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Escola de conhecimento nativo

Por Kristi Eaton

(Foto por iStock/stellalevi)

O sistema educacional de Uganda está abarrotado de problemas. A evasão escolar atinge 25% dos jovens de 13 a 18 anos, motivada, em grande parte, pela pobreza e sexismo. As famílias pobres e  de baixa renda não conseguem pagar as mensalidades escolares e o casamento infantil, a gravidez na adolescência e o abuso sexual na escola são as principais barreiras  à educação das meninas.

Com mais de 75% dos 47 milhões de ugandenses abaixo de 30 anos, esses dados alarmam funcionários do governo e empresários pela necessidade de uma população instruída para impulsionar a economia. No enclave rural de Kasasa, membros da comunidade estão determinados a mudar os resultados da educação para o bem coletivo. Em janeiro, eles lançaram a Tat Sat Community Academy (TaSCA), uma escola para jovens locais que oferece educação acessível dedicada a enriquecer seus conhecimentos culturais, para que preservem e se orgulhem da herança compartilhada.

A academia consiste em uma escola e Instituto de Culturas Nativas e Artes Cênicas (ICPA, na sigla em inglês), que serve como centro de aprendizado cultural para alunos e para a comunidade  geral de Kasasa. Com capacidade para 500 alunos entre 12 e 18 anos, que pagam apenas 50 centavos por dia pela frequência, a academia planeja contratar cerca de 24 professores neste ano, dependendo da base o número de matrículas. A ideia é manter a relação professor-alunos  melhor do que os padrões nacionais. Concebido de acordo com os critérios nacionais de educação, o  currículo também enfatiza habilidades práticas de trabalho, educação financeira e conhecimento cultural.

Em 2019, os moradores de Kasasa contataram Ronald Kibirige com a ideia de um projeto  que promoveria educação, finanças e cultura em sua comunidade. Kibirige, um ugandense com conexões com a comunidade Kasasa por meio de um trabalho sem fins lucrativos, é cofundador da InteRoots Initiative, com sede em Denver. Autodenominada organização filantrópica não colonial, a InteRoots acredita que as comunidades locais são as mais capazes para resolver seus próprios  desafios e determinar seu futuro.

O ICPA vai dedicar parte significativa de sua programação à documentação e ao arquivamento do conhecimento cultural, em especial as formas de música e  dança. “Sabe-se que as tradições de povos originários em Uganda, como em muitas outras comunidades africanas, são conhecidas por terem sido transmitidas pelas músicas e danças tradicionais nas comunidades locais”, explica Kibirige, que tem experiência na prática e pesquisa de música e dança africanas. “A cultura tradicional tem sido a âncora da maioria das atividades comunitárias na África.”

Os membros da comunidade envolveram-se em todos os aspectos do projeto, incluída a participação das reuniões da comunidade, com a criação da visão do projeto e o estabelecimento do conselho comunitário de nove membros. O comitê administra uma organização cooperativa de poupança e crédito (SACCO), que fornece ajuda financeira estudantil e educação financeira.

De  acordo com o cofundador e diretor executivo da InteRoots, M. Scott Frank, a filantropia é o único financiador da TaSCA, e doou mais de US$ 550 mil (aproximadamente R$ 2,5 milhões) até o momento. O financiamento da InteRoots ergueu os prédios da academia, financiou totalmente a criação da SACCO e semeou seu portfólio de investimentos. A InteRoots também custeou a  construção de um moinho de milho local e a aquisição do maquinário necessário para sua operação.

Além de receber educação subsidiada, os alunos têm a oportunidade de se candidatar a auxílio  financeiro por meio do Graduate Enterprise Fund. Os recursos desse fundo, provenientes das taxas escolares, serão concedidos a estudantes com um plano promissor para metas futuras – como  seguir em seus estudos ou iniciar um negócio – após a formatura.

“O mais empolgante sobre a TaSCA e a InteRoots é o fato de que a parceria está funcionando”, observa Frank, ressaltando que o  apoio das agências locais e do governo, bem como a responsabilidade da comunidade, tem contribuído para sua eficácia.

O desafio, acrescenta Frank, será garantir que os padrões estabelecidos  pela comunidade sejam mantidos em fases de rápido crescimento. Para isso, a InteRoots planeja apoiar o projeto nos primeiros dois anos de operação, o que exigirá que continuem captando  fundos em nome do projeto.

O sucesso da TaSCA será o barômetro para dois outros projetos de educação com base na comunidade que foram imaginados pela InteRoots: um em Atlanta, na  Geórgia, e outro em terras tribais na área de Four Corners, no sudoeste dos EUA, para atender povos originários de toda a América do Norte.

A AUTORA

Kristi Eaton é uma escritora que vive em Oklahoma e se concentra em relatórios orientados para soluções.



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