As origens raciais e étnicas dos locatários podem influenciar como e onde eles encontram um novo lar e quanto apoio recebem de familiares e amigos para isso, revela um novo estudo. Esse fator pode tornar o aluguel de um novo imóvel mais ou menos acessível para quem está na base da pirâmide de renda, ampliando a desigualdade econômica entre grupos raciais.
Steven Schmidt, pesquisador de pós-doutorado em sociologia na Universidade do Sul da Califórnia, analisou o mercado de aluguel em Los Angeles entrevistando 69 famílias brancas e latinas de baixa renda em três bairros da região metropolitana da cidade.
Alugar um imóvel residencial nesses locais é caro para as famílias do estudo, todas com renda inferior a US$ 47 mil por ano – abaixo do limite de “renda muito baixa” para uma família de três pessoas em Los Angeles, segundo o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos – e com pelo menos uma criança vivendo no domicílio. Em média, elas desembolsaram US$ 2,9 mil para assinar o contrato de locação da residência atual, incluindo o depósito caução e o primeiro mês de aluguel. A descoberta mais surpreendente do estudo, segundo Schmidt, é o alto custo envolvido na mudança e como os inquilinos recorrem a empréstimos onerosos, como os de agiotas ou financeiras de crédito rápido, para conseguir o valor necessário.
Schmidt constatou que famílias brancas de baixa renda que buscavam uma nova moradia tinham acesso a mais recursos. Seus pais, em geral, pertenciam à classe média ou à classe trabalhadora proprietária de imóveis, e possuíam capital e crédito para assinar um contrato de aluguel como fiadores, oferecer o dinheiro necessário para depósitos e taxas, ou mesmo acolher temporariamente os filhos em casa – às vezes sem cobrar aluguel – para que pudessem economizar antes de se mudar. Já as famílias latinas de baixa renda do estudo, segundo ele, “realmente enfrentaram dificuldades de juntar o dinheiro necessário” para alugar uma casa, apesar de no geral receberem mais apoio familiar do que as famílias brancas.
A pesquisa se baseia em uma literatura já existente que analisa como “os vínculos sociais dos que se mudam influenciam a segregação residencial, à medida que inquilinos recebem informações sobre imóveis localizados próximos de amigos e parentes”, escreve Schmidt. A novidade do estudo é seu foco em como essas redes sociais ajudam no processo da mudança em si.
Nas entrevistas, Schmidt descobriu que ambos os grupos de locatários recorriam às suas redes de apoio para obter ajuda. As famílias brancas tinham mais chances de contar com parentes que podiam assinar contratos como fiadores, o que lhes permitia acessar uma variedade maior de imóveis e completar a mudança sem depender de amigos ou conhecidos a quem teriam de reembolsar rapidamente. Com mais frequência, recebiam doações diretas de dinheiro para cobrir os depósitos, evitando assim recorrer a agiotas ou outras formas caras de endividamento. Quando dividiam moradia com outras famílias, faziam isso como uma estratégia de curto prazo para economizar e logo aplicavam as economias no pagamento de um novo aluguel próprio.
As famílias latinas recebiam o que ele chamou de “apoio limitado – indicações de imóveis vagos, empréstimos para cobrir custos da mudança e oportunidades informais de aluguel”. Como consequência, essas famílias acessavam moradias de qualidade inferior, muitas vezes recorrendo ao compartilhamento de habitação com outras famílias. Essas soluções informais podem gerar conflitos entre os grupos que dividem o espaço, o que leva a ainda mais instabilidade habitacional, à medida que as pessoas são forçadas a sair ou os proprietários, desconfiados, começam a questionar a presença de hóspedes não autorizados.
O status migratório irregular de muitos dos entrevistados latinos, somado a históricos de crédito inexistentes ou muito baixos, os tornava vulneráveis a proprietários exploradores, que exigiam depósitos mais altos para ignorar a falta de documentos. Embora os locatários brancos do estudo frequentemente tivessem crédito ruim, não enfrentavam barreiras relacionadas à imigração, que podem ser um impeditivo para a assinatura de um contrato de aluguel.
“As descobertas de Schmidt ampliam nossa compreensão sobre as causas da desigualdade habitacional ao chamar atenção para um conjunto de dinâmicas, até então invisíveis, que moldam os resultados habitacionais de locatários de baixa renda”, afirma Anna Reosti, pesquisadora da American Bar Foundation.
O estudo também ajuda a explicar a importância dos custos associados à busca por moradia, incluindo “a proliferação de taxas de inscrição e de mudança”, na inviabilização do aluguel, diz Reosti.
Veja o estudo completo: “Finding a Home during the Affordable Housing Crisis: How Social Ties Shape Renters’ Housing-Search Outcomes”, por Steven Schmidt, American Sociological Review, v. 90, n. 1, 2024.
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