A restauração produtiva de milhões de hectares no Brasil exige mais do que tecnologia: demanda inovação na forma de financiar e estruturar projetos
A experiência da Belterra e de outras organizações de impacto mostra que é possível superar barreiras de risco, prazo e escala para transformar o uso sustentável da terra em um setor robusto e replicável
Por Isabel Apel Britez, Marcelo Pereti e Valmir Ortega
Ilustrações de Catarina Bessell. Fotos cortesia da Belterra Agroflorestas.
O Brasil possui pelo menos 80 milhões de hectares de terras degradadas – uma extensão equivalente ao território da Colômbia.1 Essa degradação é, hoje, uma das principais razões pelas quais o país figura entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do mundo.2 Seus impactos, embora globais e de longo prazo, já se manifestam de forma concreta no território nacional. As enchentes que devastaram o estado do Rio Grande do Sul em 2024, bem como a seca histórica que atingiu a Amazônia no mesmo ano, foram associadas ao desmatamento e à perda da cobertura vegetal,3 e expuseram os efeitos sistêmicos da degradação: desequilíbrio climático e aprofundamento da vulnerabilidade social de milhões de pessoas.
Áreas degradadas são aquelas em que houve perda de produtividade e complexidade do solo,4 acompanhada da redução na capacidade de prestar serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação do clima e o ciclo das chuvas.5 Regiões degradadas frequentemente enfrentam também impactos sobre a saúde e a qualidade de vida da população local como resultado da alteração nos ciclos hídricos, do desequilíbrio no controle natural de pragas e da piora na qualidade do ar. A renda gerada nessas áreas tende a ser baixa e, no Brasil, está majoritariamente ligada à pecuária de baixíssima produtividade – com a média de uma cabeça de gado por hectare – ou à agricultura pouco eficiente. Essas terras deixam de funcionar como sumidouros de carbono e passam a emitir GEE, além de apresentar queda significativa na biodiversidade.
A degradação ocorre, em grande parte, por meio de queimadas e desmatamento florestal. Entre 1990 e 2023, essas atividades responderam por cerca de 60% das emissões de GEE no país.6 Somadas às emissões da agropecuária – o segundo maior fator emissor –, elas representam cerca de 80% do total.7 Essa dinâmica se intensifica justamente na Amazônia brasileira, que abriga alguns dos ecossistemas mais biodiversos do planeta, mas também concentra os maiores emissores nacionais: os estados do Pará, Maranhão e Mato Grosso.
Reverter esse quadro é urgente, mas esbarra em um obstáculo estruturante: o financiamento. A restauração produtiva em larga escala exige não apenas ambição política e técnica, mas também soluções financeiras que estejam à altura do desafio. O Brasil estabeleceu a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 como parte de sua Contribuição Nacionalmente Determinada ao Acordo de Paris. Essa meta foi incorporada à Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg) e será operacionalizada pelo Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), criado em 2017 e revisado em 2024. Trata-se de um plano estratégico que articula governo, setor privado e sociedade civil para viabilizar a restauração em larga escala. No entanto, o financiamento dessa ambição continua sendo o elo mais frágil.
A implantação de sistemas de restauração produtiva, como os sistemas agroflorestais (SAFs) – que integram espécies nativas e culturas agrícolas, promovendo a recuperação ambiental e a geração de renda –, demanda investimentos elevados, planejamento técnico complexo, assistência técnica contínua e tempo para maturação dos resultados. Cada hectare de agrofloresta abriga, em média, mil mudas e requer insumos diversos, como condicionadores de solo, adubos, equipamentos e práticas específicas de manejo. Esses sistemas também exigem mão de obra especializada e acompanhamento técnico. O custo médio estimado é de R$ 45 mil por hectare.8 Para restaurar os 12 milhões de hectares previstos com SAFs, seriam necessários cerca de R$ 540 bilhões até 2030. Esse custo é compensado pelos resultados: áreas que migram de monoculturas ou da pecuária extensiva para sistemas agroflorestais podem se tornar até 20 vezes mais rentáveis. A agrofloresta é, de fato, uma revolução.
É nesse contexto que atua a Belterra, uma organização privada que desenvolve projetos que articulam produtores rurais em arranjos coletivos de restauração florestal produtiva, por meio de sistemas agroflorestais adaptados a diferentes biomas e territórios. A estratégia combina práticas regenerativas com soluções financeiras inovadoras, como o blended finance, articulando diferentes fontes de capital – filantrópico, concessional e comercial – para viabilizar a restauração em escala. O objetivo é transformar a restauração em uma atividade economicamente viável para produtores e atrativa para investidores.
Ainda assim, mesmo com modelos estruturados, iniciativas como a da Belterra enfrentam barreiras significativas para acessar financiamento. Investidores costumam demonstrar baixa familiaridade com os ciclos produtivos da restauração, aversão a riscos climáticos e reputacionais e exigência de garantias tradicionais que muitas vezes são incompatíveis com os arranjos fundiários da agricultura familiar e de projetos coletivos. O ambiente macroeconômico brasileiro, com juros altos e demanda por liquidez, agrava o cenário. Apesar disso, a Belterra e outras organizações têm conseguido demonstrar que é possível desenhar mecanismos de financiamento adaptados à realidade da restauração – por meio da comercialização de produtos agroflorestais de alto valor, como cacau e café, da emissão de créditos de carbono ou do uso de instrumentos inovadores da bioeconomia, como créditos de biodiversidade e pagamentos por resultados.
Este artigo parte das experiências da Belterra e de outras organizações que atuam no ecossistema da restauração para discutir como projetos de regeneração ambiental em larga escala podem se tornar viáveis, passíveis de ser ampliados e financeiramente sustentáveis. Exemplos concretos, desafios enfrentados e soluções construídas evidenciam a urgência de inovar não apenas nas técnicas de cultivo, mas também nas finanças. A restauração pode, sim, se consolidar como uma indústria robusta, desde que estruturas adequadas de financiamento, governança e confiança entre os atores sejam estabelecidas. Com isso, o Brasil pode deixar de ser o país que destruiu uma Colômbia de florestas para se tornar aquele que lidera a sua reconstrução.
Superar barreiras para impulsionar a restauração florestal
Os desafios relacionados ao uso da terra no Brasil vão além do controle do desmatamento e da adoção de práticas sustentáveis de manejo e restauração. Dizem respeito, também, aos milhões de pessoas que dela dependem. Estima-se que mais de 4 milhões de pequenos e médios produtores rurais enfrentem dificuldades estruturais como acesso limitado a crédito, inserção precária em mercados e ausência de assistência técnica adequada.9 Nesse contexto, a proposta de restauração florestal produtiva da Belterra busca integrar a preservação ambiental à geração de oportunidades para esses agricultores, contribuindo para a redução de suas vulnerabilidades sociais e econômicas.
Diante da magnitude do desafio – milhões de hectares degradados e milhões de produtores rurais –, a solução precisaria estar à altura, em ambição e escala. Modelos de restauração produtiva baseados em sistemas agroflorestais já existiam e demonstravam bons resultados em diferentes cenários. A dificuldade, no entanto, estava em comprovar que essas soluções podiam ser replicadas em larga escala, transformando áreas degradadas em territórios férteis, produtivos e socialmente vibrantes. Era preciso mostrar que restaurar milhões de hectares com geração de renda era, sim, possível. Mas uma pergunta se impunha: como financiar essa escala?
Essa pergunta não é exclusiva das empresas que atuam com restauração florestal. Também ressoa entre empreendedores da inovação social que enfrentam desafios semelhantes: barreiras ao crescimento associadas à novidade de seus produtos ou serviços, à necessidade de construir credibilidade em setores emergentes, à interlocução com um mercado de investimentos ainda tradicional e às relações complexas com os beneficiários finais. Soma-se a isso a dificuldade, por parte de investidores e financiadores, de compreender plenamente os riscos e benefícios sociais, econômicos e ambientais envolvidos. No campo da restauração, no entanto, existem especificidades que tornam o desafio ainda mais agudo e que merecem atenção especial.
Do lado dos financiadores, uma série de fatores explica a falta de interesse em projetos de restauração. Um estudo recente da Climate Policy Initiative (CPI),10 organização global especializada em finanças e políticas públicas, identifica cinco principais razões para essa lacuna:
Descompasso entre os prazos de posse da terra e a escala necessária de investimento;
Desalinhamento entre a busca por lucros de curto prazo e os objetivos de sustentabilidade de longo prazo;
Alto risco percebido, associado a um setor ainda volátil e a um tipo de ativo relativamente novo;
Falta de familiaridade com as diferentes necessidades de investimento em soluções de agricultura sustentável;
Inexistência de capacidade para garantir a adoção contínua das soluções.
Além desses fatores, a trajetória de captação da Belterra revelou outros obstáculos igualmente relevantes. Um deles é o impacto do ambiente macroeconômico brasileiro: as altas taxas de juros desestimulam investimentos de maior risco, sobretudo aqueles com taxas de retorno semelhantes ou inferiores às alternativas tradicionais de mercado. Como consequência, mesmo projetos inovadores e ainda em fase de consolidação acabam submetidos a uma pressão por alta rentabilidade, justo num momento em que sua capacidade de entrega ainda está em desenvolvimento e aperfeiçoamento.
