RAIO X
ASEc+
- O que é: Associação pela Saúde Emocional – pioneira na implementação de programas voltados à promoção de saúde mental com crianças no ambiente escolar.
- Público-alvo: Crianças, adolescentes e profissionais da saúde, educação e assistência social.
- Foco de atuação: Formação de profissionais das áreas públicas da educação e saúde.
- Início das atividades: 2004.
- Impacto até agora: Formação de profissionais das áreas públicas da educação e saúde.
Muito antes de o Brasil liderar os rankings globais de ansiedade – com 18,6 milhões de pessoas convivendo com o transtorno em 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) –, voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV) já percebiam, na escuta cotidiana, um padrão alarmante: muitos adultos em sofrimento emocional extremo nunca haviam aprendido, ao longo da vida, a lidar com suas dores. Essa constatação deu origem, no início dos anos 2000, a uma pergunta essencial: e se esse aprendizado começasse ainda na infância?
Foi assim que nasceu a Associação pela Saúde Emocional (ASEc+), direcionada a promover o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e de enfrentamento de desafios desde os primeiros anos de vida por meio de metodologias baseadas em evidências e com foco na proteção social. Duas décadas depois, a urgência dessa visão só se confirma. Estima-se que os casos de ansiedade tenham aumentado em até 25% durante a pandemia – e um dado recente acende o alerta: seis em cada dez jovens brasileiros relataram sintomas de ansiedade em 2022. “A ASEc+ já recebeu relatos de crianças de apenas 8 anos com pensamentos suicidas”, conta Juliana Fleury, presidente e CEO voluntária da organização.
Diante desse cenário, a ASEc+ atua em escolas públicas e privadas aplicando e aprimorando metodologias que ensinam, de forma estruturada, estratégias de desenvolvimento emocional. O objetivo é claro: ajudar cada criança a construir sua “mochila interna” de recursos emocionais, iniciando, já na infância, uma trajetória de prevenção contra os efeitos devastadores do sofrimento emocional.
Inspirada em programas internacionais baseados em evidências – especialmente nas pesquisas do psicólogo estadunidense Richard Lazarus sobre estratégias de enfrentamento a emoções negativas e estresse (o chamado coping) –, a ASEc+ começou a implementar metodologias que auxiliam crianças a reconhecer e regular emoções, desenvolver empatia e lidar de forma saudável com adversidades. “Estamos falando de saúde emocional, não de diagnóstico ou patologia. É sobre fortalecer a criança como ser humano”, esclarece Fleury. Ela relata que um dos principais obstáculos foi romper o preconceito em relação ao tema dentro do ambiente escolar. “Nos primeiros anos da ASEc+ a equipe apresentava os programas para as escolas particulares, em São Paulo, e ouvíamos: ‘Aqui as crianças não têm problemas, seria melhor focar nas mais vulneráveis que vivem nas comunidades’”, lembra.
Na época, a expressão “saúde mental” ainda carregava um forte estigma, associado a ideias como loucura, inadequação social ou institucionalização. “Falar em saúde mental era, para muitos, falar sobre ‘a pessoa que não está bem da cabeça’. A gente queria tirar esse peso, mostrar que estamos tratando de algo que diz respeito ao desenvolvimento humano, a criar fatores de proteção dando letramento emocional para lidar com as dificuldades de uma forma menos lesiva, ou seja, mais positiva, que não a leve a tirar a própria vida”, explica.
A resistência, embora hoje soe anacrônica, refletia o contexto educacional do início dos anos 2000, quando a dimensão emocional da aprendizagem ainda era marginal na formação escolar. “Ninguém falava em soft skills. O foco era ensinar português, matemática, ciências, história e geografia. Abrir espaço na grade para que as crianças aprendessem, por exemplo, sobre empatia, parecia algo distante – ou até mesmo secundário”, diz Fleury. “Fomos pioneiros ao sensibilizar as escolas sobre a importância de desenvolver habilidades que são fundamentais para qualquer ser humano.”
