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Viés de elegibilidade contra candidatas do sexo feminino

Por Daniela Blei

 

viés de elegibilidade contra mulheres
Ilustração: Adam McCauley)

Em 2020, quatro mulheres competiam pela indicação presidencial dos Democratas nos Estados Unidos ao lado de candidatos homens. Conforme as eleições primárias avançavam e a corrida afunilava, as pesquisas mostraram que, para muitos eleitores democratas, elegibilidade importava mais do que posições políticas ou ideias. Para eles, escolher um candidato significava, primeiro, decidir quem tinha maiores probabilidades de derrotar Donald Trump nas eleições gerais. Pesando as perspectivas para as senadoras Elizabeth Warren, Kamala Harris, Amy Klobuchar e Kirsten Gillibrand junto a outros candidatos do sexo masculino, eleitores e especialistas se perguntaram se uma mulher poderia ter apoio suficiente para se eleger presidente dos Estados Unidos.

Para investigar a relação entre gênero e convicção de elegibilidade, ou percepções populares sobre as chances de vitória de um candidato, Christianne Corbett e Jan G. Voelkel, ambos doutorandos no Departamento de Sociologia da Stanford University, uniram-se a Marianne Cooper, socióloga no Stanford VMware Women’s Leadership Innovation Lab, e Robb Willer, professor de sociologia em Stanford. O grupo conduziu seis experimentos durante as primárias presidenciais de 2020 do partido Democrata que se concentraram em como o “viés pragmático”, uma forma de pensamento grupal, influencia as ações dos eleitores americanos e os resultados das eleições no país. Em um novo artigo compartilhando sua pesquisa, os autores afirmam que ele desempenha um papel importante, mas corrigível, que impede eleitores de apoiar candidatas a quem eles de outra forma poderiam favorecer.

Definido como “uma tendência a não apoiar membros de grupos para os quais o sucesso é percebido como difícil ou impossível de alcançar”, o viés pragmático refere-se à percepção de um eleitor de que apoiar uma candidata seria inútil. Apontando para o preconceito de gênero, a cobertura machista da mídia e os altos padrões pelos quais as candidatas são julgadas, muitos eleitores democratas julgaram que uma mulher não poderia ter a indicação do partido. “Mesmo entre pessoas que não têm preconceito de gênero, e até entre aqueles que preferem líderes mulheres”, diz Corbett, “as ideias e suposições que eles têm sobre o que os outros estão pensando podem minar seu apoio a uma candidata.”

O primeiro estudo, baseado em uma parceria com a LeanIn.org, organização de liderança feminina cofundada pela COO da Meta, Sheryl Sandberg, examinou as respostas de uma amostra de prováveis eleitores democratas. Os participantes responderam a duas perguntas: “Você acha que será mais difícil ou mais fácil para uma mulher vencer as eleições de 2020 contra o presidente Trump, em comparação com um homem?” e “Quão pronta você acha que a maioria dos americanos está para uma presidente mulher?”. Eles também apontaram sua “preferência pessoal” em uma lista de candidatos mais votados que incluía seis homens e quatro mulheres. Os pesquisadores confirmaram sua hipótese: muitos eleitores tiveram a percepção de que candidatas eram menos elegíveis do que homens, o que se tornou uma profecia autorrealizável. O resultado foi a “mudança de gênero” ou o voto “por uma pessoa de gênero diferente do gênero da pessoa preferida”, geralmente para um candidato homem no lugar de uma mulher.

O segundo estudo coletou convicções de elegibilidade sobre homens e mulheres. Os participantes responderam a perguntas como “Quanto a maioria dos americanos gostaria de ver um homem ou uma mulher se tornar presidente?” e “Se no final desse Joe Biden contra Elizabeth Warren, quem teria mais chances de vencer Trump?” Quando as perguntas foram ajustadas e a elegibilidade tornou-se mais relevante, as intenções de apoiar uma candidata diminuíram.

Os três estudos subsequentes analisaram o que seria necessário para combater com sucesso o viés pragmático. Simplesmente informar que os eleitores estavam prontos para eleger candidatas não era suficiente para abalar suas suposições sobre as ações dos outros, descobriram os pesquisadores. Em vez disso, eleitores queriam evidências de que candidatas venceriam na mesma proporção que os homens. Esses estudos, controlados por gênero, idade, raça e nível de escolaridade, demonstraram que intervenções eficazes — oferecendo aos eleitores provas das vitórias eleitorais das mulheres — aumentaram as intenções deles de apoiar todas as mulheres, e não apenas uma determinada candidata à presidência.

“Ao contrário de outras eleições”, diz Corbett, “como tínhamos quatro mulheres, pudemos analisar padrões por gênero, separados de muitos outros atributos.” Os pesquisadores de Stanford puderam analisar as ideias dos eleitores sobre gênero, independentemente das qualidades ou políticas de um candidato. E testaram estratégias que ajudariam as candidatas a vencer, apesar da difusão do viés pragmático. “Este trabalho identifica um fator devastador, mas extremamente importante, que impede que as mulheres ascendam aos níveis mais altos de cargos políticos”, diz Lindsay Owens, diretora executiva da Groundwork Collaborative, organização de política econômica progressista, e ex-assessora de Elizabeth Warren. “Comunicadores políticos e candidatas deveriam observar atentamente as recomendações dos autores para ultrapassar esse viés se quiserem melhorar suas chances de sucesso eleitoral.”

 

Christianne Corbett, Jan G. Voelkel, Marianne Cooper e Robb Willer, “Pragmatic Bias Impedes Women’s Access to Political Leadership”, Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 199, n. 6, 2022.

A AUTORA

Daniela Blei é historiadora, escritora e editora de livros acadêmicos. Seus escritos podem ser encontrados em daniela-blei.com/writing. Ela tuíta esporadicamente em: @tothelastpage.



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