Outro fator relevante, que dialoga com o ponto levantado pela CPI sobre o desalinhamento entre retornos de curto e longo prazo, é o que se costuma chamar de “miopia dos investidores” – a preferência por retornos financeiros rápidos e alta liquidez, mesmo quando os projetos exigem prazos mais longos para maturar. No caso da Belterra, por exemplo, o intervalo entre o plantio e a primeira colheita de cacau varia de três a cinco anos. A geração de créditos de carbono, outra importante fonte de receita, demanda ainda mais tempo, devido à complexidade técnica, aos custos envolvidos e à necessidade de comprovação dos resultados. Investidores tradicionais raramente aceitam manter aportes travados por mais de cinco anos, o que dificulta sua participação em projetos com retornos sustentáveis e progressivos.
Como observou José Pugas, sócio e head de investimentos responsáveis e engajamento da JGP Asset Management, “há uma defesa do longo prazo, que é hipercorreta, mas não posso ignorar que a maior parte dos investidores tem visões curto-prazistas. Então, se eu quero efetivamente democratizar o acesso a investimentos sustentáveis, tenho que trabalhar com diferentes camadas de expectativas de retorno”.11
Foto cortesia da Belterra Agroflorestas
Além do descompasso entre os prazos dos financiamentos e os ciclos dos projetos, os investimentos no uso sustentável da terra ainda apresentam aos investidores um perfil de risco pouco familiar. Trata-se de um tipo de ativo novo, inserido em um setor ainda volátil e em processo de consolidação.12 A subcategoria da restauração florestal ainda não está estruturada como um setor formalizado, o que amplia as incertezas. No entanto, os riscos vão além da novidade ou da instabilidade de mercado. Há uma questão central que permeia a relação entre investidores e projetos de impacto ambiental: o risco reputacional.
À diferença de setores como o de tecnologia, onde um investimento malsucedido pode resultar na perda financeira ou na falha de um produto, projetos ambientais mal executados expõem os investidores a consequências simbólicas e políticas muito mais complexas. Isso porque não estão em jogo apenas retornos econômicos, mas compromissos públicos com causas climáticas e socioambientais. Um projeto de reflorestamento que não cumpre suas promessas – seja na regeneração esperada, na geração de renda ou na certificação de créditos de carbono – pode ser interpretado como greenwashing. Nesse caso, a credibilidade de quem investe é diretamente impactada, colocando em risco sua reputação diante de pares, imprensa e sociedade.
Como resposta aos riscos percebidos, investidores têm exigido cada vez mais garantias – o que, na prática, se traduz em uma multiplicação de exigências documentais, sistemas de monitoramento, auditorias independentes, relatórios ESG (do inglês Environmental, Social and Governance; Ambiental, Social e Governança, em português), indicadores de impacto e métricas de performance. Embora essas demandas sejam em muitos casos desejáveis, elas impõem uma carga operacional significativa que empresas nascentes, especialmente aquelas que atuam em territórios remotos, têm dificuldade de absorver.
Além disso, projetos baseados na natureza enfrentam riscos climáticos sistêmicos, como alterações imprevisíveis nos regimes de chuva ou elevações na temperatura média, além de dependências ambientais complexas, como a polinização natural e a regeneração do solo. Essas variáveis são difíceis de modelar com a precisão esperada pelos analistas financeiros. Ferramentas convencionais de avaliação de risco, como o fluxo de caixa descontado, muitas vezes não capturam essas dinâmicas e se mostram inadequadas para a realidade dos projetos ambientais. Isso evidencia a necessidade de novas formas de avaliação e previsão de riscos, que ainda não foram plenamente desenvolvidas ou incorporadas ao setor financeiro tradicional.
Apesar dos muitos desafios, o contexto que permitiu a criação da Belterra e que tem sustentado sua trajetória indica que um cenário mais favorável vem se consolidando para o setor da restauração. Novas estruturas de financiamento estão sendo desenvolvidas e diferentes tipos de atores têm se engajado para viabilizar negócios voltados à restauração produtiva. Isso revela um campo em transformação, no qual a filantropia se reposiciona estrategicamente e despontam novas possibilidades para as finanças sustentáveis. A própria história da Belterra ilustra esse movimento. Sua origem é exemplo dessa mudança de paradigma e de transformações mais amplas no ecossistema da restauração – desde a nova atuação de bancos comerciais e de desenvolvimento até o papel emergente, e cada vez mais essencial, dos gestores intermediários.
Da semente à estratégia
Em 2017, o ecossistema para o desenvolvimento e o financiamento de soluções em restauração começou a demonstrar amadurecimento com dois marcos importantes: a criação do Planaveg e o lançamento da chamada pública Recuperação da Cobertura Vegetal, pelo Fundo Amazônia – criado pelo governo brasileiro em 2008 e gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para captar doações e financiar ações de conservação da floresta. A chamada previa um aporte de R$ 200 milhões para até cinco projetos de recuperação da vegetação nativa, com foco na estruturação técnica e gerencial da cadeia de reflorestamento e na regularização ambiental de propriedades rurais.
Nesse contexto, a Belterra iniciou suas atividades com a aquisição de uma propriedade no Pará, destinada a funcionar como um laboratório de experimentação para a restauração florestal. Na mesma época, o Fundo Vale, braço filantrópico da mineradora Vale, assumia o compromisso de restaurar 100 mil hectares até 2030, contribuindo com a meta brasileira de 12 milhões de hectares definida no Acordo de Paris. Após uma série de conversas, firmou-se uma parceria: a Belterra se comprometeria a executar projetos de restauração de terras degradadas com o apoio do Fundo Vale, e as áreas restauradas seriam consideradas parte da meta de reflorestamento do Fundo.
A parceria entre a Belterra e o Fundo Vale mostrou que havia espaço para ir além da atuação filantrópica tradicional. Revelou-se ali a possibilidade de um modelo mais ousado, capaz de combinar capital filantrópico com recursos de mercado para alavancar investimentos em restauração. A partir dessa virada estratégica, o Fundo Vale passou a operar como uma plataforma de investimento de impacto, ampliando sua capacidade de mobilizar recursos e fomentar soluções e negócios voltados à recuperação de áreas degradadas. Nascia, assim, não apenas uma operação de restauração, mas também um projeto-piloto com o propósito de comprovar a viabilidade de um modelo replicável e ampliável para o setor. Ao longo dos anos, a atuação do Fundo – investindo em negócios, usando capital filantrópico como catalisador e fortalecendo o ecossistema da restauração – atraiu novas empresas, consolidando-se como uma das principais referências em investimento de impacto voltado à restauração florestal no Brasil.
Desde o início, a Belterra sabia que assumir o papel de primeiro caso bem-sucedido nesse modelo traria grandes responsabilidades: amadurecer rapidamente, atrair investidores, estruturar cadeias produtivas e desenvolver um modelo de negócios sólido, com relevância ambiental e social. Entre os marcos desse compromisso estão a certificação como Empresa B, que atesta seu impacto socioambiental por meio de auditorias e indicadores, e a parceria com apoiadores estratégicos, como a suíça Good Energies Foundation, voltada a negócios de impacto, que selecionou o projeto como um dos poucos apoiados no Brasil. Hoje, a organização segue em tratativas com diferentes fundos de investimento para viabilizar a expansão do modelo para 40 mil hectares até 2030, consolidando um arranjo sustentável e de longo prazo para a restauração florestal e o fortalecimento de negócios regenerativos na Amazônia.
O capital encontra a floresta
No caminho da expansão, a Belterra identificou quatro vias principais para financiar projetos de restauração: bancos privados, bancos de desenvolvimento, blended finance e equity, cada um com seus próprios desafios e limitações.
A primeira tratativa foi com os bancos privados, e a experiência revelou rapidamente os limites desse tipo de crédito. As análises dessas instituições seguem modelos desenhados para culturas agrícolas tradicionais, com garantias bem estabelecidas e baixo nível de inovação. Em consequência, há pouca margem para adaptar os critérios a projetos inovadores, sobretudo aqueles relacionados ao uso sustentável da terra. Isso restringe o acesso a recursos por iniciativas como a da organização.
Bancos privados mostraram que ainda não estão preparados para aceitar garantias inovadoras. Idealmente, ativos como créditos de carbono ou contratos de venda futura de cacau poderiam ser utilizados como colaterais aos empréstimos. Na prática, porém, as exigências continuam centradas em garantias tradicionais como a posse da terra ou fianças. Isso torna o crédito inacessível para negócios como o da Belterra, que operam com parcerias e arrendamentos em vez de propriedades próprias. Mesmo que a organização fosse a proprietária das terras, é pouco provável que isso facilitasse os empréstimos: em geral, os bancos atribuem baixo valor comercial às terras na Amazônia, o que reduz sua atratividade como garantia em caso de inadimplência e dificulta ainda mais o financiamento de projetos nesse bioma.
Outro entrave importante está nos prazos dos empréstimos. Os bancos privados costumam operar com financiamentos de curto e médio prazo – em geral entre cinco e seis anos. No entanto, esse horizonte é incompatível com os ciclos de produção da restauração. Essa defasagem entre o tempo da terra e o tempo do capital deixa claro por que o modelo tradicional de crédito bancário não atende às necessidades de projetos de restauração produtiva.
A segunda via são os bancos de desenvolvimento, como o BNDES, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Financeira Internacional (IFC). Esses bancos geralmente oferecem condições mais favoráveis, com juros mais baixos, prazos mais longos e períodos de carência mais flexíveis. Ainda assim, não estão isentos dos desafios que envolvem o financiamento de projetos de restauração. Em 2024, por exemplo, a re.green, empresa que atua com restauração ecológica em larga escala, obteve a aprovação de um empréstimo de quase R$ 200 milhões do BNDES, com juros de 7% ao ano, para restaurar 15 mil hectares. O recurso fazia parte do programa Arco da Restauração, estruturado justamente para apoiar esse tipo de projeto. No entanto, o acesso ao financiamento foi dificultado por entraves burocráticos, sobretudo pela exigência de uma carta fiança – uma garantia que a maioria dos bancos comerciais se recusou a fornecer. Isso mostra que, apesar da existência de linhas de crédito voltadas à restauração florestal, as exigências e instrumentos de garantia ainda não foram adaptados de modo apropriado. Na prática, esses recursos seguem inacessíveis para empresas emergentes do setor, como a Belterra, a re.green e a Mombak, que atua na restauração de florestas nativas.