Essa sensibilização envolveu também a difusão de evidências científicas que demonstram a relação entre bem-estar emocional e melhoria no aprendizado e no desempenho acadêmico. Assim, a escolha do termo “saúde emocional” ajudou a firmar o eixo central da proposta da ASEc+: promover o bem-estar desde a infância, com uma abordagem promotora, educativa e livre de estigmas. Mas essa foi apenas a primeira etapa de um caminho mais amplo e desafiador.
EXPORTAÇÃO DE INOVAÇÕES
O primeiro programa implantado pela ASEc+ foi o Amigos do Zippy, uma iniciativa internacional baseada no ensino de estratégias de coping – que a ASEc+ traduz como “saber lidar” – com foco em crianças de 5 a 8 anos. Essa faixa etária é considerada crucial para o desenvolvimento da autorregulação e para o aprendizado da calibração de respostas emocionais. Trata-se de uma janela de oportunidade para ensinar os pequenos a identificar e nomear seus sentimentos, além de explorar maneiras saudáveis de expressá-los.
O programa utiliza histórias protagonizadas por um grupo de crianças e seu mascote, Zippy, um bicho-pau. Por meio de atividades lúdicas e participativas conduzidas por professores, os alunos se envolvem com os dilemas vividos pelos personagens, aprendendo a reconhecer emoções, comunicar-se com clareza, resolver conflitos e lidar com mudanças e perdas.
O primeiro piloto do Amigos do Zippy no Brasil foi realizado em escolas públicas no entorno de Heliópolis, em São Paulo. A avaliação de seus impactos, conduzida pela professora Júlia Kovács, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), confirmou resultados já observados em outros países: o programa promove avanços mensuráveis em habilidades como autocontrole, assertividade, clareza na comunicação, redução da agressividade e maior autoconhecimento.
Em 2006, o projeto foi implementado pela primeira vez em uma rede pública municipal, em Sorocaba, no estado de São Paulo, então comprometida com os princípios de uma “cidade educadora”. A experiência revelou uma limitação importante: “Percebemos que não bastava trabalhar apenas com professores e alunos. Era preciso envolver toda a escola”, relata Fleury. A partir desse aprendizado, a ASEc+ adotou uma abordagem mais sistêmica, voltada à construção de ambientes escolares saudáveis e acolhedores. Diretores, merendeiras, vigilantes e outros profissionais passaram a integrar os processos formativos.
As crianças são incentivadas a identificar e nomear seus sentimentos, expressá-los de forma clara e buscar alternativas saudáveis para lidar com conflitos
“Foi uma caminhada. Muitas vezes o professor já estava sensibilizado, mas o diretor ainda seguia preso a uma lógica puramente acadêmica: ‘Não, não podemos abrir espaço, precisamos focar em português, matemática, robótica’. Conquistar espaço e sensibilizar as lideranças escolares e das secretarias municipais foi – e continua sendo – fundamental. É quase como se estivéssemos atuando sobre o ecossistema da escola como um todo”, explica Fleury.
O processo de sensibilização avançou ao evidenciar, com base em dados concretos, os benefícios do desenvolvimento emocional para a aprendizagem. “Depois de uma atividade lúdica, as crianças conseguiam se concentrar melhor, aprender a ler e escrever. Mesmo vindo de aulas de arte, teatro ou música, o que fazia a diferença era o estado emocional delas. Quando estavam tranquilas, aprendiam. E era disso que a gente estava falando, mesmo antes de o tema ganhar o nome e o espaço que tem hoje”, completa.
O passo seguinte, altamente inovador, foi dado a partir de uma demanda trazida pelas próprias crianças. Professores de Sorocaba relataram que os alunos demonstravam interesse em compartilhar os aprendizados com a família – especialmente com pais e responsáveis que, segundo elas, não sabiam lidar com as próprias emoções. Assim nasceu o Amigos do Zippy em Casa, um material direcionado às famílias. O sucesso da proposta, de início local, foi tão expressivo que o formato passou a circular internacionalmente sob o nome Zippy’s Friends at Home.
“Muitas vezes, os adultos têm mais dificuldade que as crianças para falar sobre temas difíceis, como a morte”, observa Fleury. Um dos diferenciais da ASEc+ é justamente incluir assuntos delicados e ainda pouco explorados na educação infantil, como o luto. No programa, Zippy – um mascote sensível ao ambiente – morre, abrindo espaço para conversas cuidadosas sobre perdas, conduzidas com o auxílio de um material desenvolvido em parceria com o Laboratório de Estudos da Morte (LEM), da USP.
