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Por que adotamos pequenos incentivos

As agências governamentais têm maior probabilidade de incorporar intervenções eficazes se elas forem aplicadas às atividades que já estão realizando

Por Daniela Blei

(Ilustração de Kumé Pather)

Em 2008, Cass Sunstein, professora da Faculdade de Direito de Harvard, e Richard Thaler, economista da Universidade de Chicago, introduziram o conceito de nudge (“empurrãozinho”): uma intervenção pouco intrusiva utilizada por agentes públicos e formuladores de políticas para incentivar as pessoas a tomar decisões melhores. Com base em pesquisas de cientistas comportamentais e economistas, Sunstein e Thaler afirmaram que se pode incentivar as pessoas a tomar certo rumo sem tirar sua liberdade de escolha.

Suas ideias inspiraram a organização britânica Behavioural Insights Team, que conta com aproximadamente 200 Nudge Units (Unidades de Empurrão), ou afiliadas de pesquisa, no mundo todo. Essas equipes trabalham com agências governamentais, conduzindo ensaios controlados randomizados (ECRs) para saber se um empurrãozinho de fato irá, por exemplo, aumentar as taxas de vacinação ou incentivar os motoristas a pagar multas. Um novo artigo faz uma pergunta importante: o que acontece com as descobertas que são feitas após as Unidades de Empurrão testarem intervenções? A coleta de evidências garante melhores resultados, ou há gargalos para aplicar os achados?

Os pesquisadores – Stefano DellaVigna, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley, Woojin Kim, doutoranda em economia na mesma instituição, e Elizabeth Linos, professora adjunta de políticas públicas e gestão e cientista comportamental da Harvard Kennedy School – descobriram que muitos empurrões que poderiam ter impacto nunca foram implementados e quiseram saber por quê. Concluíram que a inércia organizacional pesa: é mais provável que agências governamentais incorporem resultados dos ECRs caso eles se apliquem a atividades que elas já realizam.

Cinco anos após sua fundação, a Behavioural Insights Team abriu um escritório na América do Norte para ajudar agências locais e federais a melhorar seus serviços. “Essas Unidades de Empurrão conduziam experimentos com agências governamentais para descobrir o que seria eficaz em seus contextos; o que elas faziam com isso? Essa era a pergunta por trás do artigo”, diz Kim.

Os pesquisadores contataram 30 cidades norte-americanas que foram alvo de 73 ECRs em 67 departamentos municipais. Kim conta que, ao abordarem os funcionários municipais, perguntavam: “Vocês se lembram do experimento que realizaram para testar se o empurrão funcionaria na sua cidade? O que vocês estão fazendo com o resultado?”. Apenas 27% das cidades adotaram o empurrão, e os pesquisadores se perguntaram por quê.

Após entrevistarem funcionários públicos em diversas cidades, desenvolveram três modelos para explicar a adoção ou não dos empurrões. O primeiro investigava a permanência no cargo dos funcionários que conduziram experimentos com Unidades de Empurrão. O segundo analisava dados da infraestrutura, como número de funcionários e recursos. O terceiro e último observava o modo como os funcionários transmitiam o empurrão – se usando modelos novos ou uma forma de comunicação preexistente. Os pesquisadores concluíram que o último era o que melhor previa a adoção.

“Nenhuma predição era conclusiva, a não ser a pre-existência ou não das formas de transmissão do empurrão”, diz Kim. Quando a Behavioural Insights Team ajudou a injetar a ciência comportamental em uma comunicação que os habitantes já recebiam, a taxa de adoção superou 50%. Nos casos em que a cidade optou por uma nova comunicação, ficou em cerca de 10%. Em outras palavras, a inclusão de uma intervenção num processo já existente aumentou muito a probabilidade de adoção.

Muitas vezes, quando um experimento produz evidências promissoras, os pesquisadores pressupõem que a adoção será orgânica. No entanto, esse estudo mostra que a incorporação das evidências à formulação de políticas e à prática requer reflexão deliberada sobre rotinas e estruturas. Nos últimos anos, mais governos investiram tempo e dinheiro para avaliar quais intervenções funcionam. Hoje, investigar como a adoção acontecerá parece ser tão importante quanto produzir evidências.

Os pesquisadores “nos lembram de que agências governamentais locais são organizações”, diz Jonas Hjort, professor de economia da University College London. “Com isso, desnudam barreiras à adoção da evidência e questões importantes a investigar.”

“Bottlenecks for Evidence Adoption”, por Stefano DellaVigna, Woojin Kim e Elizabeth Linos, Journal of Political Economy, vol. 132, n. 8, Aug. 2024.

A AUTORA

Daniela Blei é historiadora, escritora e editora de livros acadêmicos. Sua produção pode ser encontrada em daniela-blei.com/writing. Ela tuíta esporadicamente em @tothelastpage



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