O blended finance surge como a terceira via promissora para o financiamento da restauração de terras e já apresenta casos bem-sucedidos de implementação no setor. Também conhecido como financiamento misto, consiste no uso de capital catalítico, proveniente de fontes públicas ou filantrópicas, para atrair investimentos do setor privado em países de baixa e média renda, com o propósito de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.13 Trata-se de uma abordagem voltada à estruturação de operações financeiras, e não de um tipo de investimento em si. A criação de um veículo de blended finance exige, como primeiro passo, a captação de fundos concessionais – ou seja, recursos ofertados em condições mais favoráveis que as praticadas no mercado, a fim de reduzir o custo total do capital para o tomador e/ou oferecer proteção adicional contra perdas aos investidores mais seniores, em especial quando estão expostos à chamada “posição de primeira perda”.14
O capital concessional pode ser mobilizado por diferentes instrumentos financeiros, como dívida, capital próprio, subsídios ou financiamento mezanino. O blended finance tem se mostrado essencial justamente porque o apetite de investidores tradicionais por projetos com risco elevado, garantias inovadoras e prazos longos de retorno ainda é bastante limitado. Por isso, o capital catalítico – frequentemente captado como doação, ou seja, a fundo perdido – desempenha um papel estratégico, atuando como amortecedor de risco e tornando o investimento mais atrativo para os demais participantes. No campo dos investimentos de impacto, essa abordagem tem viabilizado o financiamento de projetos socioambientais com taxas abaixo das praticadas no mercado.
Um exemplo concreto vem da Sitawi, fundo de investimento de impacto, relatado por seu diretor Bruno Girardi.15 Ele descreve o caso de uma cooperativa que precisava de capital de giro para comprar insumos, mas não conseguia acessar crédito a taxas de mercado, que variavam entre 14% e 16% ao ano. Por meio de uma estruturação blended, a Sitawi conseguiu oferecer financiamento com taxa zero, permitindo que os cooperados mantivessem suas atividades, reduzissem sua vulnerabilidade econômica e permanecessem em suas terras. Trata-se de uma estratégia com forte impacto socioeconômico e potencial transformador nos territórios.
O uso do financiamento misto no setor agrícola global tem se expandido de forma consistente desde 2014, alcançando cerca de US$ 3 bilhões em 2023.16 Esse avanço reflete não apenas o papel crescente das fontes públicas na estruturação de transições financeiras, mas também uma transformação significativa no modo como a filantropia atua. Tradicionalmente associada a doações, a filantropia começa agora a empregar seus recursos de forma estratégica, alavancando investimentos adicionais e compartilhando riscos. Essa mudança – que se manifesta em iniciativas como a do Fundo Vale e, mais recentemente, do Instituto Arapyaú – representa uma nova visão de responsabilidade: mais do que doar, os fundos passam a acompanhar de perto a gestão dos recursos, bem como os impactos e benefícios socioambientais gerados por eles. É um movimento que redefine o papel da filantropia dentro do ecossistema de investimentos de impacto.
Apesar do crescente interesse do mercado financeiro por estruturas de blended finance, esse modelo ainda não está bem consolidado nem é de fácil replicação. Cada novo projeto exige da Belterra uma engenharia financeira própria, capaz de alinhar diferentes interesses e expectativas – não apenas em termos de retorno financeiro, mas também em relação a prazos, taxas e perfis de risco. Mesmo diante desses desafios, o programa CRA Verde ilustra como a combinação adequada de capital, estrutura e parcerias pode viabilizar o financiamento da restauração produtiva em escala.
Em janeiro de 2023, a Belterra emitiu R$ 17 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), lastreados em contratos de compra futura de cacau, castanhas, açaí e créditos de carbono. Com vencimento em três anos, os recursos foram destinados a oferecer capital de giro a 22 cooperativas e associações comunitárias, além de quatro pequenas e médias empresas de impacto situadas nas regiões Norte e Nordeste do país.
Um dos elementos centrais da estrutura do CRA Verde foi a posição de primeira perda assumida pela Good Energies Foundation por meio do Instituto Belterra, que ofereceu uma camada de proteção essencial aos investidores seniores. A Conexsus, por meio da CX Investimentos Socioambientais, aportou R$ 5 milhões com recursos do Fundo Vale. Também atuou como estruturadora com o Grupo Gaia, arquiteto financeiro da operação, coordenando diligências, modelagem de fluxo de caixa e negociações com as diferentes fontes de recursos. Já o Banco Santander entrou como coordenador-arranjador e investidor da cota sênior, conferindo credibilidade à operação e ampliando o acesso a investidores institucionais.
O CRA Verde já está gerando impactos socioeconômicos concretos: os recursos vêm sendo usados para aquisição de insumos, aumento da produtividade e garantia de compradores para as safras das cooperativas beneficiadas. No entanto, foram necessários cinco anos de trabalho para tirar o projeto do papel. Foi preciso compatibilizar os prazos esperados pelos investidores – geralmente de dois a quatro anos – com os ciclos produtivos das culturas agroflorestais, que variam de três a sete anos. Também foi necessário desenvolver cláusulas de carência e gatilhos de pagamento atrelados a entregas de colheita e certificações de carbono; superar barreiras regulatórias para o uso de recebíveis agrícolas e ambientais como lastro de CRA; realizar auditorias socioambientais; e construir indicadores de impacto capazes de atender às exigências de governança e transparência dos investidores. Esse caso demonstra que, em um campo onde a inovação técnica já está consolidada, o verdadeiro avanço depende da engenharia financeira e da confiança construída entre atores diversos.
Além das iniciativas em curso, a Belterra está estruturando um fundo de investimento voltado ao apoio de projetos sustentáveis no Brasil rural. Em parceria com a gestora Régia Capital, está sendo criado um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) com valor-alvo de R$ 130 milhões. Ainda em fase de captação, o fundo já despertou o interesse de investidores internacionais, especialmente por contar com uma estrutura financeira robusta e uma governança reconhecida pelo mercado brasileiro. Para atrair capital privado e mitigar o risco percebido, o fundo foi desenhado com uma estrutura de blended finance. Trinta por cento dos recursos virão de cotas mais arriscadas, assumidas por investidores dispostos a absorver eventuais perdas para destravar a entrada de outros perfis de capital. O restante será destinado a investidores tradicionais, com menor exposição ao risco. Como garantia adicional, contratos de venda futura de cacau já firmados serão utilizados para dar mais segurança à operação.
Novas estruturas e novos atores
Houve avanços importantes no mercado, embora as boas intenções ainda nem sempre se traduzam em soluções plenamente consolidadas. Um exemplo é o Fundo Clima, do BNDES, que deu um passo relevante em setembro de 2024 com o lançamento do programa Florestas Crédito. A iniciativa oferece condições especiais de crédito e garantias para empresas que investem em ações de recuperação e preservação da vegetação nativa. Trata-se de uma sublinha do Fundo Clima que elimina a exigência de garantias pessoais, removendo, assim, uma das principais barreiras ao acesso a empréstimos.
No caso da Belterra, estruturas mais flexíveis de garantias, combinadas a contratos de compra futura de carbono e cacau, foram suficientes para viabilizar a obtenção de um empréstimo. Isso sinaliza que bancos de desenvolvimento têm se mostrado mais atentos às dificuldades enfrentadas por projetos de restauração na estruturação de financiamentos e, assim, vêm criando programas específicos com condições mais adaptadas à realidade do setor. O tempo e os recursos dedicados por essas instituições ao desenvolvimento de soluções sob medida indicam um interesse estratégico, tanto por parte dos bancos como dos governos, em fomentar a restauração produtiva como setor econômico emergente.
Foto cortesia da Belterra Agroflorestas.
Outros exemplos promissores de novas modalidades de financiamento surgiram recentemente, como é o caso da Mombak, startup dedicada à remoção de carbono. Uma parceria da empresa com o Banco Mundial resultou na emissão de um outcome bond, título atrelado a resultados. Embora já utilizado em outros mercados, trata-se de uma inovação no contexto brasileiro: é a primeira vez que se implementa um veículo financeiro cujos retornos estão vinculados à absorção de carbono da atmosfera, ou seja, ao desempenho efetivo de um projeto de restauração florestal.
Os outcome bonds oferecem uma alternativa relevante para o financiamento de soluções baseadas na natureza, pois ajudam a reduzir diversas incertezas para os investidores, tanto em relação à performance dos projetos no cumprimento de suas metas de impacto como na geração dos resultados financeiros esperados. Como destaca Gabriel Haddad, CEO da Mombak, o bond gerou ganhos em duas frentes: ampliou o acesso da empresa a novos investidores e viabilizou a captação sob um instrumento de dívida mais barato do que os antes disponíveis.17
Já em abril de 2025, a Mombak obteve R$ 100 milhões em financiamento do BNDES, utilizando como garantia uma fiança bancária concedida pelo Santander. Com isso, a empresa tornou-se a primeira a acessar recursos do Fundo Clima destinados à restauração de áreas degradadas na Amazônia desde o relançamento do fundo, em 2023.18 A decisão de um banco comercial participar como garantidor em uma operação conjunta com um banco de desenvolvimento representou um marco importante para o setor. Esse movimento tem sido acompanhado com grande interesse por diversos atores do ecossistema da restauração.
