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O Efeito das Doações nos Líderes

Um estudo sobre as doações iniciais de MacKenzie Scott revela como a generosidade pode ser transformadora.

Por Phil Buchanan e Ellie Buteau

(Foto por iStock/AndreyPopov)

 

As doações de MacKenzie Scott quebraram as normas convencionais para os grandes doadores e fundações. Considere isto: em suas três primeiras rodadas de doação, entre os anos de 2020 e 2021, o valor médio das doações foi de US$ 8 milhões, de acordo com os dados que coletamos para um relatório recém-publicado intitulado “Giving Big: The Effects of Large, Unrestricted Grants on Nonprofits”. Essa cifra se compara a um valor médio de doações de U$ 100 mil por parte de doadores maiores, cujos beneficiários nossa organização, o Center for Effective Philanthropy (CEP), vem estudando nos últimos anos.

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As doações de Scott foram enormes pelos padrões convencionais, e também foram irrestritas. Cabe totalmente às organizações apoiadas e seus líderes decidir como usá-los. Por décadas, líderes de organizações sem fins lucrativos argumentaram que as ONGs precisam de mais recursos irrestritos na forma de apoio operacional para trabalhar melhor. Faz sentido. A falta desses recursos impede o planejamento, restringe a capacidade de investir nos salários dos funcionários e capacidade organizacional e, na pior das hipóteses, leva a uma deformação da missão, com organizações precisando procurar financiamento para se manter ativas.

Então, considerando as doações de Scott como um experimento natural fascinante, partimos para estudar seus efeitos nas organizações que apoiou. E descobrimos que, além de impactar essas organizações, as doações foram transformacionais para os líderes. Elas os afetaram pessoal e profissionalmente – mudando de maneira profunda suas mentalidades. Isso é importante porque mostra que doações com uma nova abordagem podem alterar a mentalidade dos líderes, encorajando-os a sonhar de novas maneiras com o que é possível para suas organizações – e para seus beneficiários – e a agir para tornar esses sonhos uma realidade.

“Para mim, um diretor-executivo que faz isso há muito tempo e passou noites sem dormir pensando e me preocupando com a próxima folha de pagamento, não preciso mais gastar tanto tempo com esse tipo de receio”, explicou um líder. “Posso focar agora em questões como: Onde podemos causar o maior impacto em nossa comunidade? Quais são as coisas que podemos fazer que nunca fomos capazes de sonhar e que realmente vão fazer a diferença? Então, isso é enorme.”

Em entrevistas, mais de 75% dos líderes discutiram a mudança em seu pensamento que acompanhou o recebimento das doações. A  mentalidade de escassez foi substituída pela oportunidade de buscar possibilidades de transformação, pois os líderes foram capazes de reimaginar suas organizações “de forma a alcançar o maior impacto que poderíamos ter.”

Quase 60% dos líderes entrevistados descreveram uma sensação de alívio e espaço para respirar após terem recebido os recursos. Muitos nos falaram das oportunidades de inovar e assumir riscos que essas verbas lhes proporcionaram, sabendo que suas organizações agora estão mais seguras financeiramente. “É uma oportunidade de sermos inovadores e criativos porque temos mais apoio fundamental”, disse um líder. Outro admitiu: “Para nós, ter dinheiro para testar algo e ver como funciona é um milagre.” Outros ainda reservam uma parte do montante especificamente para ações ousadas e arriscadas.

Líderes não-brancos, em particular, falaram conosco sobre o poder das doações de Scott – tanto como uma afirmação de sua liderança como o contraste marcante com sua experiência habitual com financiadores. “Já ouvi umas duas milhões de vezes que as organizações lideradas por mulheres de cor recebem menos do que outras”, disse uma líder. “Então, eu estava nervosa com isso porque pensei ‘Espero que quem eu sou não deixe essa organização fora de oportunidades, sabe?’, e isso é uma coisa triste de se admitir, mas eu pensava isso.” A doação de Scott foi poderosa para essa líder porque, nas suas palavras, “considerava a mulher não-branca como um ativo, não um passivo.”

A sensação de afirmação que os líderes experimentaram também mudou sua abordagem para a arrecadação de fundos. “Nos encorajou a sermos mais estratégicos em nossa captação de recursos”, disse-nos um líder.

Os resultados têm sido positivos. Apesar das preocupações de que a doação de Scott levaria outros financiadores a deixarem de apoiar organizações beneficentes, descobrimos que as ONGs que receberam recursos dela estavam mais propensas a ter um aumento na captação de recursos atribuído às doações de Scott do que uma diminuição. “A doação nos fez acreditar que somos dignos de apoio e importância nessas proporções”, disse outro líder.

Claro, pode ser difícil separar os efeitos sobre uma organização dos efeitos sobre um líder. Mas ficamos impressionados com o profundo senso de validação pessoal dos chefes das organizações beneficiadas por Scott. Em duas décadas fazendo pesquisas sobre a forma como financiadores e ONGs interagem, encontramos líderes com muitas emoções, mas elas têm sido tipicamente frustração ou até raiva.

Estudando as doações de Mackenzie Scott, vimos uma emoção poderosa e positiva que não esperávamos – ou tínhamos encontrado antes. Isso é importante não só porque lágrimas de alegria são melhores do que lágrimas de decepção. Isso importa porque líderes encorajados com a liberdade de sonhar grande podem fazer mais bem – para seus organizações e para problemas e comunidades que atendem.

OS AUTORES

Phil Buchanan é presidente do Center for Effective Philanthropy (CEP) e autor de “Giving Done Right: Effective Philanthropy and Making Every Dollar Count”.

Ellie Buteau é diretora de projetos de pesquisa e consultora especial em metodologia de pesquisa e análise no CEP.

Eles são coautores de Giving Big: The Effects of Large, Unrestricted Grants on Nonprofits, um relatório sobre as doações de MacKenzie Scott e seus efeitos.

NOTA: O CEP recebeu uma doação única de $10 milhões de Scott em 2021. O estudo referenciado foi financiado separadamente por outros financiadores e conduzido independentemente de Scott e seus conselheiros.



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