatísticas ao proporcionar uma rede e uma comunidade de apoio fortes à juventude LGBTQ+. Lançada em abril de 2021 por Nicki Hangsleben, uma ativista comunitária com experiência em desenvolvimento internacional, a organização sem fins lucrativos baseada em Minneapolis ajuda os jovens a cultivarem e desenvolverem sua autoestima e noção de pertencimento. A organização não tem uma sede física, mas desenvolve sua programação em espaços como parques e locais privados.

A missão do coletivo é realizada por meio de seu programa de mentoria da juventude LGBTQ+, que é o primeiro em Minnesota e um dos poucos (menos de dez) programas do tipo existentes no país. Hangsleben se inspirou em seus primeiros anos de vida para o programa. “Minha mãe namorava mulheres quando eu era criança e cresci cercada por muita gente queer”, ela explica. “Então, quando saí do armário, já contava com essa ampla rede de apoio, o que tornou [esse processo] muito mais fácil.”

O modelo de mentoria inclui encontros a dois e em grupo. Os mentores são recrutados no boca a boca e em eventos comunitários. A idade mínima é 25 anos; o coletivo dá treinamento, bem como apoio e recursos para que os mentores construam uma comunidade sua.

Cada mentor se encontra com seu mentorando duas ou três vezes por mês, geralmente na comunidade do aprendiz, para ajudá-lo a desenvolver autoconfiança e se sentir acolhido em seu próprio ambiente social. Os encontros cobrem um amplo leque de atividades, desde jogar videogames até visitar museus, e tratam, em geral, de construção da autoestima, do desenvolvimento de relacionamentos saudáveis e do trabalho para alcançar metas acadêmicas.

“[Nossos] estudos mostraram que os jovens LGBTQ+ que viviam em uma comunidade que os aceitava, que tinham acesso a espaços de afirmação LGBTQ+ e/ou que sentiam um forte apoio social da família e dos amigos registraram índices de tentativa de suicídios significativamente mais baixos no último ano”, diz Myeshia Price, diretora de pesquisa na ONG The Trevor Project. O coletivo começou com seis duplas de mentor-mentorando e agora conta com 34. Recrutou e treinou mais de 50 mentores e apoiou mais de 50 jovens.

No início, Hangsleben não imaginou que os jovens precisariam de tanta ajuda em saúde mental, nem que eles seriam em sua maioria esmagadora – mais de 85% – trans ou não conformantes de gênero. Ambos os fatores levaram o coletivo a corrigir a abordagem da mentoria. “Estamos fazendo mais treinamento com nossos mentores sobre técnicas de prevenção de suicídio e sobre como apoiar juridicamente os jovens LGBTQ+ nas escolas e em suas comunidades”, diz Hangsleben.

O coletivo é financiado por subvenções de fundações, contribuições corporativas e doações individuais. A Flip Phone Events, baseada em Minneapolis, que organiza brunches com shows de drag queens por todo o país, realizou diversos eventos para angariar fundos para o QUEERSPACE Collective e encaminhou à organização quase US$ 100 mil.

No ano passado, o coletivo lançou um programa de treinamento e consultoria em capacitação para a cultura LGBTQ+ destinado a organizações a serviço dos jovens, visando proporcionar espaços mais seguros e inclusivos. Ainda em 2022, trabalhou com a Associação Cristã de Moços, para ajudar na capacitação de mentores em acampamentos de verão; em abril, começou a trabalhar com a Best Buy para tornar seus Teen Tech Centers mais inclusivos para os LGBTQ+. O programa constituiu uma nova fonte de renda, de modo que a organização possa vir a subsidiar treinamentos para aqueles que não consigam pagar por eles.

Em janeiro, o QUEERSPACE Collective dobrou de tamanho, passando de quatro para oito funcionários. No entanto, Hangsleben olha com cautela o crescimento muito acelerado, pois quer evitar o esgotamento do pessoal e garantir a sustentabilidade da organização. Isso posto, ela sonha em expandir geograficamente seu alcance. Ela também acredita que o clima político em Minnesota – que se tornou recentemente um estado-refúgio para indivíduos trans que buscam cuidados médicos durante o processo de afirmação de gênero – vai dar ímpeto aos esforços da entidade para conquistar um espaço físico permanente.

 

A AUTORA

Noor Noman é colunista de opinião da MSNBC e jornalista freelance baseada em Nova York. Cobre as editorias de cultura e política.



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