Em países do Oriente Médio e do norte da África, mulheres enfrentam estereótipos retrógrados moldados por normas religiosas e políticas que historicamente dificultaram a discussão aberta sobre suas necessidades de saúde sexual e reprodutiva. Como resultado, elas encontram barreiras significativas no acesso a educação em saúde sexual e informações sobre sua sexualidade, autonomia corporal e saúde menstrual.
Desde o lançamento do Daleela em 2023, o CEO Yousef ElSammaa e os cofundadores Nour Emam e Ahmad Abou Hashem buscam oferecer às mulheres árabes acesso seguro e anônimo a informações sobre saúde sexual e reprodutiva.
A ideia do Daleela surgiu da experiência de Emam com depressão pós-parto e transtorno de estresse pós-traumático, que ficaram sem diagnóstico por oito meses em 2019. No ano seguinte, ela, ElSammaa e Hashem cofundaram a clínica Motherbeing no Cairo, Egito, que oferece serviços médicos presenciais e consultas online por meio do TikTok e do Instagram. Emam também conduz webinars da Motherbeing sobre fertilidade, gravidez e parto.
Por meio de uma comunicação ativa nas redes sociais, a Motherbeing logo conquistou mais de 3 milhões de usuárias, que frequentemente entravam em contato para tirar dúvidas sobre questões de saúde. Reconhecendo a demanda por informações confiáveis, a equipe decidiu desenvolver seu próprio modelo de inteligência artificial (IA) para atender a essa necessidade – assim nasceu o aplicativo Daleela AI.
“Decidimos fechar a clínica e concentrar todos os nossos serviços no Daleela AI porque é mais fácil ampliar seu alcance, e não conseguiríamos expandir a clínica na mesma velocidade”, explica ElSammaa. “Nosso objetivo era criar um modelo capaz de alcançar e atender milhões de mulheres de forma imediata e eficaz.”
A equipe dedicou quase nove meses ao desenvolvimento do modelo de IA, treinando-o com dados provenientes de sua equipe especializada de médicos e educadores sexuais, além de informações coletadas das próprias usuárias. O app usa criptografia de ponta a ponta para as comunicações e tem regras rigorosas para proteger os dados das usuárias. Também é treinado com recursos médicos em árabe, sob supervisão humana, para garantir a precisão das informações.
Além disso, o app oferece programas educacionais sobre saúde sexual, saúde menstrual, métodos contraceptivos, nutrição, planejamento familiar e outros temas. Esses programas são ministrados em inglês e árabe por especialistas médicos da própria equipe. O assistente de IA foi projetado para interagir com as usuárias, respondendo a perguntas sobre saúde da mulher em inglês e em dialetos árabes locais.
Um recurso de consultas médicas foi lançado em novembro. As usuárias, que devem ter mais de 18 anos, podem receber diagnósticos e tratamentos de médicos licenciados em até 24 horas. Embora o aplicativo seja gratuito, o serviço de consultas custa US$ 5 por atendimento, ou pode ser acessado por meio de uma assinatura anual de US$ 30.
Até o momento, o Daleela AI já facilitou 1.800 consultas, e mais de 76 mil usuárias se inscreveram no app. Cerca de 65% delas estão no Egito, enquanto os 35% restantes vêm de 14 outros países do Oriente Médio e do norte da África, segundo ElSammaa.
Os cofundadores planejam lançar em breve um recurso gratuito de acompanhamento de ciclo menstrual e fertilidade. Ainda neste ano, pretendem expandir para todos os países do Conselho de Cooperação do Golfo, organização regional composta por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã.