“A pergunta que ensinamos a fazer é: ‘O que eu posso fazer para me sentir melhor?’”, conta Fleury. As crianças são incentivadas a identificar e nomear seus sentimentos, expressá-los de forma clara e buscar alternativas saudáveis para lidar com conflitos. “Elas aprendem a dizer ‘estou triste porque isso aconteceu’, em vez de reagir com agressividade. Isso transforma a forma como se relacionam com amizades, brigas, mudanças e perdas.”
A metodologia da ASEc+ se fundamenta em valores herdados do próprio CVV, como escuta empática, não julgamento e acolhimento. Os programas também incorporam exercícios de respiração e relaxamento – criados antes mesmo de o termo mindfulness se popularizar –, que ajudam as crianças a desenvolver autorregulação emocional. A resposta a uma situa-
ção difícil será sempre única, mas a capacidade de reconhecê-la e formulá-la, com o suporte de adultos preparados, pode ser decisiva para o desenvolvimento e o bem-estar ao longo da vida.
ETAPAS COM FOCO
Com o tempo, o programa Amigos do Zippy passou a ser reconhecido no exterior como uma iniciativa alinhada ao modelo SAFE – sigla que reúne quatro princípios essenciais para a aprendizagem socioemocional: Sequenciado, Ativo, Focado e Explícito. Essa abordagem, consolidada como referência internacional na avaliação da qualidade e da eficácia de programas socioemocionais, tem sido um dos pilares do sucesso da atuação da ASEc+ em escolas públicas brasileiras.
De acordo com o modelo, um programa é sequenciado quando apresenta atividades organizadas em uma progressão lógica; ativo quando envolve os participantes em experiências práticas e participativas; focado ao dedicar tempo ao desenvolvimento de habilidades específicas; e explícito ao tornar claras as competências trabalhadas e sua relevância para a vida cotidiana.
Essa lógica orienta não apenas o Amigos do Zippy, mas também outros programas da ASEc+, como o Amigos da Maçã, Passaporte e SPARC Resiliência, incorporando práticas da psicologia positiva, mindfulness e terapia cognitivo-comportamental. Em todos eles, as crianças são convidadas a identificar o que sentem, refletir sobre isso e, só então, decidir como agir. “Em cada programa, os módulos trabalham habilidades específicas de forma clara e organizada, seguindo uma sequência que cresce em complexidade. Cada etapa reforça o que foi aprendido anteriormente, ajudando as crianças a consolidar e aprofundar essas competências ao longo do tempo”, diz Andréa Monteiro, facilitadora programática da ASEc+.
Ajudamos crianças – e também adultos – a lidar com o que sentem. Isso transforma não só a escola, mas também as famílias e, em última instância, a sociedade
Monteiro explica que os módulos dos programas seguem uma abordagem focada, com objetivos definidos em cada etapa. No primeiro, o trabalho se concentra no reconhecimento dos sentimentos e na construção de estratégias para lidar com eles. O segundo aprofunda as habilidades de comunicação eficaz – incluindo a identificação de emoções, a escuta ativa e o ato de pedir ajuda – e introduz conceitos como a comunicação não violenta. Já o terceiro módulo é voltado para as relações interpessoais: as crianças aprendem a manter amizades, lidar com rejeições e resolver conflitos.
A sequência é cuidadosamente planejada para que uma habilidade sustente e complemente a outra. Cada aula parte de um tema central – como comunicar o que se sente – e propõe atividades práticas e reflexões que tornam o aprendizado ativo, engajador e significativo. Todo o processo é monitorado por meio de questionários aplicados ao final das atividades, gerando dados que alimentam ferramentas de avaliação de impacto ao longo dos anos. “Hoje conseguimos medir ganhos na qualidade do vínculo entre professores e alunos, na comunicação, no clima escolar e no fortalecimento de habilidades socioemocionais”, destaca Fleury.
Essa metodologia não apenas fortalece o desenvolvimento emocional dos alunos, como também está em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os programas da ASEc+ contribuem diretamente para o desenvolvimento de oito das dez competências gerais previstas pela BNCC: comunicação, empatia e cooperação, responsabilidade e cidadania, autoconhecimento e autocuidado, argumentação, trabalho e projeto de vida.
