Produzindo fertilizante a partir de resíduos alimentares
A Melta transforma resíduos em fertilizantes, com o objetivo de reduzir emissões e promover a agricultura sustentável na Islândia
Por Robyn Huang
Julia Brenner e Björk Brynjarsdóttir descansam em um oásis verde dentro de uma paisagem erodida no Condado de Rangárvallasýsla, revivida em 2022 por meio do seu sistema de geração de fertilizantes a partir de resíduos. (Foto cortesia de Karim Iliya)
Na Islândia rural, o gerenciamento de resíduos e a preservação da saúde do solo são desafios conectados. O descarte inadequado de resíduos orgânicos é responsável por 6% das emissões globais de gases de efeito estufa, além de desperdiçar a chance de repor nutrientes essenciais para a terra – um problema crítico em um país com alta erosão. Custos elevados e dificuldades logísticas, agravados pelo clima imprevisível da Islândia, ressaltam a urgência de soluções locais para o gerenciamento de resíduos e a restauração do solo.
A Melta, startup cofundada por Julia Brenner e Björk Brynjarsdóttir em 2020, enfrenta os desafios da gestão de resíduos em comunidades agrícolas rurais por meio da fermentação bokashi. Esse método, semelhante ao que ocorre no preparo de picles, usa microrganismos que prosperam em ambientes sem oxigênio para decompor resíduos orgânicos em recipientes lacrados, reduzindo odores e evitando o apodrecimento. O processo transforma restos de alimentos em um fertilizante que melhora a qualidade do solo e aumenta a colheita, favorecendo práticas agrícolas sustentáveis.
O sistema da Melta é projetado para comunidades inteiras. As famílias armazenam resíduos orgânicos em baldes herméticos tratados com spray microbiano, depois a Melta os recolhe e fermenta-os por seis a oito semanas. “O fertilizante resultante retém até 90% do material residual original, enquanto os métodos tradicionais de compostagem conservam de 40% a 60%”, diz Brynjarsdóttir.
A Melta faz parceria com municípios que enfrentam altos custos de transporte ao enviar resíduos para Reykjavík. Seu sistema efetua o processamento nas localidades e economiza no transporte, que pode representar até 90% dos custos de gerenciamento de resíduos rurais. “Municípios rurais gastam na gestão de resíduos de 90% a 255% a mais que centros urbanos”, explica Brynjarsdóttir. Dois projetos-piloto realizados entre 2021 e o início de 2023 em três condados demonstraram uma redução de 70% no transporte de resíduos.
O estudo-piloto de 2021 demonstrou a viabilidade de fermentar grandes quantidades de resíduos orgânicos, mas encontrou contaminação por materiais não orgânicos. Em 2022, as sócias reduziram a presença de materiais não orgânicos, como plástico, para menos de 0,05%. E pretendem diminuir a frequência de coleta para cada seis semanas, reduzindo o transporte em 71% e economizando 32 toneladas de CO2 anualmente.
O processo de fermentação da Melta oferece uma solução viável para áreas rurais que não possuem instalações de compostagem, pois lhes permite cumprir as exigências regulatórias por meio da gestão local de resíduos orgânicos sem precisarem investir em uma dispendiosa infraestrutura de compostagem em grande escala. O sistema afirma reduzir os custos de compostagem em até 70%, tornando-o mais acessível a agricultores. Com os fertilizantes quase 30% mais caros devido à guerra na Ucrânia, trata-se de uma solução econômica para gerenciamento de resíduos e restauração do solo.
Apesar dos avanços, a Melta enfrenta obstáculos regulatórios para aprovar a venda comercial de seu fertilizante devido à complexidade das normas técnicas que recaem sobre o novo produto. Há colaborações em andamento com a Universidade Agrícola da Islândia e o Serviço de Conservação do Solo da Islândia, mas ampliar a operação exige mais infraestrutura e investimento do que tem sido possível com subvenções e autofinanciamento.
Olhando para o futuro, a Melta planeja implantar microusinas de fermentação – pequenas instalações localizadas para processamento de resíduos. No momento, as fundadoras processam os resíduos orgânicos manualmente, mas essas microusinas automatizariam e agilizariam a fermentação nas comunidades, produzindo o fertilizante no local. Isso reduziria a necessidade de transporte de longa distância, melhoraria a eficiência operacional e expandiria o modelo para mais áreas. O objetivo de longo prazo é descentralizar a produção de fertilizante e reduzir emissões por meio do processamento local. Elas estimam que seu sistema poderia regenerar 2.100 hectares de terra por ano na Islândia e capturar até 2,78 milhões de toneladas de CO2 até 2050.
Embora o foco da Melta seja a Islândia, a startup está aberta a explorar oportunidades em outras regiões e continuar a validar os benefícios ambientais de seu sistema, incluindo sequestro de carbono e restauração do solo. Ao estabelecer um precedente na Islândia, a esperança é inspirar comunidades em toda a Europa (e além) a adotarem sistemas semelhantes de processamento de resíduos.
A AUTORA
Robyn Huang é jornalista independente canadense que cobre cultura, desenvolvimento global e tecnologia.