Em paralelo à transformação na atuação de bancos tradicionais e de desenvolvimento, outro movimento relevante tem ganhado força: o crescimento do número e da importância dos gestores intermediários. Esses novos atores vêm ocupando um papel estratégico ao atuar como ponte entre projetos que buscam financiamento e investidores de diferentes perfis. Sua principal função é traduzir as realidades e necessidades dos projetos de impacto, em especial os de base territorial, para o público investidor, tanto nacional como internacional. Ao facilitar o diálogo, reduzir assimetrias de informação e assumir parte da carga operacional, esses gestores aliviam obstáculos que iniciativas emergentes não têm capacidade de enfrentar sozinhas.
Em um contexto em que investidores buscam previsibilidade, liquidez e mitigação de riscos reputacionais, enquanto os projetos operam com ciclos longos, baixa padronização e múltiplas variáveis socioambientais, os gestores intermediários têm se consolidado como atores-chave. São eles que estruturam veículos financeiros – como CRAs, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e bonds –, coordenam a entrada de diferentes tipos de capital (filantrópico, concessional e comercial), constroem mecanismos de garantia, consolidam dados, organizam estruturas de governança e, sobretudo, criam a confiança necessária para viabilizar a entrada de capital privado em projetos ainda percebidos como complexos ou de alto risco.
A atuação desses gestores vai além da intermediação financeira: envolve o desenho de soluções jurídicas, operacionais e estratégicas que viabilizam a materialização de investimentos em restauração produtiva. Organizações como Sitawi, Mov Investimentos, Régia Capital e Violet Capital têm desempenhado esse papel de forma cada vez mais sistemática, estruturando operações como o CRA Verde da Belterra, desenhando estratégias para fundos de impacto temáticos e construindo pontes entre os objetivos socioambientais dos investidores e a realidade concreta da restauração no chão da floresta.
Além disso, esses gestores apoiam o desenvolvimento de capacidades dos beneficiários. A Sitawi, por exemplo, além de oferecer suporte em governança, atua diretamente na capacitação técnica das organizações na ponta. Desenvolver esse tipo de capacidade – seja dentro de casas de investimento, fundações filantrópicas ou organizações híbridas – é fundamental para ampliar tanto o volume como a qualidade do financiamento destinado a soluções baseadas na natureza. Sem essas estruturas intermediárias, a distância entre o capital e o território permanece grande demais. Com elas, começam a se formar as condições necessárias para que o financiamento da restauração se torne não apenas viável, mas também replicável, ampliável e sistêmico.
Como destravar o potencial da restauração florestal
O avanço da restauração florestal produtiva exige mudanças estruturais na forma como o capital é mobilizado e os riscos são compreendidos e geridos. O panorama traçado ao longo deste artigo evidencia a necessidade de transformar não apenas os mecanismos financeiros, mas também a lógica que sustenta as decisões de investimento. Financiadores, formuladores de políticas, gestores de fundos e empreendedores sociais comprometidos com a expansão do impacto e da escala de iniciativas baseadas na natureza podem se guiar pelas recomendações a seguir:
Desenhar veículos financeiros adequados ao setor. Investidores e gestores de fundos devem criar produtos com prazos mais flexíveis, que garantam certa liquidez e estejam alinhados com as expectativas do mercado financeiro atual, sem desconsiderar as especificidades dos ciclos da natureza.
Reduzir riscos percebidos com dados e garantias. Organizações de apoio e instituições multilaterais podem desenvolver mecanismos de mitigação de risco, como fundos garantidores e a divulgação transparente de estudos de caso bem-sucedidos, facilitando a replicação de modelos testados.
Apoiar decisões com tecnologia climática. Desenvolvedores de projetos e investidores devem incorporar ferramentas preditivas de riscos climáticos para ajustar rotas estratégicas à medida que o contexto muda, fortalecendo a resiliência dos empreendimentos ao longo do tempo.
Educar o mercado financeiro. Organizações da sociedade civil, redes de investidores e fundações filantrópicas podem contribuir para a disseminação de conhecimento sobre soluções baseadas na natureza, promovendo capacitação e uma linguagem acessível sobre finanças sustentáveis.
Expandir o uso do blended finance. Estruturas que combinem capital filantrópico e comercial, com diferentes perfis de risco, devem ser promovidas por investidores de impacto e instituições de fomento. Essas estratégias ajudam a atrair investidores tradicionais para o campo, de forma progressiva e alinhada aos seus mandatos.
Fortalecer dados para tomada de decisão. É essencial melhorar a coleta, o monitoramento e a divulgação de dados sobre os impactos ambientais e econômicos dos projetos. Organizações executoras e apoiadores técnicos devem priorizar o uso de indicadores sólidos, que orientem decisões e reduzam a incerteza.
A análise dos desafios enfrentados por investidores na restauração florestal produtiva revela um mercado em transformação, no qual as boas intenções ainda superam as soluções estruturadas. A falta de alinhamento entre os ciclos de retorno financeiro e o tempo necessário para o amadurecimento da agrofloresta, somada à complexidade dos riscos reputacionais e operacionais, impõe barreiras relevantes à mobilização de capital. Ainda assim, está em curso um movimento crescente de adaptação, com o surgimento de instrumentos financeiros inovadores e o fortalecimento de gestores intermediários capazes de traduzir as necessidades e oportunidades do setor para investidores nacionais e internacionais.
Ao longo desse processo, experiências como as da Belterra, da Mombak e de outras iniciativas de impacto mostram que, apesar das dificuldades, é possível construir mecanismos financeiros mais adequados para investimentos em soluções baseadas na natureza. Exemplos como o Florestas Crédito, do BNDES, e os outcome bonds, do Banco Mundial, apontam caminhos concretos para reduzir riscos e ampliar o acesso de diferentes perfis de investidores ao setor. A busca por tecnologias preditivas, novos modelos de mitigação de riscos e estratégias mais eficazes de captação e comunicação de dados também se destaca como fundamental para fortalecer a confiança dos investidores e expandir o mercado de finanças sustentáveis.
O avanço do financiamento para a restauração florestal produtiva, no entanto, dependerá de um esforço contínuo de inovação e adaptação regulatória, aliado a uma integração cada vez maior entre investidores, gestores intermediários e desenvolvedores de projetos. A criação de veículos financeiros mais flexíveis, ajustados aos ciclos produtivos da agrofloresta, e o fortalecimento da transparência e previsibilidade nas operações financeiras podem acelerar a consolidação do setor.
O relatório de impacto socioambiental mais recente da Belterra, lançado em maio de 2025, evidencia os benefícios concretos da restauração produtiva em escala. Os avanços alcançados só foram possíveis graças às estruturas de investimento desenvolvidas ao longo dos últimos anos. As operações da organização já geraram 500 empregos e impactaram aproximadamente 7 mil pessoas. Nas regiões onde atua, observam-se melhorias em resiliência climática, segurança alimentar, saúde e bem-estar das comunidades. Com um ecossistema financeiro mais sólido e articulado, será possível ampliar ainda mais a escala de soluções sustentáveis que conciliem impacto socioambiental positivo e retorno financeiro, contribuindo para a construção de um modelo econômico mais resiliente e regenerativo.
OS AUTORES
Isabel Apel Britez é coordenadora de inovação financeira e novos negócios no Instituto Belterra. É graduada em relações internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestre em inovação social pela Universidade de Cambridge.
Marcelo Pereti atua como diretor financeiro (CFO) da Belterra Agroflorestas. Também é cofundador e CFO da Rio Capim Agrossilvipastoril e graduado em administração de empresas, e possui MBA em venture capital e private equity pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).
Valmir Ortega é geógrafo e fundador do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) e da Belterra Agroflorestas. Foi diretor de ecossistemas e presidente interino do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e secretário de estado de Meio Ambiente no Pará.
NOTAS
MapBiomas, “Até 25% da vegetação nativa do Brasil pode estar degradada”, 05.jul.2024.
Parlamento Europeu, Emissões de gases com efeito de estufa por país e setor (infografia), 01.mar.2018.
Ben Clarke et al., Climate change, El Niño and infrastructure failures behind massive floods in southern Brazil, World Weather Attribution, 2024.
Ver United Nations Framework Convention On Climate Change (UNFCCC), DLDD, Land Degradation and Drought: Workshop Proceedings, 2018, e Elton Alisson, “Degradação florestal no Brasil preocupa especialistas”, Agência FAPESP, 08.set.2014.
Climate Policy Initiative, 2025 Policy Bulletin: Climate Finance for Development.
Isabel Britez. Sustainable finance in Brazil: investments into innovation in the use of land. Dissertação (Master of Studies in Social Innovation) – Universidade de Cambridge, 2024.
Climate Policy Initiative, 2025 Policy Bulletin: Climate Finance for Development.
Isabel Britez. Sustainable finance in Brazil: investments into innovation in the use of land. Dissertação (Master of Studies in Social Innovation), Universidade de Cambridge, 2024.
Convergence, The State of Blended Finance 2023: Climate Edition.
Mariana Fragoso, “Banco Mundial lança bonds inovadores para reflorestar a Amazônia”, Reset, 22.fev.2024.
Agência BNDES de Notícias, “BNDES-Fundo Clima desembolsa R$ 100 milhões para restauração florestal com Mombak”, 07.abr.2025.