As estratégias de enfrentamento emocional promovidas pela ASEc+ ganharam destaque positivo em 2013 quando o Ministério da Educação avaliou a atuação da organização em escolas de tempo integral. Desde então, os programas foram ampliados e passaram a abordar temas mais complexos, como bullying e cyberbullying, especialmente nos materiais voltados a adolescentes. “A base continua sendo a mesma, mas a linguagem evolui conforme a idade”, explica Fleury.
Geração Zelo: um antídoto contra a desesperança
Mudanças climáticas, desigualdade econômica, crise sanitária e os efeitos prolongados da pandemia compõem um cenário de policrise que afeta diretamente a saúde emocional de crianças e adolescentes – e, por consequência, seus resultados educacionais. “Vivemos em um mundo volátil, incerto, ambíguo e complexo. Preparar crianças e jovens para esse contexto é um enorme desafio”, afirma Juliana Fleury. “Se não investirmos nas crianças hoje, teremos uma sociedade adoecida amanhã.”
Um dado que marcou profundamente a CEO voluntária da ASEc+ é a existência de uma escala psicológica para medir a desesperança em crianças – a Escala de Desesperança de Beck (BHS, na sigla em inglês). De início desenvolvida para adultos, a ferramenta tem sido aplicada cada vez mais cedo. “É assustador pensar que precisamos mensurar a ausência de esperança tão cedo na vida”, diz ela. Para Fleury, esse dado dialoga com o crescimento da chamada ecoansiedade – o medo crônico do colapso ambiental –, fenômeno cada vez mais presente entre os jovens e que revela a dimensão emocional das emergências climáticas.
Diante desse cenário, promover habilidades socioemocionais torna-se uma estratégia fundamental. Ensinar crianças a lidar com frustrações, incertezas e adversidades é um investimento preventivo e estrutural. “Se ensinarmos nossas crianças a enfrentar as dificuldades, elas se tornarão adolescentes e adultos emocionalmente mais saudáveis”, afirma Fleury.
Ao longo de duas décadas de atuação, a ASEc+ tem apostado em um princípio central: a participação genuína de crianças e adolescentes. “Quando damos espaço para eles, se colocam com muita autenticidade. Querem participar – e têm muito a dizer”, diz Fleury. Por isso, a organização desenvolve metodologias baseadas na escuta ativa e na cocriação, envolvendo estudantes e educadores desde a concepção das soluções. Um dos exemplos mais emblemáticos é a Geração Zelo, iniciativa criada com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que sistematiza a participação infantojuvenil no desenho de ações em saúde emocional.
Esse princípio de cocriação também orienta a forma como a ASEc+ transfere suas metodologias para redes públicas de ensino. “A escuta, o acolhimento e a validação das experiências da comunidade escolar são o ponto de partida. Quando um professor ou aluno percebe que sua vivência gerou uma solução, o sentimento de pertencimento se fortalece. É aí que a mudança começa”, explica Fleury.
Mais do que uma ação pontual, a ASEc+ entende que a promoção da saúde emocional deve ser incorporada como política pública de longo prazo, parte de uma agenda estruturante de bem-estar social. A definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) sustenta essa abordagem: saúde mental não é apenas a ausência de transtornos, mas a presença de bem-estar, autonomia e participação comunitária – pilares que ganham ainda mais relevância em tempos de transformação acelerada.
Documentos internacionais como a Carta de Ottawa (1986) e a Carta de Genebra para o Bem-Estar (2021) reforçam essa visão. Em ambas, a saúde é entendida como um recurso para a vida – não como um fim em si mesma. Promovê-la, portanto, significa criar condições para que indivíduos e comunidades desenvolvam vitalidade, autoestima e vínculos de cuidado mútuo, mesmo em contextos de instabilidade global. “A saúde emocional não é um estado idealizado a ser alcançado, mas um processo contínuo, construído nos espaços onde as pessoas vivem, trabalham, aprendem e se relacionam”, conclui Fleury. E é justamente nesse processo, coletivo e sustentado, que reside a possibilidade de resgatar a esperança.