Produzindo fertilizante a partir de resíduos alimentares
A Melta transforma resíduos em fertilizantes, com o objetivo de reduzir emissões e promover a agricultura sustentável na Islândia
Por Robyn Huang
Julia Brenner e Björk Brynjarsdóttir descansam em um oásis verde dentro de uma paisagem erodida no Condado de Rangárvallasýsla, revivida em 2022 por meio do seu sistema de geração de fertilizantes a partir de resíduos. (Foto cortesia de Karim Iliya)
Na Islândia rural, o gerenciamento de resíduos e a preservação da saúde do solo são desafios conectados. O descarte inadequado de resíduos orgânicos é responsável por 6% das emissões globais de gases de efeito estufa, além de desperdiçar a chance de repor nutrientes essenciais para a terra – um problema crítico em um país com alta erosão. Custos elevados e dificuldades logísticas, agravados pelo clima imprevisível da Islândia, ressaltam a urgência de soluções locais para o gerenciamento de resíduos e a restauração do solo.
A Melta, startup cofundada por Julia Brenner e Björk Brynjarsdóttir em 2020, enfrenta os desafios da gestão de resíduos em comunidades agrícolas rurais por meio da fermentação bokashi. Esse método, semelhante ao que ocorre no preparo de picles, usa microrganismos que prosperam em ambientes sem oxigênio para decompor resíduos orgânicos em recipientes lacrados, reduzindo odores e evitando o apodrecimento. O processo transforma restos de alimentos em um fertilizante que melhora a qualidade do solo e aumenta a colheita, favorecendo práticas agrícolas sustentáveis.
O sistema da Melta é projetado para comunidades inteiras. As famílias armazenam resíduos orgânicos em baldes herméticos tratados com spray microbiano, depois a Melta os recolhe e fermenta-os por seis a oito semanas. “O fertilizante resultante retém até 90% do material residual original, enquanto os métodos tradicionais de compostagem conservam de 40% a 60%”, diz Brynjarsdóttir.
A Melta faz parceria com municípios que enfrentam altos custos de transporte ao enviar resíduos para Reykjavík. Seu sistema efetua o processamento nas localidades e economiza no transporte, que pode representar até 90% dos custos de gerenciamento de resíduos rurais. “Municípios rurais gastam na gestão de resíduos de 90% a 255% a mais que centros urbanos”, explica Brynjarsdóttir. Dois projetos-piloto realizados entre 2021 e o início de 2023 em três condados demonstraram uma redução de 70% no transporte de resíduos.
O estudo-piloto de 2021 demonstrou a viabilidade de fermentar grandes quantidades de resíduos orgânicos, mas encontrou contaminação por materiais não orgânicos. Em 2022, as sócias reduziram a presença de materiais não orgânicos, como plástico, para menos de 0,05%. E pretendem diminuir a frequência de coleta para cada seis semanas, reduzindo o transporte em 71% e economizando 32 toneladas de CO2 anualmente.
O processo de fermentação da Melta oferece uma solução viável para áreas rurais que não possuem instalações de compostagem, pois lhes permite cumprir as exigências regulatórias por meio da gestão local de resíduos orgânicos sem precisarem investir em uma dispendiosa infraestrutura de compostagem em grande escala. O sistema afirma reduzir os custos de compostagem em até 70%, tornando-o mais acessível a agricultores. Com os fertilizantes quase 30% mais caros devido à guerra na Ucrânia, trata-se de uma solução econômica para gerenciamento de resíduos e restauração do solo.
Apesar dos avanços, a Melta enfrenta obstáculos regulatórios para aprovar a venda comercial de seu fertilizante devido à complexidade das normas técnicas que recaem sobre o novo produto. Há colaborações em andamento com a Universidade Agrícola da Islândia e o Serviço de Conservação do Solo da Islândia, mas ampliar a operação exige mais infraestrutura e investimento do que tem sido possível com subvenções e autofinanciamento.
Olhando para o futuro, a Melta planeja implantar microusinas de fermentação – pequenas instalações localizadas para processamento de resíduos. No momento, as fundadoras processam os resíduos orgânicos manualmente, mas essas microusinas automatizariam e agilizariam a fermentação nas comunidades, produzindo o fertilizante no local. Isso reduziria a necessidade de transporte de longa distância, melhoraria a eficiência operacional e expandiria o modelo para mais áreas. O objetivo de longo prazo é descentralizar a produção de fertilizante e reduzir emissões por meio do processamento local. Elas estimam que seu sistema poderia regenerar 2.100 hectares de terra por ano na Islândia e capturar até 2,78 milhões de toneladas de CO2 até 2050.
Embora o foco da Melta seja a Islândia, a startup está aberta a explorar oportunidades em outras regiões e continuar a validar os benefícios ambientais de seu sistema, incluindo sequestro de carbono e restauração do solo. Ao estabelecer um precedente na Islândia, a esperança é inspirar comunidades em toda a Europa (e além) a adotarem sistemas semelhantes de processamento de resíduos.
A AUTORA
Robyn Huang é jornalista independente canadense que cobre cultura, desenvolvimento global e tecnologia.