A restauração produtiva de milhões de hectares no Brasil exige mais do que tecnologia: demanda inovação na forma de financiar e estruturar projetos
A experiência da Belterra e de outras organizações de impacto mostra que é possível superar barreiras de risco, prazo e escala para transformar o uso sustentável da terra em um setor robusto e replicável
Por Isabel Apel Britez, Marcelo Pereti e Valmir Ortega
Ilustrações de Catarina Bessell. Fotos cortesia da Belterra Agroflorestas.
O Brasil possui pelo menos 80 milhões de hectares de terras degradadas – uma extensão equivalente ao território da Colômbia.1 Essa degradação é, hoje, uma das principais razões pelas quais o país figura entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do mundo.2 Seus impactos, embora globais e de longo prazo, já se manifestam de forma concreta no território nacional. As enchentes que devastaram o estado do Rio Grande do Sul em 2024, bem como a seca histórica que atingiu a Amazônia no mesmo ano, foram associadas ao desmatamento e à perda da cobertura vegetal,3 e expuseram os efeitos sistêmicos da degradação: desequilíbrio climático e aprofundamento da vulnerabilidade social de milhões de pessoas.
Áreas degradadas são aquelas em que houve perda de produtividade e complexidade do solo,4 acompanhada da redução na capacidade de prestar serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação do clima e o ciclo das chuvas.5 Regiões degradadas frequentemente enfrentam também impactos sobre a saúde e a qualidade de vida da população local como resultado da alteração nos ciclos hídricos, do desequilíbrio no controle natural de pragas e da piora na qualidade do ar. A renda gerada nessas áreas tende a ser baixa e, no Brasil, está majoritariamente ligada à pecuária de baixíssima produtividade – com a média de uma cabeça de gado por hectare – ou à agricultura pouco eficiente. Essas terras deixam de funcionar como sumidouros de carbono e passam a emitir GEE, além de apresentar queda significativa na biodiversidade.
A degradação ocorre, em grande parte, por meio de queimadas e desmatamento florestal. Entre 1990 e 2023, essas atividades responderam por cerca de 60% das emissões de GEE no país.6 Somadas às emissões da agropecuária – o segundo maior fator emissor –, elas representam cerca de 80% do total.7 Essa dinâmica se intensifica justamente na Amazônia brasileira, que abriga alguns dos ecossistemas mais biodiversos do planeta, mas também concentra os maiores emissores nacionais: os estados do Pará, Maranhão e Mato Grosso.
Reverter esse quadro é urgente, mas esbarra em um obstáculo estruturante: o financiamento. A restauração produtiva em larga escala exige não apenas ambição política e técnica, mas também soluções financeiras que estejam à altura do desafio. O Brasil estabeleceu a meta de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 como parte de sua Contribuição Nacionalmente Determinada ao Acordo de Paris. Essa meta foi incorporada à Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg) e será operacionalizada pelo Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), criado em 2017 e revisado em 2024. Trata-se de um plano estratégico que articula governo, setor privado e sociedade civil para viabilizar a restauração em larga escala. No entanto, o financiamento dessa ambição continua sendo o elo mais frágil.
A implantação de sistemas de restauração produtiva, como os sistemas agroflorestais (SAFs) – que integram espécies nativas e culturas agrícolas, promovendo a recuperação ambiental e a geração de renda –, demanda investimentos elevados, planejamento técnico complexo, assistência técnica contínua e tempo para maturação dos resultados. Cada hectare de agrofloresta abriga, em média, mil mudas e requer insumos diversos, como condicionadores de solo, adubos, equipamentos e práticas específicas de manejo. Esses sistemas também exigem mão de obra especializada e acompanhamento técnico. O custo médio estimado é de R$ 45 mil por hectare.8 Para restaurar os 12 milhões de hectares previstos com SAFs, seriam necessários cerca de R$ 540 bilhões até 2030. Esse custo é compensado pelos resultados: áreas que migram de monoculturas ou da pecuária extensiva para sistemas agroflorestais podem se tornar até 20 vezes mais rentáveis. A agrofloresta é, de fato, uma revolução.
É nesse contexto que atua a Belterra, uma organização privada que desenvolve projetos que articulam produtores rurais em arranjos coletivos de restauração florestal produtiva, por meio de sistemas agroflorestais adaptados a diferentes biomas e territórios. A estratégia combina práticas regenerativas com soluções financeiras inovadoras, como o blended finance, articulando diferentes fontes de capital – filantrópico, concessional e comercial – para viabilizar a restauração em escala. O objetivo é transformar a restauração em uma atividade economicamente viável para produtores e atrativa para investidores.
Ainda assim, mesmo com modelos estruturados, iniciativas como a da Belterra enfrentam barreiras significativas para acessar financiamento. Investidores costumam demonstrar baixa familiaridade com os ciclos produtivos da restauração, aversão a riscos climáticos e reputacionais e exigência de garantias tradicionais que muitas vezes são incompatíveis com os arranjos fundiários da agricultura familiar e de projetos coletivos. O ambiente macroeconômico brasileiro, com juros altos e demanda por liquidez, agrava o cenário. Apesar disso, a Belterra e outras organizações têm conseguido demonstrar que é possível desenhar mecanismos de financiamento adaptados à realidade da restauração – por meio da comercialização de produtos agroflorestais de alto valor, como cacau e café, da emissão de créditos de carbono ou do uso de instrumentos inovadores da bioeconomia, como créditos de biodiversidade e pagamentos por resultados.
Este artigo parte das experiências da Belterra e de outras organizações que atuam no ecossistema da restauração para discutir como projetos de regeneração ambiental em larga escala podem se tornar viáveis, passíveis de ser ampliados e financeiramente sustentáveis. Exemplos concretos, desafios enfrentados e soluções construídas evidenciam a urgência de inovar não apenas nas técnicas de cultivo, mas também nas finanças. A restauração pode, sim, se consolidar como uma indústria robusta, desde que estruturas adequadas de financiamento, governança e confiança entre os atores sejam estabelecidas. Com isso, o Brasil pode deixar de ser o país que destruiu uma Colômbia de florestas para se tornar aquele que lidera a sua reconstrução.
Superar barreiras para impulsionar a restauração florestal
Os desafios relacionados ao uso da terra no Brasil vão além do controle do desmatamento e da adoção de práticas sustentáveis de manejo e restauração. Dizem respeito, também, aos milhões de pessoas que dela dependem. Estima-se que mais de 4 milhões de pequenos e médios produtores rurais enfrentem dificuldades estruturais como acesso limitado a crédito, inserção precária em mercados e ausência de assistência técnica adequada.9 Nesse contexto, a proposta de restauração florestal produtiva da Belterra busca integrar a preservação ambiental à geração de oportunidades para esses agricultores, contribuindo para a redução de suas vulnerabilidades sociais e econômicas.
Diante da magnitude do desafio – milhões de hectares degradados e milhões de produtores rurais –, a solução precisaria estar à altura, em ambição e escala. Modelos de restauração produtiva baseados em sistemas agroflorestais já existiam e demonstravam bons resultados em diferentes cenários. A dificuldade, no entanto, estava em comprovar que essas soluções podiam ser replicadas em larga escala, transformando áreas degradadas em territórios férteis, produtivos e socialmente vibrantes. Era preciso mostrar que restaurar milhões de hectares com geração de renda era, sim, possível. Mas uma pergunta se impunha: como financiar essa escala?
Essa pergunta não é exclusiva das empresas que atuam com restauração florestal. Também ressoa entre empreendedores da inovação social que enfrentam desafios semelhantes: barreiras ao crescimento associadas à novidade de seus produtos ou serviços, à necessidade de construir credibilidade em setores emergentes, à interlocução com um mercado de investimentos ainda tradicional e às relações complexas com os beneficiários finais. Soma-se a isso a dificuldade, por parte de investidores e financiadores, de compreender plenamente os riscos e benefícios sociais, econômicos e ambientais envolvidos. No campo da restauração, no entanto, existem especificidades que tornam o desafio ainda mais agudo e que merecem atenção especial.
Do lado dos financiadores, uma série de fatores explica a falta de interesse em projetos de restauração. Um estudo recente da Climate Policy Initiative (CPI),10 organização global especializada em finanças e políticas públicas, identifica cinco principais razões para essa lacuna:
Descompasso entre os prazos de posse da terra e a escala necessária de investimento;
Desalinhamento entre a busca por lucros de curto prazo e os objetivos de sustentabilidade de longo prazo;
Alto risco percebido, associado a um setor ainda volátil e a um tipo de ativo relativamente novo;
Falta de familiaridade com as diferentes necessidades de investimento em soluções de agricultura sustentável;
Inexistência de capacidade para garantir a adoção contínua das soluções.
Além desses fatores, a trajetória de captação da Belterra revelou outros obstáculos igualmente relevantes. Um deles é o impacto do ambiente macroeconômico brasileiro: as altas taxas de juros desestimulam investimentos de maior risco, sobretudo aqueles com taxas de retorno semelhantes ou inferiores às alternativas tradicionais de mercado. Como consequência, mesmo projetos inovadores e ainda em fase de consolidação acabam submetidos a uma pressão por alta rentabilidade, justo num momento em que sua capacidade de entrega ainda está em desenvolvimento e aperfeiçoamento.
Outro fator relevante, que dialoga com o ponto levantado pela CPI sobre o desalinhamento entre retornos de curto e longo prazo, é o que se costuma chamar de “miopia dos investidores” – a preferência por retornos financeiros rápidos e alta liquidez, mesmo quando os projetos exigem prazos mais longos para maturar. No caso da Belterra, por exemplo, o intervalo entre o plantio e a primeira colheita de cacau varia de três a cinco anos. A geração de créditos de carbono, outra importante fonte de receita, demanda ainda mais tempo, devido à complexidade técnica, aos custos envolvidos e à necessidade de comprovação dos resultados. Investidores tradicionais raramente aceitam manter aportes travados por mais de cinco anos, o que dificulta sua participação em projetos com retornos sustentáveis e progressivos.
Como observou José Pugas, sócio e head de investimentos responsáveis e engajamento da JGP Asset Management, “há uma defesa do longo prazo, que é hipercorreta, mas não posso ignorar que a maior parte dos investidores tem visões curto-prazistas. Então, se eu quero efetivamente democratizar o acesso a investimentos sustentáveis, tenho que trabalhar com diferentes camadas de expectativas de retorno”.11
Foto cortesia da Belterra Agroflorestas
Além do descompasso entre os prazos dos financiamentos e os ciclos dos projetos, os investimentos no uso sustentável da terra ainda apresentam aos investidores um perfil de risco pouco familiar. Trata-se de um tipo de ativo novo, inserido em um setor ainda volátil e em processo de consolidação.12 A subcategoria da restauração florestal ainda não está estruturada como um setor formalizado, o que amplia as incertezas. No entanto, os riscos vão além da novidade ou da instabilidade de mercado. Há uma questão central que permeia a relação entre investidores e projetos de impacto ambiental: o risco reputacional.
À diferença de setores como o de tecnologia, onde um investimento malsucedido pode resultar na perda financeira ou na falha de um produto, projetos ambientais mal executados expõem os investidores a consequências simbólicas e políticas muito mais complexas. Isso porque não estão em jogo apenas retornos econômicos, mas compromissos públicos com causas climáticas e socioambientais. Um projeto de reflorestamento que não cumpre suas promessas – seja na regeneração esperada, na geração de renda ou na certificação de créditos de carbono – pode ser interpretado como greenwashing. Nesse caso, a credibilidade de quem investe é diretamente impactada, colocando em risco sua reputação diante de pares, imprensa e sociedade.
Como resposta aos riscos percebidos, investidores têm exigido cada vez mais garantias – o que, na prática, se traduz em uma multiplicação de exigências documentais, sistemas de monitoramento, auditorias independentes, relatórios ESG (do inglês Environmental, Social and Governance; Ambiental, Social e Governança, em português), indicadores de impacto e métricas de performance. Embora essas demandas sejam em muitos casos desejáveis, elas impõem uma carga operacional significativa que empresas nascentes, especialmente aquelas que atuam em territórios remotos, têm dificuldade de absorver.
Além disso, projetos baseados na natureza enfrentam riscos climáticos sistêmicos, como alterações imprevisíveis nos regimes de chuva ou elevações na temperatura média, além de dependências ambientais complexas, como a polinização natural e a regeneração do solo. Essas variáveis são difíceis de modelar com a precisão esperada pelos analistas financeiros. Ferramentas convencionais de avaliação de risco, como o fluxo de caixa descontado, muitas vezes não capturam essas dinâmicas e se mostram inadequadas para a realidade dos projetos ambientais. Isso evidencia a necessidade de novas formas de avaliação e previsão de riscos, que ainda não foram plenamente desenvolvidas ou incorporadas ao setor financeiro tradicional.
Apesar dos muitos desafios, o contexto que permitiu a criação da Belterra e que tem sustentado sua trajetória indica que um cenário mais favorável vem se consolidando para o setor da restauração. Novas estruturas de financiamento estão sendo desenvolvidas e diferentes tipos de atores têm se engajado para viabilizar negócios voltados à restauração produtiva. Isso revela um campo em transformação, no qual a filantropia se reposiciona estrategicamente e despontam novas possibilidades para as finanças sustentáveis. A própria história da Belterra ilustra esse movimento. Sua origem é exemplo dessa mudança de paradigma e de transformações mais amplas no ecossistema da restauração – desde a nova atuação de bancos comerciais e de desenvolvimento até o papel emergente, e cada vez mais essencial, dos gestores intermediários.
Da semente à estratégia
Em 2017, o ecossistema para o desenvolvimento e o financiamento de soluções em restauração começou a demonstrar amadurecimento com dois marcos importantes: a criação do Planaveg e o lançamento da chamada pública Recuperação da Cobertura Vegetal, pelo Fundo Amazônia – criado pelo governo brasileiro em 2008 e gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para captar doações e financiar ações de conservação da floresta. A chamada previa um aporte de R$ 200 milhões para até cinco projetos de recuperação da vegetação nativa, com foco na estruturação técnica e gerencial da cadeia de reflorestamento e na regularização ambiental de propriedades rurais.
Nesse contexto, a Belterra iniciou suas atividades com a aquisição de uma propriedade no Pará, destinada a funcionar como um laboratório de experimentação para a restauração florestal. Na mesma época, o Fundo Vale, braço filantrópico da mineradora Vale, assumia o compromisso de restaurar 100 mil hectares até 2030, contribuindo com a meta brasileira de 12 milhões de hectares definida no Acordo de Paris. Após uma série de conversas, firmou-se uma parceria: a Belterra se comprometeria a executar projetos de restauração de terras degradadas com o apoio do Fundo Vale, e as áreas restauradas seriam consideradas parte da meta de reflorestamento do Fundo.
A parceria entre a Belterra e o Fundo Vale mostrou que havia espaço para ir além da atuação filantrópica tradicional. Revelou-se ali a possibilidade de um modelo mais ousado, capaz de combinar capital filantrópico com recursos de mercado para alavancar investimentos em restauração. A partir dessa virada estratégica, o Fundo Vale passou a operar como uma plataforma de investimento de impacto, ampliando sua capacidade de mobilizar recursos e fomentar soluções e negócios voltados à recuperação de áreas degradadas. Nascia, assim, não apenas uma operação de restauração, mas também um projeto-piloto com o propósito de comprovar a viabilidade de um modelo replicável e ampliável para o setor. Ao longo dos anos, a atuação do Fundo – investindo em negócios, usando capital filantrópico como catalisador e fortalecendo o ecossistema da restauração – atraiu novas empresas, consolidando-se como uma das principais referências em investimento de impacto voltado à restauração florestal no Brasil.
Desde o início, a Belterra sabia que assumir o papel de primeiro caso bem-sucedido nesse modelo traria grandes responsabilidades: amadurecer rapidamente, atrair investidores, estruturar cadeias produtivas e desenvolver um modelo de negócios sólido, com relevância ambiental e social. Entre os marcos desse compromisso estão a certificação como Empresa B, que atesta seu impacto socioambiental por meio de auditorias e indicadores, e a parceria com apoiadores estratégicos, como a suíça Good Energies Foundation, voltada a negócios de impacto, que selecionou o projeto como um dos poucos apoiados no Brasil. Hoje, a organização segue em tratativas com diferentes fundos de investimento para viabilizar a expansão do modelo para 40 mil hectares até 2030, consolidando um arranjo sustentável e de longo prazo para a restauração florestal e o fortalecimento de negócios regenerativos na Amazônia.
O capital encontra a floresta
No caminho da expansão, a Belterra identificou quatro vias principais para financiar projetos de restauração: bancos privados, bancos de desenvolvimento, blended finance e equity, cada um com seus próprios desafios e limitações.
A primeira tratativa foi com os bancos privados, e a experiência revelou rapidamente os limites desse tipo de crédito. As análises dessas instituições seguem modelos desenhados para culturas agrícolas tradicionais, com garantias bem estabelecidas e baixo nível de inovação. Em consequência, há pouca margem para adaptar os critérios a projetos inovadores, sobretudo aqueles relacionados ao uso sustentável da terra. Isso restringe o acesso a recursos por iniciativas como a da organização.
Bancos privados mostraram que ainda não estão preparados para aceitar garantias inovadoras. Idealmente, ativos como créditos de carbono ou contratos de venda futura de cacau poderiam ser utilizados como colaterais aos empréstimos. Na prática, porém, as exigências continuam centradas em garantias tradicionais como a posse da terra ou fianças. Isso torna o crédito inacessível para negócios como o da Belterra, que operam com parcerias e arrendamentos em vez de propriedades próprias. Mesmo que a organização fosse a proprietária das terras, é pouco provável que isso facilitasse os empréstimos: em geral, os bancos atribuem baixo valor comercial às terras na Amazônia, o que reduz sua atratividade como garantia em caso de inadimplência e dificulta ainda mais o financiamento de projetos nesse bioma.
Outro entrave importante está nos prazos dos empréstimos. Os bancos privados costumam operar com financiamentos de curto e médio prazo – em geral entre cinco e seis anos. No entanto, esse horizonte é incompatível com os ciclos de produção da restauração. Essa defasagem entre o tempo da terra e o tempo do capital deixa claro por que o modelo tradicional de crédito bancário não atende às necessidades de projetos de restauração produtiva.
A segunda via são os bancos de desenvolvimento, como o BNDES, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Corporação Financeira Internacional (IFC). Esses bancos geralmente oferecem condições mais favoráveis, com juros mais baixos, prazos mais longos e períodos de carência mais flexíveis. Ainda assim, não estão isentos dos desafios que envolvem o financiamento de projetos de restauração. Em 2024, por exemplo, a re.green, empresa que atua com restauração ecológica em larga escala, obteve a aprovação de um empréstimo de quase R$ 200 milhões do BNDES, com juros de 7% ao ano, para restaurar 15 mil hectares. O recurso fazia parte do programa Arco da Restauração, estruturado justamente para apoiar esse tipo de projeto. No entanto, o acesso ao financiamento foi dificultado por entraves burocráticos, sobretudo pela exigência de uma carta fiança – uma garantia que a maioria dos bancos comerciais se recusou a fornecer. Isso mostra que, apesar da existência de linhas de crédito voltadas à restauração florestal, as exigências e instrumentos de garantia ainda não foram adaptados de modo apropriado. Na prática, esses recursos seguem inacessíveis para empresas emergentes do setor, como a Belterra, a re.green e a Mombak, que atua na restauração de florestas nativas.