EXPANSÃO E DESAFIOS
As abordagens baseadas no modelo SAFE adotadas pela ASEc+ não se restringem ao universo infantil. Também orientam iniciativas com foco no cuidado emocional de adultos, como o projeto Um Dia para Mim. A proposta oferece pausas estruturadas na rotina para que profissionais da educação possam reconhecer seus sentimentos e desenvolver repertório para lidar com os desafios do cotidiano. “É um momento intencional de reflexão, autopercepção e reconexão com o próprio sentir”, explica Monteiro. O projeto estimula escuta, expressão e troca de experiências, promovendo a consciência de si e o apoio mútuo.
Os resultados são monitorados com questionários aplicados ao final das atividades. Segundo Monteiro, os participantes relatam efeitos positivos, como a capacidade de adaptar melhor suas reações diante de situações desafiadoras e a ampliação do vocabulário emocional – fatores que favorecem o autoconhecimento e a maturidade afetiva. Para a ASEc+, criar uma sala de aula emocionalmente segura começa pelo bem-estar dos educadores. “Não se constrói um espaço de aprendizagem positivo com uma educação punitiva e autoritária. É preciso promover escuta, vínculos e habilidades socioemocionais”, afirma Fleury.
A proposta alcança ainda outros profissionais do ambiente escolar. Um exemplo recente foi a formação de vigilantes do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo. A ideia foi oferecer ferramentas socioemocionais àqueles que atuam diretamente no pátio – muitas vezes testemunhando conflitos sem ter recursos para intervir de forma construtiva. “Nossos programas propõem sempre uma intervenção educativa, que ajude a criança a refletir sobre suas ações e consequências”, explica Fleury. Os vigilantes foram orientados a usar dois filtros simples com os alunos: a ação em questão prejudica a si mesmo? E ao outro? Se a resposta for sim a ambas as perguntas, é sinal de que não é uma boa escolha. “A ideia é criar espaços seguros na escola como um todo”.
Fora do contexto escolar, a ASEc+ desenvolveu soluções customizadas, como a Caixa de Ferramentas – uma metodologia de rodas de conversa estruturadas, aplicada com grupos como mulheres e adolescentes de Paraisópolis, na capital paulista. Em 2022, a iniciativa foi reconhecida internacionalmente pela HundrED, organização finlandesa que destaca inovações educacionais com maior impacto social. Outra criação pioneira foi o desenvolvimento de redes de apoio emocional entre jovens. Mais recentemente, a ASEc+ ampliou sua atuação em territórios periféricos, como Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, e passou a integrar agendas globais como o Pacto Global da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Ao longo de sua trajetória, a ASEc+ já alcançou 400 mil estudantes e 40 mil educadores. Ainda assim, o desafio da escala permanece. “O Brasil tem milhões de crianças nas escolas. Ampliar nossa atuação depende de recursos”, afirma Fleury. Segundo ela, o modelo de financiamento de impacto social no país ainda é restrito. “Nos Estados Unidos, há incentivos fiscais mais amplos para doações. Aqui, seguimos dependentes de mecanismos como a Lei Rouanet e o Fundo para a Infância e Adolescência (FIA).” A organização defende o uso do blended finance – combinação de recursos filantrópicos, públicos e privados – como caminho para viabilizar a expansão e a sustentabilidade de iniciativas sociais.
Outro obstáculo importante é a continuidade. Projetos de curta duração dificultam a avaliação de impactos de longo prazo. Para enfrentar essa limitação, a ASEc+ estruturou seus programas em ciclos de três anos, permitindo o amadurecimento dos processos e a transferência gradual da tecnologia social.
Apesar dos desafios, a organização segue ampliando seu alcance. Programas desenvolvidos no Brasil já foram adotados por países como Polônia, Rússia e outros. “O que fazemos é simples e, ao mesmo tempo, profundo: ajudamos crianças – e também adultos – a lidar com o que sentem. Isso transforma não só a escola, mas também as famílias e, em última instância, a sociedade”, resume Fleury. “Nossa metodologia ajuda a interromper o ciclo da reação automática. Queremos que as crianças desenvolvam o hábito de parar, pensar e agir com consciência.”