O blended finance surge como a terceira via promissora para o financiamento da restauração de terras e já apresenta casos bem-sucedidos de implementação no setor. Também conhecido como financiamento misto, consiste no uso de capital catalítico, proveniente de fontes públicas ou filantrópicas, para atrair investimentos do setor privado em países de baixa e média renda, com o propósito de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.13 Trata-se de uma abordagem voltada à estruturação de operações financeiras, e não de um tipo de investimento em si. A criação de um veículo de blended finance exige, como primeiro passo, a captação de fundos concessionais – ou seja, recursos ofertados em condições mais favoráveis que as praticadas no mercado, a fim de reduzir o custo total do capital para o tomador e/ou oferecer proteção adicional contra perdas aos investidores mais seniores, em especial quando estão expostos à chamada “posição de primeira perda”.14
O capital concessional pode ser mobilizado por diferentes instrumentos financeiros, como dívida, capital próprio, subsídios ou financiamento mezanino. O blended finance tem se mostrado essencial justamente porque o apetite de investidores tradicionais por projetos com risco elevado, garantias inovadoras e prazos longos de retorno ainda é bastante limitado. Por isso, o capital catalítico – frequentemente captado como doação, ou seja, a fundo perdido – desempenha um papel estratégico, atuando como amortecedor de risco e tornando o investimento mais atrativo para os demais participantes. No campo dos investimentos de impacto, essa abordagem tem viabilizado o financiamento de projetos socioambientais com taxas abaixo das praticadas no mercado.
Um exemplo concreto vem da Sitawi, fundo de investimento de impacto, relatado por seu diretor Bruno Girardi.15 Ele descreve o caso de uma cooperativa que precisava de capital de giro para comprar insumos, mas não conseguia acessar crédito a taxas de mercado, que variavam entre 14% e 16% ao ano. Por meio de uma estruturação blended, a Sitawi conseguiu oferecer financiamento com taxa zero, permitindo que os cooperados mantivessem suas atividades, reduzissem sua vulnerabilidade econômica e permanecessem em suas terras. Trata-se de uma estratégia com forte impacto socioeconômico e potencial transformador nos territórios.
O uso do financiamento misto no setor agrícola global tem se expandido de forma consistente desde 2014, alcançando cerca de US$ 3 bilhões em 2023.16 Esse avanço reflete não apenas o papel crescente das fontes públicas na estruturação de transições financeiras, mas também uma transformação significativa no modo como a filantropia atua. Tradicionalmente associada a doações, a filantropia começa agora a empregar seus recursos de forma estratégica, alavancando investimentos adicionais e compartilhando riscos. Essa mudança – que se manifesta em iniciativas como a do Fundo Vale e, mais recentemente, do Instituto Arapyaú – representa uma nova visão de responsabilidade: mais do que doar, os fundos passam a acompanhar de perto a gestão dos recursos, bem como os impactos e benefícios socioambientais gerados por eles. É um movimento que redefine o papel da filantropia dentro do ecossistema de investimentos de impacto.
Apesar do crescente interesse do mercado financeiro por estruturas de blended finance, esse modelo ainda não está bem consolidado nem é de fácil replicação. Cada novo projeto exige da Belterra uma engenharia financeira própria, capaz de alinhar diferentes interesses e expectativas – não apenas em termos de retorno financeiro, mas também em relação a prazos, taxas e perfis de risco. Mesmo diante desses desafios, o programa CRA Verde ilustra como a combinação adequada de capital, estrutura e parcerias pode viabilizar o financiamento da restauração produtiva em escala.
Em janeiro de 2023, a Belterra emitiu R$ 17 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), lastreados em contratos de compra futura de cacau, castanhas, açaí e créditos de carbono. Com vencimento em três anos, os recursos foram destinados a oferecer capital de giro a 22 cooperativas e associações comunitárias, além de quatro pequenas e médias empresas de impacto situadas nas regiões Norte e Nordeste do país.
Um dos elementos centrais da estrutura do CRA Verde foi a posição de primeira perda assumida pela Good Energies Foundation por meio do Instituto Belterra, que ofereceu uma camada de proteção essencial aos investidores seniores. A Conexsus, por meio da CX Investimentos Socioambientais, aportou R$ 5 milhões com recursos do Fundo Vale. Também atuou como estruturadora com o Grupo Gaia, arquiteto financeiro da operação, coordenando diligências, modelagem de fluxo de caixa e negociações com as diferentes fontes de recursos. Já o Banco Santander entrou como coordenador-arranjador e investidor da cota sênior, conferindo credibilidade à operação e ampliando o acesso a investidores institucionais.
O CRA Verde já está gerando impactos socioeconômicos concretos: os recursos vêm sendo usados para aquisição de insumos, aumento da produtividade e garantia de compradores para as safras das cooperativas beneficiadas. No entanto, foram necessários cinco anos de trabalho para tirar o projeto do papel. Foi preciso compatibilizar os prazos esperados pelos investidores – geralmente de dois a quatro anos – com os ciclos produtivos das culturas agroflorestais, que variam de três a sete anos. Também foi necessário desenvolver cláusulas de carência e gatilhos de pagamento atrelados a entregas de colheita e certificações de carbono; superar barreiras regulatórias para o uso de recebíveis agrícolas e ambientais como lastro de CRA; realizar auditorias socioambientais; e construir indicadores de impacto capazes de atender às exigências de governança e transparência dos investidores. Esse caso demonstra que, em um campo onde a inovação técnica já está consolidada, o verdadeiro avanço depende da engenharia financeira e da confiança construída entre atores diversos.
Além das iniciativas em curso, a Belterra está estruturando um fundo de investimento voltado ao apoio de projetos sustentáveis no Brasil rural. Em parceria com a gestora Régia Capital, está sendo criado um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) com valor-alvo de R$ 130 milhões. Ainda em fase de captação, o fundo já despertou o interesse de investidores internacionais, especialmente por contar com uma estrutura financeira robusta e uma governança reconhecida pelo mercado brasileiro. Para atrair capital privado e mitigar o risco percebido, o fundo foi desenhado com uma estrutura de blended finance. Trinta por cento dos recursos virão de cotas mais arriscadas, assumidas por investidores dispostos a absorver eventuais perdas para destravar a entrada de outros perfis de capital. O restante será destinado a investidores tradicionais, com menor exposição ao risco. Como garantia adicional, contratos de venda futura de cacau já firmados serão utilizados para dar mais segurança à operação.
Novas estruturas e novos atores
Houve avanços importantes no mercado, embora as boas intenções ainda nem sempre se traduzam em soluções plenamente consolidadas. Um exemplo é o Fundo Clima, do BNDES, que deu um passo relevante em setembro de 2024 com o lançamento do programa Florestas Crédito. A iniciativa oferece condições especiais de crédito e garantias para empresas que investem em ações de recuperação e preservação da vegetação nativa. Trata-se de uma sublinha do Fundo Clima que elimina a exigência de garantias pessoais, removendo, assim, uma das principais barreiras ao acesso a empréstimos.
No caso da Belterra, estruturas mais flexíveis de garantias, combinadas a contratos de compra futura de carbono e cacau, foram suficientes para viabilizar a obtenção de um empréstimo. Isso sinaliza que bancos de desenvolvimento têm se mostrado mais atentos às dificuldades enfrentadas por projetos de restauração na estruturação de financiamentos e, assim, vêm criando programas específicos com condições mais adaptadas à realidade do setor. O tempo e os recursos dedicados por essas instituições ao desenvolvimento de soluções sob medida indicam um interesse estratégico, tanto por parte dos bancos como dos governos, em fomentar a restauração produtiva como setor econômico emergente.
Foto cortesia da Belterra Agroflorestas.
Outros exemplos promissores de novas modalidades de financiamento surgiram recentemente, como é o caso da Mombak, startup dedicada à remoção de carbono. Uma parceria da empresa com o Banco Mundial resultou na emissão de um outcome bond, título atrelado a resultados. Embora já utilizado em outros mercados, trata-se de uma inovação no contexto brasileiro: é a primeira vez que se implementa um veículo financeiro cujos retornos estão vinculados à absorção de carbono da atmosfera, ou seja, ao desempenho efetivo de um projeto de restauração florestal.
Os outcome bonds oferecem uma alternativa relevante para o financiamento de soluções baseadas na natureza, pois ajudam a reduzir diversas incertezas para os investidores, tanto em relação à performance dos projetos no cumprimento de suas metas de impacto como na geração dos resultados financeiros esperados. Como destaca Gabriel Haddad, CEO da Mombak, o bond gerou ganhos em duas frentes: ampliou o acesso da empresa a novos investidores e viabilizou a captação sob um instrumento de dívida mais barato do que os antes disponíveis.17
Já em abril de 2025, a Mombak obteve R$ 100 milhões em financiamento do BNDES, utilizando como garantia uma fiança bancária concedida pelo Santander. Com isso, a empresa tornou-se a primeira a acessar recursos do Fundo Clima destinados à restauração de áreas degradadas na Amazônia desde o relançamento do fundo, em 2023.18 A decisão de um banco comercial participar como garantidor em uma operação conjunta com um banco de desenvolvimento representou um marco importante para o setor. Esse movimento tem sido acompanhado com grande interesse por diversos atores do ecossistema da restauração.
Em paralelo à transformação na atuação de bancos tradicionais e de desenvolvimento, outro movimento relevante tem ganhado força: o crescimento do número e da importância dos gestores intermediários. Esses novos atores vêm ocupando um papel estratégico ao atuar como ponte entre projetos que buscam financiamento e investidores de diferentes perfis. Sua principal função é traduzir as realidades e necessidades dos projetos de impacto, em especial os de base territorial, para o público investidor, tanto nacional como internacional. Ao facilitar o diálogo, reduzir assimetrias de informação e assumir parte da carga operacional, esses gestores aliviam obstáculos que iniciativas emergentes não têm capacidade de enfrentar sozinhas.
Em um contexto em que investidores buscam previsibilidade, liquidez e mitigação de riscos reputacionais, enquanto os projetos operam com ciclos longos, baixa padronização e múltiplas variáveis socioambientais, os gestores intermediários têm se consolidado como atores-chave. São eles que estruturam veículos financeiros – como CRAs, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e bonds –, coordenam a entrada de diferentes tipos de capital (filantrópico, concessional e comercial), constroem mecanismos de garantia, consolidam dados, organizam estruturas de governança e, sobretudo, criam a confiança necessária para viabilizar a entrada de capital privado em projetos ainda percebidos como complexos ou de alto risco.
A atuação desses gestores vai além da intermediação financeira: envolve o desenho de soluções jurídicas, operacionais e estratégicas que viabilizam a materialização de investimentos em restauração produtiva. Organizações como Sitawi, Mov Investimentos, Régia Capital e Violet Capital têm desempenhado esse papel de forma cada vez mais sistemática, estruturando operações como o CRA Verde da Belterra, desenhando estratégias para fundos de impacto temáticos e construindo pontes entre os objetivos socioambientais dos investidores e a realidade concreta da restauração no chão da floresta.
Além disso, esses gestores apoiam o desenvolvimento de capacidades dos beneficiários. A Sitawi, por exemplo, além de oferecer suporte em governança, atua diretamente na capacitação técnica das organizações na ponta. Desenvolver esse tipo de capacidade – seja dentro de casas de investimento, fundações filantrópicas ou organizações híbridas – é fundamental para ampliar tanto o volume como a qualidade do financiamento destinado a soluções baseadas na natureza. Sem essas estruturas intermediárias, a distância entre o capital e o território permanece grande demais. Com elas, começam a se formar as condições necessárias para que o financiamento da restauração se torne não apenas viável, mas também replicável, ampliável e sistêmico.
Como destravar o potencial da restauração florestal
O avanço da restauração florestal produtiva exige mudanças estruturais na forma como o capital é mobilizado e os riscos são compreendidos e geridos. O panorama traçado ao longo deste artigo evidencia a necessidade de transformar não apenas os mecanismos financeiros, mas também a lógica que sustenta as decisões de investimento. Financiadores, formuladores de políticas, gestores de fundos e empreendedores sociais comprometidos com a expansão do impacto e da escala de iniciativas baseadas na natureza podem se guiar pelas recomendações a seguir:
Desenhar veículos financeiros adequados ao setor. Investidores e gestores de fundos devem criar produtos com prazos mais flexíveis, que garantam certa liquidez e estejam alinhados com as expectativas do mercado financeiro atual, sem desconsiderar as especificidades dos ciclos da natureza.
Reduzir riscos percebidos com dados e garantias. Organizações de apoio e instituições multilaterais podem desenvolver mecanismos de mitigação de risco, como fundos garantidores e a divulgação transparente de estudos de caso bem-sucedidos, facilitando a replicação de modelos testados.
Apoiar decisões com tecnologia climática. Desenvolvedores de projetos e investidores devem incorporar ferramentas preditivas de riscos climáticos para ajustar rotas estratégicas à medida que o contexto muda, fortalecendo a resiliência dos empreendimentos ao longo do tempo.
Educar o mercado financeiro. Organizações da sociedade civil, redes de investidores e fundações filantrópicas podem contribuir para a disseminação de conhecimento sobre soluções baseadas na natureza, promovendo capacitação e uma linguagem acessível sobre finanças sustentáveis.
Expandir o uso do blended finance. Estruturas que combinem capital filantrópico e comercial, com diferentes perfis de risco, devem ser promovidas por investidores de impacto e instituições de fomento. Essas estratégias ajudam a atrair investidores tradicionais para o campo, de forma progressiva e alinhada aos seus mandatos.
Fortalecer dados para tomada de decisão. É essencial melhorar a coleta, o monitoramento e a divulgação de dados sobre os impactos ambientais e econômicos dos projetos. Organizações executoras e apoiadores técnicos devem priorizar o uso de indicadores sólidos, que orientem decisões e reduzam a incerteza.
A análise dos desafios enfrentados por investidores na restauração florestal produtiva revela um mercado em transformação, no qual as boas intenções ainda superam as soluções estruturadas. A falta de alinhamento entre os ciclos de retorno financeiro e o tempo necessário para o amadurecimento da agrofloresta, somada à complexidade dos riscos reputacionais e operacionais, impõe barreiras relevantes à mobilização de capital. Ainda assim, está em curso um movimento crescente de adaptação, com o surgimento de instrumentos financeiros inovadores e o fortalecimento de gestores intermediários capazes de traduzir as necessidades e oportunidades do setor para investidores nacionais e internacionais.
Ao longo desse processo, experiências como as da Belterra, da Mombak e de outras iniciativas de impacto mostram que, apesar das dificuldades, é possível construir mecanismos financeiros mais adequados para investimentos em soluções baseadas na natureza. Exemplos como o Florestas Crédito, do BNDES, e os outcome bonds, do Banco Mundial, apontam caminhos concretos para reduzir riscos e ampliar o acesso de diferentes perfis de investidores ao setor. A busca por tecnologias preditivas, novos modelos de mitigação de riscos e estratégias mais eficazes de captação e comunicação de dados também se destaca como fundamental para fortalecer a confiança dos investidores e expandir o mercado de finanças sustentáveis.
O avanço do financiamento para a restauração florestal produtiva, no entanto, dependerá de um esforço contínuo de inovação e adaptação regulatória, aliado a uma integração cada vez maior entre investidores, gestores intermediários e desenvolvedores de projetos. A criação de veículos financeiros mais flexíveis, ajustados aos ciclos produtivos da agrofloresta, e o fortalecimento da transparência e previsibilidade nas operações financeiras podem acelerar a consolidação do setor.
O relatório de impacto socioambiental mais recente da Belterra, lançado em maio de 2025, evidencia os benefícios concretos da restauração produtiva em escala. Os avanços alcançados só foram possíveis graças às estruturas de investimento desenvolvidas ao longo dos últimos anos. As operações da organização já geraram 500 empregos e impactaram aproximadamente 7 mil pessoas. Nas regiões onde atua, observam-se melhorias em resiliência climática, segurança alimentar, saúde e bem-estar das comunidades. Com um ecossistema financeiro mais sólido e articulado, será possível ampliar ainda mais a escala de soluções sustentáveis que conciliem impacto socioambiental positivo e retorno financeiro, contribuindo para a construção de um modelo econômico mais resiliente e regenerativo.
OS AUTORES
Isabel Apel Britez é coordenadora de inovação financeira e novos negócios no Instituto Belterra. É graduada em relações internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestre em inovação social pela Universidade de Cambridge.
Marcelo Pereti atua como diretor financeiro (CFO) da Belterra Agroflorestas. Também é cofundador e CFO da Rio Capim Agrossilvipastoril e graduado em administração de empresas, e possui MBA em venture capital e private equity pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).
Valmir Ortega é geógrafo e fundador do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) e da Belterra Agroflorestas. Foi diretor de ecossistemas e presidente interino do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e secretário de estado de Meio Ambiente no Pará.
NOTAS
MapBiomas, “Até 25% da vegetação nativa do Brasil pode estar degradada”, 05.jul.2024.
Parlamento Europeu, Emissões de gases com efeito de estufa por país e setor (infografia), 01.mar.2018.
Ben Clarke et al., Climate change, El Niño and infrastructure failures behind massive floods in southern Brazil, World Weather Attribution, 2024.
Ver United Nations Framework Convention On Climate Change (UNFCCC), DLDD, Land Degradation and Drought: Workshop Proceedings, 2018, e Elton Alisson, “Degradação florestal no Brasil preocupa especialistas”, Agência FAPESP, 08.set.2014.
Climate Policy Initiative, 2025 Policy Bulletin: Climate Finance for Development.
Isabel Britez. Sustainable finance in Brazil: investments into innovation in the use of land. Dissertação (Master of Studies in Social Innovation) – Universidade de Cambridge, 2024.
Climate Policy Initiative, 2025 Policy Bulletin: Climate Finance for Development.
Isabel Britez. Sustainable finance in Brazil: investments into innovation in the use of land. Dissertação (Master of Studies in Social Innovation), Universidade de Cambridge, 2024.
Convergence, The State of Blended Finance 2023: Climate Edition.
Mariana Fragoso, “Banco Mundial lança bonds inovadores para reflorestar a Amazônia”, Reset, 22.fev.2024.
Agência BNDES de Notícias, “BNDES-Fundo Clima desembolsa R$ 100 milhões para restauração florestal com Mombak”, 07.abr